O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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sábado, 9 de julho de 2022

Exotic flower, wild flower

 

 

Exotic flower, wild flower.*




 

Eu que tanto e tanto busquei

um lugar para eu pertencer.

Encontrei-me perdida e expulsa,

proscrita e tão incompreendida.

 

Eu que, quando fui à escola,

sentia medo dos estranhos colegas

por ser excluída pelas suas empáfias,

no fim, consegui ser advogada e poeta.

 

No meio dos poetas e poetisas,

sinto-me excluída sempre

por gostar da vida simples

e não ser uma esnobe idealista.


No meio dos advogados e juristas,

sinto-me uma proscrita incompreendida

por gostar de intuição na justiça,

linguagem popular e não ser elitista.

 

No meio dos leitores e dos escritores,

sempre fui a mais diferente deles.

Sempre dei mais valor à beleza moral

e nunca liguei para a arrogância intelectual.

 

No meio dos intelectuais idealistas,

não me encaixo por ser realista

e gostar da simplicidade do cotidiano,

do que tem carne e osso sem planos.

 

No meio dos mais realistas,

sou vista como sonhadora demais

por causa dos meus ideais espirituais.

Eles não gostam das poetisas.

 

No meio dos homens,

sinto-me delicada demais.

No meio das mulheres,

sinto-me racional demais.

 

No meio das mulheres carentes,

levanto a bandeira do amor-próprio.

No meio das pessoas autossuficientes,

sempre apresento um romantismo impróprio.

 

No meio das donas de casa mais conservadoras,

sempre fui a mulher mais excêntrica e louca.

No meio das feministas e das progressistas,

sempre fui a conservadora polêmica e religiosa.

 

No meio das pessoas de direita,

sempre fui vista como progressista

por abraçar todas as minorias sociais,

afirmando que todos são iguais.

 

No meio das pessoas de esquerda,

sempre fui vista como a capitalista

que não merece ter lugar de fala

apenas por defender as donas de casa.

 

Quando fui a pessoa generosa,

abusaram do meu tempo sem demora.

Senti a alma cansada e atropelada

por sanguessugas de almas pesadas.

 

Quando me mostrava frágil e chorona,

reviravam os olhos para mim no corredor da escola.

Quando me mostrei uma pessoa forte e conselheira,

roubaram-me as forças dentro de minh’alma inteira.

 

Quando me mostrei disponível e solícita,

desrespeitaram todo o meu tempo e ouvidos,

quase fizeram a ruína dentro da minha vida.

Quando me fechei, fui considerada egoísta.

 

Quando ajudei e ouvi os que chamava de “amigos”,

entupiram-me com os seus problemas malditos.

Nunca pouparam a sensibilidade do meu espírito,

somente sabiam falar do próprio umbigo.

 

Quando parei de ouvir essas pessoas,

virei a solitária mais excêntrica

que se encerra no próprio abrigo

com medo de novo mal-entendido.

 

Quando fui delicada e diplomática demais,

os outros me machucaram com os seus espinhos.

Quando falei a minha verdade nua e crua,

tiveram aversão pelo meu espírito.

 

Quando quis ajudar os outros,

fui a bondosa boba e não sabida

que estendeu as duas mãos limpas

e voltou com as duas mãos feridas.

 

Sempre tentando fazer o bem

e recebendo feridas injustas de volta,

até o dia que decidi pensar mais em mim

e parar de derramar as lágrimas da revolta.

 

No círculo dos intelectuais e dos cientistas,

sempre fui a mais louca, a mais mística.

No círculo dos religiosos e dos místicos,

sempre fui a mais científica e realista.

 

Eu, que busquei alívio nas religiões,

um lugar de pertencimento e acolhimento,

depois de tanto ser excluída dos lugares,

acabei me sentindo exilada em todos os templos.

 

No meio dos budistas e dos monges,

fui contra o Nirvana e o desapego.

Não quis me desfazer da minha personalidade

nem negar a minha mente por inteiro.

 

No meio dos espíritas e dos médiuns,

fui contra a visita de vidas passadas.

Eu sempre disse a todos eles e ainda digo

que Deus quer o esquecimento e mais nada.

 

No meio do amado catolicismo,

não conquistei a simpatia dos fiéis,

recebi até o olhar severo de um bispo,

porque uso salto alto e batom sorrindo.

 

Quando me vestia bem e saía elegante na rua,

era apontada como a pessoa mais metida.

Quando fiquei só de pijama dentro de casa,

fui considerada solitária e depressiva.  

 

A opinião dos outros sobre nós

nunca será favorável e amável

não importa quem você seja.

Por isso, simplesmente seja você.

 

Nessa jornada, descobri Deus na exclusão

e na união das partes contraditórias dentro de mim.

Não pertencer a nenhum grupo uniforme,

mostrou ao meu espírito que a vida é o infinito.

 

Descobri um caminho único e colorido

formado por um vitral de virtudes diferentes

que equilibram minh’alma por dentro.

É fascinante ter o infinito no sentimento!

 

Você não precisa se encaixar em uma ideia somente,

você pode somar todas as ideias mais belas de repente.

Isso não faz de você um espírito louco e incoerente,

mas um espírito autêntico que brilha, um fogo que acende.

 

A exclusão social é bênção e não castigo!

A experiência espiritual de descobrir Deus na exclusão

é a mais iluminada que todos eles poderiam me dar.

Descobri que Deus ama os excluídos com mais paixão.

 

Descobri que Deus usa os seus filhos mais controvertidos,

os instrumentos mais excluídos, esquisitos e malvistos,

para os seus propósitos mais elevados e sublimes,

pois os seus planos grandiosos devem ser incompreendidos.

 

Não seria a falta de compreensão

uma cruz que Ele carregou?

Não seria uma honra ter essa cruz

e carregá-la junto com Ele?

 

Porque eu toquei Deus na substância

e não na forma como eles.

E a ferida da exclusão no espírito

fez nascer, em mim, mais amor pelos excluídos.

 

Deus me ama assim como sou,

assim como ama as flores exóticas,

as flores mais selvagens que Ele criou

e colocou em um habitat diferente delas.

 

As flores exóticas são flores selvagens

que lutam para florescer, lutam para sobreviver.

Mas, elas vivem, florescem, exalam e perfumam,

destacando a beleza das suas pétalas sinceras.


Poesia escrita por Tatyana Casarino. 


*Flor exótica, flor selvagem (tradução do título). 


  


 Essa poesia fala sobre como transformar o sentimento de incompreensão em sabedoria, levando uma mensagem espiritual de otimismo por trás dos desabafos bem-humorados da dor emocional que a exclusão causa no indivíduo. Observa-se que a mensagem da poesia envolve a experiência de se sentir amado por Deus mesmo quando somos estranhos e exilados nos grupos religiosos e sociais. 

 A metáfora da alma diferente com a flor exótica foi inspirada em um floral que tomei quando criança para tratar a fobia social e a sensação de "não pertencimento": tratava-se do extrato de uma flor selvagem que lutava para sobreviver no seu habitat. Esse floral combatia a fobia citada e dava coragem para a alma enfrentar a sua missão e revelar a sua verdade interior.  


Tatyana Casarino. 

2 comentários:

  1. A Flor solitária na beira da estrada às vezes chama mais atenção que o jardim florido.

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    Respostas
    1. Você tem razão, Mateus! Obrigada pelo comentário.

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