O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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quarta-feira, 15 de junho de 2022

I don’t want to be a spiritual mentor.

 

I don’t want to be a spiritual mentor.*




 

Eu tentei apagar a dor das pessoas,

mas isso só trouxe muita dor para mim.

Apenas quando venci as dores do escuro,

fui uma mentora de propósito puro.

 

Mas hoje sou rastro de humildade

que nega que vocês me idolatrem.

Não quero ser vista como estrela-guia,

pois sou apenas uma pequena menina.

 

Não quero ser vista como a mentora,

pois também estou perdida nesse mar.

Sem Jesus, seria mais uma a me afogar.

Sinto tanta dor que não posso mais lhes ajudar.

 

Quando superei as minhas fobias,

achava que tinha as fórmulas da cura.

Fiz o papel da conselheira espiritual

e da conselheira sábia mais pura.

 

No início, tinha bastante energia

mas a fornalha do orgulho me matou.

Era chamada de estrela, de anjo,

até que a falta de preparo me afogou.       


Não quero mais ser vista como anjo,

eis que sou um pequeno ser humano.

Não quero ser a médica das almas,

pois não curo a dor como os santos.  

 

Nenhum conselho sábio adiantava,

nenhuma das minhas preces curava.

Desci do meu pedestal sorridente

e conheci o que é a fadiga do doente.

 

De repente, meu raciocínio parou.

Não conseguia mais arranjar

palavras sábias e bonitas para lhes dar.

Uma fraqueza invadiu minh’alma com mal-estar.

 

Não joguem as suas angústias sobre mim,

pois isto é desumano, cruel e tóxico.

Quero ser respeitada como humana,

e abandonar esse místico negócio.

 

Não quero mais ser a mentora espiritual,

não quero mais jogar tarô aos domingos

nem distribuir conselhos do mapa astral.

Quero ser anônima, simples e normal.

 

Arranquem de mim essa maldita fama,

parem de me procurar e de admirar.

Deixem-me viver em paz no meu lar,

isolada numa ilha com a brisa do mar.

 

Não quero mais ser tão generosa

a ponto da minha paz sacrificar.

Que Deus me perdoe por diminuir a generosidade!

Com meu livre-arbítrio, viverei a minha verdade!

 

Descobri que tenho um livre-arbítrio.

Sim, eu tenho um livre-arbítrio para dizer “não”

para toda essa angústia, dor e confusão.

Vivo em paz no anonimato da solidão.

 

Todas aquelas pessoas vitimistas

me procuravam, sugavam as minhas energias.

Enquanto isso, eu gritava e sangrava por dentro,

arranhada pela dor dos outros e pelos sentimentos.

 

Ao invés de lhes curar espiritualmente,

absorvi todas as piores doenças.

Ao invés de lhes exorcizar eficazmente,

todos os demônios se voltaram contra mim.

 

Eu era jovem, ingênua e generosa

quando virei aquela mentora espiritual.

Tive que cair no fundo do poço do astral

para sentir o sabor do horror que é ser mentor!

 

Eu tentei salvar as pessoas do abismo

e quem caiu no abismo foi o meu espírito.

Arranhado, sangrando e chorando,

meu espírito teve de se levantar outra vez.

 

Dessa vez, fui a minha própria mentora.

Dessa vez, fui a minha própria salvadora.

E descobri que não há mentores espirituais,

eis que todos nós somos errantes iguais.

 

O maior charlatão é o espírito da ilusão!

E a pior ilusão é achar que temos o poder

de curar as almas dos outros e não padecer.

Que cada um salve e cuide do próprio coração!

 

Sejam independentes de líderes espirituais!

Sejam fortes e imbatíveis de coração!

Não sejam carentes, não idolatrem ninguém,

não busquem os nossos conselhos em vão.

 

Por todas as suas terrenas vidas,

as pessoas buscam alguém, uma estrela-guia,

para chamarem de anjo, de mestre ou de líder.

Mas eu não tenho competência de sacerdotisa.

 

Não olhe nos olhos dos sofredores,

porque você pode se tornar o sacrifício.

Essa missão difícil não é o meu ofício,

eis que sou advogada e não médica do espírito.

 

Chorei até secarem todas as lágrimas,

pois tive que salvar, do mar, minh’alma.

Entre tantas almas quase afogadas na infinidade,

optei por salvar a minha em estado de necessidade.

 

Se quero salvar toda a humanidade,

salvo a minha própria alma nessa infinidade.

Se quero salvar toda a humanidade,

cuido da minha própria alma de verdade.

 

Todos nós estamos perdidos e sangrando,

perdidos no mar infinito e turbulento da vida.

E os que se dizem “mentores” sangram mais,

pois, onde há muita luz, as trevas perseguem mais.

 

Eu não posso ser a estrela-guia,

pois sou mais uma humana alma.

Minh’alma, sem Jesus, não respira

e, no mar, se afoga como falsa sacerdotisa.

 

Hoje, quando encontro um mentor,

um mentor honesto para um nobre papo espiritual,

tenho medo de parecer igual aos que me procuravam.

Por isso, mostro que sou bem diferente do usual.

 

Toda essa dor pela qual passei,

toda essa angústia que me possuiu,

eu curei com anonimato e doce solidão,

silêncio, autocuidado e autocompaixão.

 

Um pouco de hedonismo* e anonimato,

um pouco de egoísmo belo e saudável,

tudo isso me curou do espírito desordenado

que o excesso de generosidade havia deixado.

 

Deixei de aconselhar pessoas,

deixei de ajudar quem é negativo.

Hoje direciono a minha caridade

para projetos sociais com frutos de verdade.

 

Os céus me perdoam e me abençoam,

os céus sabem o quanto ajudei todos de coração.

Mas, para salvar minha própria alma,

precisei de silêncio e solidão.

 

Perdoem-me se não posso mais ajudá-los,

mas estavam infeccionadas as asas de anjo.

Tive que cortar as asas que sangravam

e abraçar o meu doce e singelo anonimato.

 

Não posso mais dançar o balé dos anjos,

eis que o meu corpo é fraco e o choro é profano.

Dançarei agora o doce balé dos humanos!

O balé que é simples, quente e anônimo!

 

Como é agradável viver para si

no conforto anônimo e doméstico.

Como é agradável não ter ambição

e dançar o balé da simplicidade do coração.

 

Deus nos deu a missão e o livre-arbítrio,

Deus nos fez únicos e indivíduos.

Nascemos e morremos sozinhos,

não há dois lugares no caixão nem no espírito.

 

É bom ser sozinho e independente.

A nossa missão é descobrir quem é a gente

e acender a luz própria no coração.

Não sejam dependentes de atenção!

 

Ajudar demais quem é carente de atenção

não é generosidade, mas amarga ilusão.

Isso atrapalha a missão espiritual verdadeira

de quem precisa construir a própria teia.

 

Somos como aranhas espirituais.

Nossa missão é fazer a própria teia,

uma teia única de divina centelha,

individualidade de sutil estrela.

 

Não busquem anjos humanos,

não busquem bússolas no profano.

Apenas Deus e vocês mesmos

podem construir o equilíbrio santo.

 

Lutem contra os seus maus pensamentos

sem depender de guias e líderes espirituais.

Sejam, para si, a própria estrela-guia

e tomem responsabilidade pela própria vida!

 

E quem descobriu a doce sabedoria interior

não ouse transformá-la em bússola para os outros.

A nossa própria bússola só serve para a nossa estrada

e não pode salvar mais ninguém nessa humana morada.

 

Não mostre muito a sua sabedoria,

não mostre muito o seu carisma,

As virtudes sugarão o seu espírito

se forem muito perseguidas e aplaudidas.

 

No fim das contas, não há mentor,

não há líder nem mestre humano.

O único mentor gravado no peito

é mestre de coroa de espinhos, é Jesus.


Poesia escrita por Tatyana Casarino.


*Tradução do título: "Eu não quero ser uma mentora espiritual".


*Hedonismo é uma doutrina filosófica que, em vez de rejeitar o prazer, busca o prazer como bem necessário e supremo. Na poesia, afirmo que um pouco de hedonismo e um pouco de egoísmo salvam a alma angustiada. 





*Essa é uma poesia excêntrica e inovadora, pois revela os sentimentos e as dificuldades de um "mentor" -- e esses costumam ser pouco retratados na arte e na poesia. 

 Essa poesia também é um desabafo sobre sensações que guardei durante muito tempo. No início da minha jornada espiritual, tentei ajudar muitas pessoas com a sabedoria mística que adquiri. Entretanto, em vez de "curar" espiritualmente as pessoas, eu absorvi muitas das energias negativas delas, descobrindo que não possuo a capacidade para ser uma espécie de "mentora" no âmbito espiritual. Sendo assim, retratei essa jornada espiritual e a descoberta célebre de que "ninguém salva ninguém" em versos. 


               


 Essa poesia é filosófica e reflete sobre a necessidade de sermos os nossos próprios mestres e termos independência espiritual em nossa jornada psíquica e religiosa. Tanto o "mentor" quanto o suposto "aprendiz" somente se libertam quando ambos descobrem o valor da independência e da individualidade espiritual. Cada pessoa deve encontrar a sua própria bússola espiritual em seu coração. 

 Assim como o arquétipo do Eremita demonstra (imagens do Arcano Eremita do Tarô estão presentes na postagem), devemos acender o nosso próprio lampião espiritual para não depender da luz de ninguém, exceto da luz de Cristo, o único mentor a ser considerado. O Eremita precisa se isolar para descobrir a própria luz, e o seu lampião não ilumina nenhum caminho além do seu próprio caminho.  


Tatyana Casarino. 


*Frases inspiradoras para a reflexão:





"Paga-se mal o mestre quando se continua sempre a ser o aluno". -- Nietzsche.

Essa frase de Nietzsche ensina que todo aluno deve ser independente do seu mestre um dia.


"Se você encontrar Buda no caminho, mate-o." -- Essa frase do Zen Budismo significa que devemos "matar" simbolicamente o mestre para sermos os nossos próprios mestres.


"Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!" -- Essa frase cristã (Bíblia -- Jeremias 17:5) avisa que o ser humano não pode fazer de outro ser humano o seu mestre, pois apenas o Senhor é o mestre. 


Tatyana Casarino. 


*Sugestão de música:


The Only One --Evanescence.





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