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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

10 Lendas do Brasil.



                         

  Olá, pessoal! Hoje eu venho publicar mais um texto do meu amigo escritor Mateus Ernani Heizmann Bulow aqui no blogue. O texto mostra dez lendas do Brasil muito interessantes. Muitas vezes, conhecemos os mitos mais famosos do mundo e não sabemos a história folclórica do nosso povo. É necessário resgatar o patriotismo, a cultura, as lendas e a história do Brasil. Sendo assim, é uma honra para este blogue contar com a colaboração do escritor Mateus Bulow, o qual possui grande conhecimento histórico e cultural. Confiram as nossas lendas! Divirtam-se! Boa leitura!


10 Lendas do Brasil.






        Oh, olá! Não vi vocês se aproximando... Sentem-se, amigos, se acomodem ao lado da fogueira... Temos pouca carne para assar, mas muitas histórias para contar...
        Final de outubro chegando (período quando esse texto foi escrito), uma das primeiras celebrações a aparecer na psique dos brasileiros é o Halloween, o Dia das Bruxas dos países de língua inglesa. Em uma tentativa de conter o que alguns brasileiros consideram uma “invasão cultural estrangeira”, foi criado o “Dia do Saci”, conforme projeto de lei federal 2762 do deputado Chico Alencar. No entanto, esse feriado virou motivo de piadas, em parte porque já existe o dia do folclore em nosso calendário, celebrado em 22 de agosto.
        Existe um esforço em recuperar o folclore brasileiro, mas a tarefa não é fácil: por não termos uma tradição tão antiga como os países europeus ou as nações do Oriente, nossas lendas aparentam serem muito simples. A quase ausência de heróis lendários ou de lutas contra monstros e vilões pode ter contribuído para o desinteresse dos jovens em nossos mitos, pois salvo honrosas exceções, as lendas brasileiras tratam quase exclusivamente da origem dos humanos, da lua, do sol, de algumas plantas e animais, etc...
        Mesmo assim, essas histórias não podem ser simplesmente descartadas, pois mitos e lendas forjam o caráter dos povos, construindo sua identidade. Foi pensando nisso que resolvi fazer esta lista, que começará com algumas criaturas mitológicas típicas, e então partirá para heróis e mitos envolvendo histórias de aventuras e lugares longínquos, todos no Brasil. Alguns dos relatos aqui presentes são tão fantásticos que mais parecem lendas urbanas, dessas encontradas em blogs sensacionalistas.
        E agora, eu peço aos presentes que se sentem em volta da fogueira, e se preparem para viajar...

1-Boitatá.



        Nada como iniciar uma lista de lendas brasileiras com uma criatura mitológica da qual eu pessoalmente gosto muito, e acredito que seria um bom símbolo nacional, assim como o Dragão dos chineses. A palavra boitatá une “m’boi” (“cobra”) e “tata” (“fogo”), ou seja, “cobra de fogo”, em tupi. Devido à confusão feita pelos portugueses ao ouvir a palavra m’boi, essa criatura é representada algumas vezes como um boi feito de fogo, ou então como uma cobra ostentando chifres de boi na cabeça.
        A origem do primeiro boitatá ocorreu após um dilúvio devastador que cobriu toda a terra, e quase todos os animais morreram. O único sobrevivente foi uma Boiguaçu (“serpente gigante”) que se escondeu em uma caverna até o dilúvio passar. Após o fim da chuvarada, a Boiguaçu saiu da caverna cheia de fome, e aproveitou para se refestelar nas carcaças dos bichos, dando preferência aos olhos, sua parte favorita. Devido ao grande número de olhos engolidos pela Boiguaçu, seu corpo ficou todo brilhoso, e ela aprendeu a fazer fogo pelas ventas, tornando-se Boitatá.



        Boitatás são descritos muitas vezes como protetores das florestas, ou ao menos contra as queimadas causadas pelos homens. No entanto, certas versões da lenda trazem um aspecto mais sinistro, de uma criatura capaz de arrancar os olhos ou as unhas do pobre infeliz que a encontrar no meio da noite. O único modo de se defender é fechar os olhos e os punhos, a fim de esconder as unhas, e esperar o monstro sair de perto.
        A origem desse mito se deve a uma reação química. Ossos de animais são ricos em fósforo branco, um material inflamável, e quando os bichos se aglomeram num lugar e se decompõem, sobra apenas o fósforo. Quando um raio ou faísca entra em contato com os ossos decompostos, surge uma enorme chama, muitas vezes na forma de um rastilho longo, bem parecido com uma cobra.

2-Saci.



        Nossa segunda lenda abordada trata-se da criatura fantástica mais famosa do folclore nacional, e também uma fusão de culturas de três continentes. O saci, também conhecido como Pererê, Saçurá e Trique, é representado como um menino ou anão de pele escura, com apenas uma perna e gorro vermelho. Em algumas versões da lenda existem vários sacis, e seu habitat natural são os taquarais e bambuzais, onde seus ovos são deixados.
        Sua personalidade habitual não é o que poderia se chamar de “exemplar”: brincalhão incorrigível, o saci vive de pregar peças, roubar objetos e perturbar animais, especialmente cavalos e burros, ao fazer nós em suas crinas. Devido à condição de “ser místico da floresta”, ele também é guardião de plantas medicinais, e alguns xamãs e curandeiros mantêm o hábito de pedir permissão ao saci, antes de coletarem as plantas para suas beberagens.



        O “rascunho” da lenda surgiu com uma criatura da mitologia guarani chamada Yaci Yateré (“Pedaço de Lua”, na língua guarani), espécie de duende das matas. O gorro, a cor escura e a única perna seriam influências externas, vindas de Portugal e da África. Em algumas lendas, o saci pode ser capturado por meio de garrafas, algo como os djinns (gênios) da mitologia árabe, indicando mais uma influência externa.
        O saci não é a única criatura mitológica com apenas uma perna. Na Idade Média era comum ouvir viajantes falando sobre povos inteiros de gente com apenas uma perna na Índia e na Etiópia, enquanto no Chile existe o Invunche, na Escócia vivem os Fachan, e na África ocidental existem os Azizas. Até no longínquo Japão se ouve histórias de monstros com uma perna, os Karakasa-Obake (literalmente, “guarda-chuva fantasma”): esse bicho é retratado como um guarda chuva com um único olho, um par de braços e uma perna humana.

3-Capelobo.



        Seguindo até a terceira lenda, chegaremos até o interior da Amazônia, uma vasta região conhecida apenas parcialmente pelo homem e pródiga em histórias de monstros. Uma dessas lendas fala de feras peludas, capazes de andar sobre duas patas como um homem, porém as semelhanças param aí: a cabeça desses monstros é alongada como a de um tamanduá, e os pés possuem cascos de cavalo. Esse é o capelobo, uma das criaturas lendárias mais temidas da Amazônia.
        A palavra “capelobo” possui origem tupi, e significa “fera do osso quebrado”. Esse monstro é ativo durante a noite e a madrugada, perambulando ao redor de casas e acampamentos no meio da mata, enquanto grita sem parar. A criatura se alimenta de todo e qualquer animal, com preferência pelos filhotes recém-nascidos, mas também ataca os caçadores, furando seus crânios para comer o cérebro (eita!). O único modo de matar um capelobo é com um tiro certeiro no umbigo.


        Como se a lenda não fosse assustadora o bastante, o capelobo não é o único monstro peludo da Amazônia: outras histórias falam do mapinguari, um gigante peludo com um olho só no peito e a boca na vertical, no lugar do umbigo; também existem descrições de macacos gigantes inteligentes vivendo na Amazônia, chamados maricoxi. Alguns aspectos das histórias do capelobo são muito parecidos com os lobisomens, como a existência de índios que se transformam nessas feras à noite.
        É possível que a lenda do capelobo, bem como outros gigantes da Amazônia, tenha uma origem muito antiga, pré-histórica para falar a verdade: no passado, existiram bichos preguiças gigantes nas Américas, e esses animais eram formidáveis, com seis metros de altura quando estavam em pé! Diferentemente dos capelobos lendários, esses bichos preguiças eram herbívoros, mas sabiam se defender de predadores com suas longas garras.

4-Onça-Boi.



        Ainda na selva amazônica, seguiremos até o Acre, um dos rincões mais isolados do Brasil, e lar de outra fera assustadora. Muitos caçadores, pescadores e sertanistas (pessoas que exploram a selva) afirmaram terem visto uma terrível onça, muito diferente dos felinos comuns: essa onça é enorme, tão grande quanto um búfalo, e suas patas terminam em cascos parecidos com os dos bois.
        Diferentemente das onças normais, de hábitos solitários, as onças-bois caçam em duplas, compostas de um macho e uma fêmea. A tática preferida desses monstros envolve encurralar o caçador no topo de uma árvore e revezar na vigia, até o pobre infeliz cair no sono para ser devorado. Felizmente, é possível escapar matando apenas uma das onças, pois a morte do companheiro(a) deixará o parceiro(a) desnorteado, permitindo a fuga.



        Assim como o capelobo, o mito da onça-boi foi possivelmente inspirado em criaturas que existiram no passado longínquo da terra: alguns mamíferos carnívoros pré-históricos possuíam cascos em seus pés, no lugar das garras dos felinos modernos. Esses predadores tinham tamanhos variados: enquanto certos espécimes eram do tamanho de um rato ou de um gato, outros pareciam lobos e hienas, e os maiores animais desse grupo eram tão grandes quanto um rinoceronte.

5-Iara.



        Nossa jornada continua pela selva, porém agora nosso olhar se desviará para os rios, quase tão vastos quanto o verde das matas. Aqui encontraremos a “nossa” sereia brasileira e protetora dos rios, a Iara. Também conhecida como Mãe D’Água em algumas regiões, a Iara é responsável por afogar pescadores e caçadores desafortunados, ao seduzi-los com sua linda aparência e sua voz melodiosa.
        Em algumas lendas, conta-se que a Iara era uma índia guerreira, conhecida por sua coragem e beleza. Seus irmãos a invejavam com ódio, e armaram uma emboscada para matá-la, mas Iara conseguiu se defender, matando ambos. Temendo ser castigada, Iara fugiu da tribo e pulou em um rio, sendo transformada em uma sereia.



        A iara não é a única criatura fantástica a viver nos rios do Brasil: na Amazônia, existem relatos de monstros d’água de aparência medonha, chamados ipupiaras, enquanto no Rio São Francisco contam-se as histórias do caboclo d’água, que possui um olho só e se diverte virando canoas de pescadores (talvez “saci d’água” fosse um nome mais adequado...). No Candomblé, a figura da Iara às vezes se confunde com Iemanjá, a deusa do mar.

6-Macunaíma.







        Para os brasileiros estudantes de literatura, Macunaíma é o protagonista folgado e encrenqueiro do romance de mesmo nome, escrito em 1928 por Mário de Andrade. No entanto, nas tradições das tribos indígenas Macuxis que vivem na fronteira do Brasil com a Venezuela, Macunaíma é o nome de um herói lendário, filho do sol e da lua e detentor de uma moral ambígua, assim como o protagonista da obra modernista brasileira.
        Havia uma montanha extremamente alta em Roraima e no topo dela existia um lago, que era um expectador do amor impossível entre o Sol e a Lua. Um dia a natureza promoveu o encontro dos dois apaixonados, fazendo surgir o primeiro eclipse nos céus. Do lago cristalino da montanha surgiu Macunaíma, o curumim do Monte Roraima. Macunaíma cresceu e logo se transformou em um bravo guerreiro, o maior defensor da aldeia Macuxi contra inimigos e feras da selva.
                                        






        Bem próximo à tribo, no topo do Monte Roraima, existia uma árvore conhecida como a “Árvore de todos os frutos”, onde nela brotavam diversas frutas, tais como banana, abacaxi, melão, açaí, cupuaçu e tantas outras. Apenas Macunaíma tinha autoridade para colher os frutos dessa árvore e dividi-los de forma igual para todos da aldeia, mas isso revoltou alguns índios invejosos.
        Em uma noite, um grupo de Macuxis roubou os frutos, e não satisfeitos com isso, arrancaram alguns galhos, para fazerem mudas de árvores iguais àquela. Com isso, a “Árvore de todos os frutos” morreu, e Macunaíma teve que castigar os culpados: o guerreiro ateou fogo em toda a floresta, transformando várias árvores em pedras e forçando os habitantes a fugir. Segundo a lenda, até hoje o espírito de Macunaíma vive no Monte Roraima, e ainda se ouve os choros dele pela morte da “Árvore de todos os frutos”.
        O Monte Roraima, cenário dessa história, está localizado em uma tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, e apesar de ser um local remoto, é um destino popular entre os entusiastas do trekking. Essa montanha não inspirou apenas lendas, como também livros e filmes, tais como O Mundo Perdido, de Arthur Conan Doyle (ele mesmo, o “pai” do Sherlock Holmes), e o cenário principal do filme UP – Altas Aventuras, da Pixar. O segundo livro do criador desta lista, chamado Taquarê – Entre um Império e um Reino, também possui o Monte Roraima entre seus cenários.

7- Sapucaia-Oroca.



        Durante o início da colonização europeia nas Américas, surgiram diversas lendas exageradas falando em cidades perdidas construídas pelos nativos. A mais famosa dessas histórias sem dúvida é El Dorado, procurada incessantemente pelos conquistadores espanhóis. Outras lendas falam até mesmo de uma cidade submersa no fundo do Lago Titicaca, localizado entre o Peru e a Bolívia.
        Pode parecer estranho, mas o Brasil possui sua versão da Atlântida, denominada Sapucaia-Oroca, ou Sapucai-Roca. Assim como os habitantes da Atlântida descrita por Platão, os moradores dessa cidade indígena foram castigados pelos deuses com o desparecimento sob as águas. A localização do esconderijo de Sapucaia-Oroca varia conforme o relato, mas a maior parte deles aponta para o Rio Madeira, em Rondônia.


        Sapucaia-roca era uma cidade fantástica e diferente de todas as aldeias construídas pelos índios, com ruas cobertas de pedras preciosas, e seus moradores andavam ricamente vestidos, além de fazerem festas que duravam dias. Com o passar do tempo, os nativos não faziam outra coisa exceto farrear, e Tupã, o deus do trovão e líder do panteão Tupi, andava perturbado, pois os índios não trabalhavam mais. Ele enviou-lhes diversos avisos, mas a beberagem era tanta que nem tomaram conhecimento, e continuaram a levar a vida em festas e divertimentos.
        Tupã se aborreceu e fez cair uma chuva durante dias. A água subiu sem parar, e os indígenas poderiam ter fugido, mas não quiseram abandonar suas riquezas. A cidade desapareceu nas águas, mas Tupã não deixou os moradores morrerem. Sendo assim, continuaram a viver debaixo das águas. Quem passa por perto do local onde existia a vila, diz ouvir galos cantadores dentro do rio. Daí o nome Sapucaia-Oroca. Significa "galinheiro".
        Poucas lendas dão detalhes a respeito da vida cotidiana em Sapucaia-Oroca, após a grande enchente. Algumas falam que a vida voltou a seguir como antes, com trabalho diário para todos, e festividades apenas em alguns dias do ano. Essas lendas também falam que Sapucaia-Oroca era governada por uma princesa indígena, responsável por tecer fios de algodão; os “guarda-costas” dessa princesa eram dois peixes enormes e mal encarados, e aparentemente a vigia da cidade inteira era tarefa não apenas dos guerreiros, como também de outros peixes gigantes.

8-Salamanca do Jarau.

                   


        Continuando nossa jornada, passaremos pelo Rio Grande do Sul, para conhecermos a lenda mais famosa da região, descrita no livro Lendas do Sul, de Simões Lopes Neto, talvez o maior escritor tradicionalista nascido nessa terra. Essa lenda começa com uma princesa moura fugindo da Península Ibérica, após as últimas guerras contra portugueses e espanhóis. Alguns mouros rumaram até as Américas, como foi o caso dessa princesa, e o terrível Anhangá, um dos deuses mais maléficos da mitologia tupi, a transformou em uma teiniaguá (“lagartixa”, em tupi) com uma pedra preciosa na cabeça.
        A caverna onde a princesa moura se escondia tinha o nome de Salamanca do Jarau, e ficava próxima a uma povoação pequena. Em um dia muito quente, um sacristão jovem foi beber perto do rio, e encontrou a teiniaguá por perto; após levar o animal com a pedra preciosa para a igreja, a princesa se revelou em sua forma verdadeira e pediu vinho ao sacristão. No entanto, os dois foram flagrados pelo padre, que ficou furioso com o roubo do vinho da igreja, e tiveram de se esconder na Salamanca do Jarau, onde ficariam presos até que alguém os libertasse da maldição.




        Passaram-se duzentos anos, e a caverna virou uma espécie de “atração local”, onde era garantido um desejo a quem tivesse coragem de passar pelas sete provas. Essas sete provas eram desafios bem variados, dignos de um videogame:
        1-Trecho cheio de cobras.
        2-Caminhos estreitos com fogo em volta.
        3-Gruta cheia de pumas e jaguares furiosos.
        4-Floresta cujas árvores possuíam espadas e facas no lugar das folhas.
        5-Poço de água fervente.
        6-Trecho com esqueletos vivos.
        7-Gruta com anões armados.
        O primeiro a superar esse desafio casca-grossa foi um peão gaúcho, mas ao alcançar a câmara onde se escondiam a princesa e o sacristão, já idosos após muito tempo, ele não soube o que pedir, pois havia passado pelos perigos apenas em busca de um bom desafio. Como lembrança de sua passagem, o gaúcho recebeu uma moeda mágica do sacristão; essa moeda se multiplicava ao ser arremessada no chão, e em pouco tempo o gaúcho ficou rico.
        A vida seguiu tranquila para ele, até o dia em que peões invejosos começaram a se perguntar de onde vinha sua riqueza. Não demorou até um boato maldoso se espalhar entre as vilas, afirmando que o gaúcho da moeda tinha pacto com o Mal, e todos começaram a evitá-lo. Sentindo saudade da vida que tinha antes, o gaúcho decidiu devolver a moeda ao sacristão e à princesa, e com isso ele os libertou da maldição da Salamanca do Jarau, assumindo a forma de um casal de belos jovens, mais uma vez. A história termina afirmando que boa parte do povo gaúcho descende do sacristão e da princesa.

9-Mistério da Pedra da Gávea.





        Nossa próxima lenda nos levará ao Rio de Janeiro, pois até a “Cidade Maravilhosa” esconde seus segredos entre os morros. Mas para explorarmos melhor a lenda, precisamos conhecer o nosso cenário, a Pedra da Gávea. Os portugueses deram esse nome à singular formação porque de longe ela lembrava uma gávea, o cesto no topo dos mastros das caravelas de onde se observava ao longe. No entanto, muitos moradores do Rio de Janeiro comentavam desde a época colonial que uma das faces da pedra lembrava uma “esfinge”, com uma barba e uma coroa chamativa. Em 1830, o imperador Pedro I do Brasil também comentou sobre essa estranha semelhança, em uma de suas memórias.
        Durante o Século XIX, os historiadores já sabiam que os fenícios empreenderam viagens em torno da costa africana, e surgiu a hipótese de um grupo deles ter desembarcado no continente americano. Versões mais detalhadas dessa história afirmam que a esfinge é o túmulo de um rei fenício exilado, chamado Badhezir. Ele e seus seguidores teriam fugido e se abrigado na baía do Rio de Janeiro, formando uma civilização que durou mil anos, até sumir misteriosamente. Algumas versões da lenda falam até em portais dimensionais escondidos sob a Pedra da Gávea, capazes de ligar o nosso mundo a uma terra cheia de monstros, bruxos e ancestrais da humanidade.


        A prova principal da existência dessa civilização fantástica seria uma série de inscrições localizadas na lateral da “coroa” da “esfinge”, onde estaria escrito “Badhezir, filho de Jethbaal, Rei dos Fenícios”. Essa teoria desaba na atribuição da obra a um “Rei Fenício”, pois os habitantes dessa região não denominavam a si mesmos fenícios, sendo este um nome dado pelos gregos. É provável que as inscrições tenham sido forjadas por algum pesquisador que almejava validar sua teoria dos colonizadores fenícios.
        A teoria que os fenícios tenham desembarcado aqui não é a única a atribuir a presença de viajantes da Antiguidade às origens do Brasil: Os celtas da Irlanda possuíam uma lenda sobre uma ilha chamada Hy Brazil, localizada em algum lugar do Oceano Atlântico, verdadeiro paraíso terrestre com animais e habitantes estranhos. Curiosamente, “Brazil” até hoje é um sobrenome comum entre os irlandeses.
        Verdadeira ou não, é inegável que a lenda da Pedra da Gávea inspirou diversas mídias, tais como alguns filmes brasileiros, como “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa”, e os “Trapalhões na Terra dos Monstros” (eu recomendo esse segundo filme, a quem tiver a chance de assistir, até porque foi o último trabalho do já falecido Zacarias). Até mesmo propagandas foram inspiradas pela história, como esta do uísque Johnny Walker:









10-Akakor.





        E terminaremos nossa lista com outra cidade mística perdida no meio da Amazônia, possivelmente no Acre, na fronteira com o Peru. Relatos de cidades antigas em ruínas no interior da selva não são incomuns, mas e o que dizer de uma civilização de alienígenas, cuja origem precede a espécie humana? E que também construiu um império majestoso, capaz de lutar contra a Atlântida mítica?
        Os relatos sobre a cidade de Akakor são variados, porém a maior parte deles coincide em alguns pontos: a civilização akakoriana teria surgido 13.000 anos antes de Cristo, por meio de homens estranhos vindos das estrelas, com pele clara e cabelos e barbas azuis, além de possuírem seis dedos nas mãos. Esses “colonizadores” se relacionaram com as tribos que já existiam na região e deram origem a outra raça.








        Algumas versões da lenda de Akakor também falam em outras cidades, chamadas Akanis e Akahim. Akanis estaria localizada no México, enquanto Akahim ficava na Venezuela. Não é especificado se Akakor era aliada de Akanis e Akahim, ou se as três cidades faziam parte de um mesmo império, com Akakor servindo de capital, mas esse aspecto da lenda é digno de nota, pois entre as civilizações nativas das Américas, como os astecas e maias, alianças entre cidades-estados eram comuns. Ou seja, mesmo se tratando de uma lenda, é possível perceber um elemento realista na história.
        Apesar de seu poderio formidável, Akakor teve o triste destino de todos os impérios: uma série de revoltas de tribos submetidas, bem como disputas territoriais com o Império Inca no oeste, esgotou essa nação. Nos anos derradeiros, os akakorianos tiveram que lutar por sua independência contra os Incas, sob o comando de uma princesa chamada Mena. As tribos amazônicas foram tudo o que restou da civilização akakoriana, embora alguns relatos afirmem que muitos descendentes se refugiaram nos subterrâneos da terra, construindo cidades quase tão majestosas quanto Akakor.
        A maior parte do que sabemos sobre a lendária Akakor se deve a um jornalista e explorador alemão chamado Karl Brugger, autor do livro Die Chronik von Akakor (“As Crônicas de Akakor”). Brugger escreveu que viajou no alto Purus com um índio chamado Tatunca Nara, um suposto descendente akakoriano, e seus relatos causaram furor no meio científico, embora a existência de Akakor não tivesse sido efetivamente provada.
        Seja como for, a Amazônia continua sendo fonte de mistérios, e existem diversos relatos de aviadores a respeito de “óvnis”, “pirâmides” e “torres” bem no meio da selva. Os autores desses relatos provavelmente avistaram instalações militares temporárias e acharam se tratar de evidências de uma cidade perdida na selva, mas se levarmos em conta a extensão da Amazônia, cujo tamanho supera vários países, podemos dar um voto de confiança para esses aviadores... O mistério continua...



Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bulow



Capa do Livro do Mateus 


**O escritor desta postagem é gaúcho, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor, poeta e autor do Livro "Taquarê: Entre a Selva e o Mar." 

**Link para adquirir o Livro do autor:



**Vídeo da Taty sobre o Livro do Mateus em seu canal no YouTube repleto de Dicas Culturais: 











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