O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









Contador Grátis





segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ensinamentos Místicos de A Bela & A Fera

Ao ler uma história ou ao assistir a um filme, há três espécies de interpretações que podem ser feitas:

1) Interpretação literal: É aquela que explica a narrativa de modo puro e simples, entendendo as ações e os elementos de espaço e tempo.
2) Interpretação moral: É aquele que abstrai preceitos morais a partir de uma narrativa. Esse tipo de interpretação é comum nas fábulas, onde se tem a "moral da história" no final, como, por exemplo, na fábula da Tartaruga e a Lebre, são extraídos valores morais como a importância da perseverança e do respeito, bem como dos malefícios da preguiça.
3) Interpretação simbólica e mística: É um tipo raro de interpretação, onde se procura saber o que há por trás da história. Essa interpretação é a mais profunda que existe e a mais difícil de se obter. Mas, para chegar até ela, é necessário passar pelas estapas anteriores referentes aos outros tipos de interpretação: literal e moral. Afinal, como se obterá uma interpretação profunda se nem sequer se obteve um entendimento superficial dos fatos? Antes de se aprofundar no simbólico, é necessário entender o literal.

Então, ao assistir ao filme A Bela e a Fera, comecei a interpretá-lo simbolicamente e me surpreendi com o quão infinita pode ser a interpretação mística dessa história, a qual abrange: ensimentos místicos, tarô, astrologia e etc.
É surpreendente assitir a um conto infantil com os olhos já adultos e com a mente repleta de ensinamentos culturais, simbólicos e místicos dos quais eu ainda não possuía quando era criança.  
Esses contos infantis trabalham com o inconsciente coletivo das crianças a partir de acontecimentos que elas enfrentarão na vida real e no mundo adulto: Bem X Mal, sentimentos nobres( amor, caridade, compaixão, bondade, perseverança e etc) X sentimentos maléficos (inveja, raiva, orgulho, cobiça e etc), bem como a jornada do "herói" ou da "heroína" que é como a jornada da vida.
Há um recado de esperança intrínseco em cada desenho animado que marca o incosciente ao dizer: "Não importa quantos dragões eu deva enfrentar, o importante é que o bem triunfará sempre."
 Pode-se fazer uma analogia entre as tragédias gregas e os contos infantis. A única diferença entre eles é que, na tragédia grega, o final era infeliz, porque narrava a jornada de alguém que se deixou levar por um sentimento maléfico ou teve circunstâncias desafortunadas. Enquanto que, nos contos infantis, o "heroi" ou a "princesa" perseveram na luta do bem, tendo como consequência o final feliz.
No entanto,a essêcia dos ensinamentos da tragédia grega e do conto infantil é a mesma: o final da jornada tem relação com o caminho escolhido pelo herói. Isto tem uma grande relevância moral ao nos ensinar a optar pelo caminho do bem seja devido ao fato de desejarmos um final feliz como nos contos de fada, seja devido ao medo da tragédia como ocorre nos contos gregos.  
Todos os contos infantis possuem ensinamentos morais e também místicos por trás. Mas, considero "A Bela & a Fera" e "O Rei Leão" os dois melhores filmes da Disney e também os contos que mais possuem ensinamentos filósoficos e espirituais. Esses contos são fascinantes e muito emocionantes.

Eis as interpretações de A Bela & A Fera:

1)Interpretação literal: Uma garota bonita e sonhadora que ama ler e ambiciona um mundo melhor. Ela morava numa aldeia retrógrada, onde as pessoas não gostavam de ler e não se preocupavam com as questões mais profundas da vida.
As pessoas dessa aldeia francesa a consideravam uma garota bonita, mas também muito esquisita. Elas também são preconceituosas, amargas e ignorantes. Bela, no entanto, é isenta de preconceitos,doce e inteligente.
Gaston, o maior caçador da aldeia, é um rapaz bonito externamente, porém é arrogante, orgulhoso e isento de virtudes interiores. Ele se apaixona por Bela e quer se casar com ela só por ela ser a moça mais bonita da aldeia. Bela o rejeita, pois não o ama e não quer se casar com alguém tão "vazio" de valores como Gaston.
Todas as moças da aldeia desejavam o Gaston por sua beleza, exceto Bela que enxergava além das aparências. Isso fez com que todas as pessoas da aldeia pensassem que Bela era esquisita ou louca.
Na realidade, Bela é inteligente e era a única mente sábia da aldeia( opa, já fiz uma pequena interpretação moral aqui).
Enquanto isso, em um castelo distante da aldeia, vivia Fera. Fera era um príncipe arrogante que se recusou a abrigar uma velhinha numa noite fria que lhe oferecia apenas uma rosa como retribuição. Mas, a velhinha era uma feiticeira que estava a testar sua compaixão. Ao ver que o princípe era arrogante e materialista, ela o transformou numa Fera horrenda e transformou seus criados em objetos. Para desfazer o feitiço, ele teria de aprender a amar alguém e ser retribuído antes de a útima pétala da rosa da feiticeira cair.
Quando o pai da Bela se perdeu na floresta durante uma viagem para mostrar sua nova invenção, ele ficou aprisionado no castelo da Fera. A Bela, ao saber disso, pediu para ficar presa no castelo no lugar do pai doente. Ao decorrer da história, a Bela ensina a Fera a gostar de ler, a dançar e a alimentar os pássaros. Fera se encanta pela sensilibilidade da moça, se apaixona por ela e passa a ser mais sensível. Bela, ao enxergar a sensibilidade oculta por trás de seu jeito (outrora) feroz e de sua má aparência, também se apaixona por ele. Esse amor quebra o feitiço, e a Fera se transforma em príncipe. Logo, todos os objetos voltam a ser humanos de novo.

2) Interpretação moral:
*A beleza está no interior das pessoas.
* A arrogância é tão feia como uma fera, e a doçura é bela.
*É preciso ir além das aparências.
*Nem sempre o que a maioria pensa é o correto, pois a maioria das pessoas da aldeia da Bela estavam erradas sobre o caráter de Gaston e sobre a Bela.
*O caminho da sabedoria é um caminho solitário.
*O amor tem poder transformador.
*A sensibilidade adocica a vida.
*Não se deve julgar as pessoas de modo precipitado.
* A excentricidade dos sábios, às vezes, é vista como loucura pelos ignorantes. Bela e seu pai eram considerados loucos. Na realidade, eles eram visionários e inteligentes enquanto o pessoal da aldeia tinha a mente estreita demais para compreendê-los.

3) Interpretaçõa simbólica, mística ou espiritual:
*A frase "a beleza está no interior das pessoas" vai muito além do fato de que não se pode julgar as pessoas feias, pois elas podem ser boas e bonitas moralmente. Essa frase diz que a beleza está no fundo de nossa alma, convidando-nos a um autoconhecimento profundo.
A Bela e a Fera, para o misticismo, não são dois personagens distintos que se apaixonam, mas dois arquétipos de um mesmo ser humano. Todos nós carregamos luz e sombra, virtude e vício, aspectos feios e belos em nossa personalidade. Mas como encontar beleza entre os elementos sombrios da alma? Como lapidar os nossos vícios? Através do trabalho da virtude e de humanização. O ser humano é um animal que, ao longo da vida, tem de se humanizar. Assim como a Fera se transforma em príncipe, o ser humano deve aprender a controlar seus instintos animais a fim de ser mais humano, mais sensível e lúcido.
Não há como matar os nossos vícios, pois é uma utopia querermos ser santos. Devemos aceitar a nossa natureza dual de luz e sombra para controlar a sombra de modo que ela nunca possa ofuscar o nosso brilho.
A Bela não mata a Fera. Ela humaniza-o, transforma-o em um príncipe virtuoso. É isso que devemos fazer com nosso lado sombra: dar luz a ela e canalizá-lo para o bem. E como fazer isso? Conectando-se com a centelha divina, com a pequena faísca de Deus que habita o fundo de nossa alma.
A harmonia entre a sombra e a luz, o equilíbrio universal entre a Bela e a Fera, é a nossa busca. Nós, seres humanos, estamos no caminho do meio. Nós vivemos no fio da navalha entre a Bela e Fera, entra a sombra e a luz.
Cabe a nós, trabalharmos os nossos vícios, encontrarmos a nossa força interior debaixo do lodo sombrio e canalizá-la para o bem a fim de que uma iluminada flor de lótus nasça do lodo sombrio ou de que a "Fera"se transforme em "príncipe".

Uma das minhas cenas favoritas do filme é quando Bela ensina A Fera a alimentar os pássaros. Ela percebe que há "alguma coisa" por trás de sua aparência.
 Confira a cena: https://www.youtube.com/watch?v=-c2kyzty4Lk

Para quem admira o conto, sugiro que assista a versão La Belle et La Bête feito por atores franceses e produzido pelo talentoso Jean Cocteau. Para mim, esse filme é épico!

Cena do filme francês citado: https://www.youtube.com/watch?v=2fWdHHjOt7w

                          Texto escrito por: Tatyana Casarino.