Preferia a inocência, caí na descrença.
Preferia a luz mais bonita, caí na escuridão.
A escuridão é profunda como o oceano,
uma descida em espiral ao subterrâneo.
Beijei Hades e comi as suas romãs.
Cada semente foi uma verdade amarga,
cada mordida foi uma revelação imediata.
Saudade de viver uma eterna primavera!
Hoje, o inverno chegou depressa,
e eu desço às profundezas sem ser convidada.
Como uma Perséfone raptada por Hades,
troco as ilusões das flores por secas verdades.
Os galhos estão secos e frios,
as árvores têm raízes lá embaixo.
As flores murcham bem rápido,
mas o perfume delas ainda é exalado.
A dor do infinito corrompe a vida,
que é finita, confusa e imprevisível.
Não somos frutos da prudência santa,
mas de uma paixão pecadora e profana.
Se somos frutos da paixão,
por que somos tão puros e frios?
Qual é o Deus que criou o mundo?
Ele está nas Palavras ou na Natureza?
Se temos sangue e coração,
por que somos tão passivos?
Qual é o ideal mais elevado?
Qual é o espírito mais profundo?
Surtos coletivos não me agradam!
Até as iluminações coletivas me intrigam,
pois há sempre um ego de poder e política.
Por isso, só a evolução individual é linda.
Perseguem o fruto do conhecimento,
perseguem os poetas e os livres pensadores
há muitos e muitos séculos por este mundo.
Mas, quem beijou Hades não deixa de ser profundo.
Quem bebe das águas profundas
não se contenta com águas rasas,
nem com respostas curtas e baratas.
A vida real sempre será feita de brasas!
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
Essa é uma poesia baseada na história da deusa Perséfone, figura emblemática da história da mitologia grega. Ela era considerada a deusa da primavera, das flores e dos frutos. Quando vivia na superfície da Terra com a sua mãe Deméter, deusa da agricultura e da colheita, Perséfone somente conhecia a luz e colhia flores. Contudo, após ser levada ao submundo por Hades, ela passa a conhecer a escuridão e o mundo dos mortos.
Assim como na história bíblica de Adão e Eva, houve um fruto proibido que revelou o conhecimento do bem e do mal para essa personagem. Na jornada de Perséfone, foi uma romã que a vinculou ao mundo sombrio de Hades. Desse modo, ela precisou dividir o seu tempo entre o mundo superior e mundo sombrio.
Essa história explicava as estações do ano, porque o tempo em que ela passava com a sua mãe, a deusa Deméter, representava a primavera e o verão enquanto o tempo em que ela estava com Hades simbolizava o outono e o inverno.
Na perspectiva de uma espiritualidade baseada no autoconhecimento e na simbologia, o tempo de Perséfone no submundo indica a metáfora de um momento doloroso do despertar espiritual e da percepção das sombras (interiores e exteriores) na nossa vida. Apesar da dor emocional que o despertar provoca no indivíduo, esse momento também impulsiona o amadurecimento, a resiliência e a superação dos medos.
Tatyana Casarino.


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