O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Sarau

 



Foi de vestido branco e florido

que afastei a vergonha e o pudor.

Me casei com a poesia naquele Sarau,

onde só segui o coração e o seu ardor. 


Com um vestido branco e virginal,

andava como uma noiva na passarela.

Um impulso de coragem tomou minh'alma,

e eu caminhei até o palco dela.


Fiz poesias na noite anterior,

escrevi sentindo um raio, um esplendor.

Agarrei aquela oportunidade com amor,

afastei o tremor, refleti destemor.


Li todo o livro da famosa poetisa,

fui em seu Sarau com o brilho da brisa.

Quando chegou a hora dos novatos,

levantei minha mão com valentia.


Caminhei até o palco dos poetas.

Havia música instrumental ao fundo,

teclados, retratos, artistas e músicos.

O público iluminado estava em festa.


Quando eu peguei no microfone,

uma força misteriosa acendeu em mim.

Fiz um discurso eletrizante sobre poesias,

recebi aplausos, assobios e cortesias.


As cozinheiras pararam de cozinhar,

os faxineiros pararam de varrer,

os garçons pararam de servir.

O prédio parou e todos olhavam para mim.


E eu, que nem queria ser famosa,

recebi os holofotes da noite formosa.

Ironicamente, eu seria aquela que se esconderia,

mas uma força superior deu coragem à poesia.


A plateia foi ao delírio mais feliz

quando eu critiquei a sociedade

e defendi valores espirituais com doçura.

O champanhe explodiu, brilhou a estrela mais pura.


Recebi um abraço e um autógrafo,

ganhei a simpatia de quem eu era fã.

Mas, certa assistente literária, que me observava,

pegou no microfone e me fez perguntas difíceis.


Disseram-me que aquelas perguntas

eram um teste de pessoas invejosas.

Mas, eu era tão inocente e tão nova,

que tudo foi visto como festa pura.


Pediram que eu interpretasse uma poesia,

a poesia mais difícil de quem eu era fã.

Eu peguei no microfone e disse a todos:

"Ela quis tornar visível o indescritível".


Li uma poesia da autora em voz alta,

mas também li uma poesia de minha autoria.

Todos me olhavam com admiração,

e eu passei a ser aplaudida desde então.


Na manhã seguinte, fui vista e reconhecida

mesmo com jeans rasgado e camiseta colorida.

Eu era uma menina comum de jeans

apontada como a poetisa de Santa Maria.


Um poeta me reconheceu e me disse:

"É você aquela poetisa de ontem?"

Mas aquela poetisa com ideal e carisma

estava escondida na biblioteca da FADISMA.


Eu troquei o palco e os holofotes

pelo subterrâneo de uma biblioteca.

Prometi só subir no palco outra vez

para falar mensagens nobres com altivez.


Depois daquele Sarau, a magia:

uma simples menina virou poetisa.

E até hoje eu não sei a fórmula do carisma, 

só sei que segui um impulso de valentia.


Poesia escrita por Tatyana Casarino. 





Na semana do poeta, eu escrevi uma poesia para retratar a minha jornada no mundo da literatura. É basicamente uma poesia retratando a minha história com a poesia (risos), ou seja, é quase uma metalinguagem (risos). 

Essa poesia não é uma fantasia, mas é inteiramente baseada em fatos reais. Pode parecer um pouco egocêntrico descrever o desabrochar do reconhecimento de um talento, mas os poetas servem justamente para escrever tudo aquilo que sentimos e não temos coragem de dizer (risos). 

Em meados de 2012, eu fui convidada para participar de um sarau. O sarau se chamava "Entardecer Poético" e era administrado por uma poetisa gaúcha famosa chamada Ruth Larré. Ela tinha publicado um livro de poesias chamado "Receita de homem e outros poemas" e convocou os seus leitores e poetas novatos a participarem de um sarau. Nesse sarau, poderíamos recitar as poesias dela e poesias de nossa autoria também, apresentando nosso dom de forma inédita ao público dela. 

Eu levei uma pasta cheia de poesias de minha autoria, mas estava com vergonha de recitar os meus versos. Entretanto, resolvi seguir um impulso de coragem e, sem pensar muito, ergui a mão, me levantei e caminhei até o palco dela quando tive a oportunidade.

Quando eu subi no palco e peguei no microfone, percebi que chamei muito a atenção e cativei muitos olhares do público. Eu falei de alguns ideais, valores espirituais e poesia. Mas, fui desafiada a responder perguntas difíceis envolvendo interpretações das poesias da poetisa que eu fã. Felizmente, consegui responder às perguntas do desafio e até agradei a autora com a minha interpretação. A Ruth era um amor de pessoa (infelizmente, essa poetisa já faleceu) e me deu um autógrafo muito lindo que eu guardo com muito carinho. 

  Essa foi a minha "estreia" como poetisa aos olhos do público muito embora eu escreva poesias desde a adolescência em meus caderninhos anônimos. Muitas das minhas poesias escritas à mão foram transportadas para esse blog público logo que eu resolvi entrar no mundo da comunicação. Sou grata à Ruth Larré (in memoriam) e a todos os que acreditaram em mim. 

  Costumo dizer que me "casei" com a poesia nesse sarau. Eu usava um vestido branco de renda, e uma grande amiga na época me disse que aquele vestido parecia de uma noiva e que tinha aparência "angelical" e "virginal" (risos). Então, metaforicamente, me "casei" com a poesia aquele dia (risos). Essa é a minha história com a poesia contada através de uma poesia (risos). 


*Obs: FADISMA é o nome da Faculdade de Direito de Santa Maria que eu estudava na época. A biblioteca da FADISMA fica em um subterrâneo mesmo. 


Tatyana Casarino. Advogada, escritora e poetisa. 

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