Exotic flower, wild flower.*
Eu que tanto e tanto busquei
um lugar para eu pertencer.
Encontrei-me perdida e expulsa,
proscrita e tão
incompreendida.
Eu que, quando fui à escola,
sentia medo dos estranhos
colegas
por ser excluída pelas suas
empáfias,
no fim, consegui ser advogada
e poeta.
No meio dos poetas e poetisas,
sinto-me excluída sempre
por gostar da vida simples
e não ser uma esnobe idealista.
No meio dos advogados e juristas,
sinto-me uma proscrita incompreendida
por gostar de intuição na
justiça,
linguagem popular e não ser
elitista.
No meio dos leitores e dos
escritores,
sempre fui a mais diferente
deles.
Sempre dei mais valor à beleza
moral
e nunca liguei para a arrogância
intelectual.
No meio dos intelectuais
idealistas,
não me encaixo por ser
realista
e gostar da simplicidade do
cotidiano,
do que tem carne e osso sem
planos.
No meio dos mais realistas,
sou vista como sonhadora
demais
por causa dos meus ideais espirituais.
Eles não gostam das poetisas.
No meio dos homens,
sinto-me delicada demais.
No meio das mulheres,
sinto-me racional demais.
No meio das mulheres carentes,
levanto a bandeira do
amor-próprio.
No meio das pessoas autossuficientes,
sempre apresento um romantismo
impróprio.
No meio das donas de casa mais
conservadoras,
sempre fui a mulher mais excêntrica
e louca.
No meio das feministas e das
progressistas,
sempre fui a conservadora polêmica
e religiosa.
No meio das pessoas de
direita,
sempre fui vista como
progressista
por abraçar todas as minorias
sociais,
afirmando que todos são
iguais.
No meio das pessoas de
esquerda,
sempre fui vista como a capitalista
que não merece ter lugar de
fala
apenas por defender as donas
de casa.
Quando fui a pessoa generosa,
abusaram do meu tempo sem
demora.
Senti a alma cansada e
atropelada
por sanguessugas de almas
pesadas.
Quando me mostrava frágil e
chorona,
reviravam os olhos para mim no
corredor da escola.
Quando me mostrei uma pessoa
forte e conselheira,
roubaram-me as forças dentro
de minh’alma inteira.
Quando me mostrei disponível e
solícita,
desrespeitaram todo o meu
tempo e ouvidos,
quase fizeram a ruína dentro
da minha vida.
Quando me fechei, fui
considerada egoísta.
Quando ajudei e ouvi os que chamava
de “amigos”,
entupiram-me com os seus problemas malditos.
Nunca pouparam a sensibilidade
do meu espírito,
somente sabiam falar do
próprio umbigo.
Quando parei de ouvir essas
pessoas,
virei a solitária mais excêntrica
que se encerra no próprio
abrigo
com medo de novo
mal-entendido.
Quando fui delicada e diplomática
demais,
os outros me machucaram com os
seus espinhos.
Quando falei a minha verdade
nua e crua,
tiveram aversão pelo meu
espírito.
Quando quis ajudar os outros,
fui a bondosa boba e não
sabida
que estendeu as duas mãos
limpas
e voltou com as duas mãos
feridas.
Sempre tentando fazer o bem
e recebendo feridas injustas
de volta,
até o dia que decidi pensar
mais em mim
e parar de derramar as
lágrimas da revolta.
No círculo dos intelectuais e
dos cientistas,
sempre fui a mais louca, a
mais mística.
No círculo dos religiosos e
dos místicos,
sempre fui a mais científica e
realista.
Eu, que busquei alívio nas
religiões,
um lugar de pertencimento e
acolhimento,
depois de tanto ser excluída
dos lugares,
acabei me sentindo exilada em
todos os templos.
No meio dos budistas e dos
monges,
fui contra o Nirvana e o
desapego.
Não quis me desfazer da minha
personalidade
nem negar a minha mente por
inteiro.
No meio dos espíritas e dos
médiuns,
fui contra a visita de vidas
passadas.
Eu sempre disse a todos eles e
ainda digo
que Deus quer o esquecimento e
mais nada.
No meio do amado catolicismo,
não conquistei a simpatia dos
fiéis,
recebi até o olhar severo de
um bispo,
porque uso salto alto e batom
sorrindo.
Quando me vestia bem e saía
elegante na rua,
era apontada como a pessoa mais
metida.
Quando fiquei só de pijama
dentro de casa,
fui considerada solitária e
depressiva.
A opinião dos outros sobre nós
nunca será favorável e amável
não importa quem você seja.
Por isso, simplesmente seja você.
Nessa jornada, descobri Deus
na exclusão
e na união das partes
contraditórias dentro de mim.
Não pertencer a nenhum grupo
uniforme,
mostrou ao meu espírito que a
vida é o infinito.
Descobri um caminho único e
colorido
formado por um vitral de
virtudes diferentes
que equilibram minh’alma por
dentro.
É fascinante ter o infinito no
sentimento!
Você não precisa se encaixar
em uma ideia somente,
você pode somar todas as
ideias mais belas de repente.
Isso não faz de você um
espírito louco e incoerente,
mas um espírito autêntico que
brilha, um fogo que acende.
A exclusão social é bênção e
não castigo!
A experiência espiritual de
descobrir Deus na exclusão
é a mais iluminada que todos
eles poderiam me dar.
Descobri que Deus ama os excluídos
com mais paixão.
Descobri que Deus usa os seus
filhos mais controvertidos,
os instrumentos mais
excluídos, esquisitos e malvistos,
para os seus propósitos mais
elevados e sublimes,
pois os seus planos grandiosos
devem ser incompreendidos.
Não seria a falta de
compreensão
uma cruz que Ele carregou?
Não seria uma honra ter essa
cruz
e carregá-la junto com Ele?
Porque eu toquei Deus na
substância
e não na forma como eles.
E a ferida da exclusão no
espírito
fez nascer, em mim, mais amor
pelos excluídos.
Deus me ama assim como sou,
assim como ama as flores
exóticas,
as flores mais selvagens que
Ele criou
e colocou em um habitat
diferente delas.
As flores exóticas são flores
selvagens
que lutam para florescer,
lutam para sobreviver.
Mas, elas vivem, florescem,
exalam e perfumam,
destacando a beleza das suas pétalas
sinceras.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
*Flor exótica, flor selvagem (tradução do título).
Essa poesia fala sobre como transformar o sentimento de incompreensão em sabedoria, levando uma mensagem espiritual de otimismo por trás dos desabafos bem-humorados da dor emocional que a exclusão causa no indivíduo. Observa-se que a mensagem da poesia envolve a experiência de se sentir amado por Deus mesmo quando somos estranhos e exilados nos grupos religiosos e sociais.
A metáfora da alma diferente com a flor exótica foi inspirada em um floral que tomei quando criança para tratar a fobia social e a sensação de "não pertencimento": tratava-se do extrato de uma flor selvagem que lutava para sobreviver no seu habitat. Esse floral combatia a fobia citada e dava coragem para a alma enfrentar a sua missão e revelar a sua verdade interior.
Tatyana Casarino.
A Flor solitária na beira da estrada às vezes chama mais atenção que o jardim florido.
ResponderExcluirVocê tem razão, Mateus! Obrigada pelo comentário.
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