Quando a noite chega,
o vampiro invoca as sombras,
sombras de dor, raiva e luxúria,
sombras de vingança e fúria.
Naqueles tempos febris,
onde os fantasmas cantavam
pelas bandas passando,
pelas salas de aula.
Quando o sangue agita
as narinas, a perfumaria,
uma nova alquimia grita
e um novo aroma vira poesia.
É a canção do menino sombrio,
do pobre estudante de outrora,
do riso excluído e do sol esquecido.
Quando puxa o riso, vai embora.
As ondas do luar no lago
estão reverberando no espírito.
Logo, os vitoriosos serão tentados,
e os populares serão esquecidos.
A lâmpada acende a alma
que, por dentro, sangra de dor.
O vampiro nunca conheceu o amor,
exceto pela ruiva que tinha esplendor.
Os seus cabelos de fogo brilhavam,
acendiam o seu longo caminho,
iluminavam o seu misterioso espírito.
Por que só o que queima dá abrigo?
Seu sonho é fazer a ruiva cair
para que ela conheça o seu abismo.
O amor pode ser profundo e divino,
mas também um teste de fogo dolorido.
Na porta do cemitério, ele voa,
como um morcego sem rumo.
O gato preto é o seu melhor amigo,
o pio da coruja é a melodia do espírito.
Profundamente sombrio e taciturno,
o seu reflexo no espelho está sumindo.
Pálido o semblante, lábios sem cor,
espírito cambaleante que precisava de amor.
Velas, candelabros e caveiras,
perfume afrodisíaco na penteadeira.
Seu perfume de mel atraindo as vítimas
é a suprema vitória da sua vida.
Quando menino, enterrava brinquedos,
carrinhos, bonecas, flores e gravetos.
Depois de homem, virou um vampiro,
um ser da noite que suga sentimentos.
A revolta é a mãe da vingança
e a mágoa é a mãe da noite.
A lua alimenta o espírito,
e a escuridão refresca a alma.
Ah! Quem é bom quer ser pura luz!
Mas, quem aguentaria a luz do sol?
O sol incessante a todos queimaria,
a sombra da noite é uma necessária rainha.
O vampiro é o ser da noite,
o vampiro é o ser da lua,
que abraça a noite como a sua rainha,
dançando o som das estrelas frias.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
A poesia faz parte do estilo "romantismo gótico" e explora o arquétipo do vampiro, ser da noite que representa as sombras humanas (desejos, medos, impulsos, instintos e todos os aspectos que as pessoas costumam esconder da sociedade).
Nessa poesia, o "vampiro" é simplesmente um homem sombrio que, por falta de amor e traumas do passado, resolveu abraçar a melancolia da noite. Os últimos versos provocam reflexões filosóficas acerca da necessidade da noite e até mesmo das sombras, porque a iluminação incessante (solar, espiritual ou emocional) seria capaz de queimar aquele que pensa que é bom demais.
Tatyana Casarino
*Ilustrações de Victoria Francés disponíveis no Pinterest.
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