Olá, pessoal! Com a entrada do mês de Setembro e a chegada do Dia da Independência do Brasil (07 de Setembro), é oportuno relembrar a história do Brasil e as suas lendas também. Sendo assim, o nosso colunista Mateus Bülow apresenta um texto sobre 10 Lendas do Brasil.
Neste ano, o Brasil comemora 200 anos de Independência! Na celebração do Bicentenário da Independência do Brasil, venha conhecer 10 Lendas do povo brasileiro conosco. Boa leitura!
10 Lendas do Brasil – Parte 2.
Bem-vindos de volta à nossa roda da fogueira,
viajantes! Seguindo a tradição deste blog, apresentaremos lendas de diversos
países, sendo que além do Brasil nós já apresentamos França e Rússia.
Aproveitando que neste ano teremos o Bicentenário da Independência do Brasil,
eu fiz uma segunda parte com diversas lendas curiosas. Boa leitura!
1-Todo Brasileiro nasce
carregando uma Arma.
Essa lenda curiosa não surgiu no Brasil, e sim entre os estrangeiros que visitaram o país no início do Século XIX, após a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro. Com a abertura dos portos às nações amigas, um bom número de forasteiros desembarcou por essas terras, e diversos costumes brasileiros se revelariam ao mundo.
A maior parte dos estrangeiros desembarcados no Brasil
do Período Joanino (1808-1821) veio da Inglaterra, se espantando com o número
de pessoas armadas nas ruas do Rio de Janeiro, carregando pistolas e adagas nas
cinturas. Em comparação com o Novo Mundo, havia pouca liberdade para se andar
armado nas ruas das capitais europeias, e certos países não deixavam nem mesmo
suas forças policiais levarem armas de fogo.
A relação de um brasileiro e sua adaga ou pistola era “comparável
ao laço de irmãos”, segundo alguns viajantes. Os europeus se espantavam ao ver
os nativos levando suas próprias facas quando saiam para jantar fora de casa,
como se fossem parte inseparável um do outro. Aos poucos os relatos se
misturaram às anedotas, e os ouvintes dessas histórias passaram a acreditar que
os brasileiros literalmente nasciam armados.
Os europeus não foram os únicos a acreditarem no mito
do brasileiro armado desde a nascença: durante a Guerra do Acre (1899-1903), os
soldados bolivianos aprenderam a temer os seringueiros liderados pelo gaúcho
José Plácido de Castro, especialmente nos combates de adagas e facões. Nessas
batalhas, lâmina e proprietário pareciam se tornar um único ser diante dos
adversários impressionáveis e supersticiosos.
Uma história interessante aparece no livro Plácido de
Castro – Um Caudilho contra o Imperialismo, de autoria de Cláudio de Araújo
Lima: entre os bolivianos circulava um boato afirmando que os brasileiros
nasciam ao lado de uma lâmina pequena e estreita. Esta lâmina ia crescendo junto
ao dono, até virar um grande facão do tamanho do antebraço do sujeito. Atribuir
poderes sobrenaturais aos inimigos era uma forma de desumanizar o adversário em
guerras do passado, e isto talvez explique a lenda entre os bolivianos.
2-Tupã.
Nossa próxima lenda surgiu entre os indígenas
brasileiros, mas tornou-se mais forte devido à influência dos evangelizadores
jesuítas. É possível afirmar que o mito de Tupã foi criado duas vezes: primeiro
pelos nativos e mais tarde pelos europeus, ao buscarem por um denominador comum
em sua tarefa de levar a fé cristã ao Novo Mundo.
Na época da chegada dos europeus, a figura mitológica
mais difundida era Jurupari, retratado como um hábil legislador, responsável
pelos costumes dos indígenas; essa entidade mística possuía um lado sinistro,
importunando pessoas com horríveis pesadelos e causando paralisia do sono.
Jurupari não poderia ser descrito como um “Deus” propriamente dito, e seu culto
lembrava uma cerimônia de grupos exclusivos, assim como a Maçonaria.
Em comparação com Jurupari, Tupã era uma divindade
secundária, e servia apenas de mensageiro ao deus Nhanderuvuçu, o criador do
mundo. Tupã e Nhanderuvuçu não possuíam forma física, e sua presença era a
natureza que cercava os humanos, com destaque para o som intenso do trovão. Em
algumas versões da lenda, Tupã é responsável pelo clima e pelas chuvas, ao lado
de raios e trovões.
Tupã seria “promovido” à chefia do panteão indígena
com um empurrão dos jesuítas, que viram nele um correspondente ao Zeus grego e
ao Thor dos nórdicos, bem como uma figura benigna, com maior apelo popular em
comparação com os cultos exclusivos. Jurupari e outros deuses agressivos foram
associados ao Mal pelos jesuítas, enquanto Tupã se tornou popular entre os
nativos, assim como Jaci, a Deusa da Lua, Ceuci, associada à Virgem Maria, e
Sumé, Deus da Sabedoria.
3-Opala Negro.
Essa história sobre quatro rodas surgiu no Rio de
Janeiro, mas existem outras versões no Brasil e em outros países. A variante
carioca afirma que um bandido perigoso chamado Ubiratã Carlos de Jesus Chaves
roubou um Opala negro na década de 1970 para fugir da polícia e sofreu um
acidente na travessia de um túnel ao atingir um fusca branco. Nas noites de lua
cheia, é possível ver o Opala negro nas estradas próximas ao local do acidente.
Opalas negros aparecem em outras lendas urbanas, e em todas
elas o sinistro veículo é um mau presságio. Na década de 1980, rumores surgiram
sobre desaparecimentos de crianças no Rio de Janeiro, atribuindo os sequestros
a uma quadrilha usando um Opala negro. Durante os Anos de Chumbo do Regime
Militar (1964-1985), diversos sumiços foram creditados aos agentes do DOPS
(Departamento de Ordem Política e Social), que supostamente usavam um veículo
preto nas missões.
Lendas sinistras envolvendo automóveis não se tratam
de exclusividade brasileira: no leste europeu, histórias bem parecidas são
contadas a respeito de um modelo chamado Trabant, produzido na Alemanha
Oriental e vendido nos países das redondezas. Apesar da fama horrível, o
Trabant também é vítima de piadas descrevendo seu péssimo desempenho, algo
parecido com a má-fama do Chevette no Brasil.
4-Dandara.
Uma das figuras históricas brasileiras mais envoltas
em lendas foi Zumbi dos Palmares, considerado o maior símbolo do dia da
consciência negra. Devido à ausência de informações deixadas pelos próprios
palmarenses, podemos contar apenas com relatos vindos de fora do quilombo,
muitos deles posteriores ao ocorrido. Ao lado de Zumbi, outra figura de historicidade
questionável surgiu no imaginário popular, chamada Dandara.
De acordo com a lenda, Dandara foi esposa de Zumbi e
responsável por liderar um batalhão composto apenas de mulheres na defesa do
quilombo dos Palmares. Grande capoeirista, Dandara também servia de conselheira
ao marido, e possivelmente foi a maior instigadora do golpe dado por Zumbi em
Ganga-Zumba, o líder anterior de Palmares. Após a derrota dos defensores do
quilombo, Dandara se suicidou pulando de um barranco.
Quase todas as informações a respeito de Dandara
vieram da tradição oral, sem registros escritos, tornando difícil averiguar se ela
realmente existiu. Mesmo assim, podemos tomar como referência os reinos
africanos do mesmo período, que os palmarenses almejavam recriar nas Américas.
Por se tratar de um líder influente, Zumbi certamente era casado, e talvez
possuísse um harém.
Os regimentos femininos comandados por Dandara
provavelmente foram baseados nas tropas Ahosi, surgidas na segunda metade do
Século XVII. Essas guerreiras serviam de esposas e guarda-costas do rei do
Daomé (atual Benin), e foram descritas como as “Amazonas” do Daomé pelos
primeiros viajantes europeus a aparecerem na região.
5-Luis Lopes, o Corneteiro
Herói do Pirajá.
Nossa próxima lenda também fala de um personagem cuja
existência não pode ser comprovada, tornando-se lendário. Aproveitando o
Bicentenário da Independência, vamos relembrar uma figura curiosa da guerra
contra Portugal (1822-1825), e responsável pela maior vitória do Brasil nesse
conflito (caso realmente tiver existido).
Luís Lopes até hoje suscita inúmeros questionamentos,
e alguns historiadores afirmam que ele nasceu em Portugal, juntando-se ao
Exército Imperial Brasileiro por simpatia à causa libertadora. Sua função na
tropa era transmitir mensagens por meio da corneta, uma tarefa que fazia a
diferença entre a vida e a morte naqueles tempos, devido à dificuldade de ouvir
berros no meio ao tiroteio.
A Batalha do Pirajá seguia mal para o lado brasileiro,
e o major Barros Falcão deu ordens para uma retirada de emergência. No entanto,
Luís Lopes deliberadamente deu outro toque de corneta, e este significava
“Avançar Cavalaria, Degolar!”. Não havia nenhuma tropa de cavalaria nas
redondezas, mas os portugueses se apavoraram ao ouvirem o toque dado por Luís
Lopes. Os brasileiros perceberam a fraqueza momentânea dos adversários,
retomando a investida e vencendo a batalha.
Por se tratar de um episódio lendário calcado num
acontecimento real, existem outras versões da história: uma delas afirma que
Luís Lopes não soltou o toque de “Cavalaria” de propósito, fazendo-o por estar
apavorado e se confundir na ordem. Independentemente da versão, é inegável que
a vitória brasileira em Pirajá até hoje é celebrada na Bahia, sempre em Dois de
Julho, e Luís Lopez costuma ser lembrado nos festejos, ao lado de Maria
Quitéria, da freira Joana Angélica e da Alegoria do Caboclo matando a Serpente.
6-Osório, o General a Prova de
Balas.
Aproveitando o embalo entre mitologia e história,
falaremos agora de um herói de guerra que realmente existiu, porém deixou uma
lenda para trás. Nascido em 1808, o gaúcho Manuel Luís Osório seria
protagonista de inúmeras campanhas vitoriosas pelo Império do Brasil, quase
todas elas na região da Bacia do Rio da Prata. Diferentemente de Luís Alves de
Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, Osório agia de forma expansiva ao lidar
com as tropas, servindo de “Pai do Exército”, exigente e bonachão.
Um episódio curioso foi descrito por veteranos da
Guerra do Paraguai, afirmando que Osório chacoalhava o poncho e descarregava
uma grande quantidade de munição de chumbo no chão, após cada batalha.
Aparentemente, o general tinha o corpo invulnerável a tiros, e essas histórias
se espalharam nos acampamentos militares, com os soldados atribuindo feitos
ainda mais impressionantes a Osório, tais como cavalgar sobre a água ou
derrubar quinze soldados paraguaios com um berro.
É possível que este episódio fosse resultado de uma
brincadeira de Osório, famoso por pregar peças em soldados inexperientes e
impressionáveis. Um dos “passatempos” do general envolvia atolar carroças na
lama, apenas para ver os jovens cadetes da engenharia bolando soluções
mirabolantes para remover os veículos dos atoleiros.
No folclore brasileiro existem muitas tradições sobre
a obtenção de uma suposta invulnerabilidade contra projéteis em batalha. Os
guerreiros tupinambás faziam tatuagens e pinturas de guerra para resistirem às
flechas dos inimigos, e essa “estratégia” mais tarde foi adotada pelos bandeirantes
e sertanistas.
A fama de invulnerável não impediu Osório de sofrer um
ferimento terrível na Batalha do Avaí, quando três balas paraguaias atingiram
seu maxilar, por pouco não lhe arrancando metade do rosto. O general teria de
se ausentar da frente de batalha por alguns meses, e em 1869 ele voltaria para
casa, falecendo dez anos mais tarde.
Ao lado do Duque de Caxias, Osório é a figura mais
celebrada na tradição militar brasileira, dando seu nome a inúmeras
instituições. Uma das homenagens mais curiosas dadas ao Patrono da Cavalaria
foi justamente um veículo blindado chamado EE-T1 Osório, fazendo referência
indireta à fama de resistente do general.
7-Minhocão.
Se o leitor passou pela primeira parte das Lendas do
Brasil, publicada alguns anos atrás, então deve se lembrar que eu botei muitas
criaturas místicas, tais como o Boitatá, o Saci, o Capelobo, a Iara e a
Onça-Boi. E agora veremos outro bicho esquisito pra integrar a lista, o
Minhocão.
Apesar do nome, a criatura nem sempre é uma minhoca
gigante, e sim uma serpente enorme, dependendo da região onde o bicho é
considerado “nativo”. Na Amazônia existem serpentes gigantescas, algumas com
onze metros de comprimento, enquanto em Minas Gerais o animal mantém suas
características de minhoca gigante.
Quase todas as histórias afirmam que o monstro causa
terremotos ao rastejar por debaixo da terra, explicando também a presença de
muitas histórias nas fronteiras do Brasil com o Peru, a Bolívia e a Colômbia,
três países que costumam sofrer tremores de terra. Nesses lugares, a criatura é
conhecida como Pachamama, a Deusa da Terra.
O Minhocão possivelmente surgiu da mistura de duas
lendas indígenas anteriores à chegada dos portugueses ao Brasil. Uma das
histórias falava na Boiúna, uma cobra gigantesca que vivia nos rios, enquanto
outra lenda falava no Oibê, uma minhoca gigante capaz de se transformar em
outros bichos. No livro Macunaíma, de Mário de Andrade, o protagonista encontra
as duas criaturas.
8-Etê de Varginha.
Nossa próxima lenda talvez seja a mais recente no
folclore nacional, derivada de um estranho incidente na cidade mineira de
Varginha. A história é longa, e apresentarei elementos pontuais do curioso
enredo que transformou a pacata localidade em assunto internacional no (agora)
longínquo ano de 1996, quando Varginha atraiu a atenção de ufólogos (estudiosos
de fenômenos extraterrestres).
Em 20 de janeiro de 1996, óvnis foram avistados nas
redondezas, e pelos menos três garotas se depararam com uma criatura fora desse
mundo. O “bicho” descrito pelas jovens se parecia com uma pessoa de baixa
estatura, com três protuberâncias redondas no topo da cabeça, pele escura e
olhos avermelhados. Ninguém mais viu a criatura além das adolescentes, porém
alguns transeuntes comentavam sobre um cheiro forte de amônia no local onde
ocorreu a visão.
Conforme os dias passavam em Varginha, mais coisas
estranhas aconteciam: animais nas redondezas começaram a morrer
misteriosamente; foram encontradas jaguatiricas, gambás, veados e até uma anta,
todos mortos sem razão aparente. Nas autopsias dos bichos identificou-se uma substância
estranha, responsável por uma necropsia avançada na mucosa e no estômago.
Um boato afirmava que autoridades do exército
capturaram uma criatura bem parecida com a descrita pelas jovens, caída à beira
da estrada. É digno de nota que as forças armadas tratam o assunto dos óvnis
com muita discrição, com o objetivo de evitar histeria na população; no
entanto, a tradicional desconfiança dos órgãos de imprensa em relação aos
militares ajudou a alimentar teorias conspiratórias.
O inquérito policial responsável pelo caso apontou que
o tal “alienígena” avistado pelas garotas na verdade se tratava de um morador
de rua com histórico de problemas mentais, mas nem todos concordaram com o
veredito. Esse mesmo morador de rua era conhecido de todos na cidade, sendo
impossível ocorrer tal confusão.
Boa parte do mistério de Varginha deve-se aos relatos contraditórios e à falta de evidências. A boataria em torno do caso não ajuda na busca pela verdade, contribuindo para transformar incerteza e mistério em lenda. A investigação seguida de inquérito concluiu que não ocorreu nada de mais, e tudo não passou de uma série de coincidências e mal-entendidos, mas quem pode afirmar com absoluta certeza?
A cidade ao menos soube aproveitar sua fama, com um turismo informal surgindo na região. Varginha também conta com alguns monumentos relembrando a suposta passagem dos alienígenas, tais como estátuas da criatura, e até mesmo uma grande caixa d’água no formato de um disco voador.
9-Aukê.
Nosso próximo personagem surgiu em uma lenda dos
Timbiras, um povo indígena maranhense, e misturou-se à história de forma
surpreendente. O mito de Aukê engloba o fim do domínio indígena no Brasil, ao
lado da ascensão do homem branco, trazendo melancolia e esperança aos nativos,
na figura de um governante até hoje admirado.
O relato começa com uma índia grávida à beira de um
rio, e sem dificuldade alguma o menino saiu da barriga da mãe, já sabendo falar
e andar como gente feita. O recém-nascido ganhou o nome de Aukê, e seus poderes
místicos se manifestaram desde cedo, podendo se transformar em qualquer planta
ou animal.
Não demorou até a aldeia Timbira sentir desconfiança de
Aukê, temendo seus poderes extraordinários. Inúmeros estratagemas foram bolados
para eliminá-lo, sem sucesso, pois o menino voltava dos mortos após ser enterrado.
Então um dia os Timbiras conseguiram acabar com Aukê, e seu corpo foi queimado
até virar cinzas.
No dia seguinte, os indígenas ficaram estupefatos ao
verem uma oca estranha e feita de pedra no lugar onde morreu Aukê. Um homem
branco conduzindo gado surgiu na entrada da fazenda, e os Timbiras descobriram
que este sujeito era Aukê, convertido no primeiro homem civilizado. Da madeira
escura, Aukê fez os homens negros, e de outras madeiras ele fez os bois e os
cavalos, entre outros animais domésticos.
Aukê apresentou duas armas à sua tribo, ordenando os
nativos a escolherem o arco ou a espingarda. Com medo, os Timbiras escolheram o
arco, e Aukê apenas pôde lamentar o destino de sua tribo, pois se eles tivessem
escolhido a espingarda talvez tivessem uma chance contra os homens brancos que
surgiriam no futuro. Dessa forma, a história de Aukê explica a subjugação dos
indígenas pelos forasteiros de além-mar.
Em algumas versões do mito, Aukê se tornou ninguém
menos que o Imperador do Brasil, Pedro II. Sim, é isto o que você leu! É dito
também que Aukê se transformou num homem sisudo e de gestos firmes e polidos ao
se converter em branco, e isto pode ter ajudado a misturar lenda e história.
Não se sabe como surgiu essa curiosa associação, mas
provavelmente isto se deve ao grande apreço que os dois monarcas do Brasil
nutriam aos povos nativos. Pedro I era conhecido por visitar aldeias indígenas
próximas ao Rio de Janeiro, e em uma dessas passagens ele apresentou sua noiva,
Leopoldina. O seu sucessor no trono compartilhava do interesse pelos nativos, e
sabia falar Tupi-Guarani, além de passar horas discutindo com estudiosos sobre
os diversos povos pré-cabralinos.
10-Manuscrito 512.
Na primeira edição das Lendas do Brasil, eu comentei
duas cidades desaparecidas (Akakor e Sapucaia-Oroca) e ainda falei da
possibilidade de os Fenícios terem construído a Pedra da Gávea. Continuando com
a nossa visita a um passado mítico, falarei agora de outra cidade perdida no
interior da Bahia e encontrada por acaso duas vezes, em 1753 e 1839.
Para compreendermos essa história curiosa,
precisaremos começar onde ela terminou, quando o Manuscrito 512 foi descoberto
na Biblioteca da Corte (atual Biblioteca Nacional) por Manuel Ferreira Lagos,
um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Na
época de sua descoberta, o Brasil passava por uma revolução cultural, com
vários autores buscando uma identidade para o imenso país, e até mesmo Pedro II
demonstrou interesse na descoberta.
O documento possui dez páginas, e seu título original
é Relação Histórica de Uma Oculta e Grande Povoação Antiguíssima sem Moradores,
que se descobriu no Ano 1753. Não se sabe o autor do relato, mas acredita-se
que a expedição descrita nele foi liderada pelo bandeirante Roberto Dias, filho
e neto de bandeirantes famosos, como Belchior Dias e Diogo Álvares, conhecido
como Caramuru. Outro possível autor foi o mestre-de-campo João da Silva
Guimarães, que explorou o interior da Bahia na mesma época.
A expedição é muito longa, e em seu trecho mais
conhecido é descrita a montanha e a cidade perdida. O primeiro aspecto geográfico
a chamar a atenção dos aventureiros foi uma montanha pontuda que reluzia sob o
sol, devido à presença de cristais em sua superfície. Os exploradores tentaram
escalar o cerro, sem sucesso; alguns dias depois, um escravo encontrou uma
passagem que atravessava a montanha, durante uma caçada.
Os detalhes se tornam mais requintados e assombrosos quando
a cidade é descoberta. A entrada da povoação possuía um pórtico com três passagens,
cheios de inscrições estranhas, e todas as casas tinham o mesmo formato, com algumas
delas ligadas entre si. No centro de uma praça havia uma grande coluna de pedra
negra, e em seu topo repousava uma estátua apontando o norte. Outra figura
humana foi encontrada no topo de um pórtico, usando uma coroa de louros. Corvos
e cruzes esculpidos em alto relevo adornavam edifícios altos.
Não havia traços de ocupação humana, fossem restos
mortais ou utensílios de madeira ou metal, indicando que a povoação foi
desocupada de forma ordenada. O único objeto encontrado pelos exploradores foi
uma moeda de ouro, decorada com a imagem de um rapaz ajoelhado em uma face, e
uma coroa, um arco e uma flecha do outro lado. Não se sabe que fim levou a
moeda.
Os aventureiros encontraram um rio próximo que
desaguava em uma cachoeira, e perto dela havia um bom número de túmulos. O grupo
saiu da cidade, alcançando os rios Paraguaçu e Una; o manuscrito foi
confeccionado e enviado às autoridades no Rio de Janeiro, pouco tempo após a
saída da região.
As palavras estranhas identificadas pelos bandeirantes
foram anotadas no documento, e alguns arqueólogos afirmam se tratar de escrita
cuneiforme, adotada pelos babilônios. Outros especialistas perceberam
influências diferenciadas na arquitetura do lugar: o pórtico lembra a
arquitetura etíope, as estátuas parecem greco-romanas, e as casas emendadas
podem ser comparadas à cidade de Çatalhuyuk, na Turquia. É como se os
exploradores tivessem encontrado um museu diversificado perdido na Bahia.
A cidade descrita no Manuscrito 512 nunca foi
encontrada novamente, e todos os exploradores que tentaram descobrir seus
segredos desapareceram sem deixar rastros. O mais famoso deles foi Percy
Harrison Fawcet, um britânico que inspirou o personagem Henry “Indiana” Jones.
Fawcett acreditava na existência de uma cidade chamada “Z” no interior do Brasil,
e partiu em sua busca em 1925. Nunca mais se ouviu falar dele.
Inúmeras hipóteses foram criadas a respeito do
Manuscrito 512: Quem criou a cidade misteriosa? Navegadores egípcios?
Exploradores vikings? Teriam os bandeirantes encontrado um portal para outra
dimensão, explicando a impossibilidade de se reencontrar a cidade? Ou tudo não
passou de uma imensa fraude? O mistério continua...
Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bülow.
*Mateus é gaúcho da cidade de Santa Maria (RS), Bacharel em Direito pela FADISMA (Faculdade de Direito de Santa Maria), escritor e poeta. Em meu blog, ele contribui com análises culturais da História do Brasil e dicas de literatura fantástica.
*Ele é colunista do meu blog, o "Recanto da Escritora", desde 2012.
*Mateus é autor de dois grandes livros de fantasia publicados. Seus livros mesclam ficção com elementos mitológicos da História do Brasil.
*Confira os livros publicados de Mateus Bülow:
*Confira o primeiro texto do Mateus no blog:
*Observações sobre Direitos Autorais (Lei 9.610 - 1998).
*Direitos autorais do Blog: Tatyana Casarino.
*Direitos autorais do texto desta postagem: Mateus Bülow.
*Direitos autorais das imagens: não temos direitos autorais sobre as imagens. São imagens meramente ilustrativas e sem fins lucrativos. As imagens do blog servem para enfeitar o texto e auxiliar na leitura e na experiência do leitor. Por fim, ressalta-se que as imagens foram encontradas no Google.
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