O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









Contador Grátis





quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A loucura no caminho da espiritualidade

 Eu estou no caminho da espiritualidade há muito tempo. E, nesse caminho, já percebi os riscos de cair na loucura (risos). Por isso, compartilharei um texto importante para ajudar o leitor que também ama o caminho da espiritualidade. Boa leitura!


  



Os 06 maiores fatores de risco da loucura no caminho da evolução espiritual:



O "Bobo" ou o "Louco". Um arcano do Tarô, um arquétipo esotérico e um mistério infinito. 



1) A expansão da consciência mal direcionada no excesso de rebeldia e loucura. 


  



 Costumamos pensar que a rebeldia e o espírito "Rock and Roll" não combinam com o conservadorismo das ideias religiosas. Entretanto, pregar princípios espirituais sólidos e diferentes da sociedade "líquida" que vivemos é bastante "Rock and Roll". 

   Existe uma rebeldia que não contraria as ordens de Deus, mas que almeja contrariar a sociedade justamente em nome de Deus. Essa é uma "rebeldia santa". Na história de quase todos os santos e pessoas iluminadas populares, havia doses de "excentricidade" neles. Existe até mesmo um belo poema de Oscar Wilde chamado "Loucos e Santos" que fala de amizade verdadeira entre almas autênticas. 

Um pouco de "loucura" do bem faz parte da expansão da consciência em quase todas as tradições religiosas. No esoterismo, existe um caminho de iluminação chamado "caminho da loucura" (extremamente perigoso), assim como no hinduísmo. 

  No espiritismo, muitos médiuns são diagnosticados com transtornos mentais quando não sabem lidar com a mediunidade. No budismo, a loucura da mente deve ser transcendida. Vencer a própria mente é a meta do budista. As religiões indianas têm a figura do avadhuta que transcende a consciência do ego e vive inconformado com as hipocrisias das convenções sociais. 

 No cristianismo, existe um caminho chamado "Loucura por Cristo", onde alguns santos são conhecidos como "santos loucos" ou "abençoados loucos". O comportamento de doar todos os seus bens materiais ao se juntar a uma ordem monástica também é considerado uma via de "Loucura por Cristo". 

 Como expandir a consciência significa ser diferente dos padrões da sociedade, a santidade e a evolução espiritual são vistas como "loucura". Infelizmente, a sociedade considera "normal" a hipocrisia, a corrupção, o espírito "morno", a ausência de caridade e o ego humano, mas vê como "loucura" as ideias transcendentes, o amor incondicional, a castidade e até mesmo a sabedoria. Como a sabedoria e a verdade doem, as pessoas perseguem os santos e todos aqueles que pregam a verdade em nome da sua zona de conforto. 

  Na tradição ortodoxa, os loucos eram adorados pelos tsares russos como santos. A loucura por Cristo era popular na Rússia no século XVI. Os santos tolos procuravam imitar a Cristo e enfrentavam todos os que estivessem no poder. Os santos loucos, na tradição ortodoxa oriental, permanecem em estado de êxtase e não se importam se o comportamento que expressam é normal ou não. 

   Muitos desses sujeitos chamados "tolos santos" andavam com trapos, murmurando orações nas ruas e apresentando falas provocativas contra os homens do poder. O primeiro tolo santo conhecido na Rússia foi Isidoro, o Abençoado. 

   Embora a "loucura" seja aceita em algumas tradições, ela é perigosa. Ao invés de gerar uma vida saudável, generosa e a concretização equilibrada dos princípios religiosos na vida prática, a loucura gera uma vida de excessos e sofrimento. Precisamos aprender a andar no "caminho do meio" entre a espiritualidade e a matéria, senão corremos o risco de cair do alto da expansão da consciência direto para o abismo. A loucura não é um caminho saudável de evolução espiritual e não temos a capacidade de suportar o seu peso. 

  Não podemos cair na soberba de que a expansão da consciência nos levará ao alto da jornada espiritual nem pensar que somos "especiais" e "melhores" do que os outros. Pregar princípios bons e diferenciados da espiritualidade e não concordar com algumas hipocrisias e pecados da sociedade faz parte do caminho espiritual, mas não podemos fugir muito da "normalidade" nem almejar uma vida extremamente espiritualizada por orgulho. 

   Também faz parte do caminho espiritual sermos humildes para admitir que somos humanos e "normais" como todos os outros -- os que estão na caminhada espiritual e os que não estão. Faz parte da evolução sair do mundo das ideias espirituais e trabalhar por uma sociedade mais generosa na prática. 

   Viver excessivamente no mundo das ideias, por mais belas e espirituais que sejam as ideias, direciona a expansão da consciência para exageros desordenados que geram a loucura. Precisamos caminhar passo por passo na jornada espiritual, com medida, humildade, prudência e equilíbrio. Até a expansão da consciência precisa de comedimento e vigilância.

  Precisamos nos adaptar à sociedade em alguma medida para termos uma vida saudável. Isso não significa abrir mão de nossa honestidade, valores, princípios espirituais ou autenticidade, mas significa ter jogo de cintura em certas adaptações inevitáveis do estilo de vida exigido pela "realidade prática" e pensar em questões práticas e materiais também. 

  Um pouco de materialismo com praticidade não faz mal e nos ajuda a inserir os nossos princípios bons da espiritualidade no cotidiano normal e nos contatos humanos do dia a dia. Cumprir metas práticas da vida nos salva do excesso de espiritualismo e da loucura. Também precisamos atender às necessidades práticas e humanas do dia a dia. 


2) A castidade e a energia Kundalini mal vivenciadas. 


  


 Muitas pessoas ficam loucas quando querem canalizar a energia sexual para a mente no caminho esotérico da castidade. Além do mais, querer forçar a subida da energia Kundalini para o Chakra Coronário (acima da cabeça) é algo que não é recomendável para amadores e iniciantes do processo espiritual. Muitas pessoas acham que despertar a subida da energia Kundalini na "iluminação" da consciência é algo inofensivo, mas é perigoso e pode gerar a loucura. 

 Existe um segredo espiritual guardado não por ascetas, mas por inventores, cientistas, poetas e artistas: a castidade é uma incrível ferramenta de aumento de inteligência e criatividade. Quando deixamos de ter relações sexuais, ficamos mais focados em atividades intelectuais e no processo da evolução espiritual e mental. 

  Não é preciso forçar nenhuma expansão da consciência, o que pode ser perigoso. A própria castidade bem vivenciada no caminho intelectual gera criatividade e expande a nossa energia mental. A maioria dos gênios eram solitários em seu processo criativo. Para algumas correntes da Psicologia, a criatividade é uma espécie de desejo sexual transmutado. 

 Para os poetas, a mulher era uma musa. Como eles não tinham a mulher em seus braços de forma carnal, eles faziam a poesia ideal. O erotismo, nas artes, somente é bonito quando não é concretizado. Se o erotismo sair do ideal, a arte vira vulgaridade. 

 Já se perguntaram o porquê das letras de músicas serem tão vulgares e decadentes hoje em dia? Porque os compositores retratam uma sexualidade vulgar e as relações efêmeras da sociedade líquida atualmente. Não há mais poetas idealistas no campo musical. 

  A castidade pode gerar muitos benefícios no caminho criativo, mas tudo tem um preço. Reprimir as energias sexuais e corporais gera uma espécie de "hiperfoco" em energias mentais e atividades intelectuais, o que causa desequilíbrio e loucura. Muitos poetas ficaram loucos nesse caminho. 

  Nesse sentido, é importante dar atenção ao corpo também. Praticar esportes, fazer Yoga, cuidar das plantas, aprender jardinagem e lidar com a terra podem ser benéficos para a saúde mental. 


3) Excessiva conexão com o mundo astral.





 Quem dá excessiva importância ao mundo astral ou espiritual pode ficar louco. Quem abre muito a mediunidade de forma despreparada pode passar a ouvir vozes, ver espíritos e ficar impressionável. Até mesmo o excesso de intuição pode deixar a pessoa excessivamente deslumbrada com os insights espirituais, o que é perigoso por suprimir a razão. E  a razão lógica e isenta de misticismo também é fundamental nos raciocínios do dia a dia. 

 Ver conexões astrais e místicas em tudo pode ser maravilhoso e muitos insights são realmente benéficos. Mas não podemos confiar excessivamente no nosso lado místico. Um pouco de lógica faz bem. O caminho certo é o equilíbrio entre o pensamento místico e o raciocínio lógico. 


4) Não saber dar importância às coisas terrenas. 




  Não adianta se sentir um guru, mas não conseguir pagar as suas contas ou esquecer de regar as plantas da casa (risos). Não adianta ser um mestre espiritual e não cumprimentar o porteiro. Não adianta ser um líder esotérico e não dar mamadeira ao seu filho quando ele está com fome. Não adianta ser um grande asceta e não lavar a louça. 

  As demandas práticas são as que vão mostrar realmente se somos pessoas boas ou não. A bondade é mais que um sentimento ideal repleto de nobres princípios espirituais: a bondade deve estar no dia a dia e no cuidado que devemos ter uns com os outros e com a nossa vida terrena. Precisamos dar a atenção necessária às coisas terrenas, pois elas não são menos importantes. Devemos ter a humildade de caminhar passo por passo no mundo terreno. 

  O excesso de concentração no mundo espiritual ideal apaga a vigilância que devemos ter no mundo prático. A vida espiritual precisa de oração e vigilância (ambas são importantes). Precisamos vigiar o nosso coração, mas também precisamos vigiar as coisas terrenas. O Mestre dos Mestres já nos ordenou: Vigiai e Orai. 


5) Entre epifanias, insights celestes e quedas: o céu e o inferno em um só dia. 


  


A "Sacerdotisa", arcano do Tarô. 


 Quem já experimentou o céu e o inferno num só dia? Eu mesma já experimentei. Muitas vezes, temos visões, intuições magníficas e encontramos verdades celestes profundas em nossa meditação. Mas, logo caímos na primeira frustração do dia a dia. Isso gera grandes altos e baixos no caminho espiritual: não saber concretizar os insights espirituais na vida prática. 

 Não pense que vai encontrar a "formula mágica" da santidade e da evolução espiritual e que vai se tornar perfeito da noite para o dia. Isso não existe. O que existe é um trabalho diário, uma batalha espiritual eterna. Devemos ser humildes em admitir que é preciso caminhar passo por passo, concretizando a espiritualidade aos poucos e encaixando nossos insights de maneira delicada no cotidiano. 

  Se você depositar toda a esperança em uma fórmula mágica de evolução espiritual, você vai levar um grande tombo espiritual e vai experimentar uma frustração terrível. Muitos até abandonam a jornada espiritual depois de frustrações deste tipo. Por isso, o mais saudável é experimentar os conceitos espirituais sem qualquer ansiedade no resultado.

  Somos humanos e sempre seremos imperfeitos. O caminho certo é o mais simples: abraçar as nossas imperfeições, conversar com Deus sobre elas e trabalhar um pouquinho a cada dia para elevar as nossas virtudes e diminuir os nossos vícios. Não fantasie muitas grandezas espirituais. Saiba que humildade é o elemento mais importante e também o mais esquecido da jornada espiritual. A serenidade da humildade em aceitar o que não podemos mudar é uma das grandes chaves da evolução espiritual verdadeira. 


6) O delicado equilíbrio entre caridade e autocuidado. 


  


Enamorados, arcano do Tarô. 


  O Mestre dos Mestres não ordenou que amássemos os outros mais do que a nós mesmos muito embora esse pensamento pareça ser o preceito espiritual embutido nas mentes espiritualistas. O Mestre dos Mestres ordenou que amássemos o próximo como a nós mesmos. E, nisso, reside o grande equilíbrio da sabedoria espiritual. 

 Devemos sim proteger a vida dos outros como protegeríamos a nossa própria vida e fazer para as pessoas tudo aquilo que desejaríamos para nós mesmos. A generosidade é parte fundamental do processo espiritual, mas o autocuidado é tão importante quanto ela. 

 Não devemos abrir mão da nossa personalidade, do nosso bem-estar e da nossa alegria pelos outros. Não devemos ter medo de dizer "não" nem de parecermos egoístas, pois precisamos lutar pelos nossos direitos também. O mal do  espiritualista é querer ser "bonzinho" e generoso demais, esquecendo de cumprir a missão que ele tem com ele próprio. 

 Nossa primeira missão espiritual é cuidar bem da nossa própria alma. Um grande preceito esotérico diz que a primeira caridade deve ser feita para nós mesmos no exercício do autocuidado. Precisamos estar bem por dentro para poder ajudar os outros alegremente. A verdadeira caridade deve ser natural e alegre, mas, infelizmente, alguns ainda associam caridade com sacrifício e melancolia. 

 Quando somos espiritualistas, parece que somos uma "antena parabólica" que atrai pessoas que precisam de ajuda (risos). Os outros veem, inconscientemente, um mestre em nós e uma pessoa que pode oferecer auxílio em suas necessidades psíquicas e espirituais. Atraímos espiritualmente quem precisa de ajuda. Ocorre que também precisamos colocar limites nas pessoas e termos a consciência de que não somos o "salvador" de ninguém. Apenas Deus salva, e nós somente podemos ser instrumentos d'Ele em alguma medida. 

 É fundamental saber a hora certa de ajudar e dizer não. É preciso saber dar conselhos duros e verdadeiros que ajudam a despertar a consciência das pessoas ao invés de fazer tudo por elas. Tudo tem limite no caminho espiritual, inclusive a caridade. 

  Para uma vida saudável e plena, é extremamente necessário que haja um equilíbrio entre caridade e autocuidado. Do contrário, se quisermos ser apenas generosos, encontraremos a fadiga espiritual e não teremos mais energias para nós mesmos nem para os outros em determinado ponto do caminho. 

  Não fantasie as suas capacidades generosas, pois somos humanos e precisamos de descanso, lazer e cuidado com as nossas necessidades também. Se não quiser experimentar a fadiga, cuide bem das suas energias e reserve um pouco delas para você mesmo. Isso não é egoísmo, mas questão de sobrevivência. No caminho da espiritualidade, amar a si mesmo é tão importante quanto amar o próximo. Amar a si mesmo vai ajudá-lo na proteção da sua alma. 

   Se você não cuidar de si mesmo e absorver muito as energias dos problemas dos outros, você pode ficar louco. Uma pessoa com sensibilidade e empatia precisa saber a hora de se fechar em sua concha e "recarregar" as suas energias. A solidão com autocuidado reabastece as energias da alma, conserva a nossa lucidez e preserva a nossa paz interior. 


Texto escrito por Tatyana Casarino. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário