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sábado, 11 de janeiro de 2025

Resenha do livro Sol da meia-noite

 

Sol da meia-noite: um livro repleto de surpresas (boas e ruins).




 

Sobre a demora do lançamento da obra




 

Neste livro, Stephenie Meyer narra a mesma história de Crepúsculo sob a perspectiva de Edward Cullen (a saga toda tinha sido contada em primeira pessoa pela perspectiva da Bella até então). Após anos de desenvolvimento, o livro foi lançado em 2020. O enredo foi iniciado há muitos anos, quando a saga estava começando a ganhar fama no cinema, e um incidente “traumatizou” a autora: o vazamento dos capítulos iniciais na internet.

Triste e decepcionada, ela perdeu a inspiração para continuar escrevendo a obra e resolveu deixá-la “congelada” por um longo tempo. A insistência dos fãs, a pressão dos leitores e até mesmo a vontade da mãe da escritora não foram tão fortes quanto os impulsos da sua própria consciência, a qual não sossegava enquanto ela não dava um ponto final nessa história (quem é escritor sabe a angústia de ter uma obra inacabada).

A editora e os seus assistentes literários deram todo o tempo do mundo para a autora, que precisou de paz de espírito e espaço pessoal para concretizar o fluxo da sua inspiração. Segundo a autora, essa foi uma obra difícil, pois narrar a história sob a perspectiva de um personagem denso e que lê os pensamentos de todos os outros personagens é algo muito mais complexo do que escrever os acontecimentos sob o olhar de uma adolescente humana.  

Para quem está esperando uma obra exatamente igual ao livro Crepúsculo apenas com uma perspectiva diferente, posso afirmar que não é bem isso que você vai encontrar nela. Ainda que o enredo seja o mesmo e que você conheça a história pelos outros livros e pelos filmes, essa obra é diferente de tudo o que já passou sobre Crepúsculo e carrega informações e cenas inéditas: desde os pensamentos mais secretos dos outros personagens até o conhecimento do que o Edward fazia quando não estava perto de Bella.

 

***

 

Minhas novas impressões sobre os personagens


Alerta: o meu texto contém revelações do enredo e mostra informações importantes do livro. Se você não gosta de spoilers, evite ler a minha análise. Mas, se você não se importa com os spoilers ou se já leu a obra e pretende expandir o seu senso crítico e a sua análise sobre a saga Crepúsculo, prossiga a leitura à vontade. 


Observação: a análise crítica reflete a minha experiência pessoal como leitora e carrega os meus valores. Cada leitor tem os seus próprios valores e as suas perspectivas de acordo com a experiência da leitura. 




 

Edward é um vampiro com a habilidade de ler os pensamentos dos outros. O livro começa com o tédio do Edward no Ensino Médio e o seu desgosto em relação aos pensamentos egoístas e mesquinhos da maioria dos seres humanos. Então, ele conhece Bella, uma moça altruísta, bondosa, tímida e gentil cujos pensamentos são um mistério para ele.

Nesse livro, entendemos o motivo da fascinação do Edward pela Bella. Muitos questionam o porquê de uma moça aparentemente sem personalidade (segundo a análise dos filmes), com um perfil mediano e uma aparência pouco chamativa ter conquistado um dos vampiros mais belos, inteligentes e habilidosos do século. Em Sol da meia-noite, percebemos que Bella tem muita personalidade, é inteligentíssima e sua beleza humana é bem charmosa e atraente.

Conforme as descrições de Edward, Bella tem uma mente analítica, é lógica, racional, pensa com profundidade e descobre mistérios com muita facilidade. Ela lê bons livros, tem bom gosto musical e é bastante estudiosa. Além disso, ajuda os colegas na escola, é capaz de se sacrificar pelo bem-estar dos amigos e é bastante cuidadosa com os pais.

Ninguém cuidou de Bella com verdadeiro espírito de amor incondicional (nem mesmo os seus pais), razão pela qual ela sempre foi mais acostumada a cuidar do que a ser cuidada. O amor protetor de Edward conquistou Bella, pois preencheu bem essa lacuna de cuidado que faltou na vida dela por causa de um pai tão ocupado e de uma mãe tão fútil.

Bella é generosa, gentil e sempre capaz de oferecer uma palavra de conforto para todos ao seu redor. Ela defende os amigos da escola diante de situações constrangedoras e oferece o seu melhor para todos. Apenas com a perspectiva de Edward a respeito dela, temos uma visão mais ampla sobre essa personagem, a qual já foi julgada injustamente de insossa por causa da sua falta de autoestima no cinema e nos livros narrados por ela.


 



Edward se apaixonou pelo altruísmo de Bella, já que ele não estava acostumado a encontrar seres humanos bons e generosos pelo caminho. Escutando os mais variados pensamentos humanos durante décadas, era natural que Edward estivesse desencantado com a humanidade, com a sociedade e com a vida.

Ele sempre foi atormentado pelos pensamentos maus e barulhentos dos outros, porque o seu maior dom também é um grande castigo. Ao encontrar uma moça com a mente silenciosa e que demonstra bondade, ele se surpreende e se apaixona pela humana incrível, diferente e autêntica que ela é. A beleza do amor de Edward está no fato de que ele admira a essência de Bella muito além da sua aparência e do seu cheiro.

Bella está longe de ser insossa: ela é inteligente, misteriosa, enigmática, charmosa e muito bonita em Sol da meia-noite. Além de uma essência virtuosa, ela também é linda por fora. A sua pele parece “alabastro” pela delicadeza translúcida, os seus olhos castanhos são profundos, os seus cílios são naturalmente grandes, as suas bochechas rosadas são incrivelmente charmosas, os seus cabelos castanhos ganham tons ruivos sob a luz do sol e o seu corpo possui curvas atraentes.

Pelo olhar masculino de Edward, Bella parece uma rainha (risos). Percebemos que Bella deve ter as pernas muito bonitas, porque ele fica encantado quando a vê de vestido pela primeira vez. Conforme a visão dele, a pele do rosto dela é belíssima e dispensa qualquer item de maquiagem. Outro detalhe interessante é que ela fica muito bem de azul-marinho.

Ocorre que esse amor tão bonito também já foi manchado por sua essência vampiresca e pelo ódio. Pelo fato de Bella romper o “status quo” (o velho estado das coisas) na sua vida, Edward sentia fascínio e ódio ao mesmo tempo primeiramente.

Ele trabalhava o autocontrole ao lado do seu pai, o doutor Carlisle Cullen, há décadas e não estava acostumado com uma tentação incontrolável como a que sentiu pelo aroma doce e profundo do sangue de Bella. Além do mais, era irritante não saber o que ela pensava. Quando ele a conhece pela primeira vez, ele pensa em algumas fantasias sombrias envolvendo o sangue dela.

Percebemos que Edward não é tão fofo, bonzinho e romântico: realmente ele tem a pele de um assassino (entendeu a referência? - risos) e fantasias bem sombrias. Dentro da sala de aula, ele imagina como seria matar os colegas ao seu redor para ficar sozinho com Bella e não ter testemunhas para os seus crimes. Ele também imagina como seria ceder ao instinto e sugar o sangue dela. 




Bella mexe muito com ele e o perturba antes de estimular outros sentimentos mais profundos e amorosos dentro dele. Ela o obriga a sair da sua “zona de conforto”, a questionar quem ele é, a lidar com tentações sombrias e a desejar a única pessoa cujos pensamentos ele não pode ler. Tudo isso provoca ódio e raiva nele a princípio.

Ele fica obcecado por ela, e essa obsessão o leva a observá-la vinte e quatro horas por dia: na escola, na mente das outras pessoas e no quarto dela enquanto ela dorme. Como ele não pode ler os pensamentos dela, ele investiga tudo o que pode para desvendar a mente dela. Não é nada saudável o nível de obsessão dele, o qual seria considerado bem tóxico hoje em dia.




Acontece que, a partir de tanta observação, ele acaba se apaixonando por ela e substituindo a raiva dentro de si por um incrível instinto protetor. Podemos questionar o quanto a sua obsessão é tóxica, mas se ele não estivesse observando Bella com tanta atenção talvez não tivesse salvado a moça do acidente dentro do estacionamento da escola.

Depois que ele a salva de ser atropelada dentro da escola, sabemos bem o que acontece: ela se apaixona por ele e logo descobre que ele é um vampiro. O enredo não é muito diferente do que nós conhecemos, mas ele é “recheado” de muitas cenas e pensamentos inéditos.


Curiosidades e surpresas boas do livro




 

*O gesto fofo de guardar uma tampinha

Quando ele consegue conversar pela primeira vez com Bella no refeitório da escola, ele guarda uma tampinha de refrigerante no bolso. Algo aparentemente bobo e que nunca havia sido retratado nos filmes, mas que ganha um valor simbólico muito importante neste livro. É como se essa tampinha representasse o amor que ele sente pela Bella e o início do romance.




 

*Entrevistas incríveis com Bella

Os diálogos com Bella são muito ricos no Sol da meia-noite. No filme, tudo acontece muito rápido entre os personagens e, no primeiro livro do Crepúsculo, a perspectiva de Bella não retrata com tanta riqueza e profundidade os diálogos iniciais.

Neste livro, descobrimos conversas inéditas entre o Edward e a Bella sobre os mais variados assuntos. Como ele não consegue ler a mente dela, ele faz inúmeras “entrevistas” com a amada. Descobrimos os livros favoritos de Bella, as músicas favoritas dela e até mesmo os filmes da sua preferência.

Para mim, as cenas das conversas entre eles são as minhas prediletas. Fiquei encantada com essa personagem e me identifiquei ainda mais com a Bella ao saber que ela gosta do Fantasma da Ópera e da Bela e a Fera (sempre achei conexões incríveis entre essas histórias e Crepúsculo).





 

*Angela é uma amiga verdadeira

Personagem subestimada ao longo da saga, Angela merecia mais destaque pelo seu bom caráter e pela pureza do seu coração. Fiquei encantada com os pensamentos puros e genuínos dela (Edward lê os pensamentos das amigas de Bella).




 

*Os pensamentos do pai de Bella são os mais legais

Edward descobre que Bella puxou ao pai quando o assunto é a natureza da sua mente. Os pensamentos de Charlie não são tão abafados por um escudo de mistério e proteção como os de Bella, mas são silenciosos e diferenciados. Não é tão fácil ler a mente de Charlie Swan. Os pensamentos que Edward consegue ler dele quase sempre são imagens de sonhos, imaginações enigmáticas ou impressões emocionais.





 

 *Bella tem muito mais personalidade nesse livro

Bella lê bons livros, tem bom gosto musical e apresenta uma personalidade muito mais espontânea, filosófica e bem-humorada do que nos outros livros. O seu humor inteligente, a sua complexidade emocional e a sua coragem são traços marcantes.

Quando lemos Crepúsculo durante a adolescência, encaramos tudo com naturalidade e romantismo (até mesmo a natureza vampiresca de Edward). Mas, quando lemos Sol da meia-noite na idade adulta, percebemos o quanto pode ser esquisito e assustador namorar um vampiro. Bella demonstra muita personalidade e coragem ao desbravar o mundo dele.




 

*Alice é ainda mais interessante

Se você sempre gostou de Alice desde o início da saga, vai gostar ainda mais dela em Sol da meia-noite. Alice é uma irmã muito gentil para Edward e o seu carisma é surpreendente.

Ela prevê o destino de Bella e a amizade que terá com ela. A forma como ela é apaixonada por moda é encantadora. Além do mais, ela tem papel fundamental na hora de arranjar soluções e desculpas para Bella depois que ela se machuca no encontro assustador com James.




 

*Jasper é essencial na luta contra James

A perseguição de James (aquele vampiro vilão que caça Bella) gera muitas cenas surpreendentes que lembram mais um livro de ação do que de romance. O modo como Edward corre atrás do vilão é retratada com muitos detalhes inéditos, cenas longas e embates eletrizantes.

E, dentre tantos detalhes surpreendentes, um me chamou mais a atenção: o papel de Jasper para manter o controle emocional e o foco de Edward na luta contra James. Ao narrar a história sob a sua perspectiva, Edward revela os seus pensamentos mais desesperados quando descobre que Bella foi capturada por James: culpa, remorso, raiva, ansiedade e medo.

Se Jasper não fosse um vampiro habilidoso na arte da guerra e na manipulação emocional, talvez Edward não demonstrasse tanto foco e não teria sido vitorioso na luta contra James.





*Emmett é muito mais que um vampiro forte e musculoso: ele é o irmão mais gentil de Edward

Eu nunca liguei muito para o Emmett, o qual era simplesmente retratado como o namorado bonito de Rosalie e o vampiro mais musculoso do clã nos filmes. Mas, ao ler o Sol da meia-noite, fiquei encantada com a sua personalidade amável por trás dos músculos.

Ele não dispensa uma boa luta contra ursos na hora da caça (risos), pode parecer meio bruto e tem um senso de humor duvidoso, mas é o irmão mais próximo de Edward (ele é mais amigo dele do que Alice e Jasper para a minha surpresa).

Ainda que a sua parceira Rosalie seja contra o namoro de Edward com a humana, Emmett nunca questiona o irmão e sempre aceita ajudá-lo em todas as ocasiões: nos grandes desafios e até nas missões mais simples. Uma missão bondosa de Edward e Emmett que eu achei bem interessante foi o fato de que eles ajudaram a Angela a se aproximar do rapaz que ela gostava na escola como um puro gesto de gratidão por ela ser gentil com o Edward e a Bella.




 

*Rosalie não é tão ruim quanto parece

Quando eu era adolescente, eu não gostava da Rosalie. Achava que ela era uma vilã chata, antipática e vaidosa. Mas, lendo o Sol da meia-noite, eu passei a nutrir simpatia por ela.

É claro que ela continua sendo uma “antagonista” na vida de Bella e que, sob a perspectiva do Edward, descobrimos os pensamentos irritantes dela. Contudo, com o olhar maduro da vida adulta, vejo a Rosalie como uma das vampiras mais sensatas do clã (sim, sensata), a única capaz de enxergar com realismo o lado ruim do submundo vampiresco e a que mais carrega o seu lado humano com respeito.

Não vejo a sua vaidade como soberba nem considero Rosalie a vampira “metida”. Ela é a que tem a visão mais clara sobre quem ela é, e eu não acho que seja um defeito ter consciência da sua própria beleza. A sua autoestima é o seu porto seguro no meio de um passado traumático e de uma vida que ela não escolheu para si mesma. Hoje em dia, penso que ela seria considerada uma “diva” e não uma vilã (risos). A autoestima dela é muito mais saudável do que a falta de amor-próprio do Edward e da Bella.

Não podemos nos esquecer que ela é a única que, no final da saga, apoia a decisão de Bella em ter o seu bebê no livro “Amanhecer”. Os traços de humanidade de Rosalie se revelam ao longo da saga. Entretanto, é natural que ela seja contra o Edward romantizar o namoro com uma humana no início. Ela não tem essa postura por ser má, mas por não querer que uma humana com liberdade de escolha entre num mundo sombrio que ela mesma não teve a opção de decidir por ele.





*Edward reza para Deus na capela do hospital

Quando Bella se machuca após ser capturada por James no estúdio de balé, ela fica vários dias no hospital. Nessa cena, Edward se dá conta do quanto o mundo dele pode ferir Bella e se sente culpado por isso. Ao encontrar uma igreja na área do hospital, decide rezar para Deus.

Lendo a saga pela perspectiva de Bella, imaginamos um Edward romântico e altruísta. Mas, lendo a saga pela perspectiva de Edward, percebemos o quanto ele é perturbado pelos seus próprios desejos egoístas. No fundo, ele sabe que o seu mundo é capaz de ferir Bella e, mesmo amando a moça mais do que a própria vida e nutrindo um amor romântico e bonito por ela, a forma como ele a coloca em risco é absurda e contradiz totalmente o seu instinto protetor em relação à humana.

Após assistir ao filme que James, o vilão, gravou enquanto atacava Bella, ele destrói a filmadora e sofre com uma crise emocional e com um tremendo complexo de culpa. Sendo assim, Edward busca algum consolo na espiritualidade e, nas palavras dele, decide “rezar para o Deus de Bella”.

Eu gostei de ver um pouco mais de espiritualidade na saga e achei bem bonita a cena de Edward rezando. Parece algo inédito e contraditório ter um vampiro, um ser associado às trevas, dentro de uma igreja fazendo súplicas a Deus, mas eu achei a cena corajosa e de bom gosto dentro do Sol da meia-noite.

A autora, que já foi criticada injustamente por, supostamente, colocar valores religiosos na saga, como o respeito à castidade, o direito à vida e a busca pela virtude até mesmo no submundo sombrio dos vampiros, não teve medo de colocar uma oração nos lábios de Edward em Sol da meia-noite. Ele reza pela recuperação da amada e encontra, no consolo divino, um pouco de conforto para os seus sentimentos de culpa e melancolia.




 

*O vestido do baile de formatura da escola é muito mais bonito nesse livro do que no filme (e o sapato também)

Veja as descrições:

“Eu vira o vestido na mente de Alice, mas não daquele jeito. O tecido fino de chiffon era franzido e ondulado, o que lhe conferia um aspecto modesto, mas ainda assim aderia à pele de modo muito atraente. O modelo deixava à mostra seus ombros cor de alabastro, e então caía com elegância e delicadeza por seus braços até os pulsos. O torso do vestido era pregueado de forma assimétrica, o que dava ao corpo de Bella um sutil contorno de ampulheta.”

“É claro que a cor era azul-escuro; Alice tinha percebido minha preferência.”

“Em um dos pés, Bella usava uma sandália azul de cetim com salto agulha, e longas fitas subiam por sua perna para mantê-la firme. No outro pé, a bota ortopédica desbotada. Fiquei um pouco surpreso por Alice não ter pintado a bota de azul para combinar”.

Perceberam o quanto o vestido do livro é mais glamouroso? No filme, o vestido não tem mangas compridas, possui um tecido diferente e é muito mais simples. Além disso, Bella aparece de tênis All Star nessa cena (risos) e não com uma sandália azul de cetim.




 

*Jacob é ainda mais encantador

Você pode pensar que, por ser um livro contado em primeira pessoa pela perspectiva de Edward, há várias descrições negativas sobre o Jacob. Mas, não é isso que acontece. Em Sol da meia-noite, até o próprio Edward parece fazer parte do “Team Jacob” (risos).

Edward é bem sincero ao relatar os pensamentos das pessoas, e ele não esconde o quanto admira a pureza e a honestidade que ele percebe nas reflexões interiores de Jacob. Parece contraditório, mas eu passei a admirar ainda mais o Jacob ao vê-lo pelos olhos de Edward (risos).

É claro que ele sente ciúme e raiva do seu rival, mas ele é honesto ao analisar os pensamentos das pessoas e não esconde o quanto o modo de pensar de Jacob é leve, puro e genuíno.




 

*A revelação do passado de Carlisle (pai adotivo de Edward) é um presente para os fãs

Carlisle Cullen é filho de um pastor anglicano. Ele nasceu em Julho de 1640 em Londres, Inglaterra, durante um período de intensos conflitos religiosos. O pai dele e outros pastores decidiram investir em “caçadas” contra lobisomens, bruxas e vampiros naquela época.

O fanatismo do pai de Carlisle era exagerado, e ele acreditava que estava libertando o mundo do mal e do pecado. Ao liderar uma caçada contra supostos pecadores com aspectos de bruxaria e vampirismo para auxiliar o seu pai, Carlisle foi mordido por um vampiro e acabou se tornando um.

Ainda que os aspectos sombrios do pai tenham traumatizado a sua jornada com fanatismo e intolerância religiosa, Carlisle preferiu absorver os bons aspectos da sua religião e desenvolver uma personalidade tolerante e cheia de amor ao próximo.

Sua personalidade amorosa e religiosa não permitiu que ele se tornasse um vampiro assassino. Sendo assim, ele desenvolveu um estilo de vida “vegetariano”, aprendeu a alimentar-se apenas com sangue de animais e investiu no estudo da Medicina para salvar vidas em vez de sacrificá-las em prol da sua sede.

Após ler o Sol da meia-noite, compreendi que a bondade de Carlisle e o estilo de vida diferenciado dos Cullen não aconteceram por acaso. É evidente que o autocontrole invejável dos instintos é uma marca do seu passado religioso.

 

Surpresas ruins do livro (na minha opinião)




 

*Jessica é uma amiga falsa

Jessica está longe de ser apenas uma colega boba e chata da escola de Bella. Ao ler os pensamentos dela, Edward descobre o quanto ela é ardilosa, invejosa e venenosa.

Não gostei de saber como Jessica alimenta uma injusta desconfiança em relação à personagem principal da saga. É como se Bella não estivesse rodeada de pessoas confiáveis, mas de pessoas falsas no seu mundo humano. Pensei que Jessica tivesse um caráter melhor.




 

*Mike Newton é um descarado

Outro personagem que parece bobo e que é subestimado nos filmes: Mike Newton. Ele também está longe de ser bobo: é um personagem travesso, descarado e repleto de pensamentos desavergonhados.







 

*Há tantas cenas dentro do carro que o leitor fica enjoado (risos)

Dizem que a autora recebia as inspirações para escrever essa história enquanto dirigia pelas estradas dos Estados Unidos. Dá para perceber nitidamente essas inspirações “automobilísticas” (risos). Muitos diálogos entre o Edward e a Bella acontecem dentro de algum carro (seja em algum carro de luxo dele ou na icônica Picape dela).


  


Para a minha surpresa, ela revela o pensamento de que ele é um vampiro dentro do carro sem o romantismo da cena clássica na floresta de Forks (cidade de Crepúsculo). A cena mais romântica e clássica de Crepúsculo (aquela que ocorre num bosque e que é fruto de um sonho da autora) ganha outros significados e diálogos nesse livro. O leitor pode conferir conversas inéditas e declarações de amor entre os personagens, mas a revelação principal ocorre de forma diferente.

Admito que é um pouco sem graça ter de imaginar os principais diálogos e acontecimentos desse livro dentro de algum carro. Se esse livro for transformado em série ou em filme, não sei como farão para retratar alguns capítulos. Certamente, os diretores vão alterar as cenas principais para cenários mais estéticos e cinematográficos que o interior de um carro.






 

*A forma como Edward espiona Bella é mais obsessiva do que romântica

Nos filmes e nos livros contados pela perspectiva de Bella, há mais sugestão do que certeza quanto ao fato de que ele espiona a personagem enquanto ela está dormindo. Nesse livro, percebemos o quanto a “espionagem” dele se prolonga ao longo do tempo de um jeito obsessivo, fanático e possessivo.

Embora ele seja respeitador e cavalheiro (ele não lê os pensamentos das mulheres quando elas estão despidas e respeita a privacidade de Bella quando ela se olha no espelho ou vai ao banheiro), ele passa uma energia muito tóxica e sufocante ao observar a sua amada. Com uma leitura mais adulta, eu achei que ele é um pouco inseguro e obsessivo.





 

*A mãe de Bella é fútil e a sua mente é manipuladora

A mãe de Bella sempre foi retratada de modo leve nos livros anteriores, mas, nesse livro, o leitor se decepciona demais ao ficar sabendo o que se passa na mente dela.

Quando Bella está internada no hospital, os seus pensamentos não representam grandes preocupações maternas e ela não tem qualquer instinto protetor em relação à garota.

Como Bella é uma garota meio desengonçada, desastrada e predisposta a acidentes, sua família não se importa muito quando ela aparece numa cama de hospital nem desconfia dos perigos que ela está correndo no submundo dos vampiros.

Renée é bastante egocêntrica, está sempre pensando em si mesma e nos seus afazeres fúteis. Além disso, segundo Edward, os pensamentos dela são barulhentos, caprichosos e influenciam as pessoas ao seu redor sem que elas percebam.

Ela é uma personagem tola, manipuladora e isenta de qualquer sabedoria. É constrangedor perceber que ela não ama a filha com aquele amor de mãe que o leitor espera e ainda julga a filha como uma pessoa inferior a Edward. Renée pensa, secretamente, que Bella é incapaz de conquistar o rapaz pelos próprios méritos.




 

*Edward rouba carros e provoca acidentes na corrida contra James

A autora desenvolve bem a parte do Edward enquanto Bella está no estúdio de balé com o vilão. O leitor tem a perspectiva da corrida do protagonista para salvar a sua amada e ganha cenas eletrizantes que mais parecem ação do que romance. Entretanto, confesso que achei longa e cansativa a perseguição de James e a competição entre os vampiros.

Edward não aparece por acaso no estúdio de balé para salvar Bella, mas percorre um longo trajeto até ela. Nesse trajeto, ele rouba carros velozes e provoca diversos acidentes de trânsito. Será que temos um vampiro infrator? Bem, ele está perdoado, porque tudo o que fez na sua corrida desesperada foi para salvar a vida dela.




 


*Bella não tem autoestima nem autocuidado

Quando somos adolescentes, até nos identificamos com as inseguranças típicas da idade. Mas, com o olhar mais maduro e com a autoestima bem trabalhada, não podemos deixar de analisar que a falta de autoestima da Bella é enjoativa.

Bella tem inúmeras qualidades, mas não se valoriza nem tem verdadeiro apreço por sua vida humana. Ela coloca a sua felicidade nas mãos do Edward, alimenta uma dependência emocional nada saudável em relação a ele e não tem qualquer senso de autocuidado.

O próprio Edward se irrita com a falta de senso de autopreservação de Bella. Ela sempre se preocupa mais com os outros do que consigo numa mentalidade altruísta exagerada que, em vez de bondade, representa a sua falta de amor-próprio.

Mesmo se machucando ao ser vítima da caçada de James e conhecendo todos os perigos do mundo dos vampiros, ela não se importa com os sacrifícios que precisa fazer e vive colocando a sua integridade física (e psíquica) em risco. Eu não admiro essa postura impulsiva, carente e imprudente de Bella.




 

*A história parece tediosa e isenta do glamour dado pela estética dos filmes

Confesso que tive a impressão de que a história tem menos glamour do que parece. As cenas desse livro, contadas pela visão masculina e taciturna do Edward, não tem tantas cores, beleza e maravilhas como eu imaginava. 

Entendo que Forks é uma cidade nublada, mas a natureza exuberante do bosque e das flores faz parte do romantismo da história. Se você espera uma estética romântica ou mesmo uma estética gótica, devo informar que o estilo é bem mais "cotidiano". Apesar dos elementos fantásticos, o livro tem muitas cenas casuais. 

Precisamos de um livro narrado pela Alice! Assim, teremos cenas mais estéticas e glamourosas (risos).





 

*O mundo de Edward realmente não parece adequado para Bella (Bella é como Perséfone presa no submundo e Edward imagina como seria a vida dela sem ele)

Muitos leitores não entenderam a capa do livro “Sol da meia-noite”, a qual não é bonita e parece bem esquisita ao ostentar uma romã. Entretanto, assim como todas as capas da saga Crepúsculo, essa capa é mais focada no simbolismo do que na estética propriamente dita.

Na mitologia grega, a romã é uma fruta associada à deusa Perséfone, filha de Zeus e Deméter (a deusa da agricultura) que foi raptada por Hades, o deus do submundo. Quando ela foi levada ao submundo, a sua mãe ficou triste e os campos deixaram de florescer por um longo período.

Hades se encantou pela beleza encantadora de Perséfone e ofereceu a ela o fruto proibido que criaria um laço entre a deusa e o submundo: a romã. Ao provar do fruto, Perséfone passou a fazer parte do mundo misterioso e sombrio de Hades e, como consequência, teve de prometer que passaria um terço do ano ao lado dele.

Sendo assim, os meses em que ela passava ao lado de Hades deram origem ao período do inverno, onde a sua mãe, a deusa da agricultura, ficava triste e não permitia o florescimento dos campos.

Por outro lado, os meses em que Perséfone passava ao lado da sua mãe representariam a riqueza da natureza, as boas colheitas nos campos e as outras estações do ano: primavera, verão e outono. Esse mito explica as estações do ano.




Essa história da mitologia tem tudo a ver com o romance entre Edward e Bella, já que Bella é como Perséfone: uma mulher dividida entre o mundo exterior (solar, quente e humano) e o mundo sombrio (misterioso, noturno, frio e oculto) dos vampiros.

Por vezes, Edward se comparava a Hades e percebia cada atitude de Bella dentro do mundo dele como mais uma “semente de romã” consumida que aproximava a sua amada da sua realidade sombria.

Mesmo admirando a saga Crepúsculo desde adolescente, tenho de confessar que não penso mais que “mergulhar” radicalmente no mundo dos vampiros e abandonar a sua natureza humana sejam as atitudes mais corretas da personagem. Hoje em dia, penso que talvez Jacob representasse um amor mais maduro e saudável para Bella (e o próprio Edward me convenceu disso com a sua narrativa).








Ao imaginar o futuro de Bella sem ele, Edward mostra um cenário tranquilo: Bella rodeada de filhos numa casa confortável e envelhecendo de forma saudável. Ocorre que não virei “Team Jacob” da noite para o dia. Ainda sou “Team Edward” e acredito que, se Bella não tivesse escolhido Edward e o seu mundo vampiresco, não haveria Crepúsculo.

Afinal, a autora, desde o princípio, sonhou com um amor surreal entre um vampiro e uma humana e quis levar o seu sonho adiante ao escrever como seria a história entre eles. Em verdade, toda a saga Crepúsculo gira em torno do sonho que inspirou a autora a escrever: um vampiro romântico amando uma humana.






*Curiosidade extra: Edward é um excelente compositor e pianista


Viver imortal durante séculos tem as suas vantagens e, dentre elas, uma em especial: ter todo o tempo do mundo para desenvolver as suas habilidades, talentos, dons e hobbies. 

Edward é um compositor maravilhoso e um excelente pianista. Em Sol da meia-noite, há cenas familiares incríveis do vampiro tocando piano para a sua mãe e para a sua irmã mais gentil, a Alice. No livro, também descobrimos uma curiosidade: ele compõe uma música que traduz o amor que ele sente pela Bella. 

 

Texto escrito por Tatyana Casarino.


Tatyana Casarino é advogada, escritora e poetisa.