I don’t want to be a spiritual
mentor.*
Eu tentei apagar a dor das
pessoas,
mas isso só trouxe muita dor
para mim.
Apenas quando venci as dores
do escuro,
fui uma mentora de propósito
puro.
Mas hoje sou rastro de
humildade
que nega que vocês me
idolatrem.
Não quero ser vista como
estrela-guia,
pois sou apenas uma pequena
menina.
Não quero ser vista como a
mentora,
pois também estou perdida
nesse mar.
Sem Jesus, seria mais uma a me
afogar.
Sinto tanta dor que não posso
mais lhes ajudar.
Quando superei as minhas
fobias,
achava que tinha as fórmulas
da cura.
Fiz o papel da conselheira
espiritual
e da conselheira sábia mais
pura.
No início, tinha bastante
energia
mas a fornalha do orgulho me
matou.
Era chamada de estrela, de
anjo,
até que a falta de preparo me afogou.
Não quero mais ser vista como anjo,
eis que sou um pequeno ser
humano.
Não quero ser a médica das
almas,
pois não curo a dor como os
santos.
Nenhum conselho sábio
adiantava,
nenhuma das minhas preces
curava.
Desci do meu pedestal
sorridente
e conheci o que é a fadiga do
doente.
De repente, meu raciocínio
parou.
Não conseguia mais arranjar
palavras sábias e bonitas para
lhes dar.
Uma fraqueza invadiu minh’alma
com mal-estar.
Não joguem as suas angústias
sobre mim,
pois isto é desumano, cruel e
tóxico.
Quero ser respeitada como
humana,
e abandonar esse místico
negócio.
Não quero mais ser a mentora
espiritual,
não quero mais jogar tarô aos
domingos
nem distribuir conselhos do
mapa astral.
Quero ser anônima, simples e
normal.
Arranquem de mim essa maldita
fama,
parem de me procurar e de
admirar.
Deixem-me viver em paz no meu
lar,
isolada numa ilha com a brisa
do mar.
Não quero mais ser tão
generosa
a ponto da minha paz
sacrificar.
Que Deus me perdoe por
diminuir a generosidade!
Com meu livre-arbítrio,
viverei a minha verdade!
Descobri que tenho um
livre-arbítrio.
Sim, eu tenho um
livre-arbítrio para dizer “não”
para toda essa angústia, dor e
confusão.
Vivo em paz no anonimato da
solidão.
Todas aquelas pessoas
vitimistas
me procuravam, sugavam as
minhas energias.
Enquanto isso, eu gritava e
sangrava por dentro,
arranhada pela dor dos outros
e pelos sentimentos.
Ao invés de lhes curar
espiritualmente,
absorvi todas as piores
doenças.
Ao invés de lhes exorcizar
eficazmente,
todos os demônios se voltaram
contra mim.
Eu era jovem, ingênua e
generosa
quando virei aquela mentora
espiritual.
Tive que cair no fundo do poço
do astral
para sentir o sabor do horror
que é ser mentor!
Eu tentei salvar as pessoas do
abismo
e quem caiu no abismo foi o
meu espírito.
Arranhado, sangrando e
chorando,
meu espírito teve de se
levantar outra vez.
Dessa vez, fui a minha própria
mentora.
Dessa vez, fui a minha própria
salvadora.
E descobri que não há mentores
espirituais,
eis que todos nós somos
errantes iguais.
O maior charlatão é o espírito
da ilusão!
E a pior ilusão é achar que
temos o poder
de curar as almas dos outros e
não padecer.
Que cada um salve e cuide do
próprio coração!
Sejam independentes de líderes
espirituais!
Sejam fortes e imbatíveis de
coração!
Não sejam carentes, não
idolatrem ninguém,
não busquem os nossos
conselhos em vão.
Por todas as suas terrenas
vidas,
as pessoas buscam alguém, uma
estrela-guia,
para chamarem de anjo, de
mestre ou de líder.
Mas eu não tenho competência
de sacerdotisa.
Não olhe nos olhos dos
sofredores,
porque você pode se tornar o
sacrifício.
Essa missão difícil não é o
meu ofício,
eis que sou advogada e não
médica do espírito.
Chorei até secarem todas as
lágrimas,
pois tive que salvar, do mar,
minh’alma.
Entre tantas almas quase
afogadas na infinidade,
optei por salvar a minha em
estado de necessidade.
Se quero salvar toda a
humanidade,
salvo a minha própria alma nessa
infinidade.
Se quero salvar toda a
humanidade,
cuido da minha própria alma de
verdade.
Todos nós estamos perdidos e
sangrando,
perdidos no mar infinito e
turbulento da vida.
E os que se dizem “mentores”
sangram mais,
pois, onde há muita luz, as
trevas perseguem mais.
Eu não posso ser a
estrela-guia,
pois sou mais uma humana alma.
Minh’alma, sem Jesus, não
respira
e, no mar, se afoga como falsa
sacerdotisa.
Hoje, quando encontro um
mentor,
um mentor honesto para um
nobre papo espiritual,
tenho medo de parecer igual
aos que me procuravam.
Por isso, mostro que sou bem
diferente do usual.
Toda essa dor pela qual
passei,
toda essa angústia que me
possuiu,
eu curei com anonimato e doce
solidão,
silêncio, autocuidado e
autocompaixão.
Um pouco de hedonismo* e
anonimato,
um pouco de egoísmo belo e
saudável,
tudo isso me curou do espírito
desordenado
que o excesso de generosidade
havia deixado.
Deixei de aconselhar pessoas,
deixei de ajudar quem é
negativo.
Hoje direciono a minha
caridade
para projetos sociais com
frutos de verdade.
Os céus me perdoam e me
abençoam,
os céus sabem o quanto ajudei
todos de coração.
Mas, para salvar minha própria
alma,
precisei de silêncio e
solidão.
Perdoem-me se não posso mais
ajudá-los,
mas estavam infeccionadas as
asas de anjo.
Tive que cortar as asas que
sangravam
e abraçar o meu doce e singelo
anonimato.
Não posso mais dançar o balé
dos anjos,
eis que o meu corpo é fraco e
o choro é profano.
Dançarei agora o doce balé dos
humanos!
O balé que é simples, quente e
anônimo!
Como é agradável viver para si
no conforto anônimo e
doméstico.
Como é agradável não ter
ambição
e dançar o balé da
simplicidade do coração.
Deus nos deu a missão e o
livre-arbítrio,
Deus nos fez únicos e
indivíduos.
Nascemos e morremos sozinhos,
não há dois lugares no caixão
nem no espírito.
É bom ser sozinho e
independente.
A nossa missão é descobrir
quem é a gente
e acender a luz própria no
coração.
Não sejam dependentes de
atenção!
Ajudar demais quem é carente
de atenção
não é generosidade, mas amarga
ilusão.
Isso atrapalha a missão
espiritual verdadeira
de quem precisa construir a
própria teia.
Somos como aranhas
espirituais.
Nossa missão é fazer a própria
teia,
uma teia única de divina
centelha,
individualidade de sutil
estrela.
Não busquem anjos humanos,
não busquem bússolas no
profano.
Apenas Deus e vocês mesmos
podem construir o equilíbrio
santo.
Lutem contra os seus maus
pensamentos
sem depender de guias e
líderes espirituais.
Sejam, para si, a própria
estrela-guia
e tomem responsabilidade pela
própria vida!
E quem descobriu a doce
sabedoria interior
não ouse transformá-la em
bússola para os outros.
A nossa própria bússola só
serve para a nossa estrada
e não pode salvar mais ninguém
nessa humana morada.
Não mostre muito a sua
sabedoria,
não mostre muito o seu carisma,
As virtudes sugarão o seu
espírito
se forem muito perseguidas e
aplaudidas.
No fim das contas, não há
mentor,
não há líder nem mestre
humano.
O único mentor gravado no
peito
é mestre de coroa de espinhos,
é Jesus.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
*Tradução do título: "Eu não quero ser uma mentora espiritual".
*Hedonismo é uma doutrina filosófica que, em vez de rejeitar o prazer, busca o prazer como bem necessário e supremo. Na poesia, afirmo que um pouco de hedonismo e um pouco de egoísmo salvam a alma angustiada.
*Essa é uma poesia excêntrica e inovadora, pois revela os sentimentos e as dificuldades de um "mentor" -- e esses costumam ser pouco retratados na arte e na poesia.
Essa poesia também é um desabafo sobre sensações que guardei durante muito tempo. No início da minha jornada espiritual, tentei ajudar muitas pessoas com a sabedoria mística que adquiri. Entretanto, em vez de "curar" espiritualmente as pessoas, eu absorvi muitas das energias negativas delas, descobrindo que não possuo a capacidade para ser uma espécie de "mentora" no âmbito espiritual. Sendo assim, retratei essa jornada espiritual e a descoberta célebre de que "ninguém salva ninguém" em versos.
Essa poesia é filosófica e reflete sobre a necessidade de sermos os nossos próprios mestres e termos independência espiritual em nossa jornada psíquica e religiosa. Tanto o "mentor" quanto o suposto "aprendiz" somente se libertam quando ambos descobrem o valor da independência e da individualidade espiritual. Cada pessoa deve encontrar a sua própria bússola espiritual em seu coração.
Assim como o arquétipo do Eremita demonstra (imagens do Arcano Eremita do Tarô estão presentes na postagem), devemos acender o nosso próprio lampião espiritual para não depender da luz de ninguém, exceto da luz de Cristo, o único mentor a ser considerado. O Eremita precisa se isolar para descobrir a própria luz, e o seu lampião não ilumina nenhum caminho além do seu próprio caminho.
Tatyana Casarino.
*Frases inspiradoras para a reflexão:
"Paga-se mal o mestre quando se continua sempre a ser o aluno". -- Nietzsche.
Essa frase de Nietzsche ensina que todo aluno deve ser independente do seu mestre um dia.
"Se você encontrar Buda no caminho, mate-o." -- Essa frase do Zen Budismo significa que devemos "matar" simbolicamente o mestre para sermos os nossos próprios mestres.
"Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!" -- Essa frase cristã (Bíblia -- Jeremias 17:5) avisa que o ser humano não pode fazer de outro ser humano o seu mestre, pois apenas o Senhor é o mestre.
Tatyana Casarino.
*Sugestão de música:
The Only One --Evanescence.
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