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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A sereia da cauda prateada



Nadando entre os golfinhos,
a minha cauda prateada reluz.
Em um navio, tomando vinho,
estava um príncipe cheio de luz.

Os seus olhos são duas estrelas,
os seus lábios bem desenhados.
Nessa noite, a mais doce sereia
encontrou o seu lindo amado.

Silenciosamente, observava a sua alegria
tão espontânea, bela, suave e profana.
O meu coração sentiu uma chama,
e eu fui tocada pela luz divina.

Seria amor o que eu sentia?
Seria fogo no meu coração d'água?
Enquanto os golfinhos dançavam valsa,
a minha cauda e as minhas mãos tremiam.

O meu corpo era beijado pelas ondas
enquanto eu sorria doce e embriagada.
Os meus seios cobertos por duas conchas,
e a lua repleta de anjos, elfos e fadas.

Em minha alma, nasceu a paixão
tão intensa quanto um relâmpago.
Do céu, as estrelas cantaram um trovão,
deixando intempestivo o oceano.

O seu navio balançou perigosamente,
e eu chorei ao ver o seu sorriso apagado.
Um raio atingiu o mar bravamente agitado,
e você caiu nas águas inconsciente.

Então, eu nadei desesperadamente
para salvar o meu querido amado.
Dentro da noite sombria e silente,
eu envolvi o seu corpo em meus braços.

O meu mundo é tão belo e iluminado,
e eu queria tanto a sua gentil presença.
Mas, em meu mundo, você seria afogado,
e eu amo a sua vida mais do que as estrelas.

O amor me deu forças para nadar,
e a água tornou o seu corpo mais leve.
Cada batida do meu coração é amar,
e a eternidade cabe na minha pele.

Dentro da noite, a sereia frágil
conduzia um corpo pesado.
O amor é mesmo tão ágil
que canta nos meus braços.

As ondas batem e a cauda balança as algas
naquela noite de tempestade, trovão e perigo.
No oceano, um príncipe belo, bondoso e aflito
foi salvo por uma seria doce nas águas salgadas. 

A sua face encostada em meu peito,
sua respiração calma e os olhos fechados.
Ele parecia um bebê no seu lindo berço
sendo embalado pela mãe no quarto.

As ondas do mar estavam a embalar
os nossos corpos docemente entrelaçados.
Enquanto nadava sobre o mar gelado,
a sereia sussurrava canções de ninar.

O príncipe, aquecido pela sua beldade, 
não sentia mais a água turva e fria.
Ela era a sua luz na noite sombria,
bálsamo de amor na tempestade.

Aquecido pelo amor da sereia,
o rosto dele esboçava um sorriso.
Ela era o seu barco, a sua estrela,
e a não há aflição na paz de seu brilho.

Quando eles chegaram em terra firme,
o príncipe ficou deitado sobre a areia.
Lentamente, o céu ficava mais claro,
e raios de sol tocavam a bela sereia.

Quando a escuridão se despediu,
o sol nasceu em seu grande esplendor.
Do horizonte, o sol docemente despontava 
enquanto a sereia noturna exalava amor.

"Um dia ao seu mundo vou pertencer
quando eu superar minh'alma emocional.
Há tantas lógicas que quero compreender
em seu mundo masculino, concreto e trivial."

Pelo sol, o príncipe foi despertado,
e ele abria os olhos suave e lentamente.
Em seus sonhos, ele era embalado
por uma sereia doce e inteligente.

"Um dia eu terei voz no seu mundo
e, ao invés de cauda, terei pernas.
Um dia eu serei a mulher da sua terra
e lidarei com o trivial aliado ao profundo."

"Um dia o meu mundo será seu
e o seu mundo também será meu.
Um dia a terra amará intensamente o mar
e os nossos mundos serão um só amar."

"Um dia você não se afogará
no oceano abstrato das emoções.
Um dia eu hei de tranquilamente respirar
na terra fria das lógicas e das razões."

"Um dia a lógica também será sorriso e doçura
e o abstrato poderá ser exatamente calculado.
Um dia o sol dourado amará a prateada lua
e o concreto ficará charmoso e emocionado."

"Um dia a matemática masculina
será unida à sensibilidade feminina.
Um dia o mar beijará a ardente areia,
transformando a cauda da sereia."

"Oh! Meu amado, fique seguro
sobre a terra e sob a luz do sol.
Um dia você poderá vir ao meu mundo
e, então, não se sentirá mais triste e só."

Assim que ela beijou a sua testa,
ele abriu os olhos doces e brilhantes.
Raios de sol cobriam de luz a aura dela,
e ele acariciou os seus cabelos num instante.

Ele acariciou a sua face com ternura
enquanto envolvia a sua macia cintura.
Entre suspiros, ela beijou os seus lábios,
e a sua cauda ficou como o sol dourado.

Durante o beijo, a cauda mudava de cor,
ora preteada como a lua, ora dourada como o sol.
Ela refletia os tons da união e dos estreitos nós
entre o dia e a noite, a harmonia e o amor.

"Oh! Meu anjo, agradeço por me salvar!
Não vá embora, minha bela sereia,
pois na terra eu viverei para amar
a sua doçura e a sua essência."

"Oh! meu príncipe amado,
em meu reino, devo mergulhar.
Um dia, em sua terra, vou pisar,
mas preciso lapidar o meu fado."

A sereia beijou os seus lábios
antes de voltar ao seu reinado.
A sua cauda mudava de cor
e ela sorria para o seu amor.

As ondas cobriam a sereia
enquanto o príncipe acenava.
As mãos dele valsavam no ar
e a sereia mergulhou no mar. 

Nos olhos dele, lágrimas salgadas,
lembranças de sua sereia amada.
Na areia, um caranguejo cambaleava
entre a terra e a água, a areia e o mar.

Poesia escrita por Tatyana Casarino

*A gravura da imagem é da ilustradora Victoria Frances. 






    Essa poesia é uma homenagem ao meu escritor de Conto de Fadas favorito: Hans Christian Andersen, o autor de A Pequena Sereia. Além de A Pequena Sereia, ele escreveu O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Polegarzinha, A Pequena Vendedora de Fósforos e etc (citei os meus favoritos é claro hehehe). Admito que a sua influência de estilo sobre a minha criação é forte muito embora eu seja mais esperançosa do que melancólica. Mas admiro a forma com a qual ele mesclava a energia soturna e melancólica de seus personagens com a aura iluminada e colorida da magia. 

  Além do mais, sabe-se que Hans Christian Andersen nasceu no seio de uma família muito pobre, provando que talento e inteligência não escolhem classe social. As dificuldades enfrentadas em sua vida serviram para lapidar o seu talento. De todas as suas dores emocionais, ele fabricava uma "pérola" em formato de Conto de Fadas. Desse modo, como afirmava Rubem Alves, "Ostra feliz não faz pérola". Se mares calmos não fazem bons marinheiros, certamente uma vida calma não faz bons escritores. Tendo em vista que uma boa história é repleta de conflitos, os desafios da vida real impulsionam a criatividade literária e poética. 

               


    
    Hans era um gênio subestimado, rejeitado e desiludido em virtude de inúmeras frustrações. Em Copenhaga, as pessoas o consideravam um "lunático". Ele era apaixonado por Teatro e consegui adentrar no Teatro Real de sua época. Entretanto, sua voz falhou consideravelmente, prejudicando sua carreira como cantor. Além de escrever algumas peças, sabe-se que Hans chegou a trabalhar no Teatro como ator e bailarino, mas não obteve o sucesso que esperava nessas duas carreiras. Talvez essas frustrações sejam as origens das histórias de personagens que sentiam uma sensação de "inadequação" como Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo e A Pequena Sereia. 

   O sacrifício da voz de a Pequena Sereia pode ser uma referência à falha de sua voz. A Pequena Sereia, assim que obteve pernas no lugar da cauda, ao caminhar, sentia como se estivesse pisando em facas e agulhas afiadas. Nesse sentido, dizem que os bailarinos sentem dores horrendas... Esta passagem de seu conto também pode ser uma referência à carreira frustrada de bailarino. Eu fico feliz que ele "canalizou" a sua inteligência artística para a literatura, transformando as suas mágoas em Contos de Fadas hehehe. Todo mundo ganhou com isso. Há males que surgem para o nosso bem como já dizia a minha bisavó. 





  Eu me identifico muito com as suas histórias e com os seus personagens cheios de talentos especiais. As rejeições e as injustiças sofridas pelos personagens também geram bastante identificação, pois acredito que todo leitor já se sentiu, em algum momento da vida, subestimado apesar de seus dons. Além da doce Sereia, eu adoro o Soldadinho de Chumbo (apesar de não ter final feliz). E, eu escrevo tanto sobre a alegoria da Bailarina... Confesso que estão surgindo ideias para escrever poesias a respeito do Soldadinho de Chumbo hehehe. Tenho um projeto antigo em mente de fazer Poesias com referências aos Contos de Fadas (TAG inaugurada com a poesia de hoje, a qual faz alusão à Sereia de Andersen de certa forma). 

  Claro que eu dei os meus toques "místicos" na poesia (hehehe). A poesia propaga basicamente a mensagem da importância da busca pelo equilíbrio entre a razão do homem e a emoção da mulher. Como eu costumo escrever por aqui, é fundamental buscarmos um equilíbrio entre o nosso lado Yin, intuitivo e feminino e o nosso lado Yang, ativo e masculino. Sol e lua, dia e noite, claro e escuro, razão e emoção, homem e mulher...São tantas as dualidades da vida... E, nesses paradoxos, devemos ser íntegros, honestos e transparentes para alcançarmos o glorioso equilíbrio mental, emocional, psíquico e espiritual. 

O caranguejo não é citado no final da poesia à toa... Nada do que eu escrevo é por acaso aliás hehehe... Tudo tem simbolismo! E o Caranguejo faz referência ao signo de Câncer! Este é o único signo do zodíaco capaz de "transitar", assim como o caranguejo, entre a areia e o mar, ou seja, entre as razões concretas e as abstrações lunáticas. No signo de câncer, não há escapatória: ou ficamos sábios ou ficamos loucos (quem sabe os dois). Eu sou canceriana com muito orgulho! ;) Os cancerianos carregam a porta psíquica para o entendimento dos dois mundos: o físico e o astral. 

                   


  
    Curiosidades de Andersen:

Nascido no dia 2 de abril de 1805, na cidade de Odense, Reino Unido da Dinamarca e Noruega, atual Dinamarca, ele era filho de sapateiro e de uma lavadeira. Toda a família vivia e dormia num único quarto. O pai adorava o filho. Sendo assim, seu pai fomentou a sua imaginação e a sua criatividade, deixando-o aprender a ler, contando-lhe histórias e, mesmo, fabricando-lhe um teatrinho de marionetes. Hans apresentava no seu teatro peças clássicas, tendo chegado a memorizar muitas peças de Shakespeare, que encenava com seus brinquedos.


    Ele foi, consoante estudiosos, a "primeira voz autenticamente romântica a contar histórias para as crianças" e buscava sempre passar padrões de comportamento que deveriam ser adotados pela nova sociedade que se organizava, inclusive apontando os confrontos entre "poderosos" e "desprotegidos", "fortes" e "fracos", "exploradores" e "explorados". Nesse sentido, ele também pretendia demonstrar a ideia de que todos os homens deveriam ter direitos iguais.


  Devido a sua contribuição para a literatura infanto-juvenil, a data de seu nascimento, 2 de abril, é o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Além do mais, o mais importante prêmio internacional do gênero, o Prêmio Hans Christian Andersen, possui o seu nome.

 *Onde eu li "A Pequena Sereia" de Andersen?

Nesse livro abaixo (editora Zahar), recomendadíssimo:






Curiosidades de inspiração:



*Há pouco tempo eu visitei o interior de um navio e senti como se ele fosse um "berço".

*Recentemente, eu pintei as minhas unhas das mãos e dos pés com esmalte "prateado cintilante" e elas mudaram de cor em contato com a água e o sol hehehe (é verdade, minha gente). Elas passaram por diversas cores enquanto eu nadava. Não, não era magia hehehe. Deve ter sido alguma reação química entre o esmalte e a água (usando minha lógica masculina agora hehehe). Eu olhei para as unhas dos meus pés e das minhas mãos e elas simplesmente haviam mudado de cor!

*Na infância, a minha boneca favorita era uma "Barbie Sereia". A cauda da boneca mudava de cor de acordo com a temperatura da água.

Obrigada por terem lido até aqui!

Abraços,

Tatyana Casarino. 

*Para ler mais poesias de sereias, clique na TAG "Poesias de Sereias" ao lado direito do Blog. 

*Observação: Se você estiver lendo no celular, clique em "visualizar versão para a web" (frase vista acima da minha foto em quem é a escritora?) para ver as TAGs. 













sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O desejo do vampiro







Com um colar cravejado de rubis,
ela dança no salão nobre e noturno.
Um pingente de escorpião sobre os seios
cativa o olhar dele e brilha no escuro.

O vampiro caminha misteriosa e lentamente,
seus olhos estão fixados nos olhos dela.
O sangue dela é tão doce e quente,
e ele está apaixonado por ela.

Como não devorar esta donzela?
Como controlar seu desejo ardente?
Ele sente o perfume dela e treme,
assustando a sua amante bela.

Ele caminha em direção a ela,
envolve a sua cintura num instante.
Assim que ele sente o calor dela,
ele sofre, na alma, vil rompante.

Ele ergue uma de suas sobrancelhas
enquanto ela morde os próprios lábios.
Ele sente o desejo dela a pulsar nas veias
quando ela ergue um olhar inocente e obstinado.

Ele acaricia as suas costas vagarosamente,
e ela suspira num ritmo ondular e apaixonado.
Quando ele toca o escorpião com seus lábios,
ela geme ao sentir a pele mais quente.

Ele treme e arranca a joia dela,
deixando o seu pescoço despido.
De olhos fechados, ele exala suspiros
enquanto pedrinhas de rubi beijam o chão.

Ela sai do salão em direção à biblioteca,
deitando-se em um divã de veludo.
Enquanto isso, ele passa na adega
para tomar vinho no silêncio do escuro.

Antes de sentir o corpo dela,
ele precisa sentir o sabor do vinho.
É a única maneira de enganar o seu instinto
para não desejar o sangue da donzela.

Mas, o vinho permanece com o gosto amargo
e não sacia a sua feroz e desesperada sede.
Em sua alma, o cheiro dela é um retrato
que tortura, sob a lua, a sua mente.

Ele deseja o sangue mais doce
e sua alma incontrolável treme.
O vampiro atira a taça de vinho na janela
antes de adentrar a biblioteca silente.

Sob o brilho divino das estrelas e das velas,
o corselete dela é levemente transparante.
Ele sente sua pele macia, doce e bela
e, em seu pescoço, crava os dentes.

Ela geme de prazer, surpresa e dor
enquanto ele suga o seu sangue.
Sentindo o mais intenso ardor,
o êxtase explode em mil cores.

Ele ergue a cabeça em direção ao espelho
e vê o sangue escorrendo dos seus lábios.
Sob o seu corpo, ela sangra de amor e desejo
e logo ele cobre o seu corpo com suaves beijos.

"Perdoe-me, oh! amada princesa,
eu não consegui me controlar.
Seu cheiro é um bálsamo de beleza
cuja doçura entorpece o meu pensar."

"Não me peça perdão, oh! doce vampiro,
eu quero que o meu sangue seja seu!
Nessa noite de amor e suspiro,
tornar-te-ei príncipe, nobre plebeu."

Poesia escrita por Tatyana Casarino




   Muito embora a atmosfera gótica e sensual tenha predominância sobre toda a poesia, a poetisa incluiu símbolos da alquimia e arquétipos nos versos também (tais elementos não poderiam faltar, é claro, hehehe). Os arquétipos/símbolos principais são:






*Escorpião (pingente de escorpião):

*O Escorpião é um animal que remete ao oitavo signo do zodíaco, representando poder, morte, renascimento, luxúria, profundidade, intensidade e o encontro com as verdades doloridas e obscuras da alma.






*Sangue

*O sangue na alquimia é a energia vital onde reside a essência da alma. O fato do vampiro desejar o sangue da princesa também pode ultrapassar o sentido literal de sangue propriamente dito, pois ele almeja a doçura dela em verdade. Como se ela representasse o lado Yin dele e também um complemento para a sua alma. Desse modo, ele deseja ser um só corpo e um só espírito com ela. Logo, além do desejo, há amor, substância, sangue, energia vital e anseio espiritual. Desejar o sangue é como desejar a alma, algo além do corpo e da pele...




*Vampiro

  *Vampiros são criaturas góticas e sombrias que perderam a sua energia vital solar e divina e, por essa razão, necessitam "sugar" as energias vitais dos outros. Desse modo, muitos consideram os vampiros como seres das trevas. Não obstante, a poesia afasta o maniqueísmo e não trata o vampiro como um ser necessariamente ruim. Os nossos ímpetos carnais (luxúria, ira e orgulho) são evidenciados pelos vampiros, os quais podem simbolizar o arquétipo sombrio que toda alma carrega. Tais instintos sombrios precisam ser sublimados através do encontro com o elemento feminino, lunar e intuitivo. Mais uma vez a poetisa retrata a força do amor no exercício do autocontrole emocional.
 Ao amar uma mulher e entregar-se a ela, o homem aprende a domar os seus desejos viscerais. Não é renegando a luxúria ou a ira de forma absoluta que ele atinge o autocontrole, mas aprendendo a "canalizar" tais energias para um propósito elevado de amor. Nenhum ímpeto pode ser sufocado, eis que se revela ainda mais perigoso. Todos os ímpetos necessitam de atenção, cuidado, vigilância e equilíbrio. 
 Desse modo, a princesa transformou o plebeu em um príncipe através do sangue dela, ou seja, transformou o homem em uma criatura de nobreza. Tal "nobreza" do príncipe não é literal... Trata-se da nobreza interior, nobreza de caráter... O papel da mulher é tornar o homem uma criatura nobre. 





*Cálice de vinho

Muitas vezes, o vinho remete ao sangue. No caso da poesia, o vampiro tomava vinho como um substituto do sangue, mas não conseguia encontrar a saciedade. Tal saciedade só foi possível de ser encontrada no sangue da mulher, a qual representa sua "perdição" e também a sua salvação em um paradoxo de vida e paixão. Ela era a única capaz de sublimar a sede dele. Esse simbolismo também faz referência ao Santo Graal, o Cálice Sagrado, muito evocado não somente no cristianismo (sangue de Cristo), mas também nas lendas celtas e nos contos dos templários. No sangue da mulher, ele encontrou a sabedoria e atingiu a iluminação. A mulher é a sacerdotisa do templo, aquele que traz a sabedoria para o mundo.










*Colar de Rubi

 O Rubi é a minha joia predileta. Eu acho o rubi uma das mais belas pedras preciosas, pois ele reflete tons de cores cheios de magnetismo como o vermelho vivo com "pinceladas" rosadas e púrpuras. Tal pedra preciosa também porta inúmeros simbolismos, eis que ela era considerada um emblema de felicidade na antiguidade. Para quem acredita na energia das pedras, os místicos costumam afirmar que o rubi repele a tristeza, resiste ao veneno e desvia maus pensamentos. Sendo assim, ele traz purificação para quem usa, eliminando as toxinas venenosas da alma causadas pelos nossos ímpetos sombrios e pensamentos desequilibrados. Desse modo, o rubi traz força, magnetismo, intensifica a energia vital e traz equilíbrio mental. 
 Na homeopatia e nos tratamentos holísticos, o rubi é utilizado contra hemorragias, razão pela qual a pedra de rubi é invocada como a "pedra do sangue". Portanto, os místicos também acreditam que o a pedra de rubi é boa para o coração, memória, vigor e traz energias favoráveis ao processo de cura para todas as doenças vinculadas ao sangue. Além do mais, a pedra de rubi também está associada ao calor, à paixão, aos enamorados e ao amor verdadeiro. 
    Usado como colar, o Rubi estimula o Chackra laríngeo, o qual está associada à fala e ao discernimento. Como o Rubi representa o coração e o sangue, o colar traria a energia sentimental para a fala. A partir disso, há aquele ditado: "A boca fala aquilo que o coração está cheio." Sendo assim, a pessoa seria abençoada com o poder da comunicação, sabendo expressar com discernimento os seus sentimentos, as suas ideias e as suas convicções através das palavras.
   Curiosamente, o Rubi é a pedra dos comunicadores e de todas as profissões que lidam com a oratória e com a escrita, em especial a advocacia. Portanto, o anel de rubi é o anel clássico do Bacharel em Direito, sendo tradição o estudante receber um anel dessa pedra no dia da sua formatura. Considerado como o "sangue da terra", acredita-se que o Rubi traz vigor, força, honra, poder, amor, sabedoria, vida e discernimento para julgar. Muitos juízes usam anel de Rubi. Os homens costumam usar no dedo mínimo. 





*Curiosidades sobre Rubis:



Eles beneficiam o coração e o sistema circulatório e podem promover a filtração e desintoxicação do corpo. A literatura também sugere Rubis para os olhos.

O Rubi é uma pedra de energia que estimula a motivação e a visualização.

Ele pode ajudar ao usuário a ser mais realista em relação a seus objetivos e mais honestos em suas intenções.

Os Rubis eram considerados pelos hindus como as pedras mais valiosas porque preservavam a saúde do corpo e da mente de quem os usava, removendo pensamentos maus, controlando os desejos amorosos, dissipando os vapores pestilentos e reconciliando disputas.

No Lapidário de Philippe de Valois é dito: “Os livros dizem-nos que o belo, claro e fino Rubi é o senhor das pedras, é a gema das gemas e se sobrepõe a todas as outras pedras em termos de virtude”.

Um tratado do século XIV atribuído a Sir John Mandeville assegura ao fortunado usuário de um brilhante de Rubi que ele viverá em paz e concordará com todos os homens, que nem sua terra nem os seus serão levados para longe, e que ele será preservado de todos os perigos.

A mágica da pedra também guardaria sua casa, suas árvores frutíferas e vinhas dos danos causados pelas tempestades.

Todos esses bons fatos seriam alcançados se o Rubi, colocado num anel, bracelete ou broche fosse usado no lado esquerdo.

Em Burma, os Rubis eram valorizados por sua invulnerabilidade.

Para se chegar a isso, o Rubi deveria ser inserido dentro da carne de modo a tornar-se parte do corpo.

Aqueles que incrustavam Rubis em sua pele acreditavam que se tornavam inatingíveis por quaisquer feridas causadas por lanças, espadas ou revólveres.



Sabe-se que alguns soldados imprudentes passam relativamente sem ferimentos através dos muitos perigos da guerra e portanto é fácil entender como essa superstição muitas vezes parece facilmente verificada.
    
O Rubi é a pedra indicada para aqueles nascidos em julho (pessoas do signo de câncer como eu).

Fonte das curiosidades citadas:


http://significado-das-pedras.blogspot.com.br/2014/04/significado-da-pedra-rubi.html





Texto escrito por Tatyana Casarino. 


Obs:

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Uma loba à beira do abismo




Eu sou aquela que dorme
quando todos estão acordados.
Eu sou um farol que constrói
flores em desertos despedaçados.

Eu sou aquela que acorda
quando todos estão dormindo.
Eu sou um farol que transporta
cores de esperança para um lugar sombrio.

Nas esquinas da sua mente,
a dor da alma ainda existe.
Por mais que você esteja contente,
a sua alma canta um canto triste.

E o seu mistério está trancado
nas profundezas de sua alma.
Um sentimento jamais revelado
reveste-se de dourada ira calma.

Eu sou um mistério profícuo,
que chora a melancolia do infinito.
Eu sou uma frágil donzela
segurando uma forte fera.

Ah! Esta eterna missão mística
que recebe sorrisos da sua ironia.
E a donzela prestes a ser devorada
por uma fera hostil e descontrolada.

Viver é sempre uma dolorosa tensão
entre a bela donzela e o bravo leão.
Estou constantemente a domar uma fera
que quer escapar para obscuras ruelas.

Alguns prendem os seus monstros vis
em jaulas douradas de santidade.
Tenham medo da falsa humildade,
pois ela guarda vaidades ardis.

Os seres são lobos em pele de cordeiro,
mas eu sou como um cordeiro em pele de loba.
Dentro desta pele selvagem e vaidosa,
reside uma alma doce e melancólica.

Uma alma que sonhou com a pureza
e chorou suas decepções e mágoas.
Uma alma que viu a obscura beleza
da vida ser queimada em brasas.

A diferença entre as pessoas e a loba
está na condução do próprio ego.
Debaixo do tapete, elas colocam a vaidade,
mas eu mostro a minha verdadeira face.

É evidente que as pessoas são confusas,
pois não admitem as suas maldades.
Elas preferem as ilusões do mundo,
e, assim, evitam encarar a verdade.

Eu sou assumidamente uma loba
com pose vaidosa e cabeça erguida.
Eu encaro as minhas maiores sombras
e assumo o meu ego perante a vida.

Na clareira noturna, eu observo a lua
quando saio para caçar com os lobos.
E deixo a minha alma chorosa nua
antes de enterrar os meus tesouros.

O meu uivo é um choro de mistério
que extravasa a sua doce bravura.
A minha lágrima clama por mérito
nesse labirinto de luzes inseguras.

Em verdade, as pessoas mais vaidosas
portam as almas mais humildes,
eis que as histórias mais poderosas
provêm de árduos passados tristes.

E as pessoas que parecem humildes
revelam as personalidades mais perigosas,
eis que as vaidades ocultas e reprimidas
geram as mais violentas histórias.

Confie mais na pessoa de cabeça erguida,
pois ela está mirando a luz do sol.
Antes de pensar que ela é metida ou rígida,
saiba o quanto é duro ser incompreendida e só.

Na solidão, caminhar de cabeça erguida
num mundo triste, nublado e sombrio
é como dançar à beira do abismo.
A alma da bailarina é sempre dolorida.

Deus confunde os humildes e os soberbos
como mistura o joio e o dourado trigo.
Convivemos com lobos em pele de cordeiro,
na caverna de Platão, nosso amargo abrigo.

A timidez é o orgulho fortemente trancado
sob a capa fria do medo e da reclusão.
Mas o meu orgulho já saiu do armário,
e eu vivo a provocar espanto e paixão.

Eu represento o que vocês não admitem possuir:
a virtude, o vício, a sombra, a luz, a flor e o espinho.
Eu sou o espelho que reflete as suas almas
em um oceano esquecido de ira trancada.

Vocês são lobos em pele de cordeiro,
mas eu sou uma loba selvagem assumida.
Vocês costumam trancar os seus sentimentos
enquanto eu extravaso a minha centelha divina.

Eternamente julgada à primeira vista,
injustamente zombada e incompreendida,
assim é a loba selvagem na civilização de pedra.
É como se ela visse o abismo onde eles veem a festa.

É mais fácil apedrejar a Madalena
do que olhar para os vícios interiores.
Uma doce loba que sofre a tristeza
pela incompreensão de seus estranhos amores.

Entretanto, um cordeiro perdoou Madalena,
um cordeiro poderoso que domina as profundezas.
O nome do Nosso Senhor é Jesus Cristo,
e, em suas chagas, reside o nosso abrigo.

Todos nós somos lobos na verdade,
eis que a falsa humildade não esconde a maldade.
Admita que todos nós somos pecadores nas sombras,
pois eu já confessei os meus grandes vícios de loba.

Para sobreviver num mundo de trevas,
eu fui obrigada a criar um escudo.
Uso uma pele de loba desde Eva
para esconder o meu coração inseguro.

Na terra dos lobos, houve um único cordeiro
que realmente foi puro, humilde e autêntico.
E ele foi crucificado, morto e sepultado
para ressuscitar no terceiro dia e curar os pecados.

Os seres humanos são lobos à beira do abismo,
e a humanidade necessita do amor de Cristo.
A água do senhor mata a nossa grande sede
enquanto o seu sangue é a redenção para sempre.

Eu sou uma loba que admite os seus erros,
buscando, com entusiamo, a salvação.
Um dia eu quero me transformar em um cordeiro
e viver em um paraíso de luz, amor e perdão.

Um dia o lobo se deitará ao lado do cordeiro,
e, ao invés de devorar a sua presa,
ele encontrará, na redenção, a paz.
Esse dia será repleto de luz e beleza.

Após o martírio do seu casulo,
a lagarta é transformada em borboleta,
pois só quem atravessou o escuro
pode realmente admirar as estrelas.

Só quem admite a sua vaidade
pode expressar a verdadeira humildade,
pois uma alma realmente transparente
distingue o joio do trigo decente.

Na terra dos lobos, quem é vaidoso?
E quem expressa autêntica humildade?
Na terra dos lobos, quem é mentiroso?
E quem sabe mesmo falar a verdade?

Confie mais naquele que exibe a sua luz,
pois ele não esconde a sua personalidade.
Nessa terra profana que cega e seduz,
humilde é aquele que cultiva a sinceridade.

Humildade não é andar escondido ou curvado
nem ser politicamente correto e letrado.
Humildade é amar a todos sem distinção,
propagando a igualdade desde então.

Existe até uma inocência por trás da vaidade,
mas a falsa humildade é tremenda perversidade.
Que sejamos orgulhosos e bondosos,
pois o orgulho bem direcionado espanta o ócio.

Eu fico com aquela típica pureza
da vaidade espontânea das crianças.
Nas travessuras de Peter Pan,
faíscam as estrelas da esperança.

Que tenhamos a força intensa do leão
e a doçura suave e terna da bela donzela.
Que saibamos trabalhar como um vulcão
neste equilíbrio entre a bela e a fera.

Estou empenhada em ser o sal da terra,
não quero ser mais uma pessoa sem sabor.
Nesse mundo de abismos e trevas,
devemos ser a nova luz do amor.

Uma lâmpada, ao estar acesa,
jamais é colocada debaixo da mesa.
No teto, ela é pendurada para iluminar
a passagem daqueles que encontrar.

Uma luz nasceu para ser exibida
assim como o sol nasceu para brilhar.
Avarento e covarde seria um sol escondido,
que ceifaria a vida com a ausência de seu brilho.

Já está escrito que as pessoas mornas
não serão, por Nosso Senhor, salvas.
Somente os frios e os quentes herdarão os céus,
pois eles sabem que o sol é doce como o mel.

Na frieza da minha toca, eu vivo
como uma loba em seu abrigo.
Mas, ao sair da toca, eu sou muito quente,
como um vulcão que explode depois de dormente.

Ora sou fria, ora sou muito quente,
mas jamais serei tola ou morna.
A sabedoria me ensinou a ser silente,
mas também sou uma contadora de histórias.

Que seja sepultada a falsa modéstia,
pois, na transparência, não cabe hipocrisia.
Eu vejo o abismo onde vocês veem festa
neste mar inseguro e caótico da vida.

Um coração de cordeiro tão amável
que costumava ser aberto às pessoas.
Na pele de uma loba, viveu trancado
em virtude das inúmeras decepções.

A angústia de ser incompreendida
leva a alma às iluminadas lágrimas.
Talvez só pela lua eu seja purificada,
pois ela entende as fases da vida.

Estou com a sensação de ser solitária,
eis que só a lua me compreende.
A vida na Terra é uma eterna batalha
que causa sofrimento a todos seres.

Ainda bem que Francisco me ensinou
que eu deveria procurar mais:
consolar, que ser consolada;
compreender, que ser compreendida.

É preferível amar, que ser amada,
pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoada,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

Não tenha vergonha de seu espelho
nem medo de assumir o seu íntimo.
Da chama de Deus, você foi feito,
doce criatura amada por Cristo.

Eu, uma quente loba à beira do abismo,
usei o cajado iluminado da fé na escuridão.
O amor acendeu estrelas no meu coração,
além do penhasco, eu fui salva por Cristo.

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,
ouvi-nos, Senhor, de modo atento e profundo.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,
perdoai-nos, Senhor, nesse labirinto tão escuro.

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,
dai-nos a paz e tende piedade de nós nesse abismo.
Oh! Santa Mãe de Deus, rogai por nós hoje e sempre
para que sejamos dignos das promessas de Cristo.



Poesia escrita por Tatyana Casarino.


 Vamos filosofar um pouco a partir dessa poesia?

Eu escrevi essa poesia inspirada em vários trechos da Bíblia:




Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e uma criança os conduzirá. Isaías 11:16

14 "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.
15 E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.
16 Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus".

Mateus 5:14-16




Traziam-lhes crianças para que as tocasse, mas os discípulos as repreendiam. Vendo isso, jesus ficou indignado e disse: "Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele". Então, abraçando-as, abençoou-as, impondo as mãos sobre elas.
Marcos 10,13-16



13 Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
Mateus 5:13

1 Ao anjo da igreja de Sardes, escreve: Eis o que diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas. Conheço as tuas obras: és considerado vivo, mas estás morto.
Apocalipse 3:1

Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente!
Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.
Apocalipse 3:15,16



17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
João 3:17

21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.

João 3:21


“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João 16:33


Se eu encontro mil abismos, nos caminhos eu vou.Segurança sempre tenho em suas mãos. Salmo 23

  
    A partir dos trechos bíblicos citados, eu busquei criar uma poesia onde eu pudesse expressar o verdadeiro sentido da humildade. Muitos cristãos acreditam que humildade seja o completo abandono dos prazeres materiais, razão pela qual eles pregam a rejeição das coisas mundanas para uma vida puramente espiritual. Mas, abandonar o mundo não seria um caminho fácil? O mundo é cheio de lobos e abismos, mas eu acredito que a vontade de Cristo não era abandonar o mundo, mas salvá-lo. Cristo ensina ao nosso coração como vencer o mundo. 

                                

  
    Eu adoraria poder abandonar o mundo, não correr riscos, não me machucar nos caminhos da Terra e viver uma vida puramente espiritual ao lado de Anjos. Eu adoraria poder me dedicar apenas às orações e renegar os desafios mundanos. Mas será que esta é a verdadeira vontade de Cristo? 
  Muitas pessoas realmente têm missões espirituais envolvendo a vocação religiosa. Porém, esta missão não corresponde às tarefas de todos. Será que não precisamos de uma revolução espiritual no próprio âmbito mundano? As mudanças não ocorrem de fora para dentro (dos centros religiosos para a vida mundana), mas de dentro para fora (o próprio âmbito mundano precisa passar por um processe interno de despertar espiritual). 
    As pessoas confundem humildade cristã com comedimento e timidez. Entretanto, ser um autêntico cristão é ser feliz. Deve-se servir Jesus com sorriso no rosto e cabeça erguida! Ao invés disso, encontramos pessoas com ombros caídos, rosto lânguido e expressões melancólicas. Estas são as que se consideram "humildes". Contudo, por trás dessa falsa humildade, há um tremendo orgulho oculto. O famoso "orgulho de ser humilde" não deixa de ser uma manifestação da vaidade (e uma das mais vis manifestações). Como uma pessoa verdadeiramente humilde pode "orgulhar-se" de sua humildade (hehehe)? Não é um contrassenso? 

                      

      

       Talvez essa também seja uma maneira de sentir-se superior aos outros. Por exemplo, a mulher que abdica de sua vaidade acaba se tornando ainda mais vaidosa espiritualmente, pois se acha moralmente superior àquelas mulheres que exteriorizam a sua vaidade mundana "normal" como passar batom, usar roupas bonitas e etc. Algo semelhante ocorre com as feministas, as quais abdicam da feminilidade por ideais e acabam se contaminando pelo orgulho intelectual (perigosíssimo). 
      A vaidade espiritual (considerar-se mais virtuoso e santo do que os outros) é tremendamente mais perigosa do que a nossa vaidade mundana corriqueira (conquistas de bens materiais, realização de desejos, honrarias e etc). O que acontece com aquele homem que abdica de seus desejos carnais e fica toda hora pensando no quanto ele é virtuoso e santo por isso? Ele acaba destruindo todo o seu trabalho espiritual, pois não adianta renegar a luxúria e cair no maior de todos os pecados: a soberba. Talvez o orgulho seja o pecado capital mais difícil de driblar!
       Por essa razão, eu disse, no poema, que Deus confunde os humildes e os vaidosos como mistura o joio e o trigo. Talvez aqueles que parecem vaidosos por fora (boa aparência, boas roupas, sorriso no rosto e cabeça erguida) tenham corações mais puros e humildes do que os outros pensam. Por que julgar um livro pela capa? Por que pregar radicalismos? Será que não dá para seguir o caminho do meio? 

                        

     

         O que é o caminho do meio? O caminho do meio é aquele caminho onde seguimos uma vida mundana normal (incluindo sexo, bens materiais, profissão e realizações de desejos) sem nos esquecermos da nossa essência espiritual (sexo com amor, bom uso dos bens materiais, profissão idealista e desejos virtuosos). Talvez o grande mal do mundo seja a separação radical entre a carne e o espírito. É impossível abandonarmos completamente a carne, mas é totalmente possível dar sentido espiritual para as coisas mundanas. 
       O grande mal da Religião é pregar essa separação, afastando as pessoas da vida espiritual. As pessoas acreditam que a vida espiritual é algo muito distante de seu cotidiano, sendo exclusividade de padres, monges, freiras, santos, magos, sacerdotes e ermitões. E se disséssemos para as pessoas que elas podem tornar a vida delas mais espiritualizada? E se disséssemos para as pessoas que elas podem tornar a vida delas uma aventura repleta de substância, profundidade, amor, sabedoria e fé? E se disséssemos para as pessoas que é importante cultivar a essência interior e enxergar a vida que existe muito além do materialismo?
      Eu sempre gostei de elucidar a respeito da célebre dicotomia Ter x Ser. A minha única crítica ao capitalismo é que ele acaba focando muito no Ter e esquecendo do Ser muitas vezes. As pessoas colocam os bens materiais acima da essência humana e cobrem o "vazio existencial" com viagens, roupas da moda, celulares modernos, redes sociais e novidades tecnológicas. Por incrível que pareça, nestes conflitos de Ter x Ser, as melhores respostas estão nas mãos da Religião. A Religião é a única capaz de matar a sede do ser humano por aquilo que há além da matéria. 
       Eu acredito que a nossa vida mundana sempre será materialista e, consequentemente, capitalista. Pregar o fim do capitalismo é uma utopia, pois o planeta Terra, como o próprio nome já diz, é material, concreto e palpável, ou seja, absolutamente terreno. Somente a Religião pode nos conectar com uma essência além do terreno, trazendo à tona a essência celestial... A Religião é a única capaz de trazer o equilíbrio para o capitalismo. É a única que pode unir Carne e Espírito, Matéria e Virtude, Homem e Deus...

                         

        

          Infelizmente, no entanto, a Religião é apedrejada por todos os cantos. Considerada como "retrógrada" e "moralista", ela é apedrejada por intelectuais "vanguardistas". Desse modo, a Religião perde a voz no meio "contemporâneo". Ao perder a voz, ela perde espaço para ideias intelectuais utópicos e projetos políticos fantasiosos. E aí nasce o perigo... 
         As pessoas canalizam aquela "sede" por algo além da matéria para "sociedades alternativas" ao invés de buscarem Deus dentro da nossa sociedade "normal". E o ideal intelectual acaba se tornando o novo "deus" dessa geração vanguardista. Se eu dissesse que o mundo é um lugar de abismos, desigualdades e provações de toda ordem, certamente eu seria apedrejada e zombada pelos intelectuais. 
       É, por isso, que há tanto preconceito em relação às pessoas religiosas, pois pensam que nós cruzamos os braços em uma resignação improdutiva ao invés de "arregaçarmos as mangas" para ajudar os outros. A resignação no mundo de hoje se tornou o maior pecado. Nada mais equivocado. Resignação não é pecado e nós, os religiosos, não somos improdutivos apesar da nossa típica resignação interior. Acreditamos que Deus permite o mal justamente para fazer o bem brilhar. Diante dos abismos e das desigualdades, devemos "arregaçar as mangas" e ajudar os nossos irmãos terrenos através da caridade e do amor. O amor é a nossa missão.
      Os autênticos religiosos não ficam apenas rezando. Os autênticos religiosos não dizem diante do abismo "Deus quis assim". O autêntico religioso usa a sua fé para ultrapassar o abismo, "arregaçando as magnas" em prol do bem. Nós ajudamos os outros em todos os instantes. A salvação é individual. Todo projeto de "salvação coletiva" é uma utopia. 

                            

      

      Apesar da salvação ser individual, podemos ajudar todos os indivíduos que passam em nosso caminho. Podemos ajudar os nossos amigos a lidarem melhor com as suas virtudes e vícios. Podemos iluminar cada pessoa que passa em nossa vida, incentivando a lucidez, a clareza de espírito, o amor, a boa vontade e a esperança. Podemos ajudar o outro a encontrar a própria salvação através de bons conselhos e muito amor. Mas cada um se salva sozinho. Os caminhos nas tendas da própria alma são individuais. O verdadeiro místico sabe que a única viagem que existe não envolve carros, trens, aviões ou navios. A única viagem que existe é a viagem para o centro da alma. 
       Que possamos encontrar o nosso verdadeiro Ser nessa viagem ao centro da alma. Que possamos encontrar um verdadeiro equilíbrio entre o Ter e o Ser. Que possamos enxergar a importância de cultivar a dignidade da pessoa humana. Que possamos sempre colocar a essência acima da matéria. Que possamos enxergar os outros com os olhos do amor, combatendo todo e qualquer preconceito. 

                       

      



       Ao encontramos o nosso Ser na jornada interior, que não tenhamos vergonha de exteriorizar a nossa essência com transparência e autenticidade. Quem "exibe" o Ser de dentro para fora acaba sendo rotulado como "metido", "vaidoso" e etc. Mas, quando acendemos a nossa luz interior, não devemos mantê-la escondida. Devemos mostrar a nossa chama interior! Afinal, na própria Bíblia está escrito:

E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.


           

     Se você é erudito, não tenha vergonha de mostrar a sua erudição. Se você é talentoso, não tenha vergonha de mostrar o seu talento. Humildade não é esconder a si mesmo, mas mostrar a sua essência com verdade e transparência. A verdadeira humildade está em tratar a todos com respeito e enxergar a igualdade humana, pois todos nós compartilhamos os mesmos anseios, medos, virtudes e vícios. Ser humilde não é ser uma pessoa apática ou morna. A Bíblia nunca defendeu a apatia e a temperatura "morna" muito pelo contrário... A Bíblia defende a coragem e a ousadia em mostrar a própria luz, a qual é quente por natureza... Ser humilde é enxergar a própria luz, mas também a luz dos outros. É amar o próximo como a si mesmo. É respeitar o próximo como a si mesmo. 
     Devemos mostrar o nosso Ser interior para a vida exterior. Dentro da nossa alma, descobriremos que todos nós temos um lado "lobo" e um lado "cordeiro". Devemos equilibrar esses dois lados dentro de nós, caminhando na senda do bem e da temperança. E o nosso lado "lobo" não é de todo mal... Ele nos ensina a intuição, os desejos profundos e o mergulho visceral na arte da autodefesa. 
     No mundo de hoje, quando tentamos mostrar os nossos talentos, somos julgados primeiramente. Se mostramos a nossa erudição natural, podemos ser rotulados como orgulhosos. Mas não acho que seja pecado demonstrar um discurso erudito. Quando tentamos mostrar o nosso talento, também somos julgados. No meu caso, sou escritora além de advogada. Quando falo que sou advogada, sou mais aceita, pois tenho diploma e carteira da OAB. Mas quando tento dizer que sou escritora... As pessoas já começam a olhar esquisito. Elas podem pensar: "Ela é orgulhosa" ou "Ela se auto-intitula escritora..." 

                      

    
      Como não existem "diploma de poeta" ou "carteira de escritor", demonstrar os nossos talentos artísticos demanda muito mais energia e persistência. A arte é algo que nasce de dentro para fora como um vulcão dentro da própria alma. Num mundo tecnicista e apegado ao mundo acadêmico, ser um artista nato ou um autodidata demanda um trabalho hercúleo. E a parte mais difícil dessa tarefa é demonstrar os talentos interiores, conquistando a apreciação exterior. 
     Dizem que a alma de artista é uma alma orgulhosa e egocêntrica, mas eu não penso assim. O artista não se acha superior às pessoas por causa de seus talentos. Muitos artistas nem sabem o quanto eles são inteligentes e talentosos. Não são raros os artistas que sofrem se depressão e oscilações na autoestima devido à falta de adaptação ao mundo. O artista é apenas um ser que consegue cultivar, na vida adulta, a sua alma de criança. 
    Você já parou para observar as crianças? Elas são extremamente sinceras, espontâneas, autênticas e criativas. As crianças não conseguem parar de inventar alguma coisa, pois elas estão sempre inventando uma nova brincadeira e uma nova aventura. Há algo pueril e inocente na criação artística. Há algo inocente até mesmo na exibição da própria arte. Não existe uma "ostentação" como os outros pensam, mas a simplicidade de uma criança. Toda Arte nasceu para ser mostrada inevitavelmente. 
     Quando uma criança faz um desenho novo, ela sai correndo para mostrar para todo mundo o que ela acabou de criar no papel. Assim é o escritor depois de escrever seu novo livro ou o artista após pintar um novo quadro. Não vejo vaidade nessa característica, mas inocência. Até mesmo a vaidade do artista é pueril. E Jesus já dizia que deveríamos nascer de novo, sermos crianças novamente... 
     Quando li Peter Pan (original de J. M Barrie), eu pude perceber o quanto Peter Pan é vaidoso hehehe (quem já leu entendeu muito bem o que eu quis dizer). Ele se orgulhava de seu jeito de ser e de suas aventuras. O Capitão Gancho ficava tremendamente irritado com esta característica de Peter. Todo o livro trata do conflito entre a nossa essência pueril interior e o mundo dos "bons modos" e das "convenções" dos adultos, os quais escondem a vaidade num mundo tecnicista e perverso. Devemos resgatar a nossa criança interior e os nossos anseios criativos!
                          

       
      Acredito muito que a criação está ligada a Deus. Quando o ser humano cria algo, ele passa de mera criatura a criador. É o momento onde sentimos como é ser criador, ou seja, como é ser igual ao nosso Pai. É o momento em que sentimos que somos feitos conforme a imagem e a semelhança de um Criador. Nesses momentos sublimes de criação, Deus nos permite sentir o amor que Ele sentiu quando criou a nossa existência. É o momento mais mágico que existe no mundo!
       O artista não está preocupado em fingir humildade, fingir modéstia ou esconder a sua criação. O artista não quer ser mais um lobo em pele de cordeiro. O artista assume o seu lado "lobo" e sabe enxergar os abismos que existem em seu caminho. Mas, mesmo assim, o verdadeiro artista segue em frente com a certeza de que a sua luz conduzirá a sua vida para um caminho cheio de bênçãos e bons frutos, porque o nosso Criador não abandona as suas criaturas...

Texto escrito por Tatyana Casarino.