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domingo, 31 de outubro de 2021

The House of the Dead – Análise do Game

 Olá, pessoal! Como hoje é o Dia das Bruxas, vou publicar um texto sobre a análise de um game de terror escrito pelo nosso colunista Mateus Bülow. Boa leitura!





The House of the Dead – Análise.


*Texto de Mateus Bülow, escritor de fantasia e colunista do blog. 





“Não entre na Casa... Sozinho...”.


Uma das atividades que eu mais gostava na infância era visitar o fliperama, também chamado de Arcade pelos saudosistas. Diversas máquinas esperavam pelos meninos (e algumas meninas), oferecendo desafios de todos os tipos. Os games mais populares sem dúvida eram os de luta, como Street Fighter, Mortal Kombat e Tekken, mas na época de guri eu preferia games cooperativos, como Metal Slug (um dos meus preferidos, até hoje), Aero Fighters, e o objeto da análise de hoje, House of the Dead (“Casa dos Mortos”, em inglês).

Meu primeiro contato com essa franquia de jogos de terror ocorreu no Shopping Santa Maria, onde havia uma máquina com o game House of the Dead 2 na área do arcade. Em comparação com outros games disponíveis, eu não me atrevi a colocar minhas fichas com frequência naquela máquina, pois o game dava muito medo, e eu raramente conseguia passar das primeiras fases.

Em 2002, durante uma viagem ao Mato Grosso, encontrei um arcade onde havia uma máquina com o primeiro House of the Dead, e não me atrevi a encostar um dedo no game, limitando-me a observar outros jogadores em suas desventuras. Apenas muitos anos depois eu tive acesso aos detonados em vídeos no YouTube, e fiquei surpreso ao descobrir que é possível acabar os games em menos de meia hora.

Aproveitando que estamos no Dia das Bruxas, fiz essa análise da série, lembrando que teremos um remake do primeiro game para Nintendo Switch. Sei que existem outras continuações da franquia, mas para economizar tempo, falarei apenas do game original e a parte dois, os dois únicos games de terror que joguei na vida (e provavelmente os últimos, também...). Sem mais delongas, prepare suas armas, e não entre na casa, ao menos não sem um companheiro...


Um pouco de história:





Antes de seguirmos tratando de pontos positivos e negativos, vamos falar da concepção da série, seus criadores, e os enredos dos primeiros jogos. Em 1994, o diretor de produção de jogos Takashi Oda juntou-se a um time desenvolvedor da Sega, chamado AM-1. Oda já trabalhava com o mercado dos árcades havia algum tempo, e desejava fazer um game no gênero Light Gun. Para quem não conhece a nomenclatura, Light Gun são aqueles jogos de pistola nos arcades, onde o jogador precisa ter boa pontaria durante a partida.

A ideia original envolveria policiais combatendo bandidos. No entanto, outro time da Sega já trabalhava com esse argumento, que se transformou em Virtua Cop, outro clássico dos arcades (lembro-me de uma máquina desse game no Shopping Monet). Oda e sua equipe retornaram à prancheta e decidiram fazer algo mais maduro e assustador, inspirando-se em filmes de terror clássicos como A Noite dos Mortos Vivos, Drácula e Frankenstein. Após dois anos de trabalho, The House of the Dead foi lançado para os arcades.

Lá pelo meio do trabalho, o grupo decidiu remover aspectos sobrenaturais e inventar uma origem “científica” para as monstruosidades encontradas pelo caminho. Devido à presença de zumbis e cientistas malucos, o primeiro House of the Dead é frequentemente comparado com a franquia Resident Evil, também surgida em 1996. A comparação não está de todo errada, mas veremos mais tarde que House of the Dead se sai melhor ao jogador, por mais valente que seja.





No game original, a história começa com o Doutor Curien, um geneticista e bioquímico interessado em descobrir o segredo da vida e da morte. Devido ao risco crescente oferecido por suas experiências, Curien teve o orçamento cortado pelo laboratório que o contratou. Para se vingar disso, o cientista decide soltar suas criações sobre os funcionários do laboratório, tornando sua mansão uma verdadeira “Casa da Morte”.





Os heróis do primeiro game são os agentes Thomas Rogan e “G”, armados apenas com suas pistolas e uma boa dose de coragem. Thomas possui razões pessoais para se envolver na empreitada horripilante, pois sua noiva trabalha como auxiliar nas pesquisas de Curien, e está perdida entre os reféns. Dependendo da pontuação do jogador, a noiva de Thomas pode aparecer viva ou transformada em outro monstro no final do game.





A continuação do primeiro House of the Dead foi lançada em 1998, e o vilão é um empresário chamado Caleb Goldman, um dos financiadores das pesquisas de Curien. O cenário do segundo game é uma cidade parecida com Veneza, na Itália, e os heróis são James Taylor e Gary Stewart, empenhados em proteger a população de uma nova onda de monstrengos. O agente “G” é o único personagem do game original a aparecer na sequência, mas sua participação se resume ao primeiro estágio.

Como visto nos parágrafos anteriores, a história geral de House of the Dead é meio “boboca”, com uma definição bem clara entre mocinhos e bandidos. O leitor talvez esteja se perguntando: “como é possível um game desses ser assustador?”. Pois bem, vamos ver agora os aspectos positivos e negativos...


Pontos positivos:


1-Jogabilidade Simples.




Assim como seu enredo, House of the Dead é simples na forma de jogar: você tem uma pistola para se defender e deve atirar em tudo o que se mover em sua direção, com exceção dos reféns. Para recarregar a arma, o jogador deve disparar para fora da tela, ou apontar a pistola em direções pré-determinadas.

O gabinete do primeiro game costumava trazer a frase do início dessa análise (“Don’t go into the House... Alone...”, no original em inglês); tratava-se de um estimulo para chamar um companheiro. Considerando o tamanho do desafio à frente, vale muito a pena convocar amigos do peito na tarefa de despachar as aberrações...

Seu objetivo é resgatar os reféns espalhados pelas fases, protegendo-os dos monstros e cuidando para não acertá-los em meio à confusão. Cada golpe sofrido ou refém abatido erroneamente pelo jogador elimina uma vida, representada numa fileira de candeeiros acesos no canto esquerdo inferior da tela. É possível adquirir mais vidas resgatando pessoas, ou então descobrindo segredos em barris, vasos e armários espalhados pelas fases.

Os dois primeiros games da franquia House of the Dead tiveram versões adaptadas aos consoles Sega Saturn e Dreamcast, e também para computadores pessoais. É possível utilizar pistolas adaptadas para jogar nos consoles e computadores, ou então usar o joystick ou o mouse no lugar das armas.


2-Uma “Fauna” diversificada.





Segundo o manual do game original disponível no Sega Saturn, Curien roubou defuntos de um cemitério próximo à mansão para suas primeiras experiências, e mais tarde usou um engenho chamado “Biorreator” para clonar os zumbis. Takashi Oda afirmou em uma entrevista que prefere usar o termo “criaturas” ao se referir às monstruosidades, mas não se importa em ver os jogadores chamando os bichos de zumbis.

Para fazer o movimento dos mortos-vivos, Oda e sua equipe usaram animação de captura de movimento, e mais tarde fizeram ajustes para deixar os zumbis menos humanos e mais “animalescos” ao se moverem. O maior desafio da equipe foi tornar os adversários resistentes aos tiros e capazes de continuarem se movimentando em direção ao jogador, necessitando muitos disparos para eliminá-los de vez.





Os produtores fizeram tipos físicos diferentes para os monstros, deixando alguns deles mais gordos, enquanto outros ficaram musculosos ou baixinhos. Alguns monstros usam ternos e gravatas, enquanto outros vestem macacões de jardineiro; tinha até uma “espécie” vestida de terno branco e chapéu, parecida com o estereótipo do malandro carioca.


O número de criaturas disponíveis nos primeiros jogos é impressionante: além do “modelo básico” que ataca mordendo e arranhando, temos zumbis armados com diversas ferramentas: machados, facas, motosserras, marretas, bolas de ferro presas em correntes, e até lançadores de chamas! No segundo game da franquia, surgem inimigos capazes de ficarem invisíveis e zumbis-ciborgues armados com espadas de laser. A título de curiosidade, o zumbi do machado apareceu no filme Detona Ralph, da Disney.


Não satisfeito com os cadáveres humanos, Curien também botou animais no caldeirão: em alguns trechos o jogador é atacado por sapos, morcegos, peixes, macacos, cachorros, corujas e até minhocas com dentes afiados. Por serem menores e mais ligeiros que os zumbis, esses adversários exigem maior rapidez do jogador, e também foram a principal razão dos game overs que tomei na adolescência.

  O nível de detalhamento não se restringe apenas à diversidade e aparência das aberrações, pois os criadores se preocuparam até mesmo com a biologia delas. Dois exemplos notáveis são os zumbis Ebitan e Kageo. O primeiro parece um emaranhado de algas, enquanto o segundo é bem magro e esquelético; essas duas “espécies” apenas podem ser encontradas em ambientes úmidos, como túneis e catacumbas.


3-Os Chefões de Fase são inspirados nas Cartas do Tarô.


 



Mesmo se tratando de horror científico, existe espaço para o misticismo em House of the Dead. Os chefes possuem nomes baseados nos Arcanos Maiores, demonstrando que Curien certamente era fascinado pela leitura de tarô. Esses monstros mais fortes sempre aparecem no final dos estágios, e o jogador precisa anular os ataques deles, enquanto causa danos acertando seus pontos fracos.

Até onde chega meu conhecimento, todos os chefões da franquia são baseados no Tarô, sendo que quatro deles aparecem no primeiro (Carruagem; Enforcado; Eremita; Mago), e cinco no segundo (Julgamento; Hierofante; Torre; Força; Imperador). Como não sei muito das continuações, eu falarei apenas dos exemplares disponíveis nos dois primeiros games, fazendo referência aos nomes originais em inglês:





Carruagem (Chariot): Um zumbi alto usando uma armadura e carregando um machado. Seu ponto fraco é uma fresta no peito.





Enforcado (Hanged Man): Uma mistura de homem e morcego que ataca lançando morcegos no jogador. Seu ponto fraco é a cabeça.




Eremita (Hermit): Uma aranha enorme. Seu ponto fraco é a boca.





Mago (Magician): Último chefão do primeiro game. O ponto fraco não é informado ao jogador, mas é possível derrotar esse bicho atirando nas frestas da armadura. O Mago aparece de novo no segundo game, servido de penúltimo chefe.





Julgamento (Judgement): Uma armadura sem cabeça, que obedece as ordens de um pequeno homem-morcego. O ponto fraco é o homem-morcego.




Hierofante (Hierophant): Um bicho aquático armado com um tridente, capaz de chamar piranhas para atacar o jogador. O ponto fraco é o coração.





Torre (Tower): Um grupo de serpentes enormes, liderado por uma grande cobra azul. Os pontos fracos estão nas bocas das criaturas.





Força (Strength): Um zumbi grandalhão encapuzado e armado com uma enorme motosserra. O ponto fraco dele é a cabeça.






Imperador (Emperor): Último chefão do segundo game. O ponto fraco não é informado ao jogador, porém ele pode ser ferido com disparos no peito.


4-Múltiplos Caminhos a serem explorados.





Durante o tiroteio contra as forças do mal em House of the Dead, o jogador não necessita se preocupar em guiar os agentes. No entanto, certas decisões e omissões durante a partida podem alterar o rumo tomado pelos personagens; quase sempre esses desvios ocorrem quando o jogador falha em salvar um refém.

O melhor exemplo do que estou falando aparece no primeiro jogo da série, quando Thomas e G atravessam uma ponte que leva à entrada da Mansão, e um zumbi aparece carregando um pesquisador, prestes a arremessar o azarado num riacho. Se os heróis forem ligeiros e salvarem o refém, eles entrarão pela porta da frente; caso contrário, Thomas e G descerão uma escadaria e infiltrarão a sinistra residência pelos esgotos.

A dificuldade dos games estimula os jogadores a se empenharem no resgate de civis, pois a falha é sinônimo de perigo pela frente. Os caminhos tomados pelos personagens após fracassarem em salvar reféns costumam tomar desvios longos, e isto significa entrar em contato com mais inimigos e perigos. No entanto, às vezes é possível encontrar itens secretos nessas ocasiões, tais como munição explosiva e moedas.

Os caminhos secretos podem ser revelados de muitas formas, além de salvar ou não salvar reféns. É possível abrir portas e cadeados com disparos, ou mesmo acionar mecanismos e elevadores usando a arma; isto pode alterar a pontuação do jogador, dependendo da rota a ser tomada, e consequentemente o final da aventura.


5-A Trilha Sonora é muito boa.







Esse ponto dispensa maiores explicações. Apenas procure pelo soundtrack no YouTube, e afine os ouvidos:

https://www.youtube.com/watch?v=-kwdsPLCVAM


https://www.youtube.com/watch?v=ZGFcKl7q71M&t=141s


https://www.youtube.com/watch?v=SytlNkS1HlA&list=PLXRkwGvXTai6HR5beIDWWoe7b8qneEkBo&index=5


6-Crítica sutil aos Ambientalistas Radicais.





Esse ponto é meio aleatório, mas eu senti vontade de falar a respeito: tenho a impressão que Takashi Oda quis botar uma paródia no vilão do segundo game, pois é impossível não soltar um riso ligeiro diante da motivação bizarra de Caleb Goldman, o responsável pela segunda “onda zumbi”.

Em diversas cenas, Goldman insiste em falar no “ciclo da vida”, que em sua visão foi violado pelos humanos, responsáveis pela poluição e o crescimento desenfreado da população terrestre. Segundo o desvairado empresário, a humanidade precisa ser “castigada” por seus atos contra a natureza, e retornar ao seu “estado original” (seja lá o que isso significa).

Goldman quer resolver esse problema usando zumbis para exterminar a humanidade, e retomar o “estado original”. É insano? Sem dúvida. Mas talvez essa seja a mensagem: não espere racionalidade e ponderação diante de fanáticos. Perto de Goldman, o Doutor Curien até parece normal da cabeça...


Sinal Amarelo: O Clima de Terror funciona muito bem. Até demais!


  Isso não é exatamente um ponto negativo, mas imagino que pode afastar jogadores entusiastas do gênero Light Gun, ou qualquer um que se assuste com facilidade. Para quem está desacostumado a jogos de terror, House of the Dead é um verdadeiro soco no estômago, e a tensão ronda a cada esquina.





Os primeiros games possuem um clima tão sombrio e pesado que o jogador sente-se intimidado antes mesmo de colocar a ficha na máquina no fliperama. Os cenários também ajudam na tarefa de deixar o jogador assustado: um bom exemplo é a Mansão do Doutor Curien, cuja fachada parece “observar” todo aquele que atravessa seus portões...

       Com tantos inimigos pelo caminho, o jogador se obriga a manter a atenção constante, antes de ser pego de surpresa. Entretanto, não são raras as ocasiões onde os bastardos surgem bem à sua frente! Quando isso ocorre, é preciso ser rápido no gatilho para evitar ser atingido, e poucos jogadores são ligeiros para evitar o pior... Como se não bastassem as surpresas, os ataques dos inimigos deixam marcas de mordidas e cortes na tela do game.

      Diversos adversários deixam sinal de sua presença, antes mesmo de surgirem à frente, quase sempre grunhindo ou batendo os pés no chão. Um dos zumbis mais horripilantes é um gorducho barbudo armado com uma motosserra. A ferramenta do monstrengo pode ser ouvida antes do balofo aparecer diante do jogador, que neste momento já está de cabelos em pé, apenas por ouvir o barulho...

Nesse aspecto, eu diria que House of the Dead se sai melhor que Resident Evil ao criar o clima de terror. Enquanto no game da Capcom é possível fugir dos monstros, aqui não existe essa escolha: atire antes, pergunte depois! Com o devido cuidado de não acertar os civis em seu caminho, obviamente...


Pontos negativos:


1-A Dublagem de House of the Dead 2 é horrível.





Virou uma “tradição” comentar esse detalhe nas análises de House of the Dead, e eu respeito tradições, ainda mais envolvendo um fato consumado. A atuação dos dubladores em House of the Dead 2 é lamentável, com destaque para o responsável pela voz de Caleb Goldman, e sua risada parecida com um pigarro.

O primeiro House of the Dead não era exatamente um primor na dublagem, mas ao menos os atores aparentavam soar assustados ou irritados quando davam vida aos personagens. Em House of the Dead 2, os protagonistas parecem entediados, e alguns reféns do sexo masculino possuem voz fina, bem parecida com a do Mickey Mouse. É muito difícil não dar risada dessas situações.


2-Momentos estranhos na Censura.


  


      Durante a produção de House of the Dead, Oda e seu time estavam cientes de que alguns mercados seriam mais difíceis de serem alcançados, devido à questão da violência. A solução encontrada por eles foi mudar da cor do sangue dos monstros, de vermelho para verde. Parece uma solução bem idiota, é verdade, mas funcionou: na Alemanha, por exemplo, existem apenas máquinas com a versão censurada.

Outro aspecto onde a censura se intrometeu foi nas falas dos personagens, removendo profanidades e palavras “fortes”, o que é ridículo em se tratando de um jogo onde o objetivo é eliminar monstros. Logo no início do primeiro game temos um exemplo disso, quando o monstro Enforcado captura a noiva de Thomas e diz “Nobody leaves here alive!” (“Ninguém sai daqui vivo!”). Nas versões censuradas, o bicho feioso diz apenas “Nobody leaves here!” (“Ninguém sai daqui!”). Bobo demais...


Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bülow. 


Mateus é gaúcho da cidade de Santa Maria/RS, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor e poeta. 


Ele tem dois grandes livros publicados:










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