O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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terça-feira, 19 de julho de 2022

Fadiga por Compaixão

 Fadiga por Compaixão.




 

Estava tão cansada, tão dormente,

tão doente e tão descrente.

A escuridão de vocês venceu

os meus conselhos mais esperançosos.

 

Uma amizade tóxica é flagelo,

grande flagelo psicológico e espiritual.

Um amigo dramático, tolo e carente

jamais será grato, bondoso e contente.

 

Vocês reclamavam de falta de amor,

mas ninguém foi grato nem se contentou

com o cuidado amoroso que eu lhes dei.

Nunca fui tão sugada quanto fui por vocês.

 

Sobrecarregada pelos seus problemas,

ouvindo o dia inteiro os seus dilemas,

eu fiquei doente e perdi a noção de tempo.

Também são valorosos os meus sentimentos!

 

Pisando em ovos para não lhe ofender,

raciocinando as melhores palavras para você.

Sempre fui tão doce, gentil e diplomática,

mas só recebia a sua fala armada e dramática.

 

Um amigo tóxico é cruel como um vampiro,

ele suga o seu tempo, o seu coração e o seu espírito.

E nada que você faça nunca lhe agradará,

porque a essência do amigo tóxico é reclamar.

 

Com a desculpa que confia em você,

ele despejará todo o lixo psíquico.

Um amigo tóxico é pior que um vampiro,

um flagelo sem juízo, mal-estar no espírito.

 

E, quando você se afasta dele,

para cuidar da sua própria mente,

O amigo tóxico se faz de vítima

e ainda pode chamá-lo de egoísta.

 

Não se sinta responsável por ninguém.

Nem toda a sua doçura cura a carência tóxica,

nem toda a sua sabedoria cura a alma mórbida.

Cada um deve carregar sua cruz como lhe convém!

 

Cada passo que eu dava na generosidade,

era um tropeço nas trevas sem juízo,

que atraía mais um amigo louco e tóxico

e que provocava mais um abismo.

 

Até quem faz o bem passa mal,

até a generosidade traz trevas indizíveis.

Esse mundo é cheio de armadilhas

para almas bondosas, doces e femininas.

 

Cansada de absorver problemas alheios,

acumular pressão em mim e explodir,

eu decidi viver na solidão e no silêncio,

descobrir quem eu sou e meus sentimentos.

 

Eu estava jovem e bonita demais

para me sentir cansada e sem paz.

Meus ombros doíam, minha pele arranhada,

coração incompreendido, alma despedaçada.

 

A síndrome da boazinha me devorou,

a fadiga por compaixão quase me matou.

Mas, eu superei e dei a volta por cima,

decidindo ser mais forte e egoísta.

 

Meu telefone tocava o dia todo,

chamadas com pedido de ajuda,

áudios longos, desabafos insanos.

Decidi parar com toda essa loucura!

 

Ajudar demais quem não merece:

eis a pior de todas as loucuras.

Querer ser sempre perfeita e boazinha

é doença e não generosidade pura.

 

Desliguei meu celular por um tempo,

interrompi todas as redes sociais.

Disse que não posso ajudar mais ninguém,

e fui tocar a minha vida em paz com me convém.

 

Que cada um toque a sua vida,

que cada um carregue a sua cruz.

Ninguém pode salvar ninguém,

só quem salva é mesmo Jesus!

 

Para uma pessoa boa sobreviver,

ela deve matar cinquenta por cento

da empatia que vive por dentro.

O bom egoísmo salvará o seu viver!

 

Para uma pessoa boa sobreviver,

ela deve matar metade da sua bondade

e transformá-la não em maldade,

mas em instinto de sobrevivência e verdade.

 

Enfiei um punhal em minh’alma,

matando a empatia que sentia por você.

Abracei a mim mesma, vi o meu próprio lado,

construí autocompaixão para sobreviver de fato.

 

Sensibilidade demais é fraqueza,

e chorar demais nos torna fardos.

É preciso ser um pouco insensível,

racional, egoísta, duro e sensato.

 

O mundo está tão caótico e estúpido,

porque os maus não têm escrúpulos,

e os bondosos têm escrúpulos demais.

Essa matemática não gera luz a mais.

 

Se as pessoas boas fossem mais egoístas,

tivessem menos escrúpulos e menos feridas,

elas seriam lindas e bem mais ousadas na virtude,

e o mundo seria uma explosão de bondade criativa.

 

Perdoe-me, meu Deus, pelas lágrimas

que descem de rancor dentro da alma.

Perdoe-me se não sei perdoar setenta vezes sete,

perdoe-me se fiquei mais selvagem e menos inerte.

 

Mas, o Senhor sabe quem eu sou,

o quanto minh’alma, no fundo, é generosa

por trás dessas feridas rancorosas.

Salva-me de mim mesma, Senhor!

 

Não é pecado querer se afastar

de todo aquele que nos causa mal.

Não é pecado deixar de ajudar

quem começou a nos prejudicar.

 

De noite, perdi o sono, perdi a hora,

e, com insônia, aos pés de Nossa Senhora,

pedi que Ela me ajudasse a me afastar de pessoas,

e, então, eu ajudaria a sua Santa Igreja em troca.

 

Sei que todos são filhos de Deus,

que todos os amigos são irmãos em espírito.

Mas, há amigos que nos fazem mal,

e há irmãos que não podem conviver comigo.

 

Sofrendo a fadiga por compaixão,

sofrendo a dor da incompreensão,

pedi que a Santa Mãe me salvasse sem demora

e levasse certos irmãos, da minha vida, para fora.

 

Se a Senhora levar essas pessoas embora,

e elas saírem em paz da minha vida,

eu ajudarei a Sua Santa Igreja,

e voltarei a ser uma alma altruísta.

 

Pessoas tóxicas saíram da minha vida

e foram viver a vida delas em paz.

Enquanto isso, mato a generosidade

que eu gastava no campo das amizades.

 

Matando a empatia exagerada em mim,

resolvi virar filantropa em outros campos.

Há muitos modos de exercer a solidariedade,

modos santos que não ouvem amizades.

 

Talvez ouvir pessoas insensatas

não seja o meu modo de ser solidária.

Obras sociais, mãos criativas e caridade prática

serão minhas novas formas de doação laica.

 

Se um tipo de generosidade devorou você,

se um tipo de pessoa decepcionou você,

ainda não desista totalmente de ser bom.

Há outras formas de solidariedade de bom-tom.

 

A fadiga por compaixão quase devora o coração,

pois envolve a culpa por ter o espírito bom.

Liberte-se já dessa grande dor, do grande rancor,

e aprenda a doar da forma mais certa o seu amor.

 

Quando o mundo pesar os seus ombros,

e você perceber que não salva ninguém,

simplesmente seja mais duro e egoísta

e tire um grande tempo só para você.

 

Não se sinta culpado se a sua vida é boa

em um mundo tão cheio de sofredores.

Eles sabem tocar a vida apesar das dores,

e você precisa aproveitar a vida sem rancores.

 

Ser mais uma sofredora no mundo

não diminuirá a dor de ninguém.

Portanto, agrade o próprio espírito,

e o seu bom humor será bálsamo divino.

 

A primeira generosidade é com você mesmo,

aprendendo a salvar o próprio espírito.

Se você for uma alma bem doce e feliz,

boa parte do mundo vai olhar você e sorrir.

 

Quando os anjos descem à Terra

a fim da nossa experiência humana,

eles sofrem, em algum lugar, de burnout

e são esmagados pela fadiga profana.

 

A cura para os anjos humanos

é se preocupar menos com os outros

e bem mais com as próprias asas.

Só assim voltarão a voar a beleza rara!

 

Essa poesia é o grito do bom egoísmo,

mas também um suspiro de generosidade.

Se, algum dia, uma alma cansada ler,

essa poesia pode ajudá-la a sobreviver.

 

Poesia escrita por Tatyana Casarino.


  


*Ilustração: fada angelical cansada. 


 Essa poesia é uma demonstração de superação em busca de novas formas saudáveis de caridade para quem já sofreu por ter sido "bonzinho" demais em amizades disfuncionais e relacionamentos tóxicos. 

 Demonstrar o coração bom e a disposição para ajudar pode atrair grandes armadilhas, pessoas tóxicas e aproveitadoras que decepcionam o coração de quem é bom. Por isso, devemos ser discretos até quando praticamos a caridade.

  Jesus ordenou de forma certa e sábia que não devemos praticar a nossa justiça na frente dos homens e que a doação deve ser praticada de forma oculta apenas para o Nosso Pai ver (Mateus 6:3). Esse versículo, além de ensinar a verdadeira generosidade e evitar o orgulho, também nos protege das armadilhas que o mundo oferece para quem ostenta ser bom. 

 Quando mostramos que somos pessoas boas e que gostamos de ajudar as outras, muitas pessoas se aproveitam de nós e ultrapassam os nossos limites emocionais e psíquicos. Pessoas boas têm dificuldade em dizer "não" geralmente, o que propicia várias "brechas" para pessoas tóxicas, dependentes, negativas e aproveitadoras. 

  Para viver bem no mundo e conservar a saúde mental, é preciso aprender a ser firme, a impor limites, a dizer "não" e a ser um pouco mais egoísta sem perder a essência do coração bom. 

 Querer conservar a aparência de bonzinho, ter medo de dizer "não" e ter receio de desagradar os outros apenas para sustentar a imagem de pessoa boazinha e perfeita: tudo isso é uma armadilha do ego de quem é bom e não caridade autêntica. 

  É preferível que os outros não saibam que o nosso espírito é generoso e que façam até uma má ideia de nós, considerando-nos duros, chatos e indisponíveis. Nesse sentido, sentiremos mais liberdade para dizer "sim" e "não" em cada distinto momento sem cairmos no orgulho de querer ser a pessoa perfeita aos olhos dos outros. 

  Quanto à caridade, essa deve ser praticada no oculto e no silêncio. Ninguém precisa ver a nossa essência generosa nem aplaudir o nosso lado bom. Além do mais, as formas mais saudáveis de caridade são leves, simples, práticas e discretas. 

   Devemos encontrar a nossa medida, a nossa vocação e o nosso jeito de praticar o bem. Há pessoas que são impressionáveis demais para ajudar pessoas negativas, por exemplo, sendo mais vocacionadas para doações práticas e trabalhos voluntários de caráter mais social e menos psicológico. 

  Querer abraçar o mundo, trabalhar o máximo, ajudar a todos e esquecer de si mesmo pode acarretar a Síndrome de Bournout, uma síndrome tão falada nos dias atuais, ou ainda um distúrbio pouco falado: a fadiga por compaixão. 

  A Fadiga por Compaixão também conhecida como estresse traumático secundário (ETS) pode ser confundida com a Síndrome do Pânico e com a Síndrome de Bournout. Trata-se de uma condição que traz desesperança, diminuição do prazer de viver, cansaço extremo (físico, emocional e mental), insônia, pesadelos, ansiedade, angústia e sentimentos de incompetência e insegurança.

   A Fadiga por Compaixão foi diagnosticada em enfermeiras na década de 1960 e voltou ao debate na área da saúde desde que os profissionais de saúde da linha de frente da COVID-19 se mostraram exaustos nos últimos anos. 

  Além dos profissionais da área da saúde como médicos, psicólogos e enfermeiros, a Fadiga por Compaixão é encontrada em outros profissionais como advogados, assistentes sociais, trabalhadores de serviços voluntários e religiosos. 

  Pessoas muito generosas que ajudam pessoas negativas demais ou que sofreram desastres desenvolvem Fadiga por Compaixão quando gastam toda a sua energia para tentar "salvar" as pessoas e produzir bons frutos no mundo. 

   Ocorre que, muitas vezes, a generosidade não dá frutos. E, por mais que a pessoa generosa seja abnegada e não queira frutos para ela mesma nem recompensa, ela sempre deseja ver que o bem já feito trouxe algum fruto proveitoso para a pessoa ajudada ou um legado no mundo. Ao perceber que os seus conselhos e ajuda não adiantam nada, a pessoa generosa se sente "enxugando gelo", o que acarreta sensações de "derrota" e incompetência.

   Médicos que perdem pacientes desenganados pela medicina, psicólogos que descobrem o suicídio de um paciente após anos de terapia e pessoas conselheiras que sofrem com as atitudes tóxicas de seus amigos acabam se tornando traumatizados. Tudo isso é terreno para a Fadiga por Compaixão. 

   Advogados que não conseguem realizar os seus ideais de justiça, médicos que atendem vítimas de desastres, políticos bons que são vencidos pelos corruptos, veterinários que atendem a animais vítimas de crueldade humana e religiosos que ouvem confissões impressionantes são outros tipos de pessoas propensas a desenvolver a Fadiga por Compaixão. 

  O efeito rebote é o grande perigo da Fadiga por Compaixão: tornar-se "frio" e diminuir a compaixão em si são os meios que muitos encontram para driblar o sofrimento do excesso de compaixão. Vocês já ouviram dizer que muitos médicos são "frios" e até deixam de acreditar em Deus no exercício da Medicina? Antes de julgá-los, devemos entender que a frieza e o ceticismo foram os métodos de sobrevivência desses médicos. 

  O caminho para a cura e prevenção da Fadiga por Compaixão não é matar totalmente a compaixão em si, mas aprender a ser mais racional e pragmático quando preciso, canalizando a generosidade para obras leves que dão verdadeiros frutos sociais. 

  Aprender a se afastar de pessoas negativas e a praticar o autocuidado também são bons caminhos. Não podemos ajudar pessoas tóxicas (essas devem procurar ajuda profissional de pessoas racionais) nem querer abraçar o mundo e bancar o eterno "bonzinho". Mas podemos conservar o bom coração e a fé em Deus, conciliando essa essência cheia de ternura com razão, firmeza e autoamor. 

  O remédio é acolher a si mesmo, sendo generoso com o próprio espírito e aprendendo a ser feliz e a ter prazer de viver sem culpa. Por mais que existam sofredores no mundo, tornar-se mais um sofredor não é o caminho. Devemos sentir prazer no espírito e, através da nossa leveza e do nosso bom humor, levar um pouco mais de sorrisos e luz para o mundo. 


"Venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso (Mateus 11:28-29)". 


   



*Essa poesia transformou sofrimento em pérola.

*Essa poesia pretende ser um carinho no espírito de todo aquele que está cansado e abatido. Que todos possam encontrar Jesus Cristo!

*Se quiser saber mais sobre o assunto, digite "Fadiga por Compaixão" no Google e faça pesquisas. Descubra por si mesmo o que tudo isso significa. 

*Do ponto de vista religioso, a Fadiga por Compaixão pode ser uma provação para quem é bom. Longe de ser um motivo para desistir de ser uma pessoa boa, é o momento de mirar a luz mais alta e encontrar formas alegres e saudáveis de caridade. Muitas vezes, podemos ajudar com a leveza da nossa alegria em vez do peso do sacrifício e do cansaço. 

"Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto (Salmo 100:2)". 


Tatyana Casarino. Especialista em Direito Constitucional, advogada, escritora e poetisa. 



*Sugestão de música:


Rock - Hole - Violet


"Você deveria saber quando ir,

você deveria saber dizer "não".







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