Confiram a segunda parte do Conto de Catarina "O Primeiro Encontro de Catarina":
Catarina desceu do carro em direção à mesa que estava
Luís. Ele estava com fones de ouvido e balançava a perna direita de modo
ansioso. Assim que viu Catarina, ele tirou os fones dos ouvidos e abriu um
largo sorriso.
─Fiquei com medo de que não viesse. De que me desse um
bolo.
─O único bolo que posso te dar é o de chocolate. ─Respondeu
Catarina antes dos dois caírem em risadas.
─Tudo bem, Catarina?
─Tudo joia, Luís. ─Disse Catarina enquanto o rapaz se
levantá-la para abraçá-la e dar dois beijinhos de cumprimento nas bochechas.
─Pode ficar tranquilo que eu não costumo dar bolo em
ninguém. Quando eu marco alguma coisa, eu venho. Eventualmente, posso negar ou
me atrasar, mas jamais deixei de comparecer em algo combinado. Desculpe pelo
atraso.
─Está certo, Catarina. Aproveitei esses minutinhos para
ouvir a minha playlist favorita.
─Posso saber o que o moço estava ouvindo?
─Escuta só. ─Disse o rapaz enquanto colocava os seus fones
nos ouvidos dela.
─Uau! I disappear do Metallica. Eu amo esta música. Você
não vai acreditar se eu te disser...
─Diga. Acredito em você.
─Eu estava ouvindo exatamente essa música enquanto me
arrumava para te encontrar.
─Hum, então todo esse charme é para mim?
─Seu bobo, eu sempre gostei de me arrumar e colocar
vestidos assim. ─Disse Catarina antes de soltar uma risada.
─Eu já vou ao balcão fazer o pedido. Você quer comer
alguma coisa ou só tomar um refresco?
─Por enquanto, vou ficar só na Sprite mesmo. Mais tarde eu
como alguma coisa. E você, o que vai querer?
─Tomarei um café.
─Vou ao balcão junto com você.
─Não, Catarina. Pode ficar sentada aí. Sua Sprite é por
minha conta. Faço questão.
─Obrigada. ─Disse Catarina com um sorriso bobo nos lábios.
Ela não estava acostumada a receber uma gentileza assim. Geralmente, era ela
quem pagava o lanche e as bebidas de suas amigas. “Que fofo! Que bonitinho! Ele
vai pagar a Sprite para mim. Não é pelo dinheiro, mas pelo gesto de
cavalheirismo. Adoro gestos assim. O tempo não passou para o meu romantismo.”
─Pensou Catarina enquanto um sorriso abria os seus lábios involuntariamente.
Depois de ir ao balcão, Luís Rodolfo chegou à mesa
carregando uma bandeja de plástico cinza com uma xícara de café, uma lata de
Sprite, um copo de vidro, canudinhos e guardanapos.
─Gata, você aceita um conselho?
─Adoraria receber o conselho de um filósofo.
─Para de beber refrigerante.
─Por quê?─Indagou Catarina com um sorriso nos lábios
enquanto tomava a Sprite dentro do copo de vidro com canudinho colorido.
─Refri contém muito açúcar e substâncias químicas que
fazem mal ao organismo.
─Ah, mas eu não bebo todo dia. Minha alimentação é saudável.
Me alimento todo dia de comida caseira da vovó com sucos naturais. Não vejo mal
num lanche com refrigerante em alguns fins de semana. Só se vive uma vez, né?
─Você é muito argumentativa. Só foi um conselho. Sabia que
sair com uma futura advogada ia dar nisso. Deixa a sua argumentação para
defender os seus futuros clientes, gata. ─Disse Luís com um sorriso irônico,
deixando a Catarina sem graça. “Que cara chato, implicando com o meu refri.”
─Pensou Catarina.
─Então, mudando um pouco de assunto, você é um rapaz bem
religioso, não é mesmo?
─Deus é tudo na minha vida. Podemos filosofar a respeito
da bíblia ou do bem e o mal.
─Sobre qual assunto você quer falar?
─Sobre as tentações do mal. Você acha que o Diabo existe?
─Sim. Existe o contraponto. É inevitável o inimigo.
─Respondeu Catarina rapidamente. “Nossa, eu sempre reclamei das futilidades das
baladas e da falta de profundidade de alguns caras, mas este cara começou com
um papo profundo demais para uma sexta-feira.” ─Pensou Catarina enquanto fazia
uma careta. Ela não conseguia esconder suas emoções e o seu desconforto diante
do papo.
─O que foi? Algum problema? Você fez uma careta.
─Ah! Eu fiz uma careta?─Indagou Catarina constrangida por
deixar transparecer no rosto as emoções de dentro. ─É a repugnância pelo Diabo.
─Disse Catarina, considerando-se esperta pela resposta.
─Eu vejo o bem e o mal como as ondas de um mar, gata.
Depois de uma onda boa, sempre vem uma onda ruim. E, assim, o equilíbrio
acontece na vida da gente.
─Profunda a sua colocação. ─Disse Catarina enquanto
pensava em que papo poderia puxar para mudar de assunto. Naquele momento, no
entanto, apenas conseguia pensar na voz de Lulu Santos cantando “Como uma onda
no mar.”
─Eu sou franciscano e ambientalista.
─É mesmo? Que legal! Sempre admirei os franciscanos. Sou
devota de São Francisco de Assim também. A oração de São Francisco é linda.
Quanto ao meio ambiente, sou o tipo de pessoa que ama o Direito Ambiental.
─Não parece. ─Disse Luís antes de soltar uma risadinha.
─Com este salto alto e esta maquiagem, você não é o tipo de pessoa que eu diria
ser franciscana ou ambientalista.
─Não entendi. Preciso arrastar sandálias franciscanas para
ser devota, por acaso? Não pode sair julgando as pessoas pelas aparências. Isto
não tem nada a ver com a filosofia cristã, seu filósofo roqueiro.
─Acalme-se, gata. Não precisa ficar nervosa.
─Não precisa me chamar de gata, pois eu não te dei esta
liberdade. Meu nome é Catarina, por favor. Não sou nada sua. Não sou sua
namorada. Sou apenas uma moça que você encontrou na igreja.
─Ok. Desculpe-me. Você está com as bochechas vermelhas de
raiva e parece alterada emocionalmente. Quer que eu compre uma água?
─Não. A Sprite basta. ─Respondeu Catarina antes de
respirar fundo e tomar o refrigerante pelo canudinho.
─É que nós franciscanos pregamos a humildade. Não gostamos
de nos vestir com muito luxo ou chamar a atenção. E, como ambientalista, não
poderia deixar de observar que os produtos químicos usados na maquiagem fazem
mal ao meio ambiente. Além disso, muitos itens da cosmética são testados em
animais.
─Está me chamando de metida então? Eu não combino com o
universo franciscano por faltar humildade em mim, né? Só por gostar de me
vestir assim ou de me maquiar, não é mesmo? A gente se arruma toda bonita para
um encontro e ainda tem que ouvir isso... Putz grila, cara...
─Gata... Quer dizer, Catarina, espero que não me entenda
mal...
─Eu já entendi tudo, Luís, eu já entendi tudo. Eu não sou
conveniente à sua filosofia, não é mesmo? E para de me chamar de gata. No começo,
era um elogio. Mas agora, você está me irritando. Quer que eu te chame de algum
animal também? Tipo jacaré?
─Gata quer dizer mulher bonita.
─Eu sei o que significam as gírias. Mas vamos deixá-las de
lado.
─Falou a pessoa que ainda usa a expressão “putz grila”.
─Disse Luís antes de soltar uma risada irônica.
─Não gostei de sua ironia. ─Respondeu Catarina. “Não gosto
de ironia, esta característica me afasta de qualquer paquera.” ─Pensou
Catarina.
─A gente não pode brincar com você, Catarina? Se continuar
séria desse jeito, vai afastar todo mundo que queira se aproximar de ti. Eu vi
um baita muro ao redor de ti, mas não me intimidei com ele não. Essa sua pose
de orgulhosa e dona da verdade afasta os caras, viu?
─Está admitindo que me acha orgulhosa! Falou o franciscano
agora! Eu gosto de bom humor e de homens que me façam rir. Mas não gosto de
humor sarcástico. Existe uma grande diferença entre bom humor e humor
sarcástico. Entendeu?
─A linha entre humor e sarcasmo em mim é tênue como um fio
de cabelo. ─Disse Luís enquanto acariciava os cabelos de Catarina.
─Que mão boa é essa?─Indagou Catarina com a voz em tom
bravo enquanto a mão de Luís escorregava pelos seus cabelos compridos e parecia
ir em direção aos seios.
─Ai!─Exclamou Luís após receber um tapa na mão de
Catarina.
─Mais respeito. Mais respeito, seu doido!
─Desculpe-me. Foi involuntário.
─Então, trata de controlar teu fogo aí. Só os homens
fracos dizem que o fogo é involuntário.
─Está me chamando de fraco?
─Estou só pedindo respeito. ─Disse Catarina antes de abrir
a bolsa e pegar um lenço cor-de-rosa. Ela colocou o lenço em volta do pescoço
para cobrir o leve decote e esconder os seios.
─Você é muito engraçada. ─Disse Luís enquanto dava risada
de Catarina. ─Quer valorizar este busto maravilhoso e depois quer esconder.
─Eu mostro e escondo o que eu quiser na hora que eu bem
entender.
─Falou como uma feminista agora.
─Não sou exatamente o tipo feminista. Aliás, não sou do
tipo que pessoa que levanta bandeiras ou ideologias.
─Falou a pessoa que me disse que também queria mudar o
mundo com as ideias lá na missa da quarta-feira.
─Isto é só uma ambição. Mas uma ambição é sempre como uma
estrela-guia, que serve para ser uma espécie de norteador, mas não para ser
especificamente realizada. No meio do caminho, realizo missões pequenas. Quero
apenas tocar as pessoas positivamente com o dom da palavra. Aliás, você fala
tanto de humildade, mas porta um sonho bem grandioso de mudar o mundo. Qual é a
sua, cara? Assistiu muito ao desenho animado Pink e o Cérebro na infância?
─Você está bem bravinha hoje. Nem parece aquela moça meiga
que eu conheci na missa. Fala do meu sarcasmo, mas porta um humor igualmente
ácido, hein?
─Gostou do meu lado fofo e agora se decepcionou com o meu
lado bravo? Fique sabendo que sou doçura e acidez, meiguice e braveza. Se
quiser gostar de mim, vai me aceitar assim.
─Você é difícil, hein, Catarina? Que gênio forte! Não
imaginava que fosse assim. Uma fera dentro da bela. Assistiu muito ao desenho
animado A Bela e a Fera?
─É, você adivinhou meu filme predileto.
─E você também adivinhou que eu gostava de Pink e Cérebro,
Catarina.
─Estamos empatados então.
─É.
─Você parece irritada comigo.
─Desculpe-me. É o meu primeiro encontro e eu fiquei
nervosa. Eu fiquei irritada quando disse que meu perfil parecia não se encaixar
com o universo franciscano e ambientalista.
─Por quê?
─Porque eu acho que não precisamos abrir mão da vida
material, das roupas bonitas e do nosso orgulho para sermos espirituais.
─São Francisco abriu mão das riquezas.
─É diferente, Luís. Ele era um santo. Santos são como
estrelas-guias. Eles dão um suporte norteador, mas ninguém consegue ser como
eles. Aliás, existe muito mais orgulho em querer ser santo do que em admitir o
próprio orgulho, o próprio pecado e a própria humanidade em si. Somos humanos
muito pequenos ainda, Luís. O orgulho espiritual de querer ser santo é muito
mais perigoso do que o nosso pequeno orgulho mundano de botar um salto alto e
usar um batom.
─Você filosofa bem, Catarina.
─É claro que não podemos ser gananciosos e mergulhar no
materialismo supérfluo a ponto de esquecermos nossa essência espiritual. Mas
podemos ter um equilíbrio entre vida material e vida espiritual. Há muito mais
santidade em tolerar os desafios mundanos, os conflitos e as intempéries do dia
a dia do que em fugir para um mosteiro no topo da montanha. É fácil ser santo
meditando o dia inteiro sem ninguém para lhe perturbar. O difícil é estar aqui
na vida, suportando o trânsito, as ruas esburacadas, as injustiças e
mantendo-se honesto num país corrupto.
─Nunca tinha enxergado a evolução espiritual por este
ângulo. Talvez haja mais evolução em aprender a tolerância nesse mundo difícil
do que em querer mudar o mundo ou viver somente do espiritual.
─Você já leu a carta de João Paulo II aos jovens? A carta
sobre a santidade na juventude? Ele dá novos conceitos à santidade. Talvez nós
tenhamos que, urgentemente, levar a palavra de Deus no contexto da vida
cotidiana. O mundo não muda com ideias somente, mas com atitudes. Já pensou se
houvesse pessoas espirituais e caridosas disfarçadas de advogadas, médicas,
policiais ou filósofas por aí?
─Eu gostava muito deste papa, mas não li esta carta.
─Então, pesquise na internet sobre ela e leia essa carta quando
você chegar em sua casa após o nosso lanche.
─Hum, falando em lanche, acho que já podemos pedir alguma
coisa para comer, que tal?
─Eu também acho. Mas, desta vez, eu quero pagar o meu
lanche, por favor. Sou uma mulher moderna.
─Putz grila, eu trouxe pouco dinheiro. Queria pagar o seu
lanche também, mas não vai dar.
─Tudo bem. Você já foi gentil em pagar o meu refri. Pelo
visto, o mocinho fala putz grila também.
─É melhor falar essas expressões leves do que usar os
palavrões que eu solto quando estou com meus amigos. Você é uma mocinha
delicada.
─Nem tão delicada. Eu dou tapas em mãos bobas.
─Eu já percebi. Acho melhor te respeitar mesmo.
─Ainda quero visitar a paróquia de São Francisco de Assis.
É muito longe daqui?
─A cinco quadras de distância. É um pouco longe.
Ultimamente, estou indo à paróquia de Nossa Senhora das Dores.
─Sou muito devota de Nossa Senhora. Amo a paróquia onde a
gente se viu pela primeira vez.
─Você tem cara de quem tem imagens da Virgem pela casa.
Acertei?
─Como você adivinhou?
─Ah, sou meio vidente às vezes. ─Respondeu Luís antes de soltar
uma risada larga e gostosa.
Catarina e Luís Rodolfo se levantaram e foram até o
balcão. Ela quase tropeçou no primeiro degrau perto do balcão, já que estava de
salto alto. Eles ficaram olhando o cardápio por alguns minutos.
─Eu gostaria de um hambúrguer, mas sem salada. Pode falar
para o cozinheiro tirar a alface e o tomate do meu lanche, por favor?
─Sim, senhorita. ─Respondeu o atendente.
─Então, o meu pedido é um hambúrguer só com pão, carne e
queijo cheddar. Ah, e me vê mais uma Sprite, por gentileza. Obrigada!─Exclamou
Catarina sorridente enquanto Luís arregalava os olhos e parecia assustado
diante do pedido da moça.
─Minha nossa!─Exclamou Luís antes de soltar uma risada.
─Algum problema, Luís?
─Você pede para tirar a salada do hambúrguer?
─Sim, eu não gosto de salada.
─Mas que paladar mais infantil, moça! Salada faz bem,
sabia?
─O que é agora? Tá querendo dar palpite até no meu
paladar? Não sou obrigada a gostar de salada.
─Bem, eu vou pedir uma salada de frutas com um suco de
laranja sem açúcar. ─Disse Luís em tom mais formal enquanto se dirigia ao
atendente do balcão.
─Aceita adoçante?
─Sem adoçante. O suco puro é mais saudável. O suco de
vocês é natural ou industrializado?
─É natural.
─Ufa! Só gosto assim. Estou seguindo um estilo de vida vegano e fitness. Você gosta de exercícios, Catarina? Pratica alguma
atividade física?
─O meu único exercício é estudar ultimamente. Para falar a
verdade, nunca gostei de atividade física. Minha única atividade física é ir a
pé da minha casa até a paróquia com minha vó.
─Então, como tem esse corpo bonito aí? Pura sorte?
─Deus que desenhou.
─Ah! Tá certo. Eu gosto de aprimorar o desenho que Deus
fez para mim e dar uma contornada nos meus músculos.
─Percebi. ─Disse Catarina enquanto erguia uma sobrancelha
e respirava fundo com uma pontada de irritação. No momento, ela se lembrou do
dia que viu Luís caminhando no corredor da igreja com os braços musculosos
valorizados pelos passos largos.
Quando eles se sentaram para comer, Catarina se sentiu a
“gorda” do encontro. Não por ser gorda (ela tinha um corpo esbelto, aliás), mas
por estar comendo um hambúrguer gorduroso diante de um rapaz que se alimentava
de salada de frutas. Enquanto colocava a colher prateada em uma taça
transparente com a salada de frutas, Luís observava Catarina com curiosidade.
Catarina pensou que ele deveria estar zombando da alimentação dela mentalmente,
mas ele estava admirando a moça em verdade.
─Você está linda.
─Obrigada. ─Disse Catarina antes de abrir um sorriso.
Nesse momento, ela percebeu que havia um pedaço de queijo
cheddar grudado no seu aparelho ortodôntico. Luís se aproximava dela com os
olhos fechados e um sorriso bobo nos lábios, indicando que queria beijá-la.
“Não, ele não pode me beijar agora. Não depois de eu ter comido hambúrguer e
estar com bafo de carne. Ai! Meu Deus! Tem um queijo cheddar grudado no meu
dente. Ele não pode me beijar enquanto um queijo cheddar está grudado no meu
dente. Meu primeiro beijo não pode ser assim.” ─Pensou Catarina com o coração
acelerado.
─Ah, preciso pegar mais guardanapos e ketchup!─Exclamou Catarina enquanto empurrava os ombros de Luís
para trás, afastando o rosto do rapaz do rosto dela.
Quando Catarina se levantou para ir até o balcão pegar
mais guardanapos e ketchup, a mãe e a
avó dela atravessaram a rua, com sacolas nas mãos, da loja de roupas que ficava
frente à lanchonete. Dona Mila e avó Teresa resolverem se esconder atrás de uma
das pilastras da lanchonete para espiar Luís e Catarina.
─Então, Catarina, tá gostando do nosso encontro?─Indagou
Luís quando Catarina se sentou novamente.
─Estou gostando sim.
─Fico feliz que esteja gostando. ─Disse Luís enquanto
passava a mão nos cabelos de Catarina. ─Prometo que é só no cabelo. Gosto de
seu cabelo.
─Tudo bem. Percebi. Toda hora você inventa um pretexto
para tocar em mim e colocar as mãos em meus cabelos.
─Isto é bem típico, né?
─Típico do quê?
─Típico de paixão. Um homem apaixonado quer estar perto da
moça sempre e arranja um jeitinho para tocar as mãos e os cabelos dela de algum
modo.
─Só espero que não arranje qualquer jeitinho para tocar em
outros lugares, senão levará uns tabefes. ─Disse Catarina antes de soltar uma
risada.
─Estou sentindo algo bem especial por ti. Este encontro
reforçou o encantamento que tive logo que te vi pela primeira vez na missa.
Você também tá sentindo algo especial?─Indagou Luís entusiasmado enquanto
Catarina abaixava a cabeça com expressão triste. Ela detestava ter de
desagradar alguém ou fazer alguém sofrer por amor. Mas ela deveria ser sincera.
─Nã. Nã. ─Gaguejou Catarina em tom de voz baixinho
enquanto sentia a garganta fechando.
─O que disse?
─Não. ─Catarina soltou a palavra “não” com alguma
dificuldade. ─Não senti algo especial, Luís. Me desculpe. ─Disse Catarina
erguendo a cabeça timidamente.
─Não precisa me pedir desculpas. Isto não é o tipo de
coisa pela qual se pede desculpas. ─Disse Luís com o tom de voz irritado e
frustrado. Catarina sentiu-se angustiada por ter frustrado o rapaz de algum
modo.
Ela detestava dizer “não”, mas essa era a palavra que mais
salvava as pessoas de enrascadas. Afinal de contas, não se pode dizer “sim”
para tudo sob o risco de virar “capacho” ou levar uma vida densa e tensa. Ela
tinha a personalidade forte demais para sacrificar as suas vontades, mas ela
também era diplomática o suficiente a ponto de temer desagradar as pessoas.
Além do mais, ela havia chegado numa idade onde era flertada. E flertes não
combinam com diplomacia. O sentimento acontece ou não. Simples assim.
Ela era uma moça que chamava a atenção dos rapazes e, sendo
assim, não poderia dizer “sim” para qualquer flerte só para não desagradar. Só
tinha facilidade de dizer “não” para as drogas e para os convites de baladas,
mas era preciso usar mais aquela palavrinha mágica (“não”) tão temida. E não é
viável ser fofa e agradável o tempo todo.
─Eu me apaixonei por você à primeira vista, Catarina. Mas,
pelo visto, não rolou o mesmo com você.
─Desculpe-me, Luís. Eu não acredito em amor à primeira
vista. Confesso que me senti atraída pelo seu jeito quando te vi na missa, mas
não senti as borboletas no estômago e nem ouvi os sinos de amor na cabeça hoje.
─Para de me pedir
desculpas. Por favor, você não precisa me pedir desculpas por não me querer,
ok? Isto faz com que eu me sinta um coitado. E que história é essa de borboletas
no estômago e sinos na cabeça?─Indagou Luís franzindo as sobrancelhas antes de
soltar uma risada irônica.
─É o que eu espero sentir de alguém especial um dia. Para
mim, o amor é uma casa construída tijolinho por tijolinho com o diálogo e a
convivência. Não acredito em paixões à primeira vista. Você nem me conhece em
profundidade.
─A sua noção de amor é muito retrógrada e sem graça. Onde
fica o fogo em tudo isso?
─Toda casa tem a sua lareira, Luís. Gosto de fogo seguro e
não de fogo de palha.
─Eu não vou ficar pegando no seu pé não. Não me quer, não
me quer. Pronto. Acabou. Duvido você achar alguém que vai querer construir essa
sua casa aí tijolinho por tijolinho. Não existe homem paciente.
─Luís, você está me ofendendo.
─Só estou te dizendo a realidade, entendeu, Catarina?
Desse jeito, você vai arranjar um teimoso psicopata que vai chegar todo dia com
um “tijolo” em formato de sinal para você.
─Teimoso não. Psicopata não. Perseverante sim. Quem me
quiser, vai lutar por mim. Eu achei você muito impaciente.
─Não tenho paciência mesmo, Catarina. Eu sou um furacão!
─E eu sou a mistura da brisa mais leve da primavera com a tempestade.
Você não tem paciência com a minha doce primavera nem como a minha ácida
tempestade, pelo visto.
─Espere aí, Catarina. Eu acho que vi sua avó atrás daquela
pilastra. ─Disse Luís enquanto apontava para uma pilastra vermelha.
─Vovó? Mamãe? Vocês estão aí?─Indagou Catarina enquanto
Mila e Teresa saíam atrás da pilastra e caminhavam em direção à mesa de Catarina.
“Ai! Que mico!”─Pensou Catarina.
─Muito prazer, Luís, eu sou a Mila. Sou a mãe de Catarina.
─O prazer é meu em conhecê-la, Dona Mila.
A avó e a mãe de Catarina se sentaram nas cadeiras da mesa
de Catarina e Luís. Luís foi bem educado com elas e puxou assuntos religiosos
para conversar. O encontro de Catarina tinha terminado ali. A partir daquele
momento, a mãe e a avó dela dominaram o papo com o rapaz. Luís até cantou
algumas músicas católicas com a avó de Catarina enquanto algumas pessoas da
lanchonete olhavam para a mesa deles, deixando Catarina tímida.
A mãe de Catarina ofereceu carona ao rapaz, mas ele
preferiu pegar o ônibus para voltar para a casa dele. Quando Catarina foi para
a casa dela, ela colocou um pijama e se deitou.
─Simpático o rapaz. Sentiu algo por ele?
─Não deu o “clique”, mãe. Não deu o “clique”. ─Disse
Catarina com o tom de voz melancólico. A expressão “clique” significava que não
havia surgido qualquer “clique” dentro dela, estalo ou sentimento especial.
─Um dia, quando você menos espera o clique dá. E o clique
dá com quem você menos espera também. ─Disse a mãe carinhosamente antes de dar
um beijo na testa da filha.
─Assim espero, mamãe. Assim espero. É duro ser romântica e
não ter alguém para amar.
─O romantismo é um estado de espírito, filha. Você não
precisa namorar para sentir esse estado. Você já é doce por natureza.
─Obrigada, mãe. Boa noite. Um dia eu terei alguém para
amar.
─É claro que terá.
─Te amo.
─Também te amo, filha. ─Disse a mãe enquanto saía do
quarto da filha. Catarina apagou a luz do quarto, deixando apenas o abajur aceso.
Fim.
Conto escrito por Tatyana Casarino
Confira a Carta de João Paulo II aos jovens (citada na postagem):
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