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sábado, 14 de julho de 2018

Conto de Humor -- O Primeiro Encontro de Catarina -- Parte II


Confiram a segunda parte do Conto de Catarina "O Primeiro Encontro de Catarina": 




Catarina desceu do carro em direção à mesa que estava Luís. Ele estava com fones de ouvido e balançava a perna direita de modo ansioso. Assim que viu Catarina, ele tirou os fones dos ouvidos e abriu um largo sorriso.
─Fiquei com medo de que não viesse. De que me desse um bolo.
─O único bolo que posso te dar é o de chocolate. ─Respondeu Catarina antes dos dois caírem em risadas.
─Tudo bem, Catarina?
─Tudo joia, Luís. ─Disse Catarina enquanto o rapaz se levantá-la para abraçá-la e dar dois beijinhos de cumprimento nas bochechas.
─Pode ficar tranquilo que eu não costumo dar bolo em ninguém. Quando eu marco alguma coisa, eu venho. Eventualmente, posso negar ou me atrasar, mas jamais deixei de comparecer em algo combinado. Desculpe pelo atraso.
─Está certo, Catarina. Aproveitei esses minutinhos para ouvir a minha playlist favorita.
─Posso saber o que o moço estava ouvindo?
─Escuta só. ─Disse o rapaz enquanto colocava os seus fones nos ouvidos dela.
─Uau! I disappear do Metallica. Eu amo esta música. Você não vai acreditar se eu te disser...
─Diga. Acredito em você.
─Eu estava ouvindo exatamente essa música enquanto me arrumava para te encontrar.
─Hum, então todo esse charme é para mim?
─Seu bobo, eu sempre gostei de me arrumar e colocar vestidos assim. ─Disse Catarina antes de soltar uma risada.
─Eu já vou ao balcão fazer o pedido. Você quer comer alguma coisa ou só tomar um refresco?
─Por enquanto, vou ficar só na Sprite mesmo. Mais tarde eu como alguma coisa. E você, o que vai querer?
─Tomarei um café.
─Vou ao balcão junto com você.
─Não, Catarina. Pode ficar sentada aí. Sua Sprite é por minha conta. Faço questão.
─Obrigada. ─Disse Catarina com um sorriso bobo nos lábios. Ela não estava acostumada a receber uma gentileza assim. Geralmente, era ela quem pagava o lanche e as bebidas de suas amigas. “Que fofo! Que bonitinho! Ele vai pagar a Sprite para mim. Não é pelo dinheiro, mas pelo gesto de cavalheirismo. Adoro gestos assim. O tempo não passou para o meu romantismo.” ─Pensou Catarina enquanto um sorriso abria os seus lábios involuntariamente.
Depois de ir ao balcão, Luís Rodolfo chegou à mesa carregando uma bandeja de plástico cinza com uma xícara de café, uma lata de Sprite, um copo de vidro, canudinhos e guardanapos.
─Gata, você aceita um conselho?
─Adoraria receber o conselho de um filósofo.
─Para de beber refrigerante.
─Por quê?─Indagou Catarina com um sorriso nos lábios enquanto tomava a Sprite dentro do copo de vidro com canudinho colorido.
─Refri contém muito açúcar e substâncias químicas que fazem mal ao organismo.
─Ah, mas eu não bebo todo dia. Minha alimentação é saudável. Me alimento todo dia de comida caseira da vovó com sucos naturais. Não vejo mal num lanche com refrigerante em alguns fins de semana. Só se vive uma vez, né?
─Você é muito argumentativa. Só foi um conselho. Sabia que sair com uma futura advogada ia dar nisso. Deixa a sua argumentação para defender os seus futuros clientes, gata. ─Disse Luís com um sorriso irônico, deixando a Catarina sem graça. “Que cara chato, implicando com o meu refri.” ─Pensou Catarina.
─Então, mudando um pouco de assunto, você é um rapaz bem religioso, não é mesmo?
─Deus é tudo na minha vida. Podemos filosofar a respeito da bíblia ou do bem e o mal.
─Sobre qual assunto você quer falar?
─Sobre as tentações do mal. Você acha que o Diabo existe?
─Sim. Existe o contraponto. É inevitável o inimigo. ─Respondeu Catarina rapidamente. “Nossa, eu sempre reclamei das futilidades das baladas e da falta de profundidade de alguns caras, mas este cara começou com um papo profundo demais para uma sexta-feira.” ─Pensou Catarina enquanto fazia uma careta. Ela não conseguia esconder suas emoções e o seu desconforto diante do papo.
─O que foi? Algum problema? Você fez uma careta.
─Ah! Eu fiz uma careta?─Indagou Catarina constrangida por deixar transparecer no rosto as emoções de dentro. ─É a repugnância pelo Diabo. ─Disse Catarina, considerando-se esperta pela resposta.   
─Eu vejo o bem e o mal como as ondas de um mar, gata. Depois de uma onda boa, sempre vem uma onda ruim. E, assim, o equilíbrio acontece na vida da gente.
─Profunda a sua colocação. ─Disse Catarina enquanto pensava em que papo poderia puxar para mudar de assunto. Naquele momento, no entanto, apenas conseguia pensar na voz de Lulu Santos cantando “Como uma onda no mar.”
─Eu sou franciscano e ambientalista.
─É mesmo? Que legal! Sempre admirei os franciscanos. Sou devota de São Francisco de Assim também. A oração de São Francisco é linda. Quanto ao meio ambiente, sou o tipo de pessoa que ama o Direito Ambiental.
─Não parece. ─Disse Luís antes de soltar uma risadinha. ─Com este salto alto e esta maquiagem, você não é o tipo de pessoa que eu diria ser franciscana ou ambientalista.
─Não entendi. Preciso arrastar sandálias franciscanas para ser devota, por acaso? Não pode sair julgando as pessoas pelas aparências. Isto não tem nada a ver com a filosofia cristã, seu filósofo roqueiro.
─Acalme-se, gata. Não precisa ficar nervosa.
─Não precisa me chamar de gata, pois eu não te dei esta liberdade. Meu nome é Catarina, por favor. Não sou nada sua. Não sou sua namorada. Sou apenas uma moça que você encontrou na igreja.
─Ok. Desculpe-me. Você está com as bochechas vermelhas de raiva e parece alterada emocionalmente. Quer que eu compre uma água?
─Não. A Sprite basta. ─Respondeu Catarina antes de respirar fundo e tomar o refrigerante pelo canudinho.
─É que nós franciscanos pregamos a humildade. Não gostamos de nos vestir com muito luxo ou chamar a atenção. E, como ambientalista, não poderia deixar de observar que os produtos químicos usados na maquiagem fazem mal ao meio ambiente. Além disso, muitos itens da cosmética são testados em animais.
─Está me chamando de metida então? Eu não combino com o universo franciscano por faltar humildade em mim, né? Só por gostar de me vestir assim ou de me maquiar, não é mesmo? A gente se arruma toda bonita para um encontro e ainda tem que ouvir isso... Putz grila, cara...
─Gata... Quer dizer, Catarina, espero que não me entenda mal...
─Eu já entendi tudo, Luís, eu já entendi tudo. Eu não sou conveniente à sua filosofia, não é mesmo? E para de me chamar de gata. No começo, era um elogio. Mas agora, você está me irritando. Quer que eu te chame de algum animal também? Tipo jacaré?
─Gata quer dizer mulher bonita.
─Eu sei o que significam as gírias. Mas vamos deixá-las de lado.
─Falou a pessoa que ainda usa a expressão “putz grila”. ─Disse Luís antes de soltar uma risada irônica.
─Não gostei de sua ironia. ─Respondeu Catarina. “Não gosto de ironia, esta característica me afasta de qualquer paquera.” ─Pensou Catarina.
─A gente não pode brincar com você, Catarina? Se continuar séria desse jeito, vai afastar todo mundo que queira se aproximar de ti. Eu vi um baita muro ao redor de ti, mas não me intimidei com ele não. Essa sua pose de orgulhosa e dona da verdade afasta os caras, viu?
─Está admitindo que me acha orgulhosa! Falou o franciscano agora! Eu gosto de bom humor e de homens que me façam rir. Mas não gosto de humor sarcástico. Existe uma grande diferença entre bom humor e humor sarcástico. Entendeu?
─A linha entre humor e sarcasmo em mim é tênue como um fio de cabelo. ─Disse Luís enquanto acariciava os cabelos de Catarina.
─Que mão boa é essa?─Indagou Catarina com a voz em tom bravo enquanto a mão de Luís escorregava pelos seus cabelos compridos e parecia ir em direção aos seios.
─Ai!─Exclamou Luís após receber um tapa na mão de Catarina.
─Mais respeito. Mais respeito, seu doido!
─Desculpe-me. Foi involuntário.
─Então, trata de controlar teu fogo aí. Só os homens fracos dizem que o fogo é involuntário.
─Está me chamando de fraco?
─Estou só pedindo respeito. ─Disse Catarina antes de abrir a bolsa e pegar um lenço cor-de-rosa. Ela colocou o lenço em volta do pescoço para cobrir o leve decote e esconder os seios.
─Você é muito engraçada. ─Disse Luís enquanto dava risada de Catarina. ─Quer valorizar este busto maravilhoso e depois quer esconder.
─Eu mostro e escondo o que eu quiser na hora que eu bem entender.
─Falou como uma feminista agora.
─Não sou exatamente o tipo feminista. Aliás, não sou do tipo que pessoa que levanta bandeiras ou ideologias.
─Falou a pessoa que me disse que também queria mudar o mundo com as ideias lá na missa da quarta-feira.
─Isto é só uma ambição. Mas uma ambição é sempre como uma estrela-guia, que serve para ser uma espécie de norteador, mas não para ser especificamente realizada. No meio do caminho, realizo missões pequenas. Quero apenas tocar as pessoas positivamente com o dom da palavra. Aliás, você fala tanto de humildade, mas porta um sonho bem grandioso de mudar o mundo. Qual é a sua, cara? Assistiu muito ao desenho animado Pink e o Cérebro na infância?
─Você está bem bravinha hoje. Nem parece aquela moça meiga que eu conheci na missa. Fala do meu sarcasmo, mas porta um humor igualmente ácido, hein?
─Gostou do meu lado fofo e agora se decepcionou com o meu lado bravo? Fique sabendo que sou doçura e acidez, meiguice e braveza. Se quiser gostar de mim, vai me aceitar assim.
─Você é difícil, hein, Catarina? Que gênio forte! Não imaginava que fosse assim. Uma fera dentro da bela. Assistiu muito ao desenho animado A Bela e a Fera?
─É, você adivinhou meu filme predileto.
─E você também adivinhou que eu gostava de Pink e Cérebro, Catarina.
─Estamos empatados então.
─É.
─Você parece irritada comigo.
─Desculpe-me. É o meu primeiro encontro e eu fiquei nervosa. Eu fiquei irritada quando disse que meu perfil parecia não se encaixar com o universo franciscano e ambientalista.
─Por quê?
─Porque eu acho que não precisamos abrir mão da vida material, das roupas bonitas e do nosso orgulho para sermos espirituais.
─São Francisco abriu mão das riquezas.
─É diferente, Luís. Ele era um santo. Santos são como estrelas-guias. Eles dão um suporte norteador, mas ninguém consegue ser como eles. Aliás, existe muito mais orgulho em querer ser santo do que em admitir o próprio orgulho, o próprio pecado e a própria humanidade em si. Somos humanos muito pequenos ainda, Luís. O orgulho espiritual de querer ser santo é muito mais perigoso do que o nosso pequeno orgulho mundano de botar um salto alto e usar um batom.
─Você filosofa bem, Catarina.
─É claro que não podemos ser gananciosos e mergulhar no materialismo supérfluo a ponto de esquecermos nossa essência espiritual. Mas podemos ter um equilíbrio entre vida material e vida espiritual. Há muito mais santidade em tolerar os desafios mundanos, os conflitos e as intempéries do dia a dia do que em fugir para um mosteiro no topo da montanha. É fácil ser santo meditando o dia inteiro sem ninguém para lhe perturbar. O difícil é estar aqui na vida, suportando o trânsito, as ruas esburacadas, as injustiças e mantendo-se honesto num país corrupto.
─Nunca tinha enxergado a evolução espiritual por este ângulo. Talvez haja mais evolução em aprender a tolerância nesse mundo difícil do que em querer mudar o mundo ou viver somente do espiritual.
─Você já leu a carta de João Paulo II aos jovens? A carta sobre a santidade na juventude? Ele dá novos conceitos à santidade. Talvez nós tenhamos que, urgentemente, levar a palavra de Deus no contexto da vida cotidiana. O mundo não muda com ideias somente, mas com atitudes. Já pensou se houvesse pessoas espirituais e caridosas disfarçadas de advogadas, médicas, policiais ou filósofas por aí?
─Eu gostava muito deste papa, mas não li esta carta.
─Então, pesquise na internet sobre ela e leia essa carta quando você chegar em sua casa após o nosso lanche.
─Hum, falando em lanche, acho que já podemos pedir alguma coisa para comer, que tal?
─Eu também acho. Mas, desta vez, eu quero pagar o meu lanche, por favor. Sou uma mulher moderna.
─Putz grila, eu trouxe pouco dinheiro. Queria pagar o seu lanche também, mas não vai dar.
─Tudo bem. Você já foi gentil em pagar o meu refri. Pelo visto, o mocinho fala putz grila também.
─É melhor falar essas expressões leves do que usar os palavrões que eu solto quando estou com meus amigos. Você é uma mocinha delicada.
─Nem tão delicada. Eu dou tapas em mãos bobas.
─Eu já percebi. Acho melhor te respeitar mesmo.
─Ainda quero visitar a paróquia de São Francisco de Assis. É muito longe daqui?
─A cinco quadras de distância. É um pouco longe. Ultimamente, estou indo à paróquia de Nossa Senhora das Dores.
─Sou muito devota de Nossa Senhora. Amo a paróquia onde a gente se viu pela primeira vez.
─Você tem cara de quem tem imagens da Virgem pela casa. Acertei?
─Como você adivinhou?
─Ah, sou meio vidente às vezes. ─Respondeu Luís antes de soltar uma risada larga e gostosa.



Catarina e Luís Rodolfo se levantaram e foram até o balcão. Ela quase tropeçou no primeiro degrau perto do balcão, já que estava de salto alto. Eles ficaram olhando o cardápio por alguns minutos.
─Eu gostaria de um hambúrguer, mas sem salada. Pode falar para o cozinheiro tirar a alface e o tomate do meu lanche, por favor?
─Sim, senhorita. ─Respondeu o atendente.
─Então, o meu pedido é um hambúrguer só com pão, carne e queijo cheddar. Ah, e me vê mais uma Sprite, por gentileza. Obrigada!─Exclamou Catarina sorridente enquanto Luís arregalava os olhos e parecia assustado diante do pedido da moça.
─Minha nossa!─Exclamou Luís antes de soltar uma risada.
─Algum problema, Luís?
─Você pede para tirar a salada do hambúrguer?
─Sim, eu não gosto de salada.
─Mas que paladar mais infantil, moça! Salada faz bem, sabia?
─O que é agora? Tá querendo dar palpite até no meu paladar? Não sou obrigada a gostar de salada.
─Bem, eu vou pedir uma salada de frutas com um suco de laranja sem açúcar. ─Disse Luís em tom mais formal enquanto se dirigia ao atendente do balcão.
─Aceita adoçante?
─Sem adoçante. O suco puro é mais saudável. O suco de vocês é natural ou industrializado?
─É natural.
─Ufa! Só gosto assim. Estou seguindo um estilo de vida vegano e fitness. Você gosta de exercícios, Catarina? Pratica alguma atividade física?
─O meu único exercício é estudar ultimamente. Para falar a verdade, nunca gostei de atividade física. Minha única atividade física é ir a pé da minha casa até a paróquia com minha vó.
─Então, como tem esse corpo bonito aí? Pura sorte?
─Deus que desenhou.
─Ah! Tá certo. Eu gosto de aprimorar o desenho que Deus fez para mim e dar uma contornada nos meus músculos.
─Percebi. ─Disse Catarina enquanto erguia uma sobrancelha e respirava fundo com uma pontada de irritação. No momento, ela se lembrou do dia que viu Luís caminhando no corredor da igreja com os braços musculosos valorizados pelos passos largos.
Quando eles se sentaram para comer, Catarina se sentiu a “gorda” do encontro. Não por ser gorda (ela tinha um corpo esbelto, aliás), mas por estar comendo um hambúrguer gorduroso diante de um rapaz que se alimentava de salada de frutas. Enquanto colocava a colher prateada em uma taça transparente com a salada de frutas, Luís observava Catarina com curiosidade. Catarina pensou que ele deveria estar zombando da alimentação dela mentalmente, mas ele estava admirando a moça em verdade.
─Você está linda.
─Obrigada. ─Disse Catarina antes de abrir um sorriso.
Nesse momento, ela percebeu que havia um pedaço de queijo cheddar grudado no seu aparelho ortodôntico. Luís se aproximava dela com os olhos fechados e um sorriso bobo nos lábios, indicando que queria beijá-la. “Não, ele não pode me beijar agora. Não depois de eu ter comido hambúrguer e estar com bafo de carne. Ai! Meu Deus! Tem um queijo cheddar grudado no meu dente. Ele não pode me beijar enquanto um queijo cheddar está grudado no meu dente. Meu primeiro beijo não pode ser assim.” ─Pensou Catarina com o coração acelerado.
─Ah, preciso pegar mais guardanapos e ketchup!─Exclamou Catarina enquanto empurrava os ombros de Luís para trás, afastando o rosto do rapaz do rosto dela.
Quando Catarina se levantou para ir até o balcão pegar mais guardanapos e ketchup, a mãe e a avó dela atravessaram a rua, com sacolas nas mãos, da loja de roupas que ficava frente à lanchonete. Dona Mila e avó Teresa resolverem se esconder atrás de uma das pilastras da lanchonete para espiar Luís e Catarina.
─Então, Catarina, tá gostando do nosso encontro?─Indagou Luís quando Catarina se sentou novamente.
─Estou gostando sim.
─Fico feliz que esteja gostando. ─Disse Luís enquanto passava a mão nos cabelos de Catarina. ─Prometo que é só no cabelo. Gosto de seu cabelo.
─Tudo bem. Percebi. Toda hora você inventa um pretexto para tocar em mim e colocar as mãos em meus cabelos.
─Isto é bem típico, né?
─Típico do quê?
─Típico de paixão. Um homem apaixonado quer estar perto da moça sempre e arranja um jeitinho para tocar as mãos e os cabelos dela de algum modo.
─Só espero que não arranje qualquer jeitinho para tocar em outros lugares, senão levará uns tabefes. ─Disse Catarina antes de soltar uma risada.
─Estou sentindo algo bem especial por ti. Este encontro reforçou o encantamento que tive logo que te vi pela primeira vez na missa. Você também tá sentindo algo especial?─Indagou Luís entusiasmado enquanto Catarina abaixava a cabeça com expressão triste. Ela detestava ter de desagradar alguém ou fazer alguém sofrer por amor. Mas ela deveria ser sincera.
─Nã. Nã. ─Gaguejou Catarina em tom de voz baixinho enquanto sentia a garganta fechando.
─O que disse?
─Não. ─Catarina soltou a palavra “não” com alguma dificuldade. ─Não senti algo especial, Luís. Me desculpe. ─Disse Catarina erguendo a cabeça timidamente.
─Não precisa me pedir desculpas. Isto não é o tipo de coisa pela qual se pede desculpas. ─Disse Luís com o tom de voz irritado e frustrado. Catarina sentiu-se angustiada por ter frustrado o rapaz de algum modo.
Ela detestava dizer “não”, mas essa era a palavra que mais salvava as pessoas de enrascadas. Afinal de contas, não se pode dizer “sim” para tudo sob o risco de virar “capacho” ou levar uma vida densa e tensa. Ela tinha a personalidade forte demais para sacrificar as suas vontades, mas ela também era diplomática o suficiente a ponto de temer desagradar as pessoas. Além do mais, ela havia chegado numa idade onde era flertada. E flertes não combinam com diplomacia. O sentimento acontece ou não. Simples assim.
Ela era uma moça que chamava a atenção dos rapazes e, sendo assim, não poderia dizer “sim” para qualquer flerte só para não desagradar. Só tinha facilidade de dizer “não” para as drogas e para os convites de baladas, mas era preciso usar mais aquela palavrinha mágica (“não”) tão temida. E não é viável ser fofa e agradável o tempo todo.
─Eu me apaixonei por você à primeira vista, Catarina. Mas, pelo visto, não rolou o mesmo com você.
─Desculpe-me, Luís. Eu não acredito em amor à primeira vista. Confesso que me senti atraída pelo seu jeito quando te vi na missa, mas não senti as borboletas no estômago e nem ouvi os sinos de amor na cabeça hoje.
 ─Para de me pedir desculpas. Por favor, você não precisa me pedir desculpas por não me querer, ok? Isto faz com que eu me sinta um coitado. E que história é essa de borboletas no estômago e sinos na cabeça?─Indagou Luís franzindo as sobrancelhas antes de soltar uma risada irônica.
─É o que eu espero sentir de alguém especial um dia. Para mim, o amor é uma casa construída tijolinho por tijolinho com o diálogo e a convivência. Não acredito em paixões à primeira vista. Você nem me conhece em profundidade.
─A sua noção de amor é muito retrógrada e sem graça. Onde fica o fogo em tudo isso?
─Toda casa tem a sua lareira, Luís. Gosto de fogo seguro e não de fogo de palha.
─Eu não vou ficar pegando no seu pé não. Não me quer, não me quer. Pronto. Acabou. Duvido você achar alguém que vai querer construir essa sua casa aí tijolinho por tijolinho. Não existe homem paciente.
─Luís, você está me ofendendo.
─Só estou te dizendo a realidade, entendeu, Catarina? Desse jeito, você vai arranjar um teimoso psicopata que vai chegar todo dia com um “tijolo” em formato de sinal para você.
─Teimoso não. Psicopata não. Perseverante sim. Quem me quiser, vai lutar por mim. Eu achei você muito impaciente.
─Não tenho paciência mesmo, Catarina. Eu sou um furacão!
─E eu sou a mistura da brisa mais leve da primavera com a tempestade. Você não tem paciência com a minha doce primavera nem como a minha ácida tempestade, pelo visto.
─Espere aí, Catarina. Eu acho que vi sua avó atrás daquela pilastra. ─Disse Luís enquanto apontava para uma pilastra vermelha.
─Vovó? Mamãe? Vocês estão aí?─Indagou Catarina enquanto Mila e Teresa saíam atrás da pilastra e caminhavam em direção à mesa de Catarina. “Ai! Que mico!”─Pensou Catarina.
─Muito prazer, Luís, eu sou a Mila. Sou a mãe de Catarina.
─O prazer é meu em conhecê-la, Dona Mila.
A avó e a mãe de Catarina se sentaram nas cadeiras da mesa de Catarina e Luís. Luís foi bem educado com elas e puxou assuntos religiosos para conversar. O encontro de Catarina tinha terminado ali. A partir daquele momento, a mãe e a avó dela dominaram o papo com o rapaz. Luís até cantou algumas músicas católicas com a avó de Catarina enquanto algumas pessoas da lanchonete olhavam para a mesa deles, deixando Catarina tímida.
A mãe de Catarina ofereceu carona ao rapaz, mas ele preferiu pegar o ônibus para voltar para a casa dele. Quando Catarina foi para a casa dela, ela colocou um pijama e se deitou.
─Simpático o rapaz. Sentiu algo por ele?
─Não deu o “clique”, mãe. Não deu o “clique”. ─Disse Catarina com o tom de voz melancólico. A expressão “clique” significava que não havia surgido qualquer “clique” dentro dela, estalo ou sentimento especial.
─Um dia, quando você menos espera o clique dá. E o clique dá com quem você menos espera também. ─Disse a mãe carinhosamente antes de dar um beijo na testa da filha.


─Assim espero, mamãe. Assim espero. É duro ser romântica e não ter alguém para amar.
─O romantismo é um estado de espírito, filha. Você não precisa namorar para sentir esse estado. Você já é doce por natureza.
─Obrigada, mãe. Boa noite. Um dia eu terei alguém para amar.
─É claro que terá.
─Te amo.
─Também te amo, filha. ─Disse a mãe enquanto saía do quarto da filha. Catarina apagou a luz do quarto, deixando apenas o abajur aceso.

Fim.


Conto escrito por Tatyana Casarino

 Confira a primeira parte do Conto:


Confira a Carta de João Paulo II aos jovens (citada na postagem):












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