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domingo, 31 de março de 2019

Modelos de Personagens: Aspectos estéticos e arquétipos famosos


      Olá, pessoal! Hoje a postagem tratará de um assunto muito interessante: os aspectos estéticos e emocionais dos arquétipos que mais fazem sucesso no cinema e na literatura com o público feminino. Se você é escritor e está em dúvida sobre qual tipo de personagem masculino criar para chamar a atenção do público, este texto pode te inspirar a criar personagens charmosos, populares e com aquele magnetismo específico que tem de tudo para fazer sucesso. 
   É claro que cada escritor deve ser autêntico e criar seus próprios personagens com originalidade e autenticidade. Mas, inspiração não é pecado e não é plágio. Inspirar-se em modelos arquetípicos é a forma mais segura de fazer sucesso. Afinal, como afirmava o psicólogo Jung, existe um inconsciente coletivo e os arquétipos fazem parte dele. Clássicos sempre ficarão marcados no imaginário da coletividade, e criar personagens com base em certas características tradicionais da ficção é garantia de sucesso. 




Rafael Cardoso atuando em Espelho da Vida. 


1- O bom moço 

   O bom moço é aquele personagem clássico, repleto de virtudes e atos heroicos que passa a história toda sofrendo pelos próprios sonhos e pelas armadilhas de vilões cruéis e traiçoeiros. Também chamado de "mocinho", o bom moço sofre pelas próprias virtudes (como diria o filósofo Nietzsche, é pelas próprias virtudes que mais somos castigados...) e apresenta um forte aspecto protetor em sua essência. 

    Capaz de dar a vida pela mocinha, o bom moço é um homem com as virtudes exaltadas (o autor normalmente oculta seus defeitos, o que gera críticas na modernidade pela falsa expectativa de homem perfeito criada no inconsciente coletivo feminino), brilho no olhar e largo sorriso no rosto. Gentil, o bom moço ostenta cavalheirismo, romantismo e um grande coração capaz de doar amor até o último capítulo. 
     Esteticamente, o bom moço geralmente é bonito, ou melhor, belíssimo, com aquela beleza acima do padrão. Ele ostenta tanto beleza interior quanto exterior dentro da história. Como simbolicamente o virtuoso está muito associado ao belo, o bem e a beleza andam lado a lado no mocinho. 
    O mocinho clássico é alto, de cabelos abundantes, jovem, com peito largo, corpo naturalmente musculoso e ombros largos para oferecer à amada todo aconchego e proteção. O rosto normalmente é quadrado (ostentando masculinidade e sensualidade) ou arredondado, com grandes olhos, traços simétricos, lábios proporcionais e isento de barba (pele lisa e brilhante). Usa roupas principescas, românticas e charmosas, especialmente os mocinhos de época como o Danilo (Rafael Cardoso) em Espelho da Vida (Globo). Boinas, suspensórios e camisas de cores claras e mangas compridas dobradas formam o visual romântico do bom moço. 



George Blagden, um dos meus atores favoritos, atuando em Louis XIV. 


2- O príncipe misterioso

 O príncipe misterioso, geralmente, é pálido, não muito alto, de rosto delicado e olhos pequenos. O rosto ovalado, os lábios finos e o nariz delicado formam um semblante melancólico e distante, típico de um homem filosófico e inteligente. Em regra, o príncipe misterioso é magro e não tem muitos músculos, mas seu charme intelectual e o seu magnetismo compensam tudo. 

   Diferentemente do bom moço que é gentil e sorridente, o príncipe misterioso é calado, introspectivo e sério. O seu mistério reside no fato de que o leitor/telespectador nunca sabe o que o príncipe misterioso está pensando. Muitas vezes, o príncipe misterioso está longe de ser um príncipe encantado isento de defeitos: ele tem defeitos e até mesmo um lado sombrio. Mas, a sua "virtude oculta" é o grande segredo da história e, quase sempre, é revelada e/ou lapidada pela mocinha.  
     Usa roupas de cores mais escuras, mangas esvoaçantes e suas atividades prediletas envolvem leitura, caça ou esgrima. Sabem andar à cavalo e moram em palácios grandiosos. Apesar de toda riqueza, é comum aparentar certa tristeza. Em histórias assim, a grande jornada do príncipe misterioso consistirá na descoberta da felicidade naqueles elementos que o dinheiro não compra e na busca pela sua própria virtude e verdade interior. A responsável por despertar a sua intuição é a personagem feminina da história. 




André Bankoff 


3)  O hippie 

   O hippie é um homem com rosto angelical e perfil idealista, sonhador, romântico e visionário. Extremamente sensível, o hippie sonha com a paz mundial, a liberdade plena, a dignidade humana, a fraternidade e a igualdade social. Geralmente, o hippie é um homem livre e místico que busca reformas sociais e tem apreço pela natureza. O hippie normalmente gosta de assuntos que envolvem a atmosfera New Age, tais como: sincretismo religioso, incensos, astrologia, tarô, psicologia moderna, medicina holística, velas aromáticas, filosofia indiana, vedanta, vegetarianismo e cristais. 

     O interessante do hippie é que ele surge em histórias para contrabalancear personagens muito materialistas ou do tipo "workaholic" (viciado em trabalho). Pode ser que o hippie tenha sido um workaholic engravatado no passado, que precisou passar por uma transformação radical na busca pela evolução espiritual e felicidade. Sendo assim, deixou o cabelo crescer, passou a usar roupas diferentes e largou tudo: o trabalho, a casa, o carro e o estilo de vida anterior.
     A filosofia "paz e amor", o sorriso encantador, o jeito sensível, o cabelo comprido e o olhar sereno e malemolente fazem desse personagem irresistível e magnético para o público -- especialmente o feminino. Esse personagem surge para salvar uma mocinha muito workaholic e mostrar a ela um mundo mais livre, natural e intuitivo. Na história, o grande conflito estará na falta de aceitação da família e da sociedade em relação ao amor entre uma mulher estável e com um emprego muito bom e um homem com um estilo de vida cigano. Esteticamente, o hippie tem o cabelo muito bem cuidado (mais bonito que cabelo de mulher), olhos claros e corpo atlético. 




Brad Pitt


4) O vampiro sexy

  O vampiro sexy é uma aposta boa para qualquer escritor ou cineasta (mulheres adoram sonhar com uma boa mordida no pescoço feita por um galã, hehehe). Sombrio, perturbado e complexo: assim é o vampiro de presença marcante na literatura e no cinema. Carregando traumas do passado, o vampiro é um ser noturno e vingativo que extravasa todas as emoções sombrias que costumamos reprimir ou controlar. 

   O vampiro faz sucesso, pois mexe com a nossa mente e com os nossos desejos reprimidos. Ele é pura psicologia ao representar o Id (instância da psique humana de acordo com a Teoria da Personalidade de Freud) de nossa mente, ou seja, os desejos, as vontades e as pulsões primitivas. Livres das amarras do Ego e do Superego, os vampiros agem movidos pelos instintos de prazer e satisfação ainda que os seus atos sejam considerados imorais e/ou ilegais. Os vampiros extravasam os pecados que julgamos não cometer, tais como: ira, orgulho e luxúria.
     Esteticamente, os vampiros são pálidos, de corpo atlético, cabelos compridos e olhos brilhantes. Seus lábios naturalmente avermelhados se destacam na face pálida e reforçam a ideia de que acabaram de saciar a sua sede com o pescoço de alguma mocinha. 
      Por mais que eles sejam sombrios, encantam o público a força de vontade e a luz oculta na alma deles que regem as ambições desses seres belos e tenebrosos. Por trás da casca vampiresca, existe um bom moço sufocado e vingativo que sonha com a luz de um amor verdadeiro. A obsessão do vampiro por uma bela e misteriosa mocinha deixa qualquer história ainda mais magnética e interessante. Ao longo de uma história vampiresca, é importante deixar lições de moral ocultas sobre a necessidade do exercício de autocontrole na alma humana. 


           

Rodrigo Santoro em Hilda Furacão 




5) O padre apaixonado 

  Diferentemente do vampiro que extravasa todas as suas pulsões (até as imorais), o padre seria um personagem com muito Superego (representação dos valores morais) e pouco Id. Nas histórias de amor, o padre é um mocinho que teve os ímpetos reprimidos e resolveu abandonar tudo em busca de uma missão ascética e sacerdotal. O refreamento dos prazeres mundanos e a austeridade estão presentes na vida desse mocinho até ele conhecer uma mocinha impulsiva e irreverente (como é o caso do Frei Malthus e de Hilda Furacão). 

    O padre apaixonado é um mocinho que se culpa por sentir atração pela mocinha e castiga a si mesmo com punições e isolamento. É um personagem complexo que vive com conflitos interiores sobre qual caminho seguir: a santidade ou a paixão?
      Por trás da aparente humildade, o padre apaixonado possui certa soberba espiritual e se considera mais elevado espiritualmente do que os outros personagens da trama. O mais belo elemento do romance do padre apaixonado é que, geralmente, temos a seguinte descoberta: a verdadeira virtuosa da história é a mocinha pecadora e não o padre. No desenrolar da trama, vemos os vícios por trás da soberba do padre e os gestos generosos da mocinha pecadora, a qual está sempre ajudando os outros por mais que tenha um temperamento genioso e impulsivo. 
     Contos com padres apaixonados são sempre um bom alerta sobre a verdadeira virtude e as artimanhas da soberba espiritual. Também são excelentes reflexões sobre a importância de não julgarmos qualquer pessoa: muitas vezes, aqueles que julgamos um pecador pode ser mais virtuoso que nós e manifestar a presença de Deus em sua fé e boas obras. Portanto, devemos afastar o preconceito e cultivar mais a humildade. 
        Estes paradoxos da virtude tornam a história magnética, bem como os conflitos internos do padre. Esteticamente, o padre apaixonado, em regra, tem cabelos e olhos escuros, a pele clara ou morena clara e os cabelos pretos em forma arredondada com franja comprida. Os grandes destaques estéticos do padre apaixonados são seus olhos negros profundos e repletos de melancolia, contradição, angústia e paixão. 

    

Marcos Palmeira em Porto dos Milagres


6) O bom pescador 

  O arquétipo do bom pescador é tão antigo quanto o tempo, tendo em vista que os apóstolos bíblicos são os denominados "pescadores de alma", consoante os ensinamentos de Jesus. Na ficção brasileira, porém, o bom pescador nem sempre é cristão: muitas vezes, os pescadores são de religiões afro-brasileiros e acreditam no poder dos orixás, especialmente no de Iemanjá na hora da pesca. 

    Esteticamente, o bom pescador é negro, moreno ou moreno claro, com pele bronzeada do sol, cabelos escuros e cacheados, olhos negros, sorriso simpático e largo, corpo naturalmente atlético pelos trabalhos braçais e ostenta postura altiva e certo brio apesar da humildade. 
      Em geral, suas vestes são simples, feitas de tecidos simplórios e em tons pastel. O destaque estético de seu visual reside nos acessórios: pulseiras, anéis e colares compõem o seu estilo e ajudam a transmitir o seu misticismo. O bom pescador é um dos raros homens que pode ostentar acessórios sem perder a masculinidade e a humildade. 
        O centro magnético de sua personalidade está na sua imensa fé que faz milagres quando está aliada às atitudes virtuosas e ao seu bom coração. Bons romances com pescadores envolvem mocinhas da cidade ou mocinhas ricas que aprenderão, através do contato com um pescador humilde, os verdadeiros valores da vida e da alma. 

Texto escrito por Tatyana Casarino.



Observação: Há inúmeros arquétipos e o texto de hoje não esgotou sequer metade deles hehehe. Haverá outros textos mostrando arquétipos diferentes de personagens masculinos e femininos. Aguardem! 


   

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