O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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domingo, 20 de agosto de 2023

Rei de Espadas

 

Rei de Espadas




 

Nas colinas mais geladas,

mora um rei de espadas.

Articulado, sábio e admirado,

até as montanhas aplaudem o seu fado.

 

Considerado frio e recluso,

imponente, distante e orgulhoso,

ele chegou ao topo com o seu esforço.

Mas, ninguém viu o seu fado embaraçoso.

 

Ninguém viu quando ele desmaiou

por causa de três espadas no peito.

Ninguém viu quando ele se feriu

sob dez espadas frias de gelo.

 

Agora a espada que feriu a sua alma

é a mesma que ele usa para ter calma.

Ele usa a espada sábia das palavras,

e a sua sinceridade gelada até mata.

 

Nas colinas mais geladas,

mora um grande rei de espadas.

Mas, um dia ele foi apenas Valete:

perdido no mundo com a mágoa que fere.


Nas colinas mais geladas,

um rei admira a frieza das estrelas.

Como ele, elas brilham distantes

com etérea e inalcançável beleza.

 

Ninguém viu quando ele chorou,

porque ele limpou a lágrimas sozinho.

Ninguém viu quando ele orou,

porque ele viu Deus sozinho.

 

Ninguém viu o quanto ele sofreu

por ter alcançado o cerne da questão.

Ninguém viu o quanto ele raciocinou

até o pensar vencer a sua combustão.

 

O rei de espadas nunca sorri nas festas,

pois manter a pose séria é a cruz da matéria.

O universo feriu a sua alma com dez espadas,

e ele recebeu a dor como um beijo de donzela.

 

O universo permitiu a sua angústia

com três espadas invadindo o seu peito.

E ele recebeu tudo como um presente

que os deuses dão aos sábios eleitos.

 

Poesia escrita por Tatyana Casarino.


  



 Esta poesia fala sobre um lento processo de evolução espiritual até alcançar a sabedoria. O rei de espadas é o arquétipo do ser humano sábio e inteligente que atravessou os obstáculos e os desafios da vida com astúcia para atingir um padrão mais elevado de energia espiritual e intelectual. 

  Ocorre que, por trás da sua calma e da sua aparente frieza, existiu uma jornada repleta de dores emocionais e espirituais que ninguém viu. A sabedoria não é obtida por acaso, mas através de muitas lutas internas e externas. Sendo assim, o caminho dela é feito de "espadas", símbolos das grandes batalhas enfrentadas por todo guerreiro espiritual no caminho da luz. 

  A grande chave da maturidade é encarar a dor da mesma forma como esse rei encara: como o beijo suave de uma donzela ou como um presente dos deuses para expandir a sua sabedoria. 




Tatyana Casarino.


*Observação: Rei de Espadas também é o nome de um Arcano Menor do Tarô e a poesia reflete todo o seu simbolismo místico também. 


*O Rei de Espadas significa o "topo" da maturidade humana e a coroação da jornada intelectual de alguém na busca por um modo de pensar sábio e elevado. Mas, por trás da sua coroa, houve um caminho pesado e difícil (o caminho das espadas é um dos mais complexos do Tarô). 


*Observem o sofrimento do Rei antes de alcançar a sua coroa magnífica:


3 de Espadas (mágoas da vida) e 10 de Espadas (ponto de iluminação depois da fadiga espiritual).






Tatyana Casarino







*Observação final: a primeira imagem pertence ao livro "Dark Wood Taro" da escritora Sasha Graham e da ilustradora Abigail Larson. 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

A sabedoria do sol

 

A sabedoria do sol






 

Eu vivo a tensão entre luzes,

entre os deuses perfeitos do Olimpo

e os mortais imperfeitos de Malkuth*.

Nessa tensão gloriosa, subo o monte.

 

Eu não preciso ter medo,

eu não preciso ter medo.

A escuridão é só mais um passo

de progresso na luz e no desejo.

 

Eu vivo a tensão entre o céu e a terra,

a tensão entre as luzes e as trevas.

Correndo com os lobos, sou luz

e não mais medo nem lamento.

 

Eu não preciso de cura nem remédio,

não preciso de aplausos nem holofotes.

E aonde eu cheguei com tanta luta

não será destruído por mundano tédio.

 

Eu não preciso de remédio

para o meu coração terno.

Eu não quero adormecer

a alma, a dor ou a lágrima.


Deus fez minh’alma perfeita

com sorriso doce e lágrima salgada.

Eu não preciso do mundo e sua pedagogia,

pois eu me curo com Deus e Sua sabedoria.

 

Não chame o meu nome sem respeito,

pois eu venci quase todos os lamentos do luar

e tornei o meu espírito mais saudável, mais solar.

Segui a sabedoria divina sem perder o sentimento.

 

Hoje eu deixo a lágrima secar

sob o mais puro raio solar.

E, caminhando sob o sol quente,

ergo a cabeça e sorrio novamente.

 

O equilíbrio entre o sol e a lua,

que eu trago gravado na alma,

é fruto de um longo e denso trajeto

que eu mergulhei feroz e sem calma.

 

Hoje eu gosto de tudo o que é luz,

vivo com o espírito solar e colorido.

Gosto de tudo o que é iluminado com sorrisos:

flores, montanhas, vida saudável, fé e bichos.

 

A cura mundana é uma ilusão!

O que cura mesmo o nosso coração

é seguir a sabedoria do sol e da nossa intuição.

Deus sussurra a sabedoria que cura na Sua criação.


Poesia escrita por Tatyana Casarino. 


  



 Essa poesia fala sobre a sabedoria da nossa intuição dentro de um caminho autêntico do ser. Encarar com naturalidade todos os nossos sentimentos -- tanto os divinos quanto os imperfeitos -- é uma das chaves da cura interior. Não ser inseguro diante de um mundo que rotula os sentimentos e oferece remédios para tudo é uma das tarefas do místico no caminho da sua libertação autêntica. 

 O sol é o astro que ilumina tudo. E, no misticismo, ele também é o símbolo da nossa luz interior. Todo mundo tem o potencial de desenvolver a "sabedoria do sol", ou seja, o conhecimento espiritual da alegria, da leveza e do brilho natural. A verdadeira essência de tudo o que é positivo está transformada em saber intuitivo para quem busca a iluminação.

  O autoconhecimento, a intuição e a conexão com Deus são os grandes portais da jornada da evolução espiritual. Uma boa intuição que direciona o caminho da luz e da leveza é a grande bússola do místico que desejar obter a sua paz interior. O sol brilha para todos, mas a sua sabedoria brilha mais dentro daquele que decide amar a luz. 


*Observações:

 *A palavra "Malkuth" citada na poesia representa o reino material na árvore da vida cabalística. 

 *O arquétipo do espírito feliz e bem-sucedido é representado pelo Arcano XIX no Tarô (as ilustrações desta postagem são cartas do Tarô). 


Tatyana Casarino. 

domingo, 19 de março de 2023

Quatro espadas

 

Quatro espadas




 

Eu conheço o guerreiro de espadas,

o brilho dos seus olhos determinados

e o seu espírito sempre tão solar

soaram bem angelicais no meu lar.

 

Eu conheço o guerreiro solar,

o brilho da sua espada é familiar.

Ele lutava tão bravo contra o mundo,

ele costumava ajudar todo mundo.

 

Mas, agora, sua coragem fatigada,

seu coração ferido, sua alma sugada,

sua solidariedade rasgada e abusada

querem descansar na minha morada.

 

Eu ensinei o guerreiro a dormir,

porque nem só de luta vive o homem.

Precisamos abandonar todas as lutas,

precisamos do carinho encantado da lua.

 

E, quando algo atormenta a mente,

você logo saberá o que fazer:

abandonar a luta toda e dormir,

deixar o problema de lado e sorrir.

 

Feche os olhos e mergulhe na noite,

feche os olhos e mergulhe nas estrelas.

Não tenha medo de morrer na inconsciência,

eis que ela é cheia de sonhos e belezas.

 

Tome um chá feito pela princesa,

mergulhe no mistério das estrelas

e deixe as fadas embalarem o seu sono.

Você acordará melhor com certeza!

 

Eu sei o que machuca o seu espírito!

Há um trovão em nossas almas,

há tanta fadiga nessa falsa calma.

Eu quero restaurar a energia nesse abrigo.

 

Eu quero consertar a sua espada,

eu quero reacender a sua auréola.

Mas minh’alma também se sente cansada

como se estivesse ferida por quatro espadas.

 

Tudo o que nos resta é dormir

para restaurar o espírito.

Poderemos sonhar um com o outro

e acordar com uma energia de ouro.

 

Deite-se sobre a minha cama de armadura,

não precisa nem tirar a espada da cintura.

Descanse sujo do sangue nobre da luta

até acordar pronto para a próxima labuta.

 

Três espadas suspensas sobre o seu corpo

e uma espada em cima da sua cama prateada

formam quatro espadas celestes bem sagradas.

Quatro espadas saídas da guerra para a casa!

 

Abandone a luz do sol,

abandone a luta e os dias.

Encoste a cabeça no peito da lua,

onde não há guerra, só há cura.

 

Mergulhe no espírito noturno,

no espírito do descanso e do silêncio,

onde não fazer nada é saber tudo.

Até um guerreiro precisa de sono profundo.







Poesia escrita por Tatyana Casarino. 


* Inspiração da poesia e explicações sobre ela:  

  Essa poesia foi inspirada na simbologia dos Arcanos Menores do Tarô. No Tarô, a carta "Quatro de Espadas" representa uma necessidade de repouso para acalmar uma situação difícil através da paciência e do silêncio.

 Quando um problema causa muita angústia no coração, talvez o descanso temporário seja a melhor resposta. Evitar agir de "cabeça quente", dar um passo atrás e rever a situação garantem reações muito mais ponderadas e inteligentes. 

 Toda pessoa deveria fazer um retiro temporário para a contemplação a fim de mergulhar em si mesma e descobrir as respostas mais sábias para os seus problemas e os segredos da sua própria mente. Reservar um tempo para ficar sozinho, encontrar o seu espaço, relaxar e diminuir o ritmo são hábitos que deveriam fazer parte da vida de todos -- até do mais bravo e corajoso guerreiro. 


Tatyana Casarino. 

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Sacerdotisas das estrelas

 Sacerdotisas das estrelas





Eu e minhas irmãs somos sacerdotisas,

nós lemos as pessoas pelas estrelas

e dançamos em volta da fogueira.

Esprememos romãs e fazemos poesias.


De noite, as nossas mestres maternais

ensinam-nos a acender o incenso

Nós dançamos com a luz das estrelas,

e decoramos os nomes dos planetas.


Nós formamos um círculo feminino,

um círculo fraterno e delicado.

Um círculo que não pode ser rompido

pelo mundo masculino e desalmado.


Nós somos o sagrado feminino,

as deusas do passado que voltaram.

Nós somos Afrodite e Atena num só fio,

beleza e sabedoria no mesmo rio.


Nós somos as Persérfones de almas profundas,

aquelas que atravessaram o submundo chorando

para trazer ao mundo uma sabedoria fecunda.

Nós somos deusas sensuais quando dançamos.


Entre duas colunas, sentamos em nossos tronos.

O véu azul cobre parcialmente o rosto delicado,

mas os pés pequenos pisam na gigante lua.

Nosso transe místico é um belo espetáculo.


Eu e minhas irmãs espirituais vamos para a floresta,

dançamos, rimos e respeitamos toda a luz celestial. 

Cada uma com a sua crença forma o círculo espiritual,

que honra a poesia, a música e a força do mundo ancestral.  


Uma irmã faz chá, a outra canta músicas,

uma irmã faz poesias, a outra pinta gravuras.

Uma irmã é sensual, a outra é a casta e pura,

uma irmã reza, a outra tem ervas e cura. 


Nós não prendemos os nossos cabelos,

nós não deixamos de correr com o vento. 

Nós não escondemos os nossos sentimentos,

nós não ocultamos a sensualidade e os beijos.


Nós não escondemos a nossa fé mística,

nós não deixamos de ser sacerdotisas.

Nós não nos calamos nessa sociedade cética,

pois nós somos a ponte entre o céu e a terra. 


Nós vivemos uma vida plena em liberdade,

equilíbrio perfeito entre pureza e sensualidade.

Nós somos feitas de alma doce e nobres desejos,

nós somos as damas da sabedoria dos sentimentos. 


Nós lemos livros ocultos do grande público,

livros da grande sabedoria ancestral.

Nós transformamos a sabedoria antiga

em linguagem moderna e poesia. 


Nós somos o sagrado feminino,

a força do útero e da lágrima.

Nós somos a força da ternura,

mulheres escolhidas e abençoadas. 


Nós somos a força da sensibilidade oculta,

nós temos sonhos, poesias e pressentimentos.

Dentro dos nossos véus, recebemos as visões

de um mundo novo repleto de nobres sentimentos. 





Poesia escrita por Tatyana Casarino. 


  



    Essa poesia é baseada no arquétipo da sacerdotisa, o Arcano II do Tarô. A sacerdotisa é uma mulher consagrada ao mundo divino e que carrega os grandes mistérios da sabedoria celestial. 

  Estudo sobre Sagrado Feminino e Direitos das Mulheres há anos. Escrevo poesias com o símbolo da sacerdotisa há anos também. Gosto do universo feminino e do universo místico. Defendo uma fraternidade feminina sólida baseada em virtudes e no apoio mútuo entre mulheres. 

    Longe de qualquer possibilidade de rivalidade feminina, o círculo feminino de mulheres místicas é repleto de amor fraterno, pureza, honestidade e sabedoria. Uma mulher conforta a outra quando é preciso. Somos amigas e somos consagradas ao divino.

    Jamais seremos oprimidas pela insensibilidade e pelo ceticismo do mundo ou de alguns homens. Jamais esconderemos a nossa sensibilidade mística. Encantaremos o mundo com a riqueza espiritual da nossa força, da nossa sabedoria e da nossa sensibilidade. Viva a feminilidade! Viva a delicadeza que conforta o mundo!


Tatyana Casarino. 


Confiram uma música que tem a energia mística da poesia: 


Enya - The Celts





https://www.youtube.com/watch?v=rGwUpsyDJTk



sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Antes do amor ser coroado




O sol de julho é luz
que aquece o pior frio.
Seus raios são sua cura
que formam o anel e a cruz.

Como um bebê que respira
depois de tanto tempo no útero,
assim é a estrela-guia de julho
repleta de doçuras translúcidas.

A tua mãe sente as asas da paixão,
tu sabes que isto chegou da redenção.
É o teu anjo que canta em voz alta
como uma criança faceira e formosa.

Nas asas de julho, tudo é cor,
porque o amor olhou para julho
e ali fez encarnar o teu futuro.
Pura dor aguarda tua alma.

Pura dor aguarda a alma que do amor,
é o bebê que nasceu e logo chorou.
Chorou, porque respirou as estrelas
e o impacto delas acertou as tuas veias.

Chorou, porque a empatia 
parece um veneno nos teus lábios.
O amor tem má fama agora,
tudo é culpa do frio que foi embora.

Lembra de correr um pouco
antes do novo entardecer.
Cai a chuva sobre o luto
e o sol faz nascer um novo ser. 

O sol de julho é puro amor e luz
que aqueceu a pior dor e o pior frio.
Seus raios são a sua maior cura
que formam o mar e o rio.

O anel é a aliança da dança
que o louco terá de aprender.
A cruz é o dever do cristão
que dentro do amor irá morrer.

O mar é o lar das sereias 
que será navegado pelo teu ser.
O rio é a conduta da jornada
que faz a esperança renascer.

Eu vi uma mulher nua 
que derramava água no rio.
Ajoelhada, seus cabelos negros uivavam
sob a estrela e a prateada lua.

Eu vi lobos uivando para a lua
e um caranguejo cambaleando.
Vi os raios destruindo as torres
e os reis confessando seus amores.

Mas, agora tudo é puro outra vez,
eis que vejo o menino sobre o cavalo.
O menino sorri com inocência
e o cavalo branco traz altivez.

Tudo é puro e amoroso de novo,
eis que o sol nasceu outra vez.
O sol de julho venceu o inverno,
pois o amor foi coroado como rei. 

Poesia escrita por Tatyana Casarino. 


                     



      **Essa poesia mística foi inspirada nos Arcanos do Tarô, especialmente nos seguintes Arcanos: O Louco (XXII), A Lua (XVIII), A Estrela (XVII) e O Sol (XIX). O Tarô representa a jornada do ser humano repleta de obstáculos, testes evolutivos, virtudes e vícios. 
    Sendo assim, a poesia destaca a vitória da luz sobre os obstáculos da jornada. O sol sempre volta a brilhar e, através da redenção, a alma recebe o perdão pelos seus pecados e uma nova pureza. É preciso salientar que, além do tarô, a astrologia inspirou a poesia, já que o mês de julho foi citado por ser o mês típico do signo de câncer. 
      O signo de câncer é receptivo, empático, sensível e impressionável, pois capta as energias dos ambientes e sente a grandeza dos sentimentos em seu ser. Portanto, a dor na alma (a angústia) será inevitável para o canceriano, mas ele poderá se salvar caso aprenda a dançar conforme a sabedoria da jornada. 
       
                               



       Curiosamente, a lua é regente do signo de câncer, o qual também é simbolicamente representado por um caranguejo. Na carta XVIII do Tarô, a lua aparece acompanhada por um caranguejo (pode ser um lagostim também representando os crustáceos) no meio de dois lobos que uivam para ela. A lua do tarô representa o nosso inconsciente e toda a magia psíquica prestes a ser revelada. O sol, por sua vez, é a luz que retornou mais pura, coroando a vitória do herói ou da heroína da jornada com amor, alegria, boas colheitas e contentamento. 


***Observação: Os Arcanos do Tarô que inspiraram a poesia estão representados nas imagens da postagem. 

Tatyana Casarino.



*Tatyana é Especialista em Direito Constitucional, Advogada e Poetisa. 

quarta-feira, 21 de março de 2018

Antes da lua renascer



As árvores perderam suas folhas,
os rios secaram as suas águas.
Carrego no peito trevas tão tolas
desde que passei a guardar mágoas.

Um dia eu já toquei a luz,
lembro-me ainda de seu calor e amor.
Abria o meu coração sem restrição,
mas em troca fui agraciada com a dor.

Sua inveja e sua amarga ingratidão
arrancaram de minh’alma a afeição.
Mas os urubus jamais voarão como as águias
e seu futuro será a carniça da minha caça.

Caminho pela jornada solitária,
meu cajado desbrava a floresta escura.
Toda a minha doçura está amarga
desde que a raiva corrompeu minh’ alma pura.

Com os olhos embaçados pelas lágrimas,
avisto um caminho estreito entre duas torres.
Saio do rio lamacento das mágoas
em direção as gotas de luar sobre as flores.

Eu encontrarei os meus defeitos
dentro das trevas do noturno espelho.
No espelho da noite, há uma câmara secreta,
onde jurarei ser virtuoso e correta.

Dentro do rio, fui guiada por um caranguejo
enquanto encarava todos os meus os meus desejos.
Ao sair do rio, avistei a terra e dois lobos
que uivavam em busca de um tesouro.

No rio das mágoas e memórias do passado,
nadava como uma sereia emotiva.
Mas agora me purificarei dos fados
quando o anjo da temperança tocar a vida.

E, quando minha cauda vira pernas,
vejo a lua iluminando as trevas.
Ainda percebo a luz do sol através dela,
e fico esperançosa pela redenção terna.

A lua estava perturbada e confusa,
sendo disputada por fadas e bruxas.
Mas, no meio do caos, avistei uma bússola
que me indicou o caminho da minha cura.

Corro entre a floresta com arco e flecha,
caçando a redenção e novas ideias.
Encontrei um anjo cheio de brilho e luz
que me disse para lembrar de momentos bons.

Apago as minhas mágoas do caderno da vida,
reescrevendo as páginas com elogios e alegrias.
Ganho um vestido prateado e uma coroa florida
e avisto anjos tocando flautas e recitando rimas.

Avisto um cavalo branco a correr
enquanto uma nova porta se abre.
O dia está prestes a amanhecer
e a lua no sol floresce e renasce.

Poesia mística escrita por Tatyana Casarino

*Inspiração: Arcano XVIII do Tarô — A Lua.

Outras representações do Arcano citado:








   Esta poesia é um alerta para a negatividade acumulada em nossos corações. Infelizmente, o ser humano tem a tendência de recordar mais os momentos ruins do que bons. Isto gera um desequilíbrio sentimental e inconsciente (regido pela lua). Precisamos parar de remoer as mesmas e velhas mágoas, pois mágoas formam um rio lamacento na alma de água parada e suja. Aliás, mágoa quer dizer "má água". A água é o elemento que representa os nossos sentimentos. Sendo assim, precisamos nos banhar em águas limpas, purificar os nossos corações e renovar o nosso espírito. 

             

   O arcano XVIII do Tarô representa o momento em que encaramos as nossas sombras, dúvidas e traumas para podermos renascer puros e limpos outra vez como umacriança sorridente sobre um cavalo branco -- igual ao prenúncio do Arcano seguinte (o Sol). 
     O arcano XVIII é a Lua, regente do signo de câncer. Um dos grandes defeitos desse signo é a mágoa. Deus deu aos cancerianos uma memória privilegiada que deve ser canalizada para o bem e para o encontro com as nossas raízes. Ocorre que o ser humano tem a tendência a focar mais no negativo do que no positivo. Mais nos motivos que geram mágoas do que naqueles que produzem gratidão. E, se pararmos para pensar, teremos muito mais motivos para sermos gratos do que para sermos magoados.
       Sou canceriana e sei bem como é enfrentar o desafio da mágoa hehehe. Vou compartilhar uma história engraçada que representa bem o defeito da negatividade humana. Na quinta série, a minha professora de inglês propôs um desafio -- a de que fizéssemos uma lista de adjetivos para nossos colegas de sala de aula. Cada aluno deveria escrever um adjetivo em inglês para cada colega. Estávamos aprendendo sobre adjetivos e eu sempre gostei muito de estudar inglês. No final do desafio, recebíamos uma lista com aproximadamente vinte adjetivos (éramos vinte e poucos alunos, salvo engano). Cada colega nosso tinha dado um adjetivo para nós. Havia vários adjetivos positivos na minha lista (beutiful- bonita, smart- inteligente...). Todavia, eu não fiquei feliz com os elogios na época e nem lembro das qualidades que recebi. O motivo -- tinha recebido um adjetivo negativo a meu ver na lista. Fiquei encucada com aquela característica negativa. Algum coleguinha me considerava "sad", ou seja, triste. 
    Ao invés de ficar feliz com os inúmeros adjetivos positivos, fiquei encucada justamente com aquele negativo que tinha recebido. Fiquei perturbada e perguntei para a minha mãe se ela me considerava triste hehehe. Sempre fui uma pessoa feliz.Sou emotiva em verdade. Não escondo lágrimas, mas também valorizo o riso. Na época, entendi que,como tenho o perfil mais introspectivo, quieto e sempre fui "na minha", transmitia algo "misterioso" e talvez "melancólico". Dessa forma, reinterpretei o adjetivo "sad" de modo positivo. 
     Mais tarde, lendo livros de Augusto Cury, um psiquiatra e escritor que adoro, descobri que não podemos apagar as más lembranças da mente -- os consultórios psiquiátricos estão lotados de pessoas que não sabem lidar com suas recordações e frustrações. Mas, podemos dar um novo significado aos acontecimentos ruins -- significados de sabedoria e perspectivas positivas ao invés de vitimistas. A maioria do trabalho da terapia é limpar a "visão" distorcida e traumatizada do paciente em relação ao seu passado e não limpar o passado (não tem como, não é, minha gente). 
     Por trás de todo adjetivo negativo, existe um positivo. Por trás de toda crítica construtiva, existe um aprendizado. Por trás de cada crítica destrutiva, existe a chance de provar o nosso valor e a nossa perseverança.Por trás de todo acontecimento ruim, existe um aprendizado de sabedoria. Se não vermos as coisas boas por trás das ruins, tornamo-nos depressivos e amargos. Se não vermos a flor de lótus florescendo da lama, afogamos a alma no rio lamacento da mágoa. 
       Alguns exemplos de adjetivos negativos e suas perspectivas positivas



*Triste -- Pode significar que você passa uma aura melancólica e até charmosa. Não precisa interpretar do pior jeito como se ou outros te vissem como alguém depressivo e estranho.
*Metido -- Pode significar que você chama a atenção por onde passa mesmo sem ter consciência disso. Sem dúvidas, você não é insosso e não passa despercebido. Pode ser que você passe algo chique, autoconfiante e magnético. Não necessariamente que você passa uma soberba ruim. 
*Nervoso -- Significa que você tem temperamento forte. Mais uma vez, você não é insosso. Não quer dizer que você seja violento, ruim ou algo do tipo. Apenas que você é uma pessoa de gênio forte.
*Antissocial -- Pode significar que você é mais "na sua", tímido ou que não envolve com "panelinhas" e bandos. Melhor ser antissocial do que "maria-vai-com-as-outras." Pode significar personalidade autêntica e não necessariamente alguém antipático ou que não gosta de pessoas. 

                 


     Esses são apenas alguns exemplos de adjetivos "negativos" reinterpretados sob a boa perspectiva. Quantas vezes na vida focamos mais nas críticas do que nos elogios... Muitas vezes! Infelizmente, supervalorizamos as coisas ruins e subestimamos as coisas boas. Supervalorizamos os acontecimentos ruins e ficamos magoados ao invés de darmos a atenção merecida às coisas boas e sermos gratos, felizes e leves. 
    Certa vez, vi um psiquiatra dando uma explicação biológica à negatividade humana. Ele disse que nosso cérebro foi acostumadoa focar nas coisas ruins para poder escapar do perigo. Exemplo -- Estou em uma floresta caçando e há um bicho perigoso atrás de mim. Ao invés de eu focar nas flores, na beleza dos rios e nas árvores frutíferas, eu vou focar no bicho perigoso obviamente hehehe. Afinal, é o jeito de minha mente dizer "saia correndo e preserve a sua vida". Esta seria uma "negatividade útil", uma forma nobre de gastar energia. Trata-se de instinto de sobrevivência.
    Ocorre que não estamos mais em florestas perigosas. Vivemos em boas casas. Construímos civilizações. E a nossa mente ainda está muito atrasada em relação à evolução de nossa vida. Gastamos energia emocional inútil -- tal gasto é denominado GEEI no livro "Gestão da Emoção de Augusto Cury -- e, assim, sobrecarregamos o nosso cérebro com uma negatividade desnecessária. Gastamos energia emocional desnecessária quando choramos por bobagens e quando supervalorizamos coisas ruins -- mágoas do passado e preocupações infundadas com o futuro. Mais uma vez, a psiquiatria tradicional confirma aquilo que a Espiritualidade Budista há muito tempo havia dito de que a mente é enganosa em relação ao tempo. Sendo assim, a chave da felicidade não é somente a concentração no momento presente, mas também a boa interpretação do passado e a confiança no futuro. Enquanto as pessoas não aprenderem a se concentrar no momento presente, a depressão e a ansiedade continuarão a ser o mal do século XXI, XXII, XXIII... Impossível ler autoajuda psiquiátrica mais "tradicional" e não se lembrar da literatura budista e do livro "O Poder do Agora." 

               
       Para driblar a minha negatividade (quero ser uma pessoa mais positiva, minha gente), comprei um caderno de autoanálise e autoconhecimento para mim (gosto de ser a minha própria terapeuta hehehe). Sempre tive caderninhos assim, onde relato as metas de evolução espiritual e psicológica. No caderno mais recente, coloquei um desafio para mim mesma -- escrever o máximo de lembranças boas e elogios recebidos que eu conseguir. Desse modo, quando a minha mente me atormentar com alguma crítica, acontecimento ruim ou trauma, eu pego o caderno e leio tudo de bom que já aconteceu comigo. É uma forma de driblar a visão distorcida, magoada e atormentada do ego. Nossa principal missão é limpar nossa visão e enxergamos as pessoas e situações de forma lúcida, límpida, cristalina, racional e grata. 
    Apelidei esse meu caderno de "Caderno da vida". Pretendo através da escrita, dar bons significados ao passado, ao presente e ao futuro. Primeiramente, dou novos significados ao passado, lembrando de boas situações e interpretando as ruins de modo sábio ao anotar a sabedoria adquirida. Quanto ao presente, farei uma espécie de "diário da gratidão" para agradecer as pequenas coisas boas do cotidiano que poderiam passar desapercebidas. Depois, farei anotações com os sonhos e projetos bons para o futuro. Desse jeito, terei uma linha de tempo (passado, presente e futuro) boa na minha mente e uma noção positiva da minha vida. Experimente fazer isso também! 

             
     Ser uma pessoa sensível significa ter alta capacidade de absorção. Isto pode ser uma bênção ou um fardo dependendo do que você resolve absorver -- se são coisas positivas ou negativas. Eu percebi que, infelizmente, absorvia muitas coisas negativas desnecessariamente enquanto coisas boas passavam despercebidas. Hoje coloquei um desafio para mim, uma meta de vida -- absorver o máximo de coisas positivas e deixar de dimensionar as negativas. Algo que ajuda muito na saúde mental e que eu costumo fazer (Augusto Cury costuma elogiar bastante esta capacidade) é a habilidade de contemplar o belo. Gosto muito de contemplar o belo (não somente o belo exterior, mas o belo significado das coisas). Admirar as flores, contemplar a natureza, observar as nuvens no céu, ficar ouvindo barulhinho da chuva... Pequenas coisas que irrigam a saúde mental. 
      Espero que a Poesia sirva de reflexão para você vencer as águas lamacentas das mágoas e encontrar a sua temperança. Quando estamos imersos na tristeza ou na confusão mental, há sempre um anjo conosco tentando nos ajudar e mostrar a luz por trás das sombras. Espero que o seu anjo da temperança mostre a você o caminho da luz. O sol sempre amanhece mais bonito após as noites mais escuras.

Tatyana Casarino 

*Observação --Siga a minha dica. Compre um caderno que seja pautado (cadernos que possuem linhas para serem preenchidas, aqueles cadernos escolares normais) e transforme o mesmo em seu "Caderno da Vida". Não é tão caro um caderno. Se compramos cadernos para estudar as matérias da escola e faculdade, por que não investirmos na nossa disciplina mais importante -- a da nossa felicidade. Escreva coisas positivas a respeito de seu passado, presente e futuro. Deixe de ser vítima de suas mágoas e passe a ser autor da própria história!