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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Uma loba à beira do abismo




Eu sou aquela que dorme
quando todos estão acordados.
Eu sou um farol que constrói
flores em desertos despedaçados.

Eu sou aquela que acorda
quando todos estão dormindo.
Eu sou um farol que transporta
cores de esperança para um lugar sombrio.

Nas esquinas da sua mente,
a dor da alma ainda existe.
Por mais que você esteja contente,
a sua alma canta um canto triste.

E o seu mistério está trancado
nas profundezas de sua alma.
Um sentimento jamais revelado
reveste-se de dourada ira calma.

Eu sou um mistério profícuo,
que chora a melancolia do infinito.
Eu sou uma frágil donzela
segurando uma forte fera.

Ah! Esta eterna missão mística
que recebe sorrisos da sua ironia.
E a donzela prestes a ser devorada
por uma fera hostil e descontrolada.

Viver é sempre uma dolorosa tensão
entre a bela donzela e o bravo leão.
Estou constantemente a domar uma fera
que quer escapar para obscuras ruelas.

Alguns prendem os seus monstros vis
em jaulas douradas de santidade.
Tenham medo da falsa humildade,
pois ela guarda vaidades ardis.

Os seres são lobos em pele de cordeiro,
mas eu sou como um cordeiro em pele de loba.
Dentro desta pele selvagem e vaidosa,
reside uma alma doce e melancólica.

Uma alma que sonhou com a pureza
e chorou suas decepções e mágoas.
Uma alma que viu a obscura beleza
da vida ser queimada em brasas.

A diferença entre as pessoas e a loba
está na condução do próprio ego.
Debaixo do tapete, elas colocam a vaidade,
mas eu mostro a minha verdadeira face.

É evidente que as pessoas são confusas,
pois não admitem as suas maldades.
Elas preferem as ilusões do mundo,
e, assim, evitam encarar a verdade.

Eu sou assumidamente uma loba
com pose vaidosa e cabeça erguida.
Eu encaro as minhas maiores sombras
e assumo o meu ego perante a vida.

Na clareira noturna, eu observo a lua
quando saio para caçar com os lobos.
E deixo a minha alma chorosa nua
antes de enterrar os meus tesouros.

O meu uivo é um choro de mistério
que extravasa a sua doce bravura.
A minha lágrima clama por mérito
nesse labirinto de luzes inseguras.

Em verdade, as pessoas mais vaidosas
portam as almas mais humildes,
eis que as histórias mais poderosas
provêm de árduos passados tristes.

E as pessoas que parecem humildes
revelam as personalidades mais perigosas,
eis que as vaidades ocultas e reprimidas
geram as mais violentas histórias.

Confie mais na pessoa de cabeça erguida,
pois ela está mirando a luz do sol.
Antes de pensar que ela é metida ou rígida,
saiba o quanto é duro ser incompreendida e só.

Na solidão, caminhar de cabeça erguida
num mundo triste, nublado e sombrio
é como dançar à beira do abismo.
A alma da bailarina é sempre dolorida.

Deus confunde os humildes e os soberbos
como mistura o joio e o dourado trigo.
Convivemos com lobos em pele de cordeiro,
na caverna de Platão, nosso amargo abrigo.

A timidez é o orgulho fortemente trancado
sob a capa fria do medo e da reclusão.
Mas o meu orgulho já saiu do armário,
e eu vivo a provocar espanto e paixão.

Eu represento o que vocês não admitem possuir:
a virtude, o vício, a sombra, a luz, a flor e o espinho.
Eu sou o espelho que reflete as suas almas
em um oceano esquecido de ira trancada.

Vocês são lobos em pele de cordeiro,
mas eu sou uma loba selvagem assumida.
Vocês costumam trancar os seus sentimentos
enquanto eu extravaso a minha centelha divina.

Eternamente julgada à primeira vista,
injustamente zombada e incompreendida,
assim é a loba selvagem na civilização de pedra.
É como se ela visse o abismo onde eles veem a festa.

É mais fácil apedrejar a Madalena
do que olhar para os vícios interiores.
Uma doce loba que sofre a tristeza
pela incompreensão de seus estranhos amores.

Entretanto, um cordeiro perdoou Madalena,
um cordeiro poderoso que domina as profundezas.
O nome do Nosso Senhor é Jesus Cristo,
e, em suas chagas, reside o nosso abrigo.

Todos nós somos lobos na verdade,
eis que a falsa humildade não esconde a maldade.
Admita que todos nós somos pecadores nas sombras,
pois eu já confessei os meus grandes vícios de loba.

Para sobreviver num mundo de trevas,
eu fui obrigada a criar um escudo.
Uso uma pele de loba desde Eva
para esconder o meu coração inseguro.

Na terra dos lobos, houve um único cordeiro
que realmente foi puro, humilde e autêntico.
E ele foi crucificado, morto e sepultado
para ressuscitar no terceiro dia e curar os pecados.

Os seres humanos são lobos à beira do abismo,
e a humanidade necessita do amor de Cristo.
A água do senhor mata a nossa grande sede
enquanto o seu sangue é a redenção para sempre.

Eu sou uma loba que admite os seus erros,
buscando, com entusiamo, a salvação.
Um dia eu quero me transformar em um cordeiro
e viver em um paraíso de luz, amor e perdão.

Um dia o lobo se deitará ao lado do cordeiro,
e, ao invés de devorar a sua presa,
ele encontrará, na redenção, a paz.
Esse dia será repleto de luz e beleza.

Após o martírio do seu casulo,
a lagarta é transformada em borboleta,
pois só quem atravessou o escuro
pode realmente admirar as estrelas.

Só quem admite a sua vaidade
pode expressar a verdadeira humildade,
pois uma alma realmente transparente
distingue o joio do trigo decente.

Na terra dos lobos, quem é vaidoso?
E quem expressa autêntica humildade?
Na terra dos lobos, quem é mentiroso?
E quem sabe mesmo falar a verdade?

Confie mais naquele que exibe a sua luz,
pois ele não esconde a sua personalidade.
Nessa terra profana que cega e seduz,
humilde é aquele que cultiva a sinceridade.

Humildade não é andar escondido ou curvado
nem ser politicamente correto e letrado.
Humildade é amar a todos sem distinção,
propagando a igualdade desde então.

Existe até uma inocência por trás da vaidade,
mas a falsa humildade é tremenda perversidade.
Que sejamos orgulhosos e bondosos,
pois o orgulho bem direcionado espanta o ócio.

Eu fico com aquela típica pureza
da vaidade espontânea das crianças.
Nas travessuras de Peter Pan,
faíscam as estrelas da esperança.

Que tenhamos a força intensa do leão
e a doçura suave e terna da bela donzela.
Que saibamos trabalhar como um vulcão
neste equilíbrio entre a bela e a fera.

Estou empenhada em ser o sal da terra,
não quero ser mais uma pessoa sem sabor.
Nesse mundo de abismos e trevas,
devemos ser a nova luz do amor.

Uma lâmpada, ao estar acesa,
jamais é colocada debaixo da mesa.
No teto, ela é pendurada para iluminar
a passagem daqueles que encontrar.

Uma luz nasceu para ser exibida
assim como o sol nasceu para brilhar.
Avarento e covarde seria um sol escondido,
que ceifaria a vida com a ausência de seu brilho.

Já está escrito que as pessoas mornas
não serão, por Nosso Senhor, salvas.
Somente os frios e os quentes herdarão os céus,
pois eles sabem que o sol é doce como o mel.

Na frieza da minha toca, eu vivo
como uma loba em seu abrigo.
Mas, ao sair da toca, eu sou muito quente,
como um vulcão que explode depois de dormente.

Ora sou fria, ora sou muito quente,
mas jamais serei tola ou morna.
A sabedoria me ensinou a ser silente,
mas também sou uma contadora de histórias.

Que seja sepultada a falsa modéstia,
pois, na transparência, não cabe hipocrisia.
Eu vejo o abismo onde vocês veem festa
neste mar inseguro e caótico da vida.

Um coração de cordeiro tão amável
que costumava ser aberto às pessoas.
Na pele de uma loba, viveu trancado
em virtude das inúmeras decepções.

A angústia de ser incompreendida
leva a alma às iluminadas lágrimas.
Talvez só pela lua eu seja purificada,
pois ela entende as fases da vida.

Estou com a sensação de ser solitária,
eis que só a lua me compreende.
A vida na Terra é uma eterna batalha
que causa sofrimento a todos seres.

Ainda bem que Francisco me ensinou
que eu deveria procurar mais:
consolar, que ser consolada;
compreender, que ser compreendida.

É preferível amar, que ser amada,
pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoada,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

Não tenha vergonha de seu espelho
nem medo de assumir o seu íntimo.
Da chama de Deus, você foi feito,
doce criatura amada por Cristo.

Eu, uma quente loba à beira do abismo,
usei o cajado iluminado da fé na escuridão.
O amor acendeu estrelas no meu coração,
além do penhasco, eu fui salva por Cristo.

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,
ouvi-nos, Senhor, de modo atento e profundo.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,
perdoai-nos, Senhor, nesse labirinto tão escuro.

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo,
dai-nos a paz e tende piedade de nós nesse abismo.
Oh! Santa Mãe de Deus, rogai por nós hoje e sempre
para que sejamos dignos das promessas de Cristo.



Poesia escrita por Tatyana Casarino.


 Vamos filosofar um pouco a partir dessa poesia?

Eu escrevi essa poesia inspirada em vários trechos da Bíblia:




Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e uma criança os conduzirá. Isaías 11:16

14 "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.
15 E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.
16 Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus".

Mateus 5:14-16




Traziam-lhes crianças para que as tocasse, mas os discípulos as repreendiam. Vendo isso, jesus ficou indignado e disse: "Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele". Então, abraçando-as, abençoou-as, impondo as mãos sobre elas.
Marcos 10,13-16



13 Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
Mateus 5:13

1 Ao anjo da igreja de Sardes, escreve: Eis o que diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas. Conheço as tuas obras: és considerado vivo, mas estás morto.
Apocalipse 3:1

Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente!
Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.
Apocalipse 3:15,16



17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
João 3:17

21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.

João 3:21


“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João 16:33


Se eu encontro mil abismos, nos caminhos eu vou.Segurança sempre tenho em suas mãos. Salmo 23

  
    A partir dos trechos bíblicos citados, eu busquei criar uma poesia onde eu pudesse expressar o verdadeiro sentido da humildade. Muitos cristãos acreditam que humildade seja o completo abandono dos prazeres materiais, razão pela qual eles pregam a rejeição das coisas mundanas para uma vida puramente espiritual. Mas, abandonar o mundo não seria um caminho fácil? O mundo é cheio de lobos e abismos, mas eu acredito que a vontade de Cristo não era abandonar o mundo, mas salvá-lo. Cristo ensina ao nosso coração como vencer o mundo. 

                                

  
    Eu adoraria poder abandonar o mundo, não correr riscos, não me machucar nos caminhos da Terra e viver uma vida puramente espiritual ao lado de Anjos. Eu adoraria poder me dedicar apenas às orações e renegar os desafios mundanos. Mas será que esta é a verdadeira vontade de Cristo? 
  Muitas pessoas realmente têm missões espirituais envolvendo a vocação religiosa. Porém, esta missão não corresponde às tarefas de todos. Será que não precisamos de uma revolução espiritual no próprio âmbito mundano? As mudanças não ocorrem de fora para dentro (dos centros religiosos para a vida mundana), mas de dentro para fora (o próprio âmbito mundano precisa passar por um processe interno de despertar espiritual). 
    As pessoas confundem humildade cristã com comedimento e timidez. Entretanto, ser um autêntico cristão é ser feliz. Deve-se servir Jesus com sorriso no rosto e cabeça erguida! Ao invés disso, encontramos pessoas com ombros caídos, rosto lânguido e expressões melancólicas. Estas são as que se consideram "humildes". Contudo, por trás dessa falsa humildade, há um tremendo orgulho oculto. O famoso "orgulho de ser humilde" não deixa de ser uma manifestação da vaidade (e uma das mais vis manifestações). Como uma pessoa verdadeiramente humilde pode "orgulhar-se" de sua humildade (hehehe)? Não é um contrassenso? 

                      

      

       Talvez essa também seja uma maneira de sentir-se superior aos outros. Por exemplo, a mulher que abdica de sua vaidade acaba se tornando ainda mais vaidosa espiritualmente, pois se acha moralmente superior àquelas mulheres que exteriorizam a sua vaidade mundana "normal" como passar batom, usar roupas bonitas e etc. Algo semelhante ocorre com as feministas, as quais abdicam da feminilidade por ideais e acabam se contaminando pelo orgulho intelectual (perigosíssimo). 
      A vaidade espiritual (considerar-se mais virtuoso e santo do que os outros) é tremendamente mais perigosa do que a nossa vaidade mundana corriqueira (conquistas de bens materiais, realização de desejos, honrarias e etc). O que acontece com aquele homem que abdica de seus desejos carnais e fica toda hora pensando no quanto ele é virtuoso e santo por isso? Ele acaba destruindo todo o seu trabalho espiritual, pois não adianta renegar a luxúria e cair no maior de todos os pecados: a soberba. Talvez o orgulho seja o pecado capital mais difícil de driblar!
       Por essa razão, eu disse, no poema, que Deus confunde os humildes e os vaidosos como mistura o joio e o trigo. Talvez aqueles que parecem vaidosos por fora (boa aparência, boas roupas, sorriso no rosto e cabeça erguida) tenham corações mais puros e humildes do que os outros pensam. Por que julgar um livro pela capa? Por que pregar radicalismos? Será que não dá para seguir o caminho do meio? 

                        

     

         O que é o caminho do meio? O caminho do meio é aquele caminho onde seguimos uma vida mundana normal (incluindo sexo, bens materiais, profissão e realizações de desejos) sem nos esquecermos da nossa essência espiritual (sexo com amor, bom uso dos bens materiais, profissão idealista e desejos virtuosos). Talvez o grande mal do mundo seja a separação radical entre a carne e o espírito. É impossível abandonarmos completamente a carne, mas é totalmente possível dar sentido espiritual para as coisas mundanas. 
       O grande mal da Religião é pregar essa separação, afastando as pessoas da vida espiritual. As pessoas acreditam que a vida espiritual é algo muito distante de seu cotidiano, sendo exclusividade de padres, monges, freiras, santos, magos, sacerdotes e ermitões. E se disséssemos para as pessoas que elas podem tornar a vida delas mais espiritualizada? E se disséssemos para as pessoas que elas podem tornar a vida delas uma aventura repleta de substância, profundidade, amor, sabedoria e fé? E se disséssemos para as pessoas que é importante cultivar a essência interior e enxergar a vida que existe muito além do materialismo?
      Eu sempre gostei de elucidar a respeito da célebre dicotomia Ter x Ser. A minha única crítica ao capitalismo é que ele acaba focando muito no Ter e esquecendo do Ser muitas vezes. As pessoas colocam os bens materiais acima da essência humana e cobrem o "vazio existencial" com viagens, roupas da moda, celulares modernos, redes sociais e novidades tecnológicas. Por incrível que pareça, nestes conflitos de Ter x Ser, as melhores respostas estão nas mãos da Religião. A Religião é a única capaz de matar a sede do ser humano por aquilo que há além da matéria. 
       Eu acredito que a nossa vida mundana sempre será materialista e, consequentemente, capitalista. Pregar o fim do capitalismo é uma utopia, pois o planeta Terra, como o próprio nome já diz, é material, concreto e palpável, ou seja, absolutamente terreno. Somente a Religião pode nos conectar com uma essência além do terreno, trazendo à tona a essência celestial... A Religião é a única capaz de trazer o equilíbrio para o capitalismo. É a única que pode unir Carne e Espírito, Matéria e Virtude, Homem e Deus...

                         

        

          Infelizmente, no entanto, a Religião é apedrejada por todos os cantos. Considerada como "retrógrada" e "moralista", ela é apedrejada por intelectuais "vanguardistas". Desse modo, a Religião perde a voz no meio "contemporâneo". Ao perder a voz, ela perde espaço para ideias intelectuais utópicos e projetos políticos fantasiosos. E aí nasce o perigo... 
         As pessoas canalizam aquela "sede" por algo além da matéria para "sociedades alternativas" ao invés de buscarem Deus dentro da nossa sociedade "normal". E o ideal intelectual acaba se tornando o novo "deus" dessa geração vanguardista. Se eu dissesse que o mundo é um lugar de abismos, desigualdades e provações de toda ordem, certamente eu seria apedrejada e zombada pelos intelectuais. 
       É, por isso, que há tanto preconceito em relação às pessoas religiosas, pois pensam que nós cruzamos os braços em uma resignação improdutiva ao invés de "arregaçarmos as mangas" para ajudar os outros. A resignação no mundo de hoje se tornou o maior pecado. Nada mais equivocado. Resignação não é pecado e nós, os religiosos, não somos improdutivos apesar da nossa típica resignação interior. Acreditamos que Deus permite o mal justamente para fazer o bem brilhar. Diante dos abismos e das desigualdades, devemos "arregaçar as mangas" e ajudar os nossos irmãos terrenos através da caridade e do amor. O amor é a nossa missão.
      Os autênticos religiosos não ficam apenas rezando. Os autênticos religiosos não dizem diante do abismo "Deus quis assim". O autêntico religioso usa a sua fé para ultrapassar o abismo, "arregaçando as magnas" em prol do bem. Nós ajudamos os outros em todos os instantes. A salvação é individual. Todo projeto de "salvação coletiva" é uma utopia. 

                            

      

      Apesar da salvação ser individual, podemos ajudar todos os indivíduos que passam em nosso caminho. Podemos ajudar os nossos amigos a lidarem melhor com as suas virtudes e vícios. Podemos iluminar cada pessoa que passa em nossa vida, incentivando a lucidez, a clareza de espírito, o amor, a boa vontade e a esperança. Podemos ajudar o outro a encontrar a própria salvação através de bons conselhos e muito amor. Mas cada um se salva sozinho. Os caminhos nas tendas da própria alma são individuais. O verdadeiro místico sabe que a única viagem que existe não envolve carros, trens, aviões ou navios. A única viagem que existe é a viagem para o centro da alma. 
       Que possamos encontrar o nosso verdadeiro Ser nessa viagem ao centro da alma. Que possamos encontrar um verdadeiro equilíbrio entre o Ter e o Ser. Que possamos enxergar a importância de cultivar a dignidade da pessoa humana. Que possamos sempre colocar a essência acima da matéria. Que possamos enxergar os outros com os olhos do amor, combatendo todo e qualquer preconceito. 

                       

      



       Ao encontramos o nosso Ser na jornada interior, que não tenhamos vergonha de exteriorizar a nossa essência com transparência e autenticidade. Quem "exibe" o Ser de dentro para fora acaba sendo rotulado como "metido", "vaidoso" e etc. Mas, quando acendemos a nossa luz interior, não devemos mantê-la escondida. Devemos mostrar a nossa chama interior! Afinal, na própria Bíblia está escrito:

E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.


           

     Se você é erudito, não tenha vergonha de mostrar a sua erudição. Se você é talentoso, não tenha vergonha de mostrar o seu talento. Humildade não é esconder a si mesmo, mas mostrar a sua essência com verdade e transparência. A verdadeira humildade está em tratar a todos com respeito e enxergar a igualdade humana, pois todos nós compartilhamos os mesmos anseios, medos, virtudes e vícios. Ser humilde não é ser uma pessoa apática ou morna. A Bíblia nunca defendeu a apatia e a temperatura "morna" muito pelo contrário... A Bíblia defende a coragem e a ousadia em mostrar a própria luz, a qual é quente por natureza... Ser humilde é enxergar a própria luz, mas também a luz dos outros. É amar o próximo como a si mesmo. É respeitar o próximo como a si mesmo. 
     Devemos mostrar o nosso Ser interior para a vida exterior. Dentro da nossa alma, descobriremos que todos nós temos um lado "lobo" e um lado "cordeiro". Devemos equilibrar esses dois lados dentro de nós, caminhando na senda do bem e da temperança. E o nosso lado "lobo" não é de todo mal... Ele nos ensina a intuição, os desejos profundos e o mergulho visceral na arte da autodefesa. 
     No mundo de hoje, quando tentamos mostrar os nossos talentos, somos julgados primeiramente. Se mostramos a nossa erudição natural, podemos ser rotulados como orgulhosos. Mas não acho que seja pecado demonstrar um discurso erudito. Quando tentamos mostrar o nosso talento, também somos julgados. No meu caso, sou escritora além de advogada. Quando falo que sou advogada, sou mais aceita, pois tenho diploma e carteira da OAB. Mas quando tento dizer que sou escritora... As pessoas já começam a olhar esquisito. Elas podem pensar: "Ela é orgulhosa" ou "Ela se auto-intitula escritora..." 

                      

    
      Como não existem "diploma de poeta" ou "carteira de escritor", demonstrar os nossos talentos artísticos demanda muito mais energia e persistência. A arte é algo que nasce de dentro para fora como um vulcão dentro da própria alma. Num mundo tecnicista e apegado ao mundo acadêmico, ser um artista nato ou um autodidata demanda um trabalho hercúleo. E a parte mais difícil dessa tarefa é demonstrar os talentos interiores, conquistando a apreciação exterior. 
     Dizem que a alma de artista é uma alma orgulhosa e egocêntrica, mas eu não penso assim. O artista não se acha superior às pessoas por causa de seus talentos. Muitos artistas nem sabem o quanto eles são inteligentes e talentosos. Não são raros os artistas que sofrem se depressão e oscilações na autoestima devido à falta de adaptação ao mundo. O artista é apenas um ser que consegue cultivar, na vida adulta, a sua alma de criança. 
    Você já parou para observar as crianças? Elas são extremamente sinceras, espontâneas, autênticas e criativas. As crianças não conseguem parar de inventar alguma coisa, pois elas estão sempre inventando uma nova brincadeira e uma nova aventura. Há algo pueril e inocente na criação artística. Há algo inocente até mesmo na exibição da própria arte. Não existe uma "ostentação" como os outros pensam, mas a simplicidade de uma criança. Toda Arte nasceu para ser mostrada inevitavelmente. 
     Quando uma criança faz um desenho novo, ela sai correndo para mostrar para todo mundo o que ela acabou de criar no papel. Assim é o escritor depois de escrever seu novo livro ou o artista após pintar um novo quadro. Não vejo vaidade nessa característica, mas inocência. Até mesmo a vaidade do artista é pueril. E Jesus já dizia que deveríamos nascer de novo, sermos crianças novamente... 
     Quando li Peter Pan (original de J. M Barrie), eu pude perceber o quanto Peter Pan é vaidoso hehehe (quem já leu entendeu muito bem o que eu quis dizer). Ele se orgulhava de seu jeito de ser e de suas aventuras. O Capitão Gancho ficava tremendamente irritado com esta característica de Peter. Todo o livro trata do conflito entre a nossa essência pueril interior e o mundo dos "bons modos" e das "convenções" dos adultos, os quais escondem a vaidade num mundo tecnicista e perverso. Devemos resgatar a nossa criança interior e os nossos anseios criativos!
                          

       
      Acredito muito que a criação está ligada a Deus. Quando o ser humano cria algo, ele passa de mera criatura a criador. É o momento onde sentimos como é ser criador, ou seja, como é ser igual ao nosso Pai. É o momento em que sentimos que somos feitos conforme a imagem e a semelhança de um Criador. Nesses momentos sublimes de criação, Deus nos permite sentir o amor que Ele sentiu quando criou a nossa existência. É o momento mais mágico que existe no mundo!
       O artista não está preocupado em fingir humildade, fingir modéstia ou esconder a sua criação. O artista não quer ser mais um lobo em pele de cordeiro. O artista assume o seu lado "lobo" e sabe enxergar os abismos que existem em seu caminho. Mas, mesmo assim, o verdadeiro artista segue em frente com a certeza de que a sua luz conduzirá a sua vida para um caminho cheio de bênçãos e bons frutos, porque o nosso Criador não abandona as suas criaturas...

Texto escrito por Tatyana Casarino. 


        
         

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