Quando Deus ordenou a bênção
de anjos humanos no meio profano,
ganhamos grandes olhos profundos
que, com meiguice, espionam o mundo.
Somos os espiões de Deus
que observam o mundo.
Atraímos com a nossa beleza,
mas mostramos um néctar de pureza.
Consolamos as dores de todos,
ouvimos, com amor, suas tristezas.
Somos admirados pela bondade e beleza,
mas ninguém consola nossa ferida pureza.
Olhamos para o céu e indagamos
o porquê de consolar e não sermos consolados.
Somos admirados, mas nunca compreendidos.
Somos aplaudidos, mas nunca acolhidos.
Uma pessoa sempre nos diz:
"Você foi um anjo para mim".
Mas, o bem não é um mar de flores,
o mundo dos anjos é feito de dores.
De noite, quando o céu cobre de púrpura
a aura celeste do nosso dormitório,
as estrelas abraçam a nossa solidão pura
e o nosso espírito chora pelo mundo sórdido.
Somos indignados pelo mal do mundo
e choramos pela bondade infinita.
Nossas lágrimas cortam mais que mil espadas,
quando caem sobre a terra ressequida.
As estrelas brilham na escuridão,
e o bem dos anjos brilha nesse mundo mau.
Por trás da luz, há cansaço na imensidão
quando as nossas asas pesam em nossas costas.
Os anjos estão tristes e cansados,
seus ombros doem pelo peso das asas.
O bem é um caminho celeste e lindo,
mas manter o seu brilho é cansativo.
Deus sabe que cansa ser um anjo,
Deus sabe que ninguém limpa as nossas lágrimas.
É, por isso, que Deus nos deu asas:
para voar até Ele e ter a alma consolada.
Só Deus consola as nossas dores,
só Deus limpa as nossas lágrimas.
Sem o consolo celeste, não teríamos nada.
Sem fé, cairíamos em melancolia pesada.
Como um instrumento excêntrico de Deus,
vivemos uma missão incompreendida.
Um dia, Deus revelará quem somos de verdade,
e, na Casa do Pai, nossa alma será acolhida.
Suportando calados as nossas dores,
auxiliamos as dores do próximo.
Entregamos as nossas dores a Deus
quando sentimos Seu celestial ópio.
Os anjos, muitas vezes, são loucos em vida,
porque Deus usa as coisas loucas na Sua sabedoria.
Os anjos, muitas vezes, têm fragilidades,
porque Deus usa a força com sensibilidade.
Sempre seremos excêntricos estrangeiros
que não se encaixam em nada sobre a terra.
Apenas após a morte descobriremos semelhantes,
e seremos acolhidos pelo doce lar de onde viemos.
Por trás da beleza e da leveza,
enfrentamos as mais pesadas angústias.
Por trás da aura tão angelical e tão pura,
lutamos contra as sombras mais profundas.
Somos generosos com todos os desajustados,
porque nos identificamos com eles.
Todo anjo é um estrangeiro desajustado,
um peregrino que anda pela terra assustado.
Atrás do sol, das estrelas e da lua,
os anjos se comunicam por enigmas.
A linguagem dos anjos é a poesia,
mas, um dia, a verdade brilhará pura.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
Essa poesia retrata um mistério místico por trás de todos aqueles que não se "ajustam" bem no mundo. Muitas vezes, a excentricidade pode ser bondosa e angelical.
Sentir-se incompreendido: longe de ser uma rebeldia imatura, essa sensação de incompreensão pode trazer uma grande abertura ao entendimento de grandes verdades espirituais. E essas verdades aumentam precocemente a nossa sabedoria e maturidade. A fé cura profundamente as nossas feridas de incompreensão e solidão.
Abraçar a própria autenticidade com entendimento é compreender que Deus também ama os seus instrumentos "excêntricos" e usa o nosso jeito diferente para propagar a sua luz quando Ele quer. Se os anjos caminhassem sobre a terra, não seriam eles considerados "esquisitos" por esse mundo?
Tatyana Casarino.
Por fim, compartilho uma música que combina com a poesia:
Gregorian & Sarah Brightman - Engel (Cover da banda de Rock alemã Rammstein).
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