Místico da capa preta, mestre indizível,
encontrei tua presença plena e incrível
dentro da cozinha de um templo escondido,
templo tão discreto que parecia invisível.
Tu me olhaste com compaixão,
porque viu o meu coração,
o meu coração de canceriana,
a minha alma que dançava no drama.
Homem da capa esotérica,
volte no tempo, venha me ver,
quero te reencontrar nesta década,
além das memórias distantes discretas.
Desenhando estrelas, pintando mapas astrais,
rabiscando rascunhos de rimas e poesias,
eu era uma criança na cozinha daquele templo.
enquanto os adultos passavam elegantes e atentos.
Atrás da porta, eu ouvia atentamente
assuntos sobre o céu, a terra, o fogo,
a água, o ar, a cabala, a astrologia,
a evolução do espírito e a centelha divina.
No intervalo dos rituais, os adultos me observavam
depois de tomarem um café e fumarem os seus cigarros.
"Ei, mocinha canceriana, quer pertencer à ordem esotérica?"
"Não. Quero ser advogada e experimentar a vida na matéria".
Ele me olhava como uma canceriana quando eu chorava,
e eu estava escutando os segredos esotéricos há anos.
Dividida entre o chamado espiritual e o dever humano,
eu não era da ordem nem desse mundo profano.
O homem jogou um livro de autoconhecimento sobre a mesa,
tomou um gole de café, acendeu um cigarro e descreveu o futuro:
"tu vais sofrer angústias indizíveis e chorar muito no mundo material,
porque tu tens bom coração e gastarás a energia da tua alma maternal".
Ei, espere, moço vidente da capa bonita e das palavras proféticas,
não me deixe aqui sofrendo com esses avisos que eu não entendo.
Serei eternamente assustada e estarei eternamente em dívida
com os teus conselhos impagáveis e com a tua perspicácia sensitiva.
Deixe-me voltar no tempo, deixe-me voltar ao teu templo,
jogue de volta o meu passado lírico e as minhas asas de fada.
Queria ter seguido o teu conselho, queria ter sofrido menos.
Quando sinto fadiga na matéria, lembro-me daquela dica sensitiva.
"Tu vais bancar a mãezona de todo mundo e será sugada por muitos,
mas, depois, não reclame dos amigos tóxicos e da imensa fadiga,
pois tudo será fruto do desequilíbrio e da falta de capacidade de dizer não.
Seja mais egoísta, pratique o autocuidado e estude astrologia, menina."
Ei, espere, homem vidente que estudava medicina alternativa,
o seu conselho impagável me deixou em eterna dívida.
Hoje sinto o peso da fadiga por ter ajudado tantas pessoas
que, com os seus caprichos desordenados, não me mereciam.
Ele me olhava com compaixão por ser uma canceriana
e acendia o seu cigarro com lágrimas nos seus olhos sinceros.
Eu estava escutando os assuntos esotéricos e os seus mistérios
dentro de uma caixa em formato de estrela mágica e profana.
Via homens e mulheres esotéricos andando com suas capas,
via estrelas, uma fogueira, um solstício de inverno e a fumaça.
"Eles são do bem, eles são de Deus, eles seguem as virtudes eleitas
apesar de todos os apontamentos sobre eles e todas as suspeitas".
Via homens e mulheres de todas as religiões,
discutindo filosofia, astrologia e numerologia.
Enquanto eu brincava com um menino ruivo,
eu escutava todos os mistérios por longos minutos.
Ei, homem sábio e místico, volte no tempo,
volte nesta década, volte para aquele templo.
Por que tu me avisaste sobre tantas coisas profundas?
Não tinha idade para saber reservar a energia com astúcia.
Eu fiquei cara a cara com os homens mais profundos,
os homens mais incompreendidos e perseguidos do mundo.
Não, esse conselho não pode ser sobre a minha vida,
porque tudo o que eu queria era ser uma generosa amiga.
Não, não sabia para onde Deus me chamava naquele minuto,
eu fiquei cara a cara com os homens sábios perseguidos,
os homens estudiosos mais incompreendidos do mundo.
Mas, eu tive empatia com aquele conhecimento profundo.
Eles falavam sobre liberdade, igualdade e fraternidade,
comentavam sobre virtudes e a beleza da humanidade.
Com eles, estudei toda a história da Revolução Francesa,
estudei francês e aprendi a ser uma dama cheia de gentileza.
"Ei, mocinha, o que você quer ser quando crescer?"
"Quero ser advogada, poetisa e seguir o cristianismo".
Eu respondia enquanto ele me olhava com compaixão,
mas também com muito pessimismo sobre o meu signo.
"Vais ter muito sucesso, mas vais sofrer muito até lá.
A justiça dos homens não vai trazer plena felicidade,
o mundo material é um mundo que chora e sangra
e não é fácil ser uma bondosa e sensível canceriana".
Ei, homem sábio e bondoso que eu vi no templo,
volte no tempo com o seu jeito misterioso.
Tenho uma dívida eterna com o seu conselho,
o seu conselho sábio, profundo e impagável.
Eu fiquei cara a cara com quem previa o futuro,
eu fiquei cara a cara com todos os mistérios do mundo.
Eu pensei que era uma menina esotérica e esperta,
mas eu era apenas uma poetisa ingênua sendo desperta.
Será que saberei dirigir o caranguejo gigante
que vive dentro de minh'alma nobre e errante?
Nesse mar cheio de ondas dolorosas e imprevisíveis,
os segredos místicos me deram nobres esclarecimentos.
Eu me lembro agora do seu bom conselho,
eu nunca mais vou perder o controle das emoções.
Praticando o autocuidado, andando com equilíbrio,
eu sei mais sobre a ordem no caos e o meu brilho.
Ei, homem bondoso e misterioso do templo,
volte no tempo, volte para aquele templo.
Não tenho como pagar pela sua orientação,
mas posso oferecer-lhe uma poesia de coração.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
*Essa poesia é inspirada em uma conversa que tive com um sábio místico que entendia sobre Astrologia e Medicina Alternativa. Ele me disse muitos segredos sobre o signo de Câncer.
*Curiosidade: essa poesia também foi inspirada na música "Heart-Shaped Box" da banda de Rock Grunge Nirvana.
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