Sombras do mistério

 

Sombras do mistério

 

Quando a natureza surge,

a beleza formosa do sol ilumina.

A noite é só um punhado de estrelas

que não ilumina a tua beleza.

 

Assim como Ester, brilha a tua luz.

Um rastro de beleza vermelha

num séquito de doces donzelas.

A virtude mais brilhante é a pureza!

 

Mas, quando a noite é escura,

sem lua, sem estrelas, sem fascínio,

tua alma rompe irada num grito

que faz tremer as flores puras.

 

A água parada do teu coração,

que rumina acontecimentos passados,

explode num tsunami emocional

como numa praia infinita e encantada.

 

A tua sombra te consome por dentro

como um parasita diabólico e divino.

Ela é aquela velha angústia trêmula

que vicia a alma rígida como vinho.

As almas virtuosas estão cansadas,

cansadas de trabalhar e agradar,

cansadas do bom e do belo sacrifício.

É preciso dar a elas mais prazer e vinho.

 

Quando o prazer não é mais pecado,

mas um caminho para a cura da tristeza,

encontraste a chave do equilíbrio da alma

que clama por mais leveza e beleza.

 

Quando o amor-próprio não é mais vaidade,

mas o único caminho da tua sobrevivência,

é preciso aceitar a tua apaixonada e livre natureza

antes que a dor e o mundo destruam a tua essência.

 

Quando tu descobres a utopia espiritual

daquele desejo de glória e iluminação total,

tua alma fica mais doce, mansa e humilde,

aproximando Deus do teu jeito mais simples.

 

Descobri que a iluminação total

é para gurus, santos, mestres e guias.

Mas, eu, que ainda sou bem pequenina,

fico com o caminho do meio nessa vida.

 

Não é bom ser intenso nem radical

numa vida frágil e feita de bem e mal.

O bom é ser mediano, humilde e manso

para, entre luzes e sombras, seguir dançando.

 

Quando a queda psíquica vier te visitar,

não te desesperes nem culpes as lágrimas.

Aceita tudo, aceita tudo, e mergulha em Deus

como um bebê que tropeça e logo se levanta.

 

A porta estreita foi feita para os pequenos,

para aqueles que sabem ser pequenos,

para aqueles cujos espíritos humildes

sabem que a caminhada tem tropeços.

 

Por que será que Deus permite a sombra

se Ele é pura bondade, elevação e luz?

Qual é a pedagogia louca, sábia e divina

que usa das sombras para me iluminar?

 

Não aceitava as minhas sombras

e sempre quis ser apenas a luz.

Mas, descobri que o meu maior talento

é a metamorfose entre a graça e o lamento.

 

Oh! Sombras do mistério da alma e da vida!

Se eu não tivesse tantas quedas psíquicas,

talvez eu não tivesse tantas luzes espirituais.

Minha fé e minha poesia têm raízes sombrias.

 

Poesia escrita por Tatyana Casarino.

  

 Esta é uma poesia espiritual e mística que retrata o lado bom da existência das sombras, pois até mesmo os nossos defeitos e as nossas crises psíquicas podem aumentar a nossa sabedoria de forma profunda dentro do nosso caminho de evolução espiritual. A poesia também cita a personagem bíblica Ester, a qual transformou adversidade em glória a partir da sua beleza (exterior e interior). 

 Com todo o aprendizado pessoal adquirido por meio da humildade e do equilíbrio, é possível levantar a alma após cada queda psíquica, extraindo uma nova luz das sombras que nos atormentam por dentro. Contudo, a existência das sombras sempre será um mistério. 

Tatyana Casarino.