O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









Contador Grátis





quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

O vampiro é o ser da noite





Quando a noite chega,

o vampiro invoca as sombras,

sombras de dor, raiva e luxúria,

sombras de vingança e fúria.

 

Naqueles tempos febris,

onde os fantasmas cantavam

pelas bandas passando,

pelas salas de aula.

 

Quando o sangue agita

as narinas, a perfumaria,

uma nova alquimia grita

e um novo aroma vira poesia.

 

É a canção do menino sombrio,

do pobre estudante de outrora,

do riso excluído e do sol esquecido.

Quando puxa o riso, vai embora.

 

As ondas do luar no lago

estão reverberando no espírito.

Logo, os vitoriosos serão tentados,

e os populares serão esquecidos.


A lâmpada acende a alma

que, por dentro, sangra de dor.

O vampiro nunca conheceu o amor,

exceto pela ruiva que tinha esplendor.

 

Os seus cabelos de fogo brilhavam,

acendiam o seu longo caminho,

iluminavam o seu misterioso espírito.

Por que só o que queima dá abrigo?

 

Seu sonho é fazer a ruiva cair

para que ela conheça o seu abismo.

O amor pode ser profundo e divino,

mas também um teste de fogo dolorido.

 

Na porta do cemitério, ele voa,

como um morcego sem rumo.

O gato preto é o seu melhor amigo,

o pio da coruja é a melodia do espírito.

 

Profundamente sombrio e taciturno,

o seu reflexo no espelho está sumindo.

Pálido o semblante, lábios sem cor,

espírito cambaleante que precisava de amor.

 

Velas, candelabros e caveiras,

perfume afrodisíaco na penteadeira.

Seu perfume de mel atraindo as vítimas

é a suprema vitória da sua vida.

 

Quando menino, enterrava brinquedos,

carrinhos, bonecas, flores e gravetos.

Depois de homem, virou um vampiro,

um ser da noite que suga sentimentos.

 

A revolta é a mãe da vingança

e a mágoa é a mãe da noite.

A lua alimenta o espírito,

e a escuridão refresca a alma.

 

Ah! Quem é bom quer ser pura luz!

Mas, quem aguentaria a luz do sol?

O sol incessante a todos queimaria,

a sombra da noite é uma necessária rainha.

 

O vampiro é o ser da noite,

o vampiro é o ser da lua,

que abraça a noite como a sua rainha,

dançando o som das estrelas frias.


Poesia escrita por Tatyana Casarino. 





A poesia faz parte do estilo "romantismo gótico" e explora o arquétipo do vampiro, ser da noite que representa as sombras humanas (desejos, medos, impulsos, instintos e todos os aspectos que as pessoas costumam esconder da sociedade). 

Nessa poesia, o "vampiro" é simplesmente um homem sombrio que, por falta de amor e traumas do passado, resolveu abraçar a melancolia da noite. Os últimos versos provocam reflexões filosóficas acerca da necessidade da noite e até mesmo das sombras, porque a iluminação incessante (solar, espiritual ou emocional) seria capaz de queimar aquele que pensa que é bom demais. 


Tatyana Casarino


*Ilustrações de Victoria Francés disponíveis no Pinterest. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário