O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A sereia da cauda prateada



Nadando entre os golfinhos,
a minha cauda prateada reluz.
Em um navio, tomando vinho,
estava um príncipe cheio de luz.

Os seus olhos são duas estrelas,
os seus lábios bem desenhados.
Nessa noite, a mais doce sereia
encontrou o seu lindo amado.

Silenciosamente, observava a sua alegria
tão espontânea, bela, suave e profana.
O meu coração sentiu uma chama,
e eu fui tocada pela luz divina.

Seria amor o que eu sentia?
Seria fogo no meu coração d'água?
Enquanto os golfinhos dançavam valsa,
a minha cauda e as minhas mãos tremiam.

O meu corpo era beijado pelas ondas
enquanto eu sorria doce e embriagada.
Os meus seios cobertos por duas conchas,
e a lua repleta de anjos, elfos e fadas.

Em minha alma, nasceu a paixão
tão intensa quanto um relâmpago.
Do céu, as estrelas cantaram um trovão,
deixando intempestivo o oceano.

O seu navio balançou perigosamente,
e eu chorei ao ver o seu sorriso apagado.
Um raio atingiu o mar bravamente agitado,
e você caiu nas águas inconsciente.

Então, eu nadei desesperadamente
para salvar o meu querido amado.
Dentro da noite sombria e silente,
eu envolvi o seu corpo em meus braços.

O meu mundo é tão belo e iluminado,
e eu queria tanto a sua gentil presença.
Mas, em meu mundo, você seria afogado,
e eu amo a sua vida mais do que as estrelas.

O amor me deu forças para nadar,
e a água tornou o seu corpo mais leve.
Cada batida do meu coração é amar,
e a eternidade cabe na minha pele.

Dentro da noite, a sereia frágil
conduzia um corpo pesado.
O amor é mesmo tão ágil
que canta nos meus braços.

As ondas batem e a cauda balança as algas
naquela noite de tempestade, trovão e perigo.
No oceano, um príncipe belo, bondoso e aflito
foi salvo por uma seria doce nas águas salgadas. 

A sua face encostada em meu peito,
sua respiração calma e os olhos fechados.
Ele parecia um bebê no seu lindo berço
sendo embalado pela mãe no quarto.

As ondas do mar estavam a embalar
os nossos corpos docemente entrelaçados.
Enquanto nadava sobre o mar gelado,
a sereia sussurrava canções de ninar.

O príncipe, aquecido pela sua beldade, 
não sentia mais a água turva e fria.
Ela era a sua luz na noite sombria,
bálsamo de amor na tempestade.

Aquecido pelo amor da sereia,
o rosto dele esboçava um sorriso.
Ela era o seu barco, a sua estrela,
e a não há aflição na paz de seu brilho.

Quando eles chegaram em terra firme,
o príncipe ficou deitado sobre a areia.
Lentamente, o céu ficava mais claro,
e raios de sol tocavam a bela sereia.

Quando a escuridão se despediu,
o sol nasceu em seu grande esplendor.
Do horizonte, o sol docemente despontava 
enquanto a sereia noturna exalava amor.

"Um dia ao seu mundo vou pertencer
quando eu superar minh'alma emocional.
Há tantas lógicas que quero compreender
em seu mundo masculino, concreto e trivial."

Pelo sol, o príncipe foi despertado,
e ele abria os olhos suave e lentamente.
Em seus sonhos, ele era embalado
por uma sereia doce e inteligente.

"Um dia eu terei voz no seu mundo
e, ao invés de cauda, terei pernas.
Um dia eu serei a mulher da sua terra
e lidarei com o trivial aliado ao profundo."

"Um dia o meu mundo será seu
e o seu mundo também será meu.
Um dia a terra amará intensamente o mar
e os nossos mundos serão um só amar."

"Um dia você não se afogará
no oceano abstrato das emoções.
Um dia eu hei de tranquilamente respirar
na terra fria das lógicas e das razões."

"Um dia a lógica também será sorriso e doçura
e o abstrato poderá ser exatamente calculado.
Um dia o sol dourado amará a prateada lua
e o concreto ficará charmoso e emocionado."

"Um dia a matemática masculina
será unida à sensibilidade feminina.
Um dia o mar beijará a ardente areia,
transformando a cauda da sereia."

"Oh! Meu amado, fique seguro
sobre a terra e sob a luz do sol.
Um dia você poderá vir ao meu mundo
e, então, não se sentirá mais triste e só."

Assim que ela beijou a sua testa,
ele abriu os olhos doces e brilhantes.
Raios de sol cobriam de luz a aura dela,
e ele acariciou os seus cabelos num instante.

Ele acariciou a sua face com ternura
enquanto envolvia a sua macia cintura.
Entre suspiros, ela beijou os seus lábios,
e a sua cauda ficou como o sol dourado.

Durante o beijo, a cauda mudava de cor,
ora preteada como a lua, ora dourada como o sol.
Ela refletia os tons da união e dos estreitos nós
entre o dia e a noite, a harmonia e o amor.

"Oh! Meu anjo, agradeço por me salvar!
Não vá embora, minha bela sereia,
pois na terra eu viverei para amar
a sua doçura e a sua essência."

"Oh! meu príncipe amado,
em meu reino, devo mergulhar.
Um dia, em sua terra, vou pisar,
mas preciso lapidar o meu fado."

A sereia beijou os seus lábios
antes de voltar ao seu reinado.
A sua cauda mudava de cor
e ela sorria para o seu amor.

As ondas cobriam a sereia
enquanto o príncipe acenava.
As mãos dele valsavam no ar
e a sereia mergulhou no mar. 

Nos olhos dele, lágrimas salgadas,
lembranças de sua sereia amada.
Na areia, um caranguejo cambaleava
entre a terra e a água, a areia e o mar.

Poesia escrita por Tatyana Casarino

*A gravura da imagem é da ilustradora Victoria Frances. 






    Essa poesia é uma homenagem ao meu escritor de Conto de Fadas favorito: Hans Christian Andersen, o autor de A Pequena Sereia. Além de A Pequena Sereia, ele escreveu O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Polegarzinha, A Pequena Vendedora de Fósforos e etc (citei os meus favoritos é claro hehehe). Admito que a sua influência de estilo sobre a minha criação é forte muito embora eu seja mais esperançosa do que melancólica. Mas admiro a forma com a qual ele mesclava a energia soturna e melancólica de seus personagens com a aura iluminada e colorida da magia. 

  Além do mais, sabe-se que Hans Christian Andersen nasceu no seio de uma família muito pobre, provando que talento e inteligência não escolhem classe social. As dificuldades enfrentadas em sua vida serviram para lapidar o seu talento. De todas as suas dores emocionais, ele fabricava uma "pérola" em formato de Conto de Fadas. Desse modo, como afirmava Rubem Alves, "Ostra feliz não faz pérola". Se mares calmos não fazem bons marinheiros, certamente uma vida calma não faz bons escritores. Tendo em vista que uma boa história é repleta de conflitos, os desafios da vida real impulsionam a criatividade literária e poética. 

               


    
    Hans era um gênio subestimado, rejeitado e desiludido em virtude de inúmeras frustrações. Em Copenhaga, as pessoas o consideravam um "lunático". Ele era apaixonado por Teatro e consegui adentrar no Teatro Real de sua época. Entretanto, sua voz falhou consideravelmente, prejudicando sua carreira como cantor. Além de escrever algumas peças, sabe-se que Hans chegou a trabalhar no Teatro como ator e bailarino, mas não obteve o sucesso que esperava nessas duas carreiras. Talvez essas frustrações sejam as origens das histórias de personagens que sentiam uma sensação de "inadequação" como Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo e A Pequena Sereia. 

   O sacrifício da voz de a Pequena Sereia pode ser uma referência à falha de sua voz. A Pequena Sereia, assim que obteve pernas no lugar da cauda, ao caminhar, sentia como se estivesse pisando em facas e agulhas afiadas. Nesse sentido, dizem que os bailarinos sentem dores horrendas... Esta passagem de seu conto também pode ser uma referência à carreira frustrada de bailarino. Eu fico feliz que ele "canalizou" a sua inteligência artística para a literatura, transformando as suas mágoas em Contos de Fadas hehehe. Todo mundo ganhou com isso. Há males que surgem para o nosso bem como já dizia a minha bisavó. 





  Eu me identifico muito com as suas histórias e com os seus personagens cheios de talentos especiais. As rejeições e as injustiças sofridas pelos personagens também geram bastante identificação, pois acredito que todo leitor já se sentiu, em algum momento da vida, subestimado apesar de seus dons. Além da doce Sereia, eu adoro o Soldadinho de Chumbo (apesar de não ter final feliz). E, eu escrevo tanto sobre a alegoria da Bailarina... Confesso que estão surgindo ideias para escrever poesias a respeito do Soldadinho de Chumbo hehehe. Tenho um projeto antigo em mente de fazer Poesias com referências aos Contos de Fadas (TAG inaugurada com a poesia de hoje, a qual faz alusão à Sereia de Andersen de certa forma). 

  Claro que eu dei os meus toques "místicos" na poesia (hehehe). A poesia propaga basicamente a mensagem da importância da busca pelo equilíbrio entre a razão do homem e a emoção da mulher. Como eu costumo escrever por aqui, é fundamental buscarmos um equilíbrio entre o nosso lado Yin, intuitivo e feminino e o nosso lado Yang, ativo e masculino. Sol e lua, dia e noite, claro e escuro, razão e emoção, homem e mulher...São tantas as dualidades da vida... E, nesses paradoxos, devemos ser íntegros, honestos e transparentes para alcançarmos o glorioso equilíbrio mental, emocional, psíquico e espiritual. 

O caranguejo não é citado no final da poesia à toa... Nada do que eu escrevo é por acaso aliás hehehe... Tudo tem simbolismo! E o Caranguejo faz referência ao signo de Câncer! Este é o único signo do zodíaco capaz de "transitar", assim como o caranguejo, entre a areia e o mar, ou seja, entre as razões concretas e as abstrações lunáticas. No signo de câncer, não há escapatória: ou ficamos sábios ou ficamos loucos (quem sabe os dois). Eu sou canceriana com muito orgulho! ;) Os cancerianos carregam a porta psíquica para o entendimento dos dois mundos: o físico e o astral. 

                   


  
    Curiosidades de Andersen:

Nascido no dia 2 de abril de 1805, na cidade de Odense, Reino Unido da Dinamarca e Noruega, atual Dinamarca, ele era filho de sapateiro e de uma lavadeira. Toda a família vivia e dormia num único quarto. O pai adorava o filho. Sendo assim, seu pai fomentou a sua imaginação e a sua criatividade, deixando-o aprender a ler, contando-lhe histórias e, mesmo, fabricando-lhe um teatrinho de marionetes. Hans apresentava no seu teatro peças clássicas, tendo chegado a memorizar muitas peças de Shakespeare, que encenava com seus brinquedos.


    Ele foi, consoante estudiosos, a "primeira voz autenticamente romântica a contar histórias para as crianças" e buscava sempre passar padrões de comportamento que deveriam ser adotados pela nova sociedade que se organizava, inclusive apontando os confrontos entre "poderosos" e "desprotegidos", "fortes" e "fracos", "exploradores" e "explorados". Nesse sentido, ele também pretendia demonstrar a ideia de que todos os homens deveriam ter direitos iguais.


  Devido a sua contribuição para a literatura infanto-juvenil, a data de seu nascimento, 2 de abril, é o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Além do mais, o mais importante prêmio internacional do gênero, o Prêmio Hans Christian Andersen, possui o seu nome.

 *Onde eu li "A Pequena Sereia" de Andersen?

Nesse livro abaixo (editora Zahar), recomendadíssimo:






Curiosidades de inspiração:



*Há pouco tempo eu visitei o interior de um navio e senti como se ele fosse um "berço".

*Recentemente, eu pintei as minhas unhas das mãos e dos pés com esmalte "prateado cintilante" e elas mudaram de cor em contato com a água e o sol hehehe (é verdade, minha gente). Elas passaram por diversas cores enquanto eu nadava. Não, não era magia hehehe. Deve ter sido alguma reação química entre o esmalte e a água (usando minha lógica masculina agora hehehe). Eu olhei para as unhas dos meus pés e das minhas mãos e elas simplesmente haviam mudado de cor!

*Na infância, a minha boneca favorita era uma "Barbie Sereia". A cauda da boneca mudava de cor de acordo com a temperatura da água.

Obrigada por terem lido até aqui!

Abraços,

Tatyana Casarino. 

*Para ler mais poesias de sereias, clique na TAG "Poesias de Sereias" ao lado direito do Blog. 

*Observação: Se você estiver lendo no celular, clique em "visualizar versão para a web" (frase vista acima da minha foto em quem é a escritora?) para ver as TAGs. 













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