Suaves brumas do plácido outono
cobrem de neblina e sombria beleza
a alma de uma camponesa francesa.
Amo a paz, mas sinto bélicos sons.
Eu sinto os sons da igreja ecoando,
as asas de São Miguel batendo no campo.
Colhendo flores no campo, ouço vozes:
“Joana, venha para a guerra dos cem anos”.
Eu sou uma donzela frágil e rural,
sem papéis, castelo, armas e domicílio.
Eu sou uma alma escolhida dentre milhares,
eu vejo anjos e santos além dos altares.
Tão franzina e medrosa é minh’alma campestre,
como lutarei bravamente numa guerra contra homens?
Nos meus sonhos, vejo cavalos, lanças e espadas,
vozes e visões me perturbam quando estou acordada.
Oh! Deus, não me chame para a guerra, por favor!
O Senhor sabe o quanto tenho medo de conflitos,
o quanto minh’alma anseia por paz e beleza.
Por isso, Senhor, preciso da Sua clemência!
“Não deixe a França ser tomada por estrangeiros,
defenda a França de todos os ingleses usurpadores”.
Essas vozes fortes só provocam, no peito, dores!
Por que Deus vê, na alma da donzela, um guerreiro?
A França precisa mudar e iluminar-se-á por uma mulher,
uma mulher frágil que fica forte pelo Santo Espírito.
Chamada de bruxa por quem deveria me dar asilo,
serei queimada por minha coragem sem sentido.
Tento me esconder na minha casa e no campo,
mas as vozes da guerra continuam me chamando.
“Joana, venha para a guerra dos cem anos!”
“Joana, venha para a guerra dos cem anos!”
Eu deixo os jarros d’água caírem no chão,
choro, grito e passo a cobrir os meus ouvidos.
Mas Deus fala ainda mais forte com seu Santo Espírito:
“Joana, ouça a missão que levará sua alma ao infinito!”
Eu nunca peguei em espadas, lanças e armas,
mas São Miguel Arcanjo me ensina a lutar.
Manejando a sua santa e iluminada espada,
o anjo me mostra o caminho bélico das almas.
Eu nunca quis participar da luta nem da guerra,
eu nunca desejei brigas em minh’alma terna.
Mas, se Deus me chama para ser uma guerreira,
que eu seja, no mundo, a lutadora mais bela.
As vozes me revelam tudo sobre a guerra,
monto no meu cavalo e cavalgo sem destino.
Sou guiada por vozes, sonhos e visões,
penetro na neblina em busca do sentido.
Cavalgando, atravesso a neblina noturna.
As estrelas brilham belas, e eu respiro fundo,
meu coração tem medo, mas o espírito está pronto.
Resolvi obedecer ao chamado divino e profundo.
Aqueles que creem em Ti dizem que sou uma bruxa,
como explicar a todos que é a Tua voz que me puxa?
Eu amo a Igreja, mas ela não vai me compreender.
Eu amo a França, e ela, um dia, vai me agradecer.
Por Deus, eu fortalecerei o meu espírito!
Pela França, eu aceitarei todos os martírios!
Eu sou uma guerreira iluminada e incompreendida,
uma santa camponesa que preferia estar escondida.
J'adore l'Église, mais l'Église ne me comprendra pas.
J'aime la France, et elle vous dira merci beaucoup.
Je sais que je mourrai par le feu le plus brillant,
le même feu qui a allumé mon courage. *
Eu adoro a Igreja, mas a Igreja não vai me compreender.
Eu amo a França, e ela dirá muito obrigada.
Eu sei que morrerei pelo fogo mais brilhante,
o mesmo fogo que acendeu a minha coragem.
Faço o que é certo para morrer depois.
Faço o que é justo mesmo se eu for queimada,
pois esse é o destino das almas mais bravas:
transcender a terra nas chamas das suas asas.
Poesias escrita por Tatyana Casarino.
Essa poesia é inspirada na história da Santa Joana D'Arc. Muitos versos estão em primeira pessoa, pois quis descrever como seriam as sensações da santa pela perspectiva dela. O meu eu lírico também foi retratado nas entrelinhas, misturando subjetividade, devoção e interpretação artística em cada verso.
Muito além do que dizem os livros de história sobre a Joana D'Arc que existiu na realidade, os versos pretendem informar a beleza do mito que foi formado em volta dela. Na poesia, não temos a Joana santa, guerreira e camponesa, mas simplesmente a Joana menina e mulher. A mulher que sentiu um chamado para a guerra e que ficou assustada antes de demonstrar um espírito tremendamente corajoso.
Uma mulher que parecia pequena, mas que foi chamada para uma grande missão. Já imaginou a sensação? A Joana D'Arc pode ser revivida em você amanhã. O arquétipo virtuoso da alma de Joana pode estar em qualquer alma feminina com coragem e devoção suficientes para lutar pelo que acredita. A Joana pode ser a Maria, a Elisa, a Marcela, a Judite, a Quitéria, a Adriana ou a Tatyana. A nova Joana D'Arc pode estar na alma de qualquer mulher contemporânea.
*Já escrevi poesias baseadas em outras santas:
*Confira a minha poesia "Transverberação" inspirada em Santa Teresa D'Avila:
https://poetisataty.blogspot.com/2020/01/transverberacao.html
*Confira a minha poesia "A Flor do Carmelo" inspirada em Santa Teresinha do Menino Jesus:
https://poetisataty.blogspot.com/2019/10/a-flor-do-carmelo.html
Tatyana Casarino.
*Esses versos em francês foram traduzidos em português na estrofe que está logo abaixo deles.
*Estudei francês na Wizard para realizar o sonho de conhecer os pontos turísticos e religiosos da França. Sou devota de muitos santos franceses, como Santa Joana D'Arc, Santa Teresinha, Santa Catarina Labouré e de Nossa Senhora das Graças.
*Curiosidade: Santa Teresinha admirava Santa Joana D'Arc.
"Levantem a Cruz o mais alto que puderem. Quero vê-la por detrás das chamas" - Último pedido de Joana D'Arc, antes de ser executada na fogueira.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário, Mateus! Amei saber dessa curiosidade histórica. Que grande alma a dela! Ela morreu contemplando a santa cruz.
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