Olá, pessoal! Hoje eu venho publicar mais um texto do meu amigo escritor Mateus Ernani Heizmann Bulow aqui no blogue. O texto mostra dez lendas do Brasil muito interessantes. Muitas vezes, conhecemos os mitos mais famosos do mundo e não sabemos a história folclórica do nosso povo. É necessário resgatar o patriotismo, a cultura, as lendas e a história do Brasil. Sendo assim, é uma honra para este blogue contar com a colaboração do escritor Mateus Bulow, o qual possui grande conhecimento histórico e cultural. Confiram as nossas lendas! Divirtam-se! Boa leitura!
10 Lendas do Brasil.
10 Lendas do Brasil.
Oh, olá! Não vi vocês se aproximando... Sentem-se, amigos, se
acomodem ao lado da fogueira... Temos pouca carne para assar, mas muitas
histórias para contar...
Final de outubro chegando (período quando esse texto foi
escrito), uma das primeiras celebrações a aparecer na psique dos brasileiros é
o Halloween, o Dia das Bruxas dos países de língua inglesa. Em uma tentativa de
conter o que alguns brasileiros consideram uma “invasão cultural estrangeira”,
foi criado o “Dia do Saci”, conforme projeto de lei federal 2762 do deputado
Chico Alencar. No entanto, esse feriado virou motivo de piadas, em parte porque
já existe o dia do folclore em nosso calendário, celebrado em 22 de agosto.
Existe um esforço em recuperar o folclore brasileiro, mas a
tarefa não é fácil: por não termos uma tradição tão antiga como os países
europeus ou as nações do Oriente, nossas lendas aparentam serem muito simples.
A quase ausência de heróis lendários ou de lutas contra monstros e vilões pode
ter contribuído para o desinteresse dos jovens em nossos mitos, pois salvo honrosas
exceções, as lendas brasileiras tratam quase exclusivamente da origem dos
humanos, da lua, do sol, de algumas plantas e animais, etc...
Mesmo assim, essas histórias não podem ser simplesmente
descartadas, pois mitos e lendas forjam o caráter dos povos, construindo sua
identidade. Foi pensando nisso que resolvi fazer esta lista, que começará com
algumas criaturas mitológicas típicas, e então partirá para heróis e mitos
envolvendo histórias de aventuras e lugares longínquos, todos no Brasil. Alguns
dos relatos aqui presentes são tão fantásticos que mais parecem lendas urbanas,
dessas encontradas em blogs sensacionalistas.
E agora, eu peço aos presentes que se sentem em volta da
fogueira, e se preparem para viajar...
1-Boitatá.
Nada como iniciar uma lista de lendas brasileiras com uma
criatura mitológica da qual eu pessoalmente gosto muito, e acredito que seria
um bom símbolo nacional, assim como o Dragão dos chineses. A palavra boitatá
une “m’boi” (“cobra”) e “tata” (“fogo”), ou seja, “cobra de fogo”, em tupi.
Devido à confusão feita pelos portugueses ao ouvir a palavra m’boi, essa
criatura é representada algumas vezes como um boi feito de fogo, ou então como
uma cobra ostentando chifres de boi na cabeça.
A origem do primeiro boitatá ocorreu após um dilúvio devastador
que cobriu toda a terra, e quase todos os animais morreram. O único
sobrevivente foi uma Boiguaçu (“serpente gigante”) que se escondeu em uma
caverna até o dilúvio passar. Após o fim da chuvarada, a Boiguaçu saiu da
caverna cheia de fome, e aproveitou para se refestelar nas carcaças dos bichos,
dando preferência aos olhos, sua parte favorita. Devido ao grande número de
olhos engolidos pela Boiguaçu, seu corpo ficou todo brilhoso, e ela aprendeu a
fazer fogo pelas ventas, tornando-se Boitatá.
Boitatás são descritos muitas vezes como protetores das
florestas, ou ao menos contra as queimadas causadas pelos homens. No entanto,
certas versões da lenda trazem um aspecto mais sinistro, de uma criatura capaz
de arrancar os olhos ou as unhas do pobre infeliz que a encontrar no meio da
noite. O único modo de se defender é fechar os olhos e os punhos, a fim de
esconder as unhas, e esperar o monstro sair de perto.
A origem desse mito se deve a uma reação química. Ossos de
animais são ricos em fósforo branco, um material inflamável, e quando os bichos
se aglomeram num lugar e se decompõem, sobra apenas o fósforo. Quando um raio
ou faísca entra em contato com os ossos decompostos, surge uma enorme chama,
muitas vezes na forma de um rastilho longo, bem parecido com uma cobra.
2-Saci.
Nossa segunda lenda abordada trata-se da criatura fantástica
mais famosa do folclore nacional, e também uma fusão de culturas de três
continentes. O saci, também conhecido como Pererê, Saçurá e Trique, é
representado como um menino ou anão de pele escura, com apenas uma perna e
gorro vermelho. Em algumas versões da lenda existem vários sacis, e seu habitat
natural são os taquarais e bambuzais, onde seus ovos são deixados.
Sua personalidade habitual não é o que poderia se chamar de
“exemplar”: brincalhão incorrigível, o saci vive de pregar peças, roubar
objetos e perturbar animais, especialmente cavalos e burros, ao fazer nós em
suas crinas. Devido à condição de “ser místico da floresta”, ele também é
guardião de plantas medicinais, e alguns xamãs e curandeiros mantêm o hábito de
pedir permissão ao saci, antes de coletarem as plantas para suas beberagens.
O “rascunho” da lenda surgiu com uma criatura da mitologia
guarani chamada Yaci Yateré (“Pedaço de Lua”, na língua guarani), espécie de
duende das matas. O gorro, a cor escura e a única perna seriam influências
externas, vindas de Portugal e da África. Em algumas lendas, o saci pode ser
capturado por meio de garrafas, algo como os djinns (gênios) da mitologia
árabe, indicando mais uma influência externa.
O saci não é a única criatura mitológica com apenas uma
perna. Na Idade Média era comum ouvir viajantes falando sobre povos inteiros de
gente com apenas uma perna na Índia e na Etiópia, enquanto no Chile existe o
Invunche, na Escócia vivem os Fachan, e na África ocidental existem os Azizas.
Até no longínquo Japão se ouve histórias de monstros com uma perna, os
Karakasa-Obake (literalmente, “guarda-chuva fantasma”): esse bicho é retratado
como um guarda chuva com um único olho, um par de braços e uma perna humana.
3-Capelobo.
Seguindo até a terceira lenda, chegaremos até o interior da
Amazônia, uma vasta região conhecida apenas parcialmente pelo homem e pródiga
em histórias de monstros. Uma dessas lendas fala de feras peludas, capazes de
andar sobre duas patas como um homem, porém as semelhanças param aí: a cabeça
desses monstros é alongada como a de um tamanduá, e os pés possuem cascos de
cavalo. Esse é o capelobo, uma das criaturas lendárias mais temidas da
Amazônia.
A palavra “capelobo” possui origem tupi, e significa “fera do
osso quebrado”. Esse monstro é ativo durante a noite e a madrugada,
perambulando ao redor de casas e acampamentos no meio da mata, enquanto grita
sem parar. A criatura se alimenta de todo e qualquer animal, com preferência
pelos filhotes recém-nascidos, mas também ataca os caçadores, furando seus
crânios para comer o cérebro (eita!). O único modo de matar um capelobo é com
um tiro certeiro no umbigo.
Como se a lenda não fosse assustadora o bastante, o capelobo
não é o único monstro peludo da Amazônia: outras histórias falam do mapinguari,
um gigante peludo com um olho só no peito e a boca na vertical, no lugar do
umbigo; também existem descrições de macacos gigantes inteligentes vivendo na
Amazônia, chamados maricoxi. Alguns aspectos das histórias do capelobo são muito
parecidos com os lobisomens, como a existência de índios que se transformam
nessas feras à noite.
É possível que a lenda do capelobo, bem como outros gigantes da
Amazônia, tenha uma origem muito antiga, pré-histórica para falar a verdade: no
passado, existiram bichos preguiças gigantes nas Américas, e esses animais eram
formidáveis, com seis metros de altura quando estavam em pé! Diferentemente dos
capelobos lendários, esses bichos preguiças eram herbívoros, mas sabiam se
defender de predadores com suas longas garras.
4-Onça-Boi.
Ainda na selva amazônica, seguiremos até o Acre, um dos rincões
mais isolados do Brasil, e lar de outra fera assustadora. Muitos caçadores,
pescadores e sertanistas (pessoas que exploram a selva) afirmaram terem visto
uma terrível onça, muito diferente dos felinos comuns: essa onça é enorme, tão
grande quanto um búfalo, e suas patas terminam em cascos parecidos com os dos
bois.
Diferentemente das onças normais, de hábitos solitários, as
onças-bois caçam em duplas, compostas de um macho e uma fêmea. A tática
preferida desses monstros envolve encurralar o caçador no topo de uma árvore e
revezar na vigia, até o pobre infeliz cair no sono para ser devorado.
Felizmente, é possível escapar matando apenas uma das onças, pois a morte do
companheiro(a) deixará o parceiro(a) desnorteado, permitindo a fuga.
Assim como o capelobo, o mito da onça-boi foi possivelmente
inspirado em criaturas que existiram no passado longínquo da terra: alguns
mamíferos carnívoros pré-históricos possuíam cascos em seus pés, no lugar das
garras dos felinos modernos. Esses predadores tinham tamanhos variados: enquanto
certos espécimes eram do tamanho de um rato ou de um gato, outros pareciam
lobos e hienas, e os maiores animais desse grupo eram tão grandes quanto um
rinoceronte.
5-Iara.
Nossa jornada continua pela selva, porém agora nosso olhar se
desviará para os rios, quase tão vastos quanto o verde das matas. Aqui
encontraremos a “nossa” sereia brasileira e protetora dos rios, a Iara. Também
conhecida como Mãe D’Água em algumas regiões, a Iara é responsável por afogar
pescadores e caçadores desafortunados, ao seduzi-los com sua linda aparência e
sua voz melodiosa.
Em algumas lendas, conta-se que a Iara era uma índia
guerreira, conhecida por sua coragem e beleza. Seus irmãos a invejavam com ódio,
e armaram uma emboscada para matá-la, mas Iara conseguiu se defender, matando
ambos. Temendo ser castigada, Iara fugiu da tribo e pulou em um rio, sendo
transformada em uma sereia.
A iara não é a única criatura fantástica a viver nos rios do
Brasil: na Amazônia, existem relatos de monstros d’água de aparência medonha,
chamados ipupiaras, enquanto no Rio São Francisco contam-se as histórias do
caboclo d’água, que possui um olho só e se diverte virando canoas de pescadores
(talvez “saci d’água” fosse um nome mais adequado...). No Candomblé, a figura
da Iara às vezes se confunde com Iemanjá, a deusa do mar.
6-Macunaíma.
Para os brasileiros estudantes de literatura, Macunaíma é o
protagonista folgado e encrenqueiro do romance de mesmo nome, escrito em 1928
por Mário de Andrade. No entanto, nas tradições das tribos indígenas Macuxis que
vivem na fronteira do Brasil com a Venezuela, Macunaíma é o nome de um herói
lendário, filho do sol e da lua e detentor de uma moral ambígua, assim como o
protagonista da obra modernista brasileira.
Havia uma montanha extremamente alta em Roraima e no topo
dela existia um lago, que era um expectador do amor impossível entre o Sol e a
Lua. Um dia a natureza promoveu o encontro dos dois apaixonados, fazendo surgir
o primeiro eclipse nos céus. Do lago cristalino da montanha surgiu Macunaíma, o
curumim do Monte Roraima. Macunaíma cresceu e logo se transformou em um bravo
guerreiro, o maior defensor da aldeia Macuxi contra inimigos e feras da selva.
Bem próximo à tribo, no topo do Monte Roraima, existia uma
árvore conhecida como a “Árvore de todos os frutos”, onde nela brotavam
diversas frutas, tais como banana, abacaxi, melão, açaí, cupuaçu e tantas
outras. Apenas Macunaíma tinha autoridade para colher os frutos dessa árvore e
dividi-los de forma igual para todos da aldeia, mas isso revoltou alguns índios
invejosos.
Em uma noite, um grupo de Macuxis roubou os frutos, e não
satisfeitos com isso, arrancaram alguns galhos, para fazerem mudas de árvores
iguais àquela. Com isso, a “Árvore de todos os frutos” morreu, e Macunaíma teve
que castigar os culpados: o guerreiro ateou fogo em toda a floresta,
transformando várias árvores em pedras e forçando os habitantes a fugir.
Segundo a lenda, até hoje o espírito de Macunaíma vive no Monte Roraima, e
ainda se ouve os choros dele pela morte da “Árvore de todos os frutos”.
O Monte Roraima, cenário dessa história, está localizado em
uma tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, e apesar de ser um
local remoto, é um destino popular entre os entusiastas do trekking. Essa
montanha não inspirou apenas lendas, como também livros e filmes, tais como O
Mundo Perdido, de Arthur Conan Doyle (ele mesmo, o “pai” do Sherlock Holmes), e
o cenário principal do filme UP – Altas Aventuras, da Pixar. O segundo livro do
criador desta lista, chamado Taquarê – Entre um Império e um Reino, também
possui o Monte Roraima entre seus cenários.
7- Sapucaia-Oroca.
Durante o início da colonização europeia nas Américas,
surgiram diversas lendas exageradas falando em cidades perdidas construídas
pelos nativos. A mais famosa dessas histórias sem dúvida é El Dorado, procurada
incessantemente pelos conquistadores espanhóis. Outras lendas falam até mesmo
de uma cidade submersa no fundo do Lago Titicaca, localizado entre o Peru e a
Bolívia.
Pode parecer estranho, mas o Brasil possui sua versão da
Atlântida, denominada Sapucaia-Oroca, ou Sapucai-Roca. Assim como os habitantes
da Atlântida descrita por Platão, os moradores dessa cidade indígena foram
castigados pelos deuses com o desparecimento sob as águas. A localização do
esconderijo de Sapucaia-Oroca varia conforme o relato, mas a maior parte deles
aponta para o Rio Madeira, em Rondônia.
Sapucaia-roca era uma cidade fantástica e diferente de todas
as aldeias construídas pelos índios, com ruas cobertas de pedras preciosas, e
seus moradores andavam ricamente vestidos, além de fazerem festas que duravam
dias. Com o passar do tempo, os nativos não faziam outra coisa exceto farrear,
e Tupã, o deus do trovão e líder do panteão Tupi, andava perturbado, pois os
índios não trabalhavam mais. Ele enviou-lhes diversos avisos, mas a beberagem
era tanta que nem tomaram conhecimento, e continuaram a levar a vida em festas
e divertimentos.
Tupã se aborreceu e fez cair uma chuva durante dias. A água
subiu sem parar, e os indígenas poderiam ter fugido, mas não quiseram abandonar
suas riquezas. A cidade desapareceu nas águas, mas Tupã não deixou os moradores
morrerem. Sendo assim, continuaram a viver debaixo das águas. Quem passa por
perto do local onde existia a vila, diz ouvir galos cantadores dentro do rio.
Daí o nome Sapucaia-Oroca. Significa "galinheiro".
Poucas lendas dão detalhes a respeito da vida cotidiana em
Sapucaia-Oroca, após a grande enchente. Algumas falam que a vida voltou a
seguir como antes, com trabalho diário para todos, e festividades apenas em
alguns dias do ano. Essas lendas também falam que Sapucaia-Oroca era governada
por uma princesa indígena, responsável por tecer fios de algodão; os
“guarda-costas” dessa princesa eram dois peixes enormes e mal encarados, e
aparentemente a vigia da cidade inteira era tarefa não apenas dos guerreiros,
como também de outros peixes gigantes.
8-Salamanca do Jarau.
Continuando nossa jornada, passaremos pelo Rio Grande do Sul,
para conhecermos a lenda mais famosa da região, descrita no livro Lendas do
Sul, de Simões Lopes Neto, talvez o maior escritor tradicionalista nascido
nessa terra. Essa lenda começa com uma princesa moura fugindo da Península
Ibérica, após as últimas guerras contra portugueses e espanhóis. Alguns mouros
rumaram até as Américas, como foi o caso dessa princesa, e o terrível Anhangá,
um dos deuses mais maléficos da mitologia tupi, a transformou em uma teiniaguá
(“lagartixa”, em tupi) com uma pedra preciosa na cabeça.
A caverna onde a princesa moura se escondia tinha o nome de
Salamanca do Jarau, e ficava próxima a uma povoação pequena. Em um dia muito
quente, um sacristão jovem foi beber perto do rio, e encontrou a teiniaguá por
perto; após levar o animal com a pedra preciosa para a igreja, a princesa se
revelou em sua forma verdadeira e pediu vinho ao sacristão. No entanto, os dois
foram flagrados pelo padre, que ficou furioso com o roubo do vinho da igreja, e
tiveram de se esconder na Salamanca do Jarau, onde ficariam presos até que
alguém os libertasse da maldição.
Passaram-se duzentos anos, e a caverna virou uma espécie de
“atração local”, onde era garantido um desejo a quem tivesse coragem de passar
pelas sete provas. Essas sete provas eram desafios bem variados, dignos de um
videogame:
1-Trecho cheio de cobras.
2-Caminhos estreitos com fogo em volta.
3-Gruta cheia de pumas e jaguares furiosos.
4-Floresta cujas árvores possuíam espadas e facas no lugar
das folhas.
5-Poço de água fervente.
6-Trecho com esqueletos vivos.
7-Gruta com anões armados.
O primeiro a superar esse desafio casca-grossa foi um peão
gaúcho, mas ao alcançar a câmara onde se escondiam a princesa e o sacristão, já
idosos após muito tempo, ele não soube o que pedir, pois havia passado pelos
perigos apenas em busca de um bom desafio. Como lembrança de sua passagem, o
gaúcho recebeu uma moeda mágica do sacristão; essa moeda se multiplicava ao ser
arremessada no chão, e em pouco tempo o gaúcho ficou rico.
A vida seguiu tranquila para ele, até o dia em que peões
invejosos começaram a se perguntar de onde vinha sua riqueza. Não demorou até
um boato maldoso se espalhar entre as vilas, afirmando que o gaúcho da moeda tinha
pacto com o Mal, e todos começaram a evitá-lo. Sentindo saudade da vida que
tinha antes, o gaúcho decidiu devolver a moeda ao sacristão e à princesa, e com
isso ele os libertou da maldição da Salamanca do Jarau, assumindo a forma de um
casal de belos jovens, mais uma vez. A história termina afirmando que boa parte
do povo gaúcho descende do sacristão e da princesa.
9-Mistério da Pedra da Gávea.
Nossa próxima lenda nos levará ao Rio de Janeiro, pois até a
“Cidade Maravilhosa” esconde seus segredos entre os morros. Mas para
explorarmos melhor a lenda, precisamos conhecer o nosso cenário, a Pedra da
Gávea. Os portugueses deram esse nome à singular formação porque de longe ela
lembrava uma gávea, o cesto no topo dos mastros das caravelas de onde se
observava ao longe. No entanto, muitos moradores do Rio de Janeiro comentavam
desde a época colonial que uma das faces da pedra lembrava uma “esfinge”, com
uma barba e uma coroa chamativa. Em 1830, o imperador Pedro I do Brasil também
comentou sobre essa estranha semelhança, em uma de suas memórias.
Durante o Século XIX, os historiadores já sabiam que os
fenícios empreenderam viagens em torno da costa africana, e surgiu a hipótese
de um grupo deles ter desembarcado no continente americano. Versões mais
detalhadas dessa história afirmam que a esfinge é o túmulo de um rei fenício
exilado, chamado Badhezir. Ele e seus seguidores teriam fugido e se abrigado na
baía do Rio de Janeiro, formando uma civilização que durou mil anos, até sumir
misteriosamente. Algumas versões da lenda falam até em portais dimensionais
escondidos sob a Pedra da Gávea, capazes de ligar o nosso mundo a uma terra
cheia de monstros, bruxos e ancestrais da humanidade.
A prova principal da existência dessa civilização fantástica
seria uma série de inscrições localizadas na lateral da “coroa” da “esfinge”, onde
estaria escrito “Badhezir, filho de Jethbaal, Rei dos Fenícios”. Essa teoria
desaba na atribuição da obra a um “Rei Fenício”, pois os habitantes dessa
região não denominavam a si mesmos fenícios, sendo este um nome dado pelos
gregos. É provável que as inscrições tenham sido forjadas por algum pesquisador
que almejava validar sua teoria dos colonizadores fenícios.
A teoria que os fenícios tenham desembarcado aqui não é a
única a atribuir a presença de viajantes da Antiguidade às origens do Brasil:
Os celtas da Irlanda possuíam uma lenda sobre uma ilha chamada Hy Brazil,
localizada em algum lugar do Oceano Atlântico, verdadeiro paraíso terrestre com
animais e habitantes estranhos. Curiosamente, “Brazil” até hoje é um sobrenome
comum entre os irlandeses.
Verdadeira ou não, é inegável que a lenda da Pedra da Gávea
inspirou diversas mídias, tais como alguns filmes brasileiros, como “Roberto
Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa”, e os “Trapalhões na Terra dos Monstros” (eu
recomendo esse segundo filme, a quem tiver a chance de assistir, até porque foi
o último trabalho do já falecido Zacarias). Até mesmo propagandas foram inspiradas
pela história, como esta do uísque Johnny Walker:
10-Akakor.
E terminaremos nossa lista com outra cidade mística perdida
no meio da Amazônia, possivelmente no Acre, na fronteira com o Peru. Relatos de
cidades antigas em ruínas no interior da selva não são incomuns, mas e o que
dizer de uma civilização de alienígenas, cuja origem precede a espécie humana?
E que também construiu um império majestoso, capaz de lutar contra a Atlântida
mítica?
Os relatos sobre a cidade de Akakor são variados, porém a
maior parte deles coincide em alguns pontos: a civilização akakoriana teria
surgido 13.000 anos antes de Cristo, por meio de homens estranhos vindos das
estrelas, com pele clara e cabelos e barbas azuis, além de possuírem seis dedos
nas mãos. Esses “colonizadores” se relacionaram com as tribos que já existiam
na região e deram origem a outra raça.
Algumas versões da lenda de Akakor também falam em outras
cidades, chamadas Akanis e Akahim. Akanis estaria localizada no México,
enquanto Akahim ficava na Venezuela. Não é especificado se Akakor era aliada de
Akanis e Akahim, ou se as três cidades faziam parte de um mesmo império, com
Akakor servindo de capital, mas esse aspecto da lenda é digno de nota, pois
entre as civilizações nativas das Américas, como os astecas e maias, alianças
entre cidades-estados eram comuns. Ou seja, mesmo se tratando de uma lenda, é
possível perceber um elemento realista na história.
Apesar de seu poderio formidável, Akakor teve o triste destino
de todos os impérios: uma série de revoltas de tribos submetidas, bem como
disputas territoriais com o Império Inca no oeste, esgotou essa nação. Nos anos
derradeiros, os akakorianos tiveram que lutar por sua independência contra os
Incas, sob o comando de uma princesa chamada Mena. As tribos amazônicas foram
tudo o que restou da civilização akakoriana, embora alguns relatos afirmem que muitos
descendentes se refugiaram nos subterrâneos da terra, construindo cidades quase
tão majestosas quanto Akakor.
A maior parte do que sabemos sobre a lendária Akakor se deve
a um jornalista e explorador alemão chamado Karl Brugger, autor do livro Die Chronik
von Akakor (“As Crônicas de Akakor”). Brugger escreveu que viajou no alto Purus
com um índio chamado Tatunca Nara, um suposto descendente akakoriano, e seus
relatos causaram furor no meio científico, embora a existência de Akakor não
tivesse sido efetivamente provada.
Seja como for, a Amazônia continua sendo fonte de mistérios,
e existem diversos relatos de aviadores a respeito de “óvnis”, “pirâmides” e
“torres” bem no meio da selva. Os autores desses relatos provavelmente
avistaram instalações militares temporárias e acharam se tratar de evidências
de uma cidade perdida na selva, mas se levarmos em conta a extensão da Amazônia,
cujo tamanho supera vários países, podemos dar um voto de confiança para esses
aviadores... O mistério continua...
Capa do Livro do Mateus
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