De Mordida em Mordida

A lua azul surge no horizonte 
arrebentando as emoções ardentes
e libertando os anseios do ventre.
Para cada mulher, a lua é uma fonte. 

E, durante a noite fria e nebulosa,
a alma passional é agitada.
Uma vampira bela e charmosa
caminha pelas ruas encharcadas.

Sob a capa de chuva negra
e o guarda-chuva azul escuro,
a vampira sedutora observa atenta
as suas vítimas envolvidas por vultos. 

Ela emana vultos de suas mãos
que embriagam os homens em teias.
E, quando eles tentam fugir em vão,
a bela sopra aromas de cereja.

Entorpecidos pelos aromas viciantes,
os homens caminham em direção à vampira.
Ao invés de fugirem, ficam hipnotizados
e acabam se rendendo à magia num instante.

Quando o primeiro homem se aproximou,
a vampira suspirou e logo gargalhou. 
Logo, ela atacou o homem cabisbaixo
com o veneno expelido dos dentes afiados.

E, assim, de mordida em mordida,
a Vampira preenche a sua noite.
Quando a lua sai e amanhece o dia,
ela se recolhe em seus negros montes.

Poesia escrita por Tatyana Casarino 

  A poesia está inserida no gênero gótico (gótico leve) por retratar o universo vampiresco. A literatura tem mais exemplos de vampiros sedutores do que vampiras hehehe. É comum vermos um vampiro bonitão e "Don Juan" que seduz mocinhas nas manifestações artísticas antigas e modernas (poesia, literatura, cinema, teatro...) e, no entanto, é raro vermos uma vampira no mesmo papel. Taty Casarino gosta de escrever poesias que elevem as mulheres e que demonstrem a sua força e poder. A poetisa busca mostrar o poder interior feminino e o seu universo de desejos. 
   Toda mulher é dotada de grande poder, sensualidade, vigor, força, inteligência, sabedoria, sensibilidade, beleza e magnetismo, mas infelizmente muitas mulheres atualmente se esqueceram disso. Uma mulher tem tantos desejos como qualquer homem, mas infelizmente ainda é um tabu falar de sexualidade feminina. A mulher é ensinada a ser passiva e "difícil" diante de um cortejo, por exemplo. 
     Quando uma mulher cede aos seus desejos, ela acaba sendo mais julgada socialmente do que um homem. Ela acaba ouvindo dos outros que deveria ter usado roupas mais comportadas, ter sido mais "difícil", ter recusado o cortejo, ter se afastado do homem... A mulher é sempre a culpada pela paixão desde Eva hehehe. Todavia, essa repressão social é uma tremenda bobagem, pois todo ser humano tem a essência livre para amar e desejar. 
      Por um mundo onde nós (mulheres) não precisamos ficar abaixando a saia constrangidas toda hora que o vento passa ou escondendo os seios a todo instante como se fosse pecado o decote (até pouco tempo atrás era proibido amamentar em público). Por um mundo onde nenhuma mulher seja enclausurada pelo puritanismo conservador e nem mesmo pela ideologia feminista... As ideologias são mais prisões e não liberdades... Sem contar que há uma parcela feminista (corrente advinda dos Estados Unidos) que é tão "puritana" quanto o conservadorismo antigo... 
        Ser desejada não é pecado e não significa que somos objetos de desejo destituídos de humanidade como algumas feministas proclamam por aí. Desde que o homem respeite a alma feminina e não apenas deseje o corpo, não vejo mal em gostar de ser desejada por seu companheiro. 
        Todo mundo gosta de sentir-se desejado, faz bem para a autoestima, para o poder pessoal e para a sexualidade da mulher (sabe-se que grande parte da sexualidade feminina depende do psicológico e da autoconfiança). A vampira retratada na poesia, no entanto, usa o fato de ser desejável a favor dela, fazendo dos homens as suas vítimas e "objetos de desejo". Logo, a vampira é uma demonstração de poder por reverter os papéis. 
           Não se trata de uma vampira empoderada, mas de uma vampira poderosa. Não gosto da palavra empoderada. Não gosto da palavra empoderamento. Acredito que a palavra Poder, por si só, significa muito e dispensa qualquer prefixo ou sufixo. Gosto de Poder. A palavra empoderamento dá a impressão que a mulher está vestindo um poder que nunca foi dela ou que está tomando um poder que não existe. Na verdade, sempre existiu uma fonte de poder dentro da mulher. O poder é assumido na autoconfiança. Sou intimista e não socialista. Acredito que não podemos esperar que a sociedade nos dê o poder, nós temos que exalar o poder de nosso íntimo para conquistar os nossos direitos consequentemente. O Poder está dentro de nós. 
         Por fim, salienta-se que o que importa é ser feliz. Liberte-se da sociedade. Liberte-se das repressões. Liberte-se até mesmo de suas ideologias. A verdadeira liberdade está em ser você mesmo com tranquilidade e autoconfiança.  


Tatyana Casarino