O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









Contador Grátis





terça-feira, 11 de novembro de 2025

O fruto do conhecimento

 



 

Preferia a inocência, caí na descrença.

Preferia a luz mais bonita, caí na escuridão.

A escuridão é profunda como o oceano,

uma descida em espiral ao subterrâneo.

 

Beijei Hades e comi as suas romãs.

Cada semente foi uma verdade amarga,

cada mordida foi uma revelação imediata.

Saudade de viver uma eterna primavera!

 

Hoje, o inverno chegou depressa,

e eu desço às profundezas sem ser convidada.

Como uma Perséfone raptada por Hades,

troco as ilusões das flores por secas verdades.

 

Os galhos estão secos e frios,

as árvores têm raízes lá embaixo.

As flores murcham bem rápido,

mas o perfume delas ainda é exalado.

 

A dor do infinito corrompe a vida,

que é finita, confusa e imprevisível.

Não somos frutos da prudência santa,

mas de uma paixão pecadora e profana.


Se somos frutos da paixão,

por que somos tão puros e frios?

Qual é o Deus que criou o mundo?

Ele está nas Palavras ou na Natureza?

 

Se temos sangue e coração,

por que somos tão passivos?

Qual é o ideal mais elevado?

Qual é o espírito mais profundo?

 

Surtos coletivos não me agradam!

Até as iluminações coletivas me intrigam,

pois há sempre um ego de poder e política.

Por isso, só a evolução individual é linda.

 

Perseguem o fruto do conhecimento,

perseguem os poetas e os livres pensadores

há muitos e muitos séculos por este mundo.

Mas, quem beijou Hades não deixa de ser profundo.

 

Quem bebe das águas profundas

não se contenta com águas rasas,

nem com respostas curtas e baratas.

A vida real sempre será feita de brasas!


Poesia escrita por Tatyana Casarino.





Essa é uma poesia baseada na história da deusa Perséfone, figura emblemática da história da mitologia grega. Ela era considerada a deusa da primavera, das flores e dos frutos. Quando vivia na superfície da Terra com a sua mãe Deméter, deusa da agricultura e da colheita, Perséfone somente conhecia a luz e colhia flores. Contudo, após ser levada ao submundo por Hades, ela passa a conhecer a escuridão e o mundo dos mortos. 

Assim como na história bíblica de Adão e Eva, houve um fruto proibido que revelou o conhecimento do bem e do mal para essa personagem. Na jornada de Perséfone, foi uma romã que a vinculou ao mundo sombrio de Hades. Desse modo, ela precisou dividir o seu tempo entre o mundo superior e mundo sombrio. 

Essa história explicava as estações do ano, porque o tempo em que ela passava com a sua mãe, a deusa Deméter, representava a primavera e o verão enquanto o tempo em que ela estava com Hades simbolizava o outono e o inverno. 

Na perspectiva de uma espiritualidade baseada no autoconhecimento e na simbologia, o tempo de Perséfone no submundo indica a metáfora de um momento doloroso do despertar espiritual e da percepção das sombras (interiores e exteriores) na nossa vida. Apesar da dor emocional que o despertar provoca no indivíduo, esse momento também impulsiona o amadurecimento, a resiliência e a superação dos medos. 


Tatyana Casarino. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário