O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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sábado, 17 de dezembro de 2022

Tesouro oculto da solitude

 



O casulo de uma borboleta

não pode ser destruído agora.

É sempre fatal a hora errada,

mas voar também é uma enrascada.


Eu quero um casulo para sempre,

um topo de qualquer montanha,

um castelo em Paris ou na Grã-Bretanha.

Não quero mais ser a lua que sangra.


Eu não vou chorar pelo mundo,

eu não vou mais sentir profundo.

O que me causava grande emoção

só me causa hoje fisgada no coração.


Se, antes, eu derrubava mil lágrimas,

hoje eu dou um suspiro e mais nada.

Eu não quero mais ser a lua chorona,

mas a mulher mais forte de Roma.


Diferente de outros sensíveis,

eu nunca quis anestesia na alma.

Eu sempre busquei me lapidar

para que Deus pudesse me abençoar.


Eu tive gana pela cura espiritual

e a luz do sol secou as minhas lágrimas.

Você é capaz de evoluir a sua alma?

Você é capaz de evoluir a sua alma?


Eu não quero chorar pelo mundo

nem absorver a energia de todo mundo.

Eu quis doar as minhas energias,

mas tudo o que me restou foi fadiga.


Já fui aberta e generosa demais,

já fui sensível e chorona demais.

Agora eu mereço viver para mim mesma,

mágoas são meu banquete e o ego a sobremesa.


Eu não quero chorar por vocês,

eu não quero sacrificar o meu coração.

Eu quero viver numa nova oração,

Deus e eu dentro da doce solidão.


A lua vermelha sempre sangra,

a lua negra * é uma péssima dama.

Mulheres que sangram se isolam,

mulheres que sofrem não dançam.


Eu não quero a hostilidade do mundo,

eu não quero as pedras da injustiça.

Há sempre rivalidade e mesquinharia

entre os homens e as mulheres dessa vida. 


Se eu pudesse, eu seria como Francisco,

viveria sem status, sem civilização e sem risco.

Viveria no meio dos bosques e dos bichos,

isolada no êxtase espiritual do exílio. 


Já dizia Rousseau que a natureza é boa,

mas a civilização é má e desconfortável.

Se o homem nasce bom e é corrompido,

eu não choro mais por ser tão sensível. 


Eu não preciso de redes sociais,

eu não preciso da aprovação de ninguém.

Eu me amo e Deus me ama muito também!

O melhor "like" vem de dentro e não de outrem. 


Eu sei do meu valor e da sabedoria,

eu sei que minh'alma é minha vida.

Os tesouros ocultos são os mais valiosos,

assim como o ouro, o diamante e o petróleo.


Se quer descobrir a minha energia,

é preciso cavar a terra bem fundo.

Eu não sou de nadar na superfície,

pois meu coração sempre foi profundo.


Eu quero ser um tesouro oculto,

uma rosa mágica dentro da redoma,

que espera a Fera virar o belo Príncipe.

O isolamento é o meu paraíso mais simples. 


Já chorei tanto quanto Madalena

ao caminhar pela neblina de madrugada.

Não sei se somos parecidas pelos cabelos

ou pela quantidade de lágrimas derramadas.


Para ser feliz, viverei trancada numa torre

e deixarei os meus cabelos como os de Rapunzel.

Há algo doce como o mel na minha solidão,

o isolamento faz parte da minha religião.


Há paz e prazer na solidão,

há Deus e bênçãos na solitude.

Quem aprendeu a olhar para o coração

não pode mais chorar desde então. 


O mundo é um mar de aflição

e dá fisgadas no nosso coração.

Respire fundo se for sair de casa,

confia n'Aquele que lhe dará asas. 


Eu sou uma borboleta de Deus,

aquela que só voa pelas forças d'Ele.

Se dependesse do meu frágil coração,

jamais sairia do meu casulo, doce solidão.


Poesia escrita por Tatyana Casarino. 


*Lua negra = Lilith. 

*Observação sobre Lilith: Coloquei essa referência astrológica na poesia, porque o mito de Lilith também informa sobre o arquétipo da mulher que vive exilada e isolada na busca pela liberdade desejada por sua alma. 

 


   



 Essa poesia fala sobre a natureza dos introspectivos e a inclinação do espírito sensível à solidão. Quem é sensível sente mais impactos emocionais com as aflições do mundo, razão pela qual pode preferir o isolamento para "recarregar" as suas "baterias" emocionais ou as energias da alma. 

 O poema demonstra o paradoxo da união entre a autoestima e a vulnerabilidade, pois o coração do introspectivo sabe reconhecer o seu valor como um "tesouro oculto" na solitude do seu mundo interior ao mesmo tempo em que é frágil para encarar o mundo exterior. Sendo assim, ele reconhece que precisa de Deus para curar a sua vulnerabilidade e ter "asas" para voar no mundo lá fora. No entanto, o "casulo" sempre será o seu "castelo" mais confortável. 

 Dizem que não podemos mexer no casulo de uma borboleta sob o risco de deformar o seu processo de transformação. Para a lagarta virar uma borboleta, ela precisa de um tempo dentro do casulo, o qual é respeitado por toda a natureza. 

 A poesia também fala da luta por uma evolução espiritual que transforme o coração sensível em um coração mais forte. Um coração forte não fica desequilibrado por qualquer aflição exterior, mas apenas sente uma "fisgadinha" de desconforto emocional totalmente superável. Em vez de derramar lágrimas escandalosas, talvez ele solte apenas um suspiro diante dos aborrecimentos que ocorrem depois do seu amadurecimento. 

 Eu coloquei várias referências místicas interessantes na poesia além de citar certos contos de fadas. Em alguns versos, mostro uma versão romântica da história de São Francisco de Assim ao deslumbrar o paraíso que seria viver com animais em bosques isolados em vez de encarar a civilização. 

 Em seguida, eu cito a filosofia de Rousseau (um dos meus filósofos prediletos ao estudar Direito), que afirma sobre a natureza bondosa do homem longe da civilização. Além disso, eu passo a inserir os meus próprios pensamentos românticos ao deslumbrar uma fuga da realidade. Se a civilização é fonte de angústias e há tantas injustiças entre os homens, por que não viver isolado na natureza com animais?


  


  A rosa mágica dentro da redoma que espera a Fera virar príncipe é uma referência ao meu conto de fadas favoritos: "A Bela e a Fera". Neste conto, quando o príncipe é transformado numa Fera, ele fica isolado dentro de um castelo até ser amado por Bella durante o tempo da queda das pétalas da rosa mágica. 

 Também cito outro conto de fadas que fala sobre isolamento: Rapunzel, a princesa de longos cabelos que vive trancada numa torre. E, por falar em cabelos, também faço referência à Madalena, figura bíblica do Novo Testamento que é padroeira dos cabeleireiros e que é famosa por ter longos cabelos. 

 Os estudiosos da Bíblia dizem que Maria Madalena chorou muito diante do sepulcro de Jesus durante a madrugada que antecedeu à ressurreição. Ela foi a primeira pessoa que viu Jesus ressuscitado. Por isso, comparo os seus cabelos volumosos com o volume das suas lágrimas. Ela era uma mulher que tinha cabelos compridos e que chorava muito de acordo com as poucas características que sabemos sobre ela. 

 Dizem que uma das maiores transformações de Madalena foi deixar de ser uma mulher desequilibrada e atormentada (ela passou por um exorcismo e foi libertada mental e espiritualmente graças a Jesus) para ser uma mulher sábia. Sendo assim, coloquei essa figura religiosa nas entrelinhas da poesia. 


          


 A poesia fala muito sobre o lado doce e bom da solidão, a qual passa a ser o refúgio libertador do coração que sente angústias ao encarar os aspectos sociais do mundo exterior. Todavia, a poesia deixa um recado final bem bonito: a de que devemos sair da nossa solidão e "voar" no mundo lá fora em muitos momentos.

 Para uma borboleta voar, ela precisa de Deus. Para uma pessoa introspectiva encarar o mundo, ela também precisa da força de Deus. O mundo tem aflições, mas devemos ter coragem. Afinal, Jesus venceu o mundo!


"Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo". João 16:33


Texto escrito por Tatyana Casarino. 

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