O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O Rugido do Leão




Na madrugada fria e estrelada,
o mar inteiro se cobre de prata.
Há uma sereia dentro da concha branca
portando uma espada e uma balança.

A concha gigante logo chacoalha,
ela se expande na bruma prateada.
Emergindo para a calma superfície,
ela se abre como a concha de Afrodite.

A sereia fica de pé pela primeira vez
com suas novas pernas humanas.
Sua postura tem beleza e altivez
como uma sacerdotisa na terra profana.

Flutuando sobre o mar prateado,
a nova mulher avista a praia.
Há um leão e um caranguejo
duelando na astral batalha.

A batalha parecia excêntrica e desigual,
mas logo se revelou surpreendente.
A pinça do caranguejo feriu o leão
que gemeu vulnerável e doente.

As estrelas do caranguejo brilhavam,
chovendo do céu em purpurinas.
A princesa recebeu um vestido prateado
feito do pó de cada estrelinha.

Quando a mulher saiu da concha,
um caranguejo feriu o seu calcanhar.
Seu coração foi tomado por angústia,
e a princesa começou a chorar.

Com os olhos embaçados pelas lágrimas,
a princesa tocou a lâmina da espada.
Então, ela olhou para as suas mãos
e viu sangue em suas novas chagas.

Carregando a balança e a espada,
a princesa flutuava sobre o mar.
Dentro da noite bela e gelada, 
dois anjos gêmeos voavam pelo ar.

Os anjos tocavam trombetas
antes de entregarem um pergaminho. 
Nele, havia instruções do caminho 
que seria trilhado pela bela princesa.

A princesa leu atentamente a missão,
ela deveria curar as feridas do leão.
E o remédio daquelas latentes feridas 
estaria inserido no dom da comunicação.

Os anjos gêmeos eram tagarelas,
e a princesa sentiu falta do silêncio do mar.
Mas, não havia mais como retornar,
a fala e a escrita seriam a missão dela.

No mês de julho, as águas são geladas,
e os caranguejos valsam com as estrelas.
Na praia, o leão deixou as pegadas
que serão seguidas pela princesa.

Quando o sol tomou o lugar da lua cheia, 
o mar sorriu para o seu novo calor.
Mas, somente ao meio-dia e meia,
a princesa saiu do mar com esplendor.

A princesa andou sobre a areia,
ela seguia os rastros do leão.
A mulher, que antes era sereia,
entrou em um castelo chamado Paixão.

A paixão pela vida era a sua bússola
naquela terra profana e obscura.
Seu vestido prateado ficou branco,
e a princesa recebeu véu e luvas.

Vestida de noiva no castelo mágico,
ela assobiava para o belo leão. 
Um leão tímido poderia ser trágico,
considerando os perigos da imensidão.

O leão se escondia atrás das pilastras,
mas a princesa avistou as suas patas.
Ao contrário dos demais leões, ele era tímido
e mancava por estar aflito, doente e ferido.

Sem medo de ser devorada pela fera,
a princesa foi até uma fonte de água doce.
Ela deu água para aquele nobre leão
que bebeu em suas delicadas mãos.

Quando o leão bebeu toda a água,
ele se deitou diante do calcanhar dela.
As feridas dele foram limpadas e curadas,
assim como as chagas da donzela.

Então, ela encostou as costas em uma pilastra
antes de acariciar a avermelhada juba dele.
Ela sorriu com a ternura de uma fada
assim que viu uma flor de lótus em seu ventre.

O leão logo se levantou com altivez
e encostou a cabeça na barriga da donzela.
Ela abriu a boca dessa fera,
e ele rugiu pela primeira vez.

O infinito deitou sobre os cabelos dela
quando a timidez se casou com o orgulho.
Entre o tímido caranguejo e o feroz leão,
havia a sua vida e o seu triunfo.

Os leões tímidos são os mais ferozes,
assim como as águas de julho são cortantes.
Os leões feridos são os mais velozes,
assim como são graves os seus rugidos.

No dia onze de julho, um bebê chorou
quando ouviu o leão ferido rugir.
A força do rugido ecoou pelos ventos 
e tocou o coração das estrelas que vivem em mim.

Poesia escrita por Tatyana Casarino

 Esta é uma Poesia Astrológica baseada em meu Mapa Astral Natal. Em Presidente Prudente (SP), eu nasci no dia 11 de Julho de 1992 às 12 horas e 35 minutos. Consoante a Astrologia, certos traços psíquicos das pessoas são influenciados pelo posicionamento dos astros no exato momento do nascimento. 

                 

   
     Além da Astrologia, a Poesia é inspirada por um Conto de uma princesa do mar escrito por Tatyana. Por meio de metáforas místicas, a Poesia elucida alguns arquétipos astrológicos, especialmente Câncer, Libra, Gêmeos e Leão. A origem aquática da princesa faz referência ao signo de Câncer, assim como a sua concha gigante.
    Segundo o mito de Afrodite, a deusa do amor e da beleza correspondente ao planeta Vênus, ela surgiu da espuma do mar aquecido pelo sangue de Urano e é retratada emergindo de uma concha. Como eu tenho Vênus (planeta do amor) em Câncer (signo da água), quis retratar uma princesa que saísse da água através de uma concha. 

                 

     

       Dizem que os cancerianos são como caranguejos e possuem a sua "casca" para se refugiarem de vez em quando. Também faço uma analogia entre a "casca" canceriana e a concha. Uma expressão utilizada por mim no tocante a "quebrar" a timidez é a seguinte -- "saia da conchinha". Aliás, toda a poesia é sobre sair da timidez e encontrar a expressividade, o orgulho e a exposição sugeridos pelo signo sucessor de Câncer -- o quente Leão. 
      Portanto, a missão dessa princesa canceriana pertencente ao sol de julho é encontrar o seu "leão", ou seja, a sua voz, o seu orgulho, a sua dignidade e a sua expressão pessoal. Como tenho Mercúrio (o planeta da comunicação) em Leão na Casa 10 (Casa Profissional e Vocacional) do Mapa Natal, quis retratar a missão comunicativa e a Vocação com as Letras através do rugido do Leão. 
    Contudo, não foi fácil fazer o leão rugir, tendo em vista que ele era tímido, silencioso e estava ferido. Curiosamente, um animal tão majestoso como um leão é retratado em sua vulnerabilidade. Isso ocorre devido ao Kiron (asteroide astrológico que indica o tipo de ferida emocional da pessoa) posicionado no signo de Leão dentro do meu Mapa. 

             

      

       Vale lembrar que Kiron é o posicionamento mais enigmático e paradoxal da Astrologia, pois mostra a ferida e, ao mesmo tempo, a cura. Kiron em Leão, por exemplo, mostra uma ferida no ego e na expressividade ao mesmo tempo que propicia o encontro da cura justamente nesses setores. 
      Sendo assim, a pessoa que consegue curar a sua ferida acaba sendo um agente de cura e transformação na sociedade, tratando e sanando feridas semelhantes de outras pessoas de maneira eficaz. Um Kiron proeminente num Mapa Natal indica potenciais curandeiros, psicólogos, alquimistas, magos de luz e terapeutas em todos os níveis... Essa cura de Kiron é retratada dentro da Poesia no momento em que a princesa dá água ao Leão. 
       Enquanto as pessoas boas e esclarecidas buscam a sua própria cura e ainda levam o bálsamo curativo para os outros, as pessoas más ou ignorantes ferem os outros do mesmo modo que foram feridas. O modo como o Kiron astrológico vai se manifestar dependerá do caráter de cada pessoa influenciada por ele. 
       Tendo Kiron em Leão, sei que minha missão é aprender a expressar a minha personalidade sem medo e encorajar os outros para que expressem a si mesmos. Kiron em Leão tem a ver com o equilíbrio entre o orgulho e a humildade encontrado na naturalidade da expressão pessoal e na espontaneidade da alma. Essa expressão pessoal pode ser buscada através de diversas atividades artísticas, como pintura, poesia, teatro, música e etc. O meu modo de expressão é a Poesia, por exemplo. 


                  

      
       Para atingir a missão de encontrar o Leão, a princesa recebeu instrumentos como a espada (símbolo da bravura) e a balança (símbolo do equilíbrio e da justiça). Estes instrumentos fazem referência ao meu Ascendente -- o signo de Libra, o qual é regido por Vênus. O Ascendente é como se fosse o "carro-chefe" dentro do Mapa Astral, pois é ele que dá os instrumentos e o tipo de caminho que a pessoa usará para chegar até a realização da sua missão pessoal. 
      O caminho que eu percorri para chegar até a minha expressão pessoal foi o Curso de Direito, o qual é regido por Libra e sua balança (arquétipo da Justiça). Dentro do Curso de Direito, eu aprendi a me expressar melhor, visto que a escrita e a oratória são componentes importantes do Curso. 
       Nesse aprendizado, vi que a Palavra realmente é o meu instrumento de trabalho. E o meu jeito de usar a Palavra e me expressar acaba sendo leonino de certa forma, considerando o meu Mercúrio (planeta que aponta como a pessoa se expressa) no Signo de Leão justamente na Casa da Profissão no Mapa Natal (Casa 10). 
        Além do mais, como Mercúrio é o "patrono" de Gêmeos (signo de ar responsável pelo intelecto na roda zodiacal) retratei este signo na Poesia também através dos anjos gêmeos tagarelas (hehehe) que entregam o pergaminho contendo as instruções da missão de vida da princesa. Dizem que Gêmeos é o signo mais tagarela do zodíaco (embora haja pessoas desse signo tímidas devido aos seus próprios posicionamentos astrológicos) devido à intensa necessidade de expressar em palavras os pensamentos. 
         Contrariando Gêmeos, Câncer seria um dos signos mais quietos do zodíaco, visto que é regido pela lua, a qual representa tudo aquilo que guardamos em nosso íntimo sem revelar para ninguém. A lua é a fada misteriosa, repleta de mistérios e desejos velados. Sendo assim, Câncer é o signo dos tímidos, dos sentimentais, dos poetas e dos misteriosos... 

                      

           

             A princesa da poesia, no entanto, sai das águas profundas e silenciosas para a superfície barulhenta das ondas do mar. Ela deve aprender a encontrar o equilíbrio entre o silêncio e a comunicação. Em sua missão, ela deve transformar em palavras tudo aquilo que vive silenciosamente no fundo do mar emocional. A união entre o silêncio e a palavra faz nascer a poesia, a qual retrata de forma extraordinária o mundo da alma -- indizível até então. 
           E, quando ela finalmente consegue sair da concha, romper a timidez, superar o medo e limpar as suas feridas, o leão começa a rugir, indicando o nascimento de uma nova vida. 


Observação 


                   

           

           Salienta-se que uma donzela segurando firmemente a boca de um leão é retratada no Arcano 11 do Tarô (coincidentemente o mesmo número da minha data de nascimento -- 11 de julho). 
          Nesse arcano chamado "A Força", aparece uma lemniscata flutuando sobre a cabeça da donzela. A lemniscata (parece o infinito ou o número 8 deitado) representa o equilíbrio entre dois pólos opostos que se comunicam de forma dinâmica (yin e yang, frio e calor, orgulho e timidez, bravura e sensibilidade...). Por incrível que pareça, quem representa a Força nesse Arcano é essa moça delicada e não a fera selvagem... 


Tatyana Casarino



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