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domingo, 22 de outubro de 2023

Analisando o jogo "The Incredible Adventures of Van Helsing" para o Halloween

 

  O colunista Mateus Bülow preparou uma matéria perfeita para o Halloween. Ele analisou os pontos positivos e negativos de um jogo que mistura fantasia e os elementos sombrios da literatura gótica. Confiram! Boa leitura!


The Incredible Adventures of Van Helsing. – Análise.

 



 

               Durante minha experiência como um jogador (bem ruim) de videogame, quase sempre dediquei mais espaço aos Games de Estratégia Militar e aos Arcades, sem contar os clássicos de plataforma do Game Boy Color, como Super Mario. Salvo por um teste ligeiro na casa de algum conhecido, eu nunca me aventurei muito longe em outros gêneros, embora tivesse curiosidade a respeito deles, numa jornada da qual preciso falar antes de alcançarmos o objeto de nossa análise de hoje.

               Quanto eu comecei a faculdade, conheci um RPG de Ação chamado Torchlight, onde era possível controlar o personagem com o mouse, num ângulo de visão que lembrava os games de estratégia militar. Em Torchlight, o objetivo do jogador era proteger uma cidade dos monstros saídos das extensas minas de Ember, uma pedra com poderes místicos. Alguns anos depois, Torchlight teve uma continuação, e consegui completar ambos os games.

               Graças ao Torchlight eu me apeguei a um gênero de RPG chamado Isométrico, onde se enxerga tudo como se a câmera estivesse sobre o cenário e os personagens, num ângulo meio diagonal. No jargão popular dos jogadores, os RPGs Isométricos são conhecidos como “Diablo Clones”, pois o primeiro título de sucesso nesse ramo foi Diablo, lançado em 1997; até hoje o primeiro game da série é considerado um clássico absoluto do gênero.

               Depois de completar o segundo Torchlight, conheci outros RPGs Isométricos, e me aventurei por eles. Minha aquisição mais recente no gênero foi Grim Dawn, lançado em 2016 e adquirido em 2023 (eu costumo demorar a adquirir um game novo, porque gosto de esperar o preço cair com a passagem do tempo). Mas existe outro RPG Isométrico do qual eu guardo um espaço reservado no coração: The Incredible Adventures of Van Helsing.

               Lançado em 2013 pela empresa húngara NeocoreGames, The Incredible Adventures of Van Helsing mistura elementos fantásticos como o Steampunk, mitologia do Leste Europeu e a literatura gótica do Século XIX. Os três games iniciais contam a história do filho e herdeiro de Abraham Van Helsing, o cientista que enfrentou Drácula no livro de Bram Stoker. O quarto game da série é uma “versão do diretor”, que junta todas as histórias de seus antecessores e adiciona conteúdos extras.

               Após receber um pedido de socorro, Van Helsing Filho parte em direção a um país do leste europeu chamado Borgóvia, acompanhado do fantasma de uma princesa borgoviana chamada Lady Katarina. O conflito em Borgóvia ocorre devido ao crescente antagonismo entre a magia tradicional e a ciência, com facções criando exércitos e lutando pelo poder; Van Helsing e Lady Katarina buscarão a resolução dos problemas, enquanto desvendam segredos e mistérios do passado da Borgóvia.

               Tive essa ideia para um artigo, porque sempre desejei falar de ao menos um dos RPGs Isométricos que joguei. Como estou empacado em Grim Dawn, e como o Dia das Bruxas está próximo, eu decidi que The Incredible Adventures of Van Helsing seria o game do qual eu falarei nesse mês de outubro. Apanhe seu chapéu de abas largas, o sabre longo e o par de pistolas: Borgóvia espera por nós! Boa leitura!

 

Pontos Positivos:

 

1-A História é complexa, a despeito da simplicidade do jogo.

 







https://www.youtube.com/watch?v=IfhWAsUQaHg

 

               Toda a incrível aventura de Van Helsing se passa no Reino da Borgóvia, e não existem cenas entre os eventos mais importantes, apenas narrações por parte do protagonista. Isto não significa que estamos diante de algo simples, muito pelo contrário: cada jogo trata de um desafio diferente no caminho do herói ao lado de sua “charmosa companheira”, como ele próprio chama Lady Katarina.

               No primeiro jogo nós vemos o início da resistência patriótica borgoviana contra o reinado de terror do Professor Fulmigatti, um cientista maluco que descobriu enormes portais entre o mundo terreno e as terras místicas ocultas (no game, essas terras são chamadas de Inks, ou “Tintas” na tradução), além de criar um terrível exército de monstros e máquinas mortais. Cabe ao Van Helsing auxiliar a resistência, ao lado de um vampiro chamado Conde Vlados, antes do duelo final contra Fulmigatti e seu autômato gigante.

               A história fica mais complexa no segundo game, com a ampliação da guerra civil na Borgóvia, e o surgimento de um novo antagonista, o General Harker. Esse novo vilão cooptou diversos subordinados do falecido Professor Fulmigatti, além de capturar Conde Vlados e outros aliados. Nessa escalada da luta, Van Helsing é obrigado a se tornar um líder militar e se envolver nas batalhas, ao lado dos civis que desejam proteger sua terra.

               Durante a escalada da guerra civil borgoviana, surge um novo aliado, o Prisioneiro Número 7. Essa estranha criatura auxilia o protagonista na busca por respostas, culminando em uma terrível batalha final contra o exército de Harker e as criaturas ancestrais que defendem o subterrâneo da Borgóvia. No final do segundo game, Van Helsing é enganado pelo Prisioneiro Número 7, que se utilizou do conflito para recuperar seu poder.

               O terceiro game começa com Van Helsing caçando o Prisioneiro Número 7, além de lidar com um culto à sua figura. Nessa etapa da aventura, Van Helsing e Lady Katarina precisam atravessar cenários ainda mais insanos do que os encontrados até então, como as ruínas da Atlântida e o Mundo dos Mortos. Na luta final nós descobrimos a verdadeira identidade do Prisioneiro Número 7: Koschei, o Imortal (falamos dessa figura sombria e macabra na lista das 10 Lendas da Rússia, neste mesmo blog).

               Como podemos ver nesses parágrafos, o enredo de Incredible Adventures of Van Helsing é mais complexo do que aparenta à primeira vista. Mas nenhuma história está completa sem bons personagens para movê-la adiante, e agora veremos os dois protagonistas dessa aventura.

 

2-O Protagonista.

 



 

               O personagem-título dispensa maiores apresentações, ao menos quanto ao seu nome, mas o jovem Van Helsing se destaca em comparação com outros personagens jogáveis dos RPGs Isométricos. Geralmente esses heróis costumam ser desprovidos de personalidade, porque teoricamente isto auxiliaria na “identificação” com o jogador. Não é o que acontece aqui: A despeito da ampla liberdade na customização do personagem, Van Helsing possui sua própria identidade, diferentemente dos heróis “mudos” tradicionais no gênero.

               Treinado desde a juventude, o herói é especialista no ocultismo, e também na arte do combate. Apesar de sua frieza e a voz seca, Van Helsing é honesto e se preocupa em proteger os inocentes dos perigos em seu caminho. Em alguns diálogos e situações o herói revela desconforto quando os civis borgovianos descobrem que ele não é o mesmo Van Helsing que derrotou os vampiros no passado; a percepção de viver sob a sombra do antecessor é forte, mas não ao ponto de atrapalhar sua missão.

               O lado mais severo do protagonista não esconde a faceta gentil, que em duas ocasiões se revela diante de Saffi, uma garota cigana aliada da resistência. Uma das missões secundárias envolve coletar flores para uma poção, e Van Helsing sente-se constrangido pela tarefa, ao que Lady Katarina afirma: “Você não consegue negar algo a uma garota bonita”. Mais tarde, é possível levar uma flor azul para Saffi, em troca de um colar com habilidades místicas.

               No primeiro game da série, apenas uma classe de jogador está disponível: o Caçador armado de espada, pistola e espingarda. No segundo game surgiram o Taumaturgo, um equivalente do Mago, e o Engenheiro, especializado em máquinas e bombas. No terceiro e último game da série, assim como na versão do diretor, existem seis classes de personagem: Guerreiro, Caçador de Recompensas, Mago dos Elementos, Espadachim das Sombras, Construtor e até mesmo uma espécie de Ciborgue.

 

3-Lady Katarina.

 



 


https://www.youtube.com/watch?v=N5h_e0E7aj4

 

               Eu já havia falado da companheira de Van Helsing na lista de 10 Princesas dos Videogames, e não canso de elogiar essa figura curiosa. Outrora uma donzela dos tempos medievais, Lady Katarina foi assassinada num ritual macabro, sendo liberta do castelo onde “vivia” pelo pai do herói, que a transformou numa guardiã do clã. Ao contrário do protagonista sério e centrado, Lady Katarina é bem-humorada e sarcástica.

               Durante o combate, Lady Katarina luta ao lado do herói, mas sem o controle direto do jogador. Assim como Van Helsing, a princesa fantasma possui suas próprias habilidades e níveis de evolução, cabendo ao jogador decidir se prefere deixar a garota mais focada no combate ou na defesa. Lady Katarina pode atacar com as garras, lançar relâmpagos, congelar inimigos, explodir a si mesma para matar monstros e absorver parte do dano recebido por seu mestre, entre outros poderes.

               É possível equipar Lady Katarina com os mesmos acessórios do protagonista, mas no terceiro game (e consequentemente na versão do diretor) a princesa fantasma possui seu próprio equipamento diferenciado, incluindo corsets e luvas com garras. Quando eu era um novato no game, eu cometi um erro muito engraçado: tentei equipar botas na Katarina, mas logo me lembrei de que a personagem não tinha pés...

               Maiores detalhes da história de Lady Katarina aparecem na terceira parte da incrível aventura, quando descobrimos a irmã gêmea dela, Lady Irina. Numa interessante (e irônica) desconstrução do clichê sobre irmãs gêmeas, Katarina é a irmã malvada, e acabou morta num ritual após enganar Irina, que deveria morrer em seu lugar. Com isso, toda a sua família foi amaldiçoada, incluindo a desafortunada Irina, que virou rainha da Terra dos Mortos e ainda guarda muito rancor pelo incidente.

               A confissão de Lady Katarina a Van Helsing é dolorosa, e ela também revela o temor de perder seu mestre no combate com Irina. Mesmo com a limitação nas cenas, devido ao baixo orçamento na produção do game, é inegável que os dubladores fizeram um excelente trabalho neste diálogo, com a dupla de heróis falando de suas inseguranças e receios.

 

4-Bom Humor, mesmo num clima soturno.

 



 

               Apesar dos temas pesados e sombrios, acompanhados de uma melancolia em alguns eventos, Incredible Adventures of Van Helsing não é um game de terror, e sequer possui momentos assustadores. Desde o momento em que Van Helsing pisa na Borgóvia, o clima geral é de aventura, exploração e muitas piadas e gozações, algumas delas cínicas e macabras, porém não menos engraçadas.

               Boa parte das brincadeiras se deve aos diálogos entre Van Helsing e Katarina, que até soam como se fossem um casal discutindo assuntos diferenciados, apesar de não haver relação romântica entre a dupla (ao menos não abertamente). Às vezes eles discordam das atitudes a serem tomadas em algumas ocasiões, o que rende situações hilárias.

               O humor no game também se alimenta de referências a diversas obras da cultura pop, tais como Guerra nas Estrelas, o Exterminador do Futuro, Godzilla, Zorro, Tartarugas Ninja, O Mágico de Oz, Batman, Doctor Who, Senhor dos Anéis, entre outras propriedades intelectuais famosas. Também existem referências a games, como Super Mario, Fallout, Half-Life e Warhammer; na maior cara-de-pau, os produtores da NeocoreGames puseram referências a um game sobre o Rei Arthur, feito pela mesma empresa alguns anos antes.

               Uma das referências mais engraçadas envolve uma missão secundária do segundo game, onde Van Helsing e Katarina devem resgatar um soldado chamado Bryan, numa clara referência ao filme O Resgate do Soldado Ryan. Curiosa como sempre, Katarina pergunta ao rapaz se ele possui uma mensagem secreta; na verdade, Bryan é o melhor cozinheiro do exército rebelde, e os generais amam o bolo de chocolate dele. Nas palavras do protagonista: “Cumpri com o resgate, e terei uma conversa com o alto comando”.

 

5-Chefiando a Rebelião.

 



 

               O combate é apenas uma parte da tarefa espinhosa de Van Helsing na Borgóvia, pois é preciso cumprir com a boa administração de seu exército de insurgentes. Esse aspecto do game fica mais notável na segunda parte da aventura, durante a defesa do esconderijo da Resistência contra o exército do General Harker.

               Nessa etapa, Van Helsing também se envolve no comando de outros caçadores, cientistas e guerreiros. É preciso explorar as capacidades de seus subordinados, pois alguns são melhores no combate, outros são bons negociadores, enquanto outros possuem poderes místicos que lhes permitem cumprir tarefas impossíveis a outros personagens. Assim como o protagonista e sua companheira de viagem, os combatentes a serviço da Resistência também podem receber equipamentos e upgrades.

               Existem dois minigames que reforçam a ideia de liderar a rebelião. Um deles é uma “defesa da torre”, onde é possível equipar máquinas e recrutar monstros na proteção da base principal. O arsenal é variado nessa etapa, assim como os estranhos “soldados”: Bombas, metralhadoras, lançadores de chamas, moedores gigantes, lobisomens, gigantes de fogo e gelo... Esse minigame ficou tão bom que a NeocoreGames lançou outro jogo baseado nessa etapa em 2015, chamado Deathtrap.

               O segundo minigame envolve um monstro chamado Quimera, encontrado num laboratório secreto. O bicho se parece com uma cruza de urso, cachorro e réptil, e se alimenta de magia e essências; é possível usar a Quimera na busca de essências úteis, capazes de oferecer poderes às suas armas e equipamento.

 

6-Mitologia Eslava e Steampunk.

 



 

               A pesquisa no âmbito mitológico foi proveitosa durante a produção de Incredible Adventures of Van Helsing, e a “fauna” de Borgóvia é composta de inúmeras criaturas que já foram citadas na lista das 10 Lendas da Rússia, neste mesmo blog. Devido à proximidade e à semelhança cultural, as figuras mitológicas são comuns em outros países, como a Polônia, Hungria, a Romênia e a Ucrânia.

               Alguns monstros e criaturas ficaram diferentes de suas descrições habituais, em nome do gameplay. Como exemplos, temos as Rusalkas, que se parecem mulheres-sapos no game, e os Leshys, descritos como gigantes, mas retratados como homens-bodes. Outro exemplo é o Vrikolak, uma criatura descrita como um tipo de vampiro romeno (Varcolac, no original); no game, o Vrikolak/Varcolac é uma espécie de Lobisomem-Ciborgue.

               A criatura mitológica que aparece com mais frequência nos games é o Domovoy, um tipo de gnomo protetor de lares. Na série, os Domovoys são anões cinzentos (Van Helsing os descreve como “esses baixotes”) com uma expressão bizarra, decorrente da poluição na Borgóvia. Os Domovoys são apaixonados por dinamite, e uma das missões secundárias envolve auxiliar um “desses baixotes” a explodir um encanamento que está poluindo um rio.

               Nem todas as criaturas são baseadas na mitologia do leste europeu, pois também existem robôs e construtos servindo o exército do Professor Fulmigatti (e mais tarde do General Harker), além de autômatos imensos. Os soldados-robôs a serviço de Fulmigatti são chamados Warknecht, um neologismo juntando War (“Guerra” em inglês) com Knecht, uma palavra alemã para “Servente”.

 

7-Trilha Sonora.


             


 

               É inegável que a NeocoreGames se esmerou nesse departamento, durante a produção de todos os jogos, com trilhas que remetem ao Gótico do Século XIX, e referências aos filmes mais sombrios da Universal e da Hammer. As melhores trilhas sonoras pertencem ao Menu principal dos três jogos, e ao esconderijo da Resistência Borgoviana.

               Não sei se outros críticos de jogos já comentaram a respeito, mas existe uma sintonia entre o tema do Menu principal e do esconderijo da Resistência: No primeiro jogo, as duas músicas são melancólicas; no segundo game elas ainda são meio tristes, mas não tanto como no primeiro; já no terceiro jogo, elas estão mais alegres e otimistas. É como se cada versão dos temas buscasse retratar o ânimo da população borgoviana, que começou a luta pelo país sem grandes perspectivas, mas adquiriu confiança em meio à dificuldade.

               Outro aspecto curioso: As três músicas dos Menus principais também servem como os respectivos temas da Lady Katarina. De certa forma, essas trilhas sonoras refletem a jornada da princesa fantasma ao lado de seu mestre, e o inevitável acerto de contas com o passado cruel de sua família.


*Para conferir a Trilha Sonora, clique nos Links a seguir:

 

*Katarina

https://www.youtube.com/watch?v=iRr5TWo0npk


*The Hero and the Ghost Lady

https://www.youtube.com/watch?v=_QgAM00YOXQ

 

*End of Our Fight

https://www.youtube.com/watch?v=3IS-9Z-Si2s


*The Lair 

https://www.youtube.com/watch?v=HeT2cs_o8mc

 

*Remember Who You Are 

https://www.youtube.com/watch?v=folaiXIqKqA

 

*Secret Lair Theme

https://www.youtube.com/watch?v=NGZwtEt1Ecg

 

8-Muitos Segredos a serem descobertos.

 



 

               O número grande de referências a serem encontradas pelo jogador em seu caminho pela libertação da Borgóvia se reverte em bons equipamentos e vantagens. Isso estimula a exploração dos cenários em busca de mais tesouros, ou ao menos por umas boas risadas em meio à aventura.

               Um bom exemplo de “piada longa” ocorre na escalada da Montanha de Perun (nós também falamos desse Deus do Trovão na lista das lendas russas), quando Van Helsing e Lady Katarina encontram um peixe dourado congelado num rio:

 

               “Rápido, Van Helsing! Faça um pedido! Peixes dourados podem realizar desejos!”

               “Bom, não custa nada tentar... Eu desejo uma companheira fantasma sensível, meiga e que não me trata com ironia e sarcasmo”.

               “Ah, eu devia saber! Seu humano arrogante!”

               “Bom, a tentativa foi válida...”.

 

                      


               Mais tarde, a dupla encontra uma fornalha na fundição do exército do General Harker, e eles usam essa mesma fornalha para descongelar o peixe dourado. Van Helsing pensa em utilizar os poderes do peixe dourado para acabar com a guerra, mas Lady Katarina, como de hábito, se intromete na situação:

 

               “Uma boa ação deve ser recompensada: Eu concedo um pedido a vocês”.

               “Ei, não deveriam ser três pedidos?” – Pergunta Lady Katarina.

               “Oh, não! Não! Estou cansado desses enganos! É apenas um pedido, e nada mais!”

               “Apenas um pedido, não é mesmo? Bom, nós poderíamos pedir pela paz na Borgóvia e o fim dessa guerra, e...”.

               “Quero um par de brincos de diamante!”

               “Desejo concedido. Até mais!”

 

Sinal Amarelo: Tradução disponível ao Português... De Portugal!

 




               A dublagem de Incredible Adventures of Van Helsing é toda em inglês, mas o número de linguagens disponíveis nas legendas é impressionante: Alemão, Húngaro, Polonês, Francês Espanhol, Italiano e Português. Entretanto, a grafia usada pertence ao idioma da “Terrinha”, com seus maneirismos estranhos aos brasileiros.

               Esse detalhe, entretanto, possui seu lado positivo: Os diálogos em português de Portugal soam adequados nos personagens, afinal de contas eles são europeus. Também é adorável ver Lady Katarina chamando Van Helsing de “Parvo”, dizendo “Isto me parece bazófia”, ao questionar a veracidade de uma situação apresentada, ou falando “que giro!” ao invés de “que legal!”.

 

Pontos Negativos:

 

1-Enfraquecimento da História no Último Terço.

 



               Como alguém que jogou mais pela história do que o próprio game, eu devo dizer que a terceira parte da aventura é a mais fraca no âmbito narrativo. A história do terceiro game até começa bem, com o resgate do Conde Vlados e as lutas contra o Culto ao Prisioneiro Número 7, mas essa história logo é abandonada em proveito da caçada ao Koschei, que se apossa de toda a narrativa.

               Nessa etapa, Van Helsing soa como alguém sofrendo de ideia fixa, além de ocorrer uma diminuição no auxílio à Resistência, com menos missões a serem cumpridas em benefício da rebelião. É como se Van Helsing estive obcecado em se vingar da traição do Prisioneiro Número 7, ao ponto de se afastar da Resistência Borgoviana, quando ela ainda necessita de ajuda contra os monstros e remanescentes do exército do falecido General Harker.

               Acredito que a ideia desse núcleo narrativo mais coeso foi enfatizar o confronto entre o herói e o vilão, mas não vemos muito do Culto ao Prisioneiro Número 7 e os danos causados por eles na Borgóvia, então fica difícil compreender sua real ameaça. Após a invasão de uma base dos cultistas, os heróis exploram uma floresta, onde eles encontram ninguém menos que a Bruxa da história de João e Maria (é divertido ver a Bruxa reclamando de “rumores falsos espalhados por crianças”), e mais tarde eles lidam com vampiros na capital.

               O ponto mais divertido dessa etapa da aventura sem dúvida é a luta no Circo mal-assombrado, onde Van Helsing e Katarina encontram a médium Fata Morgana, uma velha conhecida da princesa fantasma. Graças a Morgana, os heróis conseguem alcançar a Terra dos Mortos e enfrentar Lady Irina, que finalmente é libertada de sua ocupação como líder do lugar, mas não perdoa Katarina pelo acidente com o pônei, quando elas eram crianças.

               Depois da luta contra Irina, os personagens visitam as Ilhas do Vácuo, localizadas em dimensões paralelas e bizarras. Em comparação com tudo visto na jornada até então, essa etapa é a mais “sem-graça” de toda a série, pois as Ilhas do Vácuo possuem quase nenhuma relação com a travessia pessoal dos heróis, servindo mais como um adendo que poderia ser dispensado sem maiores problemas à narrativa.

 

2-Um Gostinho de “Quero Mais”.




 

https://www.youtube.com/watch?v=MCKCPVs3FO0

 

               Esse ponto negativo revelará o final do terceiro jogo, então leia por sua própria conta e risco. Após a derrota de Koschei, Van Helsing decide liberar Lady Katarina do serviço prestado à família, e a princesa fantasma afirma que não sairá de perto dele, pois “se aventurar ao lado de um caçador é um bom jeito de passar a eternidade”. A garota ainda afirma que dessa vez o herói não poderá ordená-la a se afastar dele, o que tornará a coisa mais “interessante”.

               Após a declaração de Lady Katarina, Van Helsing faz sua última narração, comentando que Borgóvia sofreu muito na guerra, mas surgiu uma oportunidade para a ciência bizarra e a magia tradicional trabalharem juntas na recuperação do país. Nas palavras finais do herói, “minha tarefa aqui está finalizada, e o que vier será uma jornada totalmente nova”.

               Não estou afirmando que esse final é ruim ou inadequado à trilogia, mas é impossível não sentir uma tremenda curiosidade sobre o que virá depois: como ficará Borgóvia? Van Helsing e Katarina voltarão à sua base no oeste da Europa, ou continuarão observando o país de perto, para evitar mais abusos? Durante a narração do primeiro game, Van Helsing comenta sobre a travessia dele ao lado de Lady Katarina, antes de alcançarem a Borgóvia; que tal uma breve aventura se passando antes da história principal sobre essa jornada?

               O jogo possui conteúdo extra, chamado de Mapa da Aventura, onde é possível cumprir missões pré-determinadas, como caçar um determinado número de criaturas em um período cronometrado, eliminar totens amaldiçoados ou mesmo procurar por Domovoys carregando bombas. Sem dúvida são atividades divertidas, mas elas não oferecem mais história ao game, um ponto onde ele se destaca com louvor.

 

3-Escasso Conteúdo à Disposição em Outras Mídias.

 




https://www.youtube.com/watch?v=kSQ89femrJA

 

               Esse aspecto está relacionado a uma triste realidade: Incredible Adventures of Van Helsing não foi um grande sucesso, ou ao menos não foi um fenômeno de vendas. As análises mais “generosas” descreveram o primeiro game como “mediano”, e isto inevitavelmente afetou as vendas das continuações, que foram maiores que seu precursor, mas não capazes de reverter a impressão ruim do início da saga.

               Quase todas as fotos disponíveis do game estão em sites de análises, ou no próprio site da NeocoreGames, explicando a razão pela qual coloquei vídeos em alguns trechos desse artigo. Essa dificuldade pode ser atribuída à inexistência de uma base grande de fãs (descrita como fanbase no jargão da internet) para mover a popularidade desse game.

               Carregando a pecha injusta de ser mais um “Diablo Clone”, Incredible Adventures of Van Helsing não gerou uma comunidade fiel, daquele tipo que faz desenhos dos personagens ou escreve histórias de fã (fanfic, no jargão da internet). Em geral, quem se aventurou por esse game é aquele jogador que já passou por RPGs Isométricos em ocasiões anteriores, e não costuma colocar esse game entre seus favoritos.

               Uma das razões mais bizarras pela recepção morna de Incredible Adventures of Van Helsing deveu-se a um trailer onde aparece um design anterior do herói, o qual foi visto como “excessivamente afeminado” pelo público. A NeocoreGames chegou ao ponto de fazer um anúncio oficial, afirmando que mudariam o visual dele.

               Essa situação constrangedora envolvendo o visual do protagonista gerou uma piada no segundo game: Na Montanha de Perun é possível encontrar o cadáver perdido de um caçador, descrito como “afeminado” pelo protagonista. Segue o diálogo entre Van Helsing e Katarina diante da curiosa figura:




 

               “O que é isto? Menininhas estão virando caçadoras?!”

               “É um rapaz... E ele até se parece contigo...”.

               “Você só pode estar de brincadeira...”.

 

E Bem, e o Resto (observações finais)?




 

               Disponível na plataforma Steam, e também no Xbox, Incredible Adventures of Van Helsing está longe de ser um jogo perfeito, mas eu recomendo para jogadores casuais, como é o meu caso (não me envergonho de afirmar isso), e para os fãs dos gêneros Steampunk e Gótico “suave”, sem terror explícito ou cruel. Sem contar que o preço de R$ 12,19 da versão do diretor que junta os três games está bem acessível (ao menos da última vez que chequei no site da Steam).

               Com tantas reinterpretações já realizadas em filmes, livros e outras mídias sobre o nosso ocultista preferido nascido na Holanda e nêmeses do terrível Drácula, vale o esforço de explorar as vilas, florestas, pântanos, cidades, fábricas e cavernas da Borgóvia. Mesmo para quem não é um jogador habitual, também vale a pena dar uma conferida em Incredible Adventures of Van Helsing.



Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bülow.




 

 Mateus é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor e colunista do blog "Recanto da Escritora". No blog, ele analisa videogames, livros, lendas urbanas e curiosidades históricas. 

 Mateus e Tatyana estudaram na mesma faculdade e se conheceram no Sarau "Entardecer Poético" da saudosa poetisa Ruth Larré. Nesse sarau, jovens poetas da cidade de Santa Maria (RS) recitaram as suas poesias e interpretaram as poesias favoritas da Ruth Larré. Ele é colunista do blog da Taty desde 2012 e também já gravou o Podcast "Literatura em Ação" junto com ela no YouTube e no Spotify. 


*Primeiro texto do Mateus publicado no blog da Taty:

https://poetisataty.blogspot.com/2012/09/a-tragedia-do-rei-gelado.html


*Podcast Literatura em Ação:


Tatyana e Mateus no YouTube

 

*Mateus é o autor de dois livros de fantasia publicados (disponíveis na Amazon):


*Taquarê: Entre a Selva e o Mar


Livro do Mateus na Amazon





*Taquarê: Entre um Império e um Reino





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