Sol da meia-noite: um livro
repleto de surpresas (boas e ruins).
Sobre a demora do lançamento
da obra
Neste livro, Stephenie Meyer
narra a mesma história de Crepúsculo sob a perspectiva de Edward Cullen (a saga
toda tinha sido contada em primeira pessoa pela perspectiva da Bella até então).
Após anos de desenvolvimento, o livro foi lançado em 2020. O enredo foi
iniciado há muitos anos, quando a saga estava começando a ganhar fama no
cinema, e um incidente “traumatizou” a autora: o vazamento dos capítulos
iniciais na internet.
Triste e decepcionada, ela
perdeu a inspiração para continuar escrevendo a obra e resolveu deixá-la
“congelada” por um longo tempo. A insistência dos fãs, a pressão dos leitores e
até mesmo a vontade da mãe da escritora não foram tão fortes quanto os impulsos
da sua própria consciência, a qual não sossegava enquanto ela não dava um ponto
final nessa história (quem é escritor sabe a angústia de ter uma obra
inacabada).
A editora e os seus assistentes
literários deram todo o tempo do mundo para a autora, que precisou de paz de
espírito e espaço pessoal para concretizar o fluxo da sua inspiração. Segundo a
autora, essa foi uma obra difícil, pois narrar a história sob a perspectiva de
um personagem denso e que lê os pensamentos de todos os outros personagens é
algo muito mais complexo do que escrever os acontecimentos sob o olhar de uma
adolescente humana.
Para quem está esperando uma
obra exatamente igual ao livro Crepúsculo apenas com uma perspectiva diferente,
posso afirmar que não é bem isso que você vai encontrar nela. Ainda que o
enredo seja o mesmo e que você conheça a história pelos outros livros e pelos
filmes, essa obra é diferente de tudo o que já passou sobre Crepúsculo e
carrega informações e cenas inéditas: desde os pensamentos mais secretos dos
outros personagens até o conhecimento do que o Edward fazia quando não estava
perto de Bella.
***
Minhas novas impressões sobre
os personagens
Alerta: o meu texto contém revelações do enredo e mostra informações importantes do livro. Se você não gosta de spoilers, evite ler a minha análise. Mas, se você não se importa com os spoilers ou se já leu a obra e pretende expandir o seu senso crítico e a sua análise sobre a saga Crepúsculo, prossiga a leitura à vontade.
Observação: a análise crítica reflete a minha experiência pessoal como leitora e carrega os meus valores. Cada leitor tem os seus próprios valores e as suas perspectivas de acordo com a experiência da leitura.
Edward é um vampiro com a
habilidade de ler os pensamentos dos outros. O livro começa com o tédio do
Edward no Ensino Médio e o seu desgosto em relação aos pensamentos egoístas e
mesquinhos da maioria dos seres humanos. Então, ele conhece Bella, uma moça
altruísta, bondosa, tímida e gentil cujos pensamentos são um mistério para ele.
Nesse livro, entendemos o
motivo da fascinação do Edward pela Bella. Muitos questionam o porquê de uma
moça aparentemente sem personalidade (segundo a análise dos filmes), com um
perfil mediano e uma aparência pouco chamativa ter conquistado um dos vampiros
mais belos, inteligentes e habilidosos do século. Em Sol da meia-noite,
percebemos que Bella tem muita personalidade, é inteligentíssima e sua beleza
humana é bem charmosa e atraente.
Conforme as descrições de
Edward, Bella tem uma mente analítica, é lógica, racional, pensa com
profundidade e descobre mistérios com muita facilidade. Ela lê bons livros, tem
bom gosto musical e é bastante estudiosa. Além disso, ajuda os colegas na escola,
é capaz de se sacrificar pelo bem-estar dos amigos e é bastante cuidadosa com
os pais.
Ninguém cuidou de Bella com
verdadeiro espírito de amor incondicional (nem mesmo os seus pais), razão pela
qual ela sempre foi mais acostumada a cuidar do que a ser cuidada. O amor
protetor de Edward conquistou Bella, pois preencheu bem essa lacuna de cuidado
que faltou na vida dela por causa de um pai tão ocupado e de uma mãe tão fútil.
Bella é generosa, gentil e
sempre capaz de oferecer uma palavra de conforto para todos ao seu redor. Ela
defende os amigos da escola diante de situações constrangedoras e oferece o seu
melhor para todos. Apenas com a perspectiva de Edward a respeito dela, temos
uma visão mais ampla sobre essa personagem, a qual já foi julgada injustamente
de insossa por causa da sua falta de autoestima no cinema e nos livros narrados
por ela.
Edward se apaixonou pelo
altruísmo de Bella, já que ele não estava acostumado a encontrar seres humanos
bons e generosos pelo caminho. Escutando os mais variados pensamentos humanos
durante décadas, era natural que Edward estivesse desencantado com a
humanidade, com a sociedade e com a vida.
Ele sempre foi atormentado
pelos pensamentos maus e barulhentos dos outros, porque o seu maior dom também
é um grande castigo. Ao encontrar uma moça com a mente silenciosa e que
demonstra bondade, ele se surpreende e se apaixona pela humana incrível,
diferente e autêntica que ela é. A beleza do amor de Edward está no fato de que
ele admira a essência de Bella muito além da sua aparência e do seu cheiro.
Bella está longe de ser
insossa: ela é inteligente, misteriosa, enigmática, charmosa e muito bonita em Sol
da meia-noite. Além de uma essência virtuosa, ela também é linda por fora. A
sua pele parece “alabastro” pela delicadeza translúcida, os seus olhos
castanhos são profundos, os seus cílios são naturalmente grandes, as suas
bochechas rosadas são incrivelmente charmosas, os seus cabelos castanhos ganham
tons ruivos sob a luz do sol e o seu corpo possui curvas atraentes.
Pelo olhar masculino de
Edward, Bella parece uma rainha (risos). Percebemos que Bella deve ter as
pernas muito bonitas, porque ele fica encantado quando a vê de vestido pela
primeira vez. Conforme a visão dele, a pele do rosto dela é belíssima e
dispensa qualquer item de maquiagem. Outro detalhe interessante é que ela fica
muito bem de azul-marinho.
Ocorre que esse amor tão
bonito também já foi manchado por sua essência vampiresca e pelo ódio. Pelo
fato de Bella romper o “status quo” (o velho estado das coisas) na sua vida,
Edward sentia fascínio e ódio ao mesmo tempo primeiramente.
Ele trabalhava o autocontrole
ao lado do seu pai, o doutor Carlisle Cullen, há décadas e não estava
acostumado com uma tentação incontrolável como a que sentiu pelo aroma doce e
profundo do sangue de Bella. Além do mais, era irritante não saber o que ela
pensava. Quando ele a conhece pela primeira vez, ele pensa em algumas fantasias
sombrias envolvendo o sangue dela.
Percebemos que Edward não é tão fofo, bonzinho e romântico: realmente ele tem a pele de um assassino (entendeu a referência? - risos) e fantasias bem sombrias. Dentro da sala de aula, ele imagina como seria matar os colegas ao seu redor para ficar sozinho com Bella e não ter testemunhas para os seus crimes. Ele também imagina como seria ceder ao instinto e sugar o sangue dela.
Bella mexe muito com ele e o
perturba antes de estimular outros sentimentos mais profundos e amorosos dentro
dele. Ela o obriga a sair da sua “zona de conforto”, a questionar quem ele é, a
lidar com tentações sombrias e a desejar a única pessoa cujos pensamentos ele
não pode ler. Tudo isso provoca ódio e raiva nele a princípio.
Ele fica obcecado por ela, e
essa obsessão o leva a observá-la vinte e quatro horas por dia: na escola, na
mente das outras pessoas e no quarto dela enquanto ela dorme. Como ele não pode
ler os pensamentos dela, ele investiga tudo o que pode para desvendar a mente
dela. Não é nada saudável o nível de obsessão dele, o qual seria considerado
bem tóxico hoje em dia.
Acontece que, a partir de
tanta observação, ele acaba se apaixonando por ela e substituindo a raiva
dentro de si por um incrível instinto protetor. Podemos questionar o quanto a
sua obsessão é tóxica, mas se ele não estivesse observando Bella com tanta atenção
talvez não tivesse salvado a moça do acidente dentro do estacionamento da
escola.
Depois que ele a salva de ser atropelada dentro da escola, sabemos bem o que acontece: ela se apaixona por ele e logo descobre que ele é um vampiro. O enredo não é muito diferente do que nós conhecemos, mas ele é “recheado” de muitas cenas e pensamentos inéditos.
Curiosidades e surpresas boas do livro
*O gesto fofo de guardar uma
tampinha
Quando ele consegue conversar
pela primeira vez com Bella no refeitório da escola, ele guarda uma tampinha de
refrigerante no bolso. Algo aparentemente bobo e que nunca havia sido retratado
nos filmes, mas que ganha um valor simbólico muito importante neste livro. É
como se essa tampinha representasse o amor que ele sente pela Bella e o início
do romance.
*Entrevistas incríveis com
Bella
Os diálogos com Bella são
muito ricos no Sol da meia-noite. No filme, tudo acontece muito rápido entre os
personagens e, no primeiro livro do Crepúsculo, a perspectiva de Bella não
retrata com tanta riqueza e profundidade os diálogos iniciais.
Neste livro, descobrimos
conversas inéditas entre o Edward e a Bella sobre os mais variados assuntos.
Como ele não consegue ler a mente dela, ele faz inúmeras “entrevistas” com a
amada. Descobrimos os livros favoritos de Bella, as músicas favoritas dela e
até mesmo os filmes da sua preferência.
Para mim, as cenas das
conversas entre eles são as minhas prediletas. Fiquei encantada com essa
personagem e me identifiquei ainda mais com a Bella ao saber que ela gosta do
Fantasma da Ópera e da Bela e a Fera (sempre achei conexões incríveis entre
essas histórias e Crepúsculo).
*Angela é uma amiga verdadeira
Personagem subestimada ao
longo da saga, Angela merecia mais destaque pelo seu bom caráter e pela pureza
do seu coração. Fiquei encantada com os pensamentos puros e genuínos dela
(Edward lê os pensamentos das amigas de Bella).
*Os pensamentos do pai de
Bella são os mais legais
Edward descobre que Bella
puxou ao pai quando o assunto é a natureza da sua mente. Os pensamentos de
Charlie não são tão abafados por um escudo de mistério e proteção como os de
Bella, mas são silenciosos e diferenciados. Não é tão fácil ler a mente de
Charlie Swan. Os pensamentos que Edward consegue ler dele quase sempre são imagens
de sonhos, imaginações enigmáticas ou impressões emocionais.
Bella lê bons livros, tem bom
gosto musical e apresenta uma personalidade muito mais espontânea, filosófica e
bem-humorada do que nos outros livros. O seu humor inteligente, a sua
complexidade emocional e a sua coragem são traços marcantes.
Quando lemos Crepúsculo
durante a adolescência, encaramos tudo com naturalidade e romantismo (até mesmo
a natureza vampiresca de Edward). Mas, quando lemos Sol da meia-noite na idade
adulta, percebemos o quanto pode ser esquisito e assustador namorar um vampiro.
Bella demonstra muita personalidade e coragem ao desbravar o mundo dele.
*Alice é ainda mais
interessante
Se você sempre gostou de Alice
desde o início da saga, vai gostar ainda mais dela em Sol da meia-noite. Alice
é uma irmã muito gentil para Edward e o seu carisma é surpreendente.
Ela prevê o destino de Bella e
a amizade que terá com ela. A forma como ela é apaixonada por moda é encantadora.
Além do mais, ela tem papel fundamental na hora de arranjar soluções e
desculpas para Bella depois que ela se machuca no encontro assustador com
James.
*Jasper é essencial na luta
contra James
A perseguição de James (aquele
vampiro vilão que caça Bella) gera muitas cenas surpreendentes que lembram mais
um livro de ação do que de romance. O modo como Edward corre atrás do vilão é
retratada com muitos detalhes inéditos, cenas longas e embates eletrizantes.
E, dentre tantos detalhes
surpreendentes, um me chamou mais a atenção: o papel de Jasper para manter o
controle emocional e o foco de Edward na luta contra James. Ao narrar a
história sob a sua perspectiva, Edward revela os seus pensamentos mais
desesperados quando descobre que Bella foi capturada por James: culpa, remorso,
raiva, ansiedade e medo.
Se Jasper não fosse um vampiro habilidoso na arte da guerra e na manipulação emocional, talvez Edward não demonstrasse tanto foco e não teria sido vitorioso na luta contra James.
*Emmett é muito mais que um vampiro forte e musculoso: ele é o irmão mais gentil de Edward
Eu nunca liguei muito para o Emmett,
o qual era simplesmente retratado como o namorado bonito de Rosalie e o vampiro
mais musculoso do clã nos filmes. Mas, ao ler o Sol da meia-noite, fiquei
encantada com a sua personalidade amável por trás dos músculos.
Ele não dispensa uma boa luta
contra ursos na hora da caça (risos), pode parecer meio bruto e tem um senso de
humor duvidoso, mas é o irmão mais próximo de Edward (ele é mais amigo dele do
que Alice e Jasper para a minha surpresa).
Ainda que a sua parceira
Rosalie seja contra o namoro de Edward com a humana, Emmett nunca questiona o
irmão e sempre aceita ajudá-lo em todas as ocasiões: nos grandes desafios e até
nas missões mais simples. Uma missão bondosa de Edward e Emmett que eu achei
bem interessante foi o fato de que eles ajudaram a Angela a se aproximar do
rapaz que ela gostava na escola como um puro gesto de gratidão por ela ser
gentil com o Edward e a Bella.
*Rosalie não é tão ruim quanto
parece
Quando eu era adolescente, eu
não gostava da Rosalie. Achava que ela era uma vilã chata, antipática e
vaidosa. Mas, lendo o Sol da meia-noite, eu passei a nutrir simpatia por ela.
É claro que ela continua sendo
uma “antagonista” na vida de Bella e que, sob a perspectiva do Edward,
descobrimos os pensamentos irritantes dela. Contudo, com o olhar maduro da vida
adulta, vejo a Rosalie como uma das vampiras mais sensatas do clã (sim,
sensata), a única capaz de enxergar com realismo o lado ruim do submundo vampiresco
e a que mais carrega o seu lado humano com respeito.
Não vejo a sua vaidade como
soberba nem considero Rosalie a vampira “metida”. Ela é a que tem a visão mais
clara sobre quem ela é, e eu não acho que seja um defeito ter consciência da
sua própria beleza. A sua autoestima é o seu porto seguro no meio de um passado
traumático e de uma vida que ela não escolheu para si mesma. Hoje em dia, penso
que ela seria considerada uma “diva” e não uma vilã (risos). A autoestima dela
é muito mais saudável do que a falta de amor-próprio do Edward e da Bella.
Não podemos nos esquecer que
ela é a única que, no final da saga, apoia a decisão de Bella em ter o seu bebê
no livro “Amanhecer”. Os traços de humanidade de Rosalie se revelam ao longo da
saga. Entretanto, é natural que ela seja contra o Edward romantizar o namoro
com uma humana no início. Ela não tem essa postura por ser má, mas por não
querer que uma humana com liberdade de escolha entre num mundo sombrio que ela mesma
não teve a opção de decidir por ele.
*Edward reza para Deus na
capela do hospital
Quando Bella se machuca após ser
capturada por James no estúdio de balé, ela fica vários dias no hospital. Nessa
cena, Edward se dá conta do quanto o mundo dele pode ferir Bella e se sente
culpado por isso. Ao encontrar uma igreja na área do hospital, decide rezar
para Deus.
Lendo a saga pela perspectiva
de Bella, imaginamos um Edward romântico e altruísta. Mas, lendo a saga pela
perspectiva de Edward, percebemos o quanto ele é perturbado pelos seus próprios
desejos egoístas. No fundo, ele sabe que o seu mundo é capaz de ferir Bella e,
mesmo amando a moça mais do que a própria vida e nutrindo um amor romântico e
bonito por ela, a forma como ele a coloca em risco é absurda e contradiz
totalmente o seu instinto protetor em relação à humana.
Após assistir ao filme que
James, o vilão, gravou enquanto atacava Bella, ele destrói a filmadora e sofre
com uma crise emocional e com um tremendo complexo de culpa. Sendo assim, Edward
busca algum consolo na espiritualidade e, nas palavras dele, decide “rezar para
o Deus de Bella”.
Eu gostei de ver um pouco mais
de espiritualidade na saga e achei bem bonita a cena de Edward rezando. Parece
algo inédito e contraditório ter um vampiro, um ser associado às trevas, dentro
de uma igreja fazendo súplicas a Deus, mas eu achei a cena corajosa e de bom
gosto dentro do Sol da meia-noite.
A autora, que já foi criticada
injustamente por, supostamente, colocar valores religiosos na saga, como o
respeito à castidade, o direito à vida e a busca pela virtude até mesmo no
submundo sombrio dos vampiros, não teve medo de colocar uma oração nos lábios
de Edward em Sol da meia-noite. Ele reza pela recuperação da amada e encontra,
no consolo divino, um pouco de conforto para os seus sentimentos de culpa e
melancolia.
*O vestido do baile de formatura
da escola é muito mais bonito nesse livro do que no filme (e o sapato também)
Veja as descrições:
“Eu vira o vestido na mente de
Alice, mas não daquele jeito. O tecido fino de chiffon era franzido e ondulado,
o que lhe conferia um aspecto modesto, mas ainda assim aderia à pele de modo
muito atraente. O modelo deixava à mostra seus ombros cor de alabastro, e então
caía com elegância e delicadeza por seus braços até os pulsos. O torso do
vestido era pregueado de forma assimétrica, o que dava ao corpo de Bella um
sutil contorno de ampulheta.”
“É claro que a cor era
azul-escuro; Alice tinha percebido minha preferência.”
“Em um dos pés, Bella usava
uma sandália azul de cetim com salto agulha, e longas fitas subiam por sua
perna para mantê-la firme. No outro pé, a bota ortopédica desbotada. Fiquei um
pouco surpreso por Alice não ter pintado a bota de azul para combinar”.
Perceberam o quanto o vestido
do livro é mais glamouroso? No filme, o vestido não tem mangas compridas,
possui um tecido diferente e é muito mais simples. Além disso, Bella aparece de
tênis All Star nessa cena (risos) e não com uma sandália azul de cetim.
*Jacob é ainda mais encantador
Você pode pensar que, por ser
um livro contado em primeira pessoa pela perspectiva de Edward, há várias
descrições negativas sobre o Jacob. Mas, não é isso que acontece. Em Sol da
meia-noite, até o próprio Edward parece fazer parte do “Team Jacob” (risos).
Edward é bem sincero ao
relatar os pensamentos das pessoas, e ele não esconde o quanto admira a pureza
e a honestidade que ele percebe nas reflexões interiores de Jacob. Parece
contraditório, mas eu passei a admirar ainda mais o Jacob ao vê-lo pelos olhos
de Edward (risos).
É claro que ele sente ciúme e
raiva do seu rival, mas ele é honesto ao analisar os pensamentos das pessoas e
não esconde o quanto o modo de pensar de Jacob é leve, puro e genuíno.
*A revelação do passado de
Carlisle (pai adotivo de Edward) é um presente para os fãs
Carlisle Cullen é filho de um
pastor anglicano. Ele nasceu em Julho de 1640 em Londres, Inglaterra, durante
um período de intensos conflitos religiosos. O pai dele e outros pastores decidiram
investir em “caçadas” contra lobisomens, bruxas e vampiros naquela época.
O fanatismo do pai de Carlisle
era exagerado, e ele acreditava que estava libertando o mundo do mal e do
pecado. Ao liderar uma caçada contra supostos pecadores com aspectos de bruxaria
e vampirismo para auxiliar o seu pai, Carlisle foi mordido por um vampiro e
acabou se tornando um.
Ainda que os aspectos sombrios
do pai tenham traumatizado a sua jornada com fanatismo e intolerância
religiosa, Carlisle preferiu absorver os bons aspectos da sua religião e
desenvolver uma personalidade tolerante e cheia de amor ao próximo.
Sua personalidade amorosa e
religiosa não permitiu que ele se tornasse um vampiro assassino. Sendo assim,
ele desenvolveu um estilo de vida “vegetariano”, aprendeu a alimentar-se apenas
com sangue de animais e investiu no estudo da Medicina para salvar vidas em vez
de sacrificá-las em prol da sua sede.
Após ler o Sol da meia-noite,
compreendi que a bondade de Carlisle e o estilo de vida diferenciado dos Cullen
não aconteceram por acaso. É evidente que o autocontrole invejável dos
instintos é uma marca do seu passado religioso.
Surpresas ruins do livro (na
minha opinião)
*Jessica é uma amiga falsa
Jessica está longe de ser
apenas uma colega boba e chata da escola de Bella. Ao ler os pensamentos dela,
Edward descobre o quanto ela é ardilosa, invejosa e venenosa.
Não gostei de saber como
Jessica alimenta uma injusta desconfiança em relação à personagem principal da
saga. É como se Bella não estivesse rodeada de pessoas confiáveis, mas de
pessoas falsas no seu mundo humano. Pensei que Jessica tivesse um caráter
melhor.
*Mike Newton é um descarado
Outro personagem que parece
bobo e que é subestimado nos filmes: Mike Newton. Ele também está longe de ser
bobo: é um personagem travesso, descarado e repleto de pensamentos desavergonhados.
*Há tantas cenas dentro do
carro que o leitor fica enjoado (risos)
Dizem que a autora recebia as
inspirações para escrever essa história enquanto dirigia pelas estradas dos
Estados Unidos. Dá para perceber nitidamente essas inspirações
“automobilísticas” (risos). Muitos diálogos entre o Edward e a Bella acontecem
dentro de algum carro (seja em algum carro de luxo dele ou na icônica Picape dela).
Para a minha surpresa, ela
revela o pensamento de que ele é um vampiro dentro do carro sem o romantismo da
cena clássica na floresta de Forks (cidade de Crepúsculo). A cena mais
romântica e clássica de Crepúsculo (aquela que ocorre num bosque e que é fruto
de um sonho da autora) ganha outros significados e diálogos nesse livro. O
leitor pode conferir conversas inéditas e declarações de amor entre os
personagens, mas a revelação principal ocorre de forma diferente.
Admito que é um pouco sem
graça ter de imaginar os principais diálogos e acontecimentos desse livro
dentro de algum carro. Se esse livro for transformado em série ou em filme, não
sei como farão para retratar alguns capítulos. Certamente, os diretores vão
alterar as cenas principais para cenários mais estéticos e cinematográficos que
o interior de um carro.
*A forma como Edward espiona
Bella é mais obsessiva do que romântica
Nos filmes e nos livros
contados pela perspectiva de Bella, há mais sugestão do que certeza quanto ao
fato de que ele espiona a personagem enquanto ela está dormindo. Nesse livro, percebemos
o quanto a “espionagem” dele se prolonga ao longo do tempo de um jeito
obsessivo, fanático e possessivo.
Embora ele seja respeitador e
cavalheiro (ele não lê os pensamentos das mulheres quando elas estão despidas e
respeita a privacidade de Bella quando ela se olha no espelho ou vai ao
banheiro), ele passa uma energia muito tóxica e sufocante ao observar a sua
amada. Com uma leitura mais adulta, eu achei que ele é um pouco inseguro e obsessivo.
*A mãe de Bella é fútil e a
sua mente é manipuladora
A mãe de Bella sempre foi
retratada de modo leve nos livros anteriores, mas, nesse livro, o leitor se
decepciona demais ao ficar sabendo o que se passa na mente dela.
Quando Bella está internada no
hospital, os seus pensamentos não representam grandes preocupações maternas e
ela não tem qualquer instinto protetor em relação à garota.
Como Bella é uma garota meio
desengonçada, desastrada e predisposta a acidentes, sua família não se importa
muito quando ela aparece numa cama de hospital nem desconfia dos perigos que
ela está correndo no submundo dos vampiros.
Renée é bastante egocêntrica,
está sempre pensando em si mesma e nos seus afazeres fúteis. Além disso,
segundo Edward, os pensamentos dela são barulhentos, caprichosos e influenciam
as pessoas ao seu redor sem que elas percebam.
Ela é uma personagem tola,
manipuladora e isenta de qualquer sabedoria. É constrangedor perceber que ela
não ama a filha com aquele amor de mãe que o leitor espera e ainda julga a
filha como uma pessoa inferior a Edward. Renée pensa, secretamente, que Bella é
incapaz de conquistar o rapaz pelos próprios méritos.
*Edward rouba carros e provoca
acidentes na corrida contra James
A autora desenvolve bem a
parte do Edward enquanto Bella está no estúdio de balé com o vilão. O leitor
tem a perspectiva da corrida do protagonista para salvar a sua amada e ganha
cenas eletrizantes que mais parecem ação do que romance. Entretanto, confesso
que achei longa e cansativa a perseguição de James e a competição entre os
vampiros.
Edward não aparece por acaso
no estúdio de balé para salvar Bella, mas percorre um longo trajeto até ela.
Nesse trajeto, ele rouba carros velozes e provoca diversos acidentes de
trânsito. Será que temos um vampiro infrator? Bem, ele está perdoado, porque
tudo o que fez na sua corrida desesperada foi para salvar a vida dela.
*Bella não tem autoestima nem autocuidado
Quando somos adolescentes, até
nos identificamos com as inseguranças típicas da idade. Mas, com o olhar mais
maduro e com a autoestima bem trabalhada, não podemos deixar de analisar que a
falta de autoestima da Bella é enjoativa.
Bella tem inúmeras qualidades,
mas não se valoriza nem tem verdadeiro apreço por sua vida humana. Ela coloca a
sua felicidade nas mãos do Edward, alimenta uma dependência emocional nada
saudável em relação a ele e não tem qualquer senso de autocuidado.
O próprio Edward se irrita com
a falta de senso de autopreservação de Bella. Ela sempre se preocupa mais com
os outros do que consigo numa mentalidade altruísta exagerada que, em vez de
bondade, representa a sua falta de amor-próprio.
Mesmo se machucando ao ser
vítima da caçada de James e conhecendo todos os perigos do mundo dos vampiros,
ela não se importa com os sacrifícios que precisa fazer e vive colocando a sua
integridade física (e psíquica) em risco. Eu não admiro essa postura impulsiva,
carente e imprudente de Bella.
*A história parece tediosa e
isenta do glamour dado pela estética dos filmes
Confesso que tive a impressão de que a história tem menos glamour do que parece. As cenas desse livro, contadas pela visão masculina e taciturna do Edward, não tem tantas cores, beleza e maravilhas como eu imaginava.
Entendo que Forks é uma cidade nublada, mas a natureza exuberante do bosque e das flores faz parte do romantismo da história. Se você espera uma estética romântica ou mesmo uma estética gótica, devo informar que o estilo é bem mais "cotidiano". Apesar dos elementos fantásticos, o livro tem muitas cenas casuais.
Precisamos de um livro narrado
pela Alice! Assim, teremos cenas mais estéticas e glamourosas (risos).
*O mundo de Edward realmente
não parece adequado para Bella (Bella é como Perséfone presa no submundo e
Edward imagina como seria a vida dela sem ele)
Muitos leitores não entenderam
a capa do livro “Sol da meia-noite”, a qual não é bonita e parece bem esquisita
ao ostentar uma romã. Entretanto, assim como todas as capas da saga Crepúsculo,
essa capa é mais focada no simbolismo do que na estética propriamente dita.
Na mitologia grega, a romã é
uma fruta associada à deusa Perséfone, filha de Zeus e Deméter (a deusa da
agricultura) que foi raptada por Hades, o deus do submundo. Quando ela foi
levada ao submundo, a sua mãe ficou triste e os campos deixaram de florescer
por um longo período.
Hades se encantou pela beleza
encantadora de Perséfone e ofereceu a ela o fruto proibido que criaria um laço
entre a deusa e o submundo: a romã. Ao provar do fruto, Perséfone passou a
fazer parte do mundo misterioso e sombrio de Hades e, como consequência, teve
de prometer que passaria um terço do ano ao lado dele.
Sendo assim, os meses em que
ela passava ao lado de Hades deram origem ao período do inverno, onde a sua mãe,
a deusa da agricultura, ficava triste e não permitia o florescimento dos
campos.
Por outro lado, os meses em
que Perséfone passava ao lado da sua mãe representariam a riqueza da natureza,
as boas colheitas nos campos e as outras estações do ano: primavera, verão e
outono. Esse mito explica as estações do ano.
Essa história da mitologia tem
tudo a ver com o romance entre Edward e Bella, já que Bella é como Perséfone:
uma mulher dividida entre o mundo exterior (solar, quente e humano) e o mundo
sombrio (misterioso, noturno, frio e oculto) dos vampiros.
Por vezes, Edward se comparava
a Hades e percebia cada atitude de Bella dentro do mundo dele como mais uma “semente
de romã” consumida que aproximava a sua amada da sua realidade sombria.
Mesmo admirando a saga Crepúsculo
desde adolescente, tenho de confessar que não penso mais que “mergulhar”
radicalmente no mundo dos vampiros e abandonar a sua natureza humana sejam as
atitudes mais corretas da personagem. Hoje em dia, penso que talvez Jacob
representasse um amor mais maduro e saudável para Bella (e o próprio Edward me
convenceu disso com a sua narrativa).
Ao imaginar o futuro de Bella
sem ele, Edward mostra um cenário tranquilo: Bella rodeada de filhos numa casa
confortável e envelhecendo de forma saudável. Ocorre que não virei “Team Jacob”
da noite para o dia. Ainda sou “Team Edward” e acredito que, se Bella não
tivesse escolhido Edward e o seu mundo vampiresco, não haveria Crepúsculo.
Afinal, a autora, desde o
princípio, sonhou com um amor surreal entre um vampiro e uma humana e quis
levar o seu sonho adiante ao escrever como seria a história entre eles. Em
verdade, toda a saga Crepúsculo gira em torno do sonho que inspirou a autora a
escrever: um vampiro romântico amando uma humana.
*Curiosidade extra: Edward é um excelente compositor e pianista
Viver imortal durante séculos tem as suas vantagens e, dentre elas, uma em especial: ter todo o tempo do mundo para desenvolver as suas habilidades, talentos, dons e hobbies.
Edward é um compositor maravilhoso e um excelente pianista. Em Sol da meia-noite, há cenas familiares incríveis do vampiro tocando piano para a sua mãe e para a sua irmã mais gentil, a Alice. No livro, também descobrimos uma curiosidade: ele compõe uma música que traduz o amor que ele sente pela Bella.
Texto escrito por Tatyana
Casarino.
Tatyana Casarino é advogada, escritora e poetisa.