O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Tomando Sprite com você



Tomar Sprite com você é sempre divino,
e arrisco dizer que é bem mais divertido
do que ir a Nova York, Londres ou Paris.
Amo a maneira como você me faz sorrir.

Tomar Sprite com você é mais divertido
do que fazer uma longa viagem de carro
do Sul até o lindo interior de São Paulo. 
Sua presença deixa dourado o meu riso.

Tomar Sprite com você é mais emocionante
do que a montanha-russa do parque Tupã.
Você me causa mais borboletas no estômago
do que um jogo de futebol no Maracanã.

Tomar Sprite com você é bem mais interessante
do que passar um dia diante de artes plátiscas.
Contemplar a sua face é sempre tão delirante
que as obras de Michelangelo perdem a graça. 

Quando estou com você, deixo de acreditar
que os gênios estavam certo na filosofia.
Quando você me olha e me faz gargalhar,
deixa de ser inteligente aquela melancolia.

Eu pensava que os livros eram tudo na vida,
mas vejo que estive todo o tempo errada.
O cotidiano sempre será a mais bela poesia,
e é superior aos sonetos a sua piada engraçada. 

Não quero ser mais uma intelectual alienada
que vive de revoltas políticas e teorias abstratas.
Chega de escrever artigos acadêmicos que ninguém lê,
hoje eu apenas quero tomar um Sprite gelada com você.

Eu poderia ser mais uma intelectual ingrata
que vive de teorias socialistas e feministas.
Eu poderia ser mais uma que critica a mídia
enquanto parece hipócrita ao reclamar da vida.

Mas, hoje eu só quero ser uma mulher feliz
que usa maquiagem e salto alto sem culpa.
Eu não me arrumo para os homens da rua,
eu gosto de estar em paz e ser bela para mim. 

Eu confesso que gosto de Paulo Coelho 
e que tenho na cabeceira o Alquimista.
Eu confesso que acredito em Deus,
sou mística e estudo Tarô e Astrologia.

Parece culto deixar de crer em Deus
e colocar o conhecimento no lugar Dele.
Mas eu acredito que aquela intelectual arrogância
é tão burra quanto aquilo que dizem ser ignorância. 

Talvez os intelectuais sejam todos uns babacas
que vivem de hipocrisias, utopias e artes abstratas.
Elas se acham geniais, mas nunca terão a sensação
que tomar Sprite com você provoca no meu coração.

Como quase todos os gênios foram uns infelizes,
eles adotaram uma postura arrogante e cínica
ao afirmarem que a felicidade não é bem-vinda. 
Mas eu enjoei desse culto sem sentido à melancolia!

Estar debaixo de uma árvore em uma rede
talvez seja mais genial do que ler Shakespeare.
Gosto de observar como cada folha cai ao vento,
demonstrando a força de Deus nesse sentimento.

Os gênios nunca acharam alguém especial
que fizessem com que eles se sentissem amados. 
Grandes cérebros não valerão qualquer ideal
enquanto os corações forem tão atrofiados. 

Eu e você somos como duas grandes folhas
que dançam balé entrelaçadas ao vento.
Ainda que os obstáculos do amor sejam grandes,
eu sei que todos eles se curam com o tempo.

Depois de tomar Sprite gelada com você, 
quase todas as pinturas perderam a graça.
Entretanto, ainda admiro os anjos de Bouguereau,
bem como as pinturas românticas de Delacroix. 

Em parte porque a pintura Eros e Psiquê
me remete imediatamente a eu e você.
Em parte porque você é o anjinho insistente
e eu sou a anjinha com cara de desdém.

Em parte porque um anjo tentou me abraçar,
mas eu recusei com a mão sobre o peito.
Em parte porque um anjo tentou me beijar,
mas eu virei a face com todo o charme.

Em parte porque minhas asas são diferentes
e eu tive de passar por grandes metamorfoses.
Em parte porque eu tenho asas de borboleta
e você nunca conseguirá ter sobre mim posse.

Em parte porque eu me sinto a própria liberdade
que guia o povo na obra de Eugène Delacroix.
O amor sempre estará em ver a sua felicidade,
eis que o apego vem do ego e não da alma.

Em parte porque tomar Sprite com você
é tão incrível quanto ver Eros e Psiquê.
Em parte porque adocicar a sua vida mansa
é tão emocionante quanto libertar a França.

Tomar Sprite com você é bem mais divertido
do que ir a Nova York, Londres ou Paris.
Sem exageros, é por isso que eu afirmo:
tomar Sprite com você é sempre divino. 

Poesia escrita por Tatyana Casarino 

    Esta é uma poesia que exalta o valor do cotidiano e do tempo ao lado da pessoa amada. Enquanto a maioria das pessoas ainda perde tempo enaltecendo teorias abstratas e as artes no âmbito intelectual, é preciso um nova olhar voltado para a realidade. 
     Ao contrário do que muitos pensam, é na realidade que se formam as mais belas poesias. Os mais belos versos não estão escritos, mas passam por nós através dos gestos mais simples do cotidiano. A resposta para a felicidade não está em legados artísticos ou intelectuais grandiosos, mas no quanto cada um valoriza o tempo ao lado de pessoas queridas na maravilhosa teia poética da vida. 

*Curiosidade:

 "Eros & Psiquê" de Bouguereau e "A liberdade guiando o povo" de Delacroix são as minhas obras artísticas prediletas.

Confiam as imagens delas:


Eros & Psiquê de Bouguereau -- Enquanto digito esta postagem, estou contemplando a obra que fica na parede do meu quarto bem acima do meu computador. Eu sempre achei o anjinho com a expressão mais ativa, ousada, como se quisesse muito um beijo da anjinha. 

    A anjinha, por sua vez, apresenta uma expressão calma e melancólica. Ela não ostenta a mesma emoção que ele durante o abraço e beijo na face (roubados carinhosamente por ele). É como se ela quisesse que o beijo não ocorresse, pois adota uma postura resistente com o rosto virado e a mão sobre peito. Ela tem uma carinha doce apesar de expressar desdém enquanto ele parece bem "alegrinho" hehehe. É um contraste "Yin & Yang" típico também entre fogo e água, ação e resignação, insistência e resistência, alegria e melancolia. 


"A Liberdade guiando o povo" de Delacroix representa a Revolução de Julho de 1830, onde a população de Paris sai às ruas para pôr fim ao absolutismo. Uma mulher é a representação da Liberdade que guia o povo. Nota-se que ela está empunhando a bandeira tricolor da Revolução Francesa, a qual foi o marco dos três grandes pilares das futuras gerações de direitos fundamentais: liberdade, igualdade e fraternidade. 

  Muito embora a participação da mulher não tenha sido expressiva nas ruas (na época as discussões políticas ficavam mais limitadas aos homens), Delacroix retratou uma mulher na obra. É evidente que a figura feminina com a bandeira na mão é a que mais chama a atenção entre os homens armados e os corpos atirados. O recado simbólico, ao meu ver, é bastante simples: o sentimento de liberdade é feminino. Havia uma gana por liberdade muito visceral na Revolução que nos remete aos sentimentos viscerais femininos. 

Pode ser que a Revolução tenha sido feita por homens armados nas ruas francesas, mas estes estavam movidos por algo muito além da razão masculina: a emoção da liberdade. E emoção sempre será evidentemente feminina. É comum vermos deusas, mulheres e figuras femininas retratando os sentimentos dos homens nas obras artísticas (algo que é muito curioso para analisar a riqueza do inconsciente humano). Neste caso, a mulher é símbolo da Liberdade.

Delacroix



Há um contraste muito interessante entre a anjinha charmosa, reservada e resistente com carinha de desdém do primeiro quadro e a mulher ousada, revolucionária, com os seios despidos e a bandeira da França em uma das mãos no segundo quadro. É como se tais representações fossem partes diferentes de mim mesma que duelam entre si. 

Bouguereau


Fiz questão de citar as obras na Poesia, comparando a primeira obra ao comportamento reservado diante do amor e a segunda obra à gana por liberdade. Talvez a única semelhança entre as obras esteja nas asas de borboleta da anjinha, que demonstram seu possível voo esperto e seu vínculo com a liberdade. Borboleta também é símbolo de liberdade. 

 Além do mais, os dois pintores são franceses e expressam elementos do romantismo, minha escola artística e literária favorita. Ambos compartilham uma característica curiosa: encontravam a cura da melancolia e do mau humor no estúdio artístico durante o trabalho hehehe. Todavia, Bouguereau mescla elementos do romantismo com os do neoclassicismo. 


*Observação:


Frank O'Hara, poeta. Autor da Poesia "Uma Coca-cola com você". 

Meu querido, me diga uma coisa: onde você tomou a Coca-cola da inspiração? Com quem você tomou essa coca-cola, hein?! Hum... tá me cheirando a paixão das bravas!!  Impossível tomar Coca-cola sem se lembrar da poesia de Frank O'Hara!

Frank O'Hara e o seu gato (eu adoro esse gato do Frank O'Hara hehehe)



      Curiosamente, essa poesia é inspirada na poesia moderna "Uma Coca-cola com você" de Frank O'Hara. Gosto de fazer releitura de poesias, paródias ou até mesmo "responder" as mesmas como se eu estivesse conversando com o poeta que escreveu a Poesia. Todavia, contextualizei com os meus próprios sentimentos e opiniões além de trocar "Coca-cola" por "Sprite" (meu refrigerante favorito). 

      

Beastly: Ferozmente

Love is never ulgy: O amor nunca é feio


  Como eu conheci esta poesia é ainda mais curioso: assistindo ao filme "A Fera" (Beastly é o nome original) que é uma releitura moderna do famoso Conto de Fadas "A Bela e a Fera". No filme, Kyle Kingson/ Hunter (interpretado pelo bonitão do Alex Petyfer) é um rapaz bonito, rico e arrogante que tem a sua aparência deformada após uma magia lançada por uma colega gótica e mestre em bruxaria.
  Para se livrar do feitiço, ele deve ouvir a expressão "eu te amo" de uma mulher sincera que consiga se apaixonar por seu interior e ver a sua luz dentro de um ano. A mulher que quebra o feitiço é a Lindy Taylor (interpretada belamente por Vanessa Hudgenes, a Gabriella do High School Musical). Uma das melhores releituras modernas que eu já vi desse conto, minha gente! Recomendo! E o filme faz parte do catálogo da Netflix! O único "furo" do filme é que tentaram deixar o Alex Petyfer feio, mas não conseguiram hehehe (estou brincando, pois até que a aparência de Fera ficou bem feita, mas o jeito charmoso dele é incrível hehehe).

Confiram a Poesia de Frank O'Hara que inspirou a minha Poesia:

Tomar Coca-cola com você




É ainda mais divertido do que ir a São Sebastião, Irún, Hendaye, Biarritz, Bayonne
ou ter dor de estômago na Travesera de Gracia em Barcelona
em parte porque em sua camisa laranja você torna São Sebastião ainda mais feliz
em parte por causa do meu amor por você, em parte por causa do seu amor por yogurte
em parte por causa das tulipas laranja fluorescentes ao redor dos galhos brancos dos vidoeiros
em parte por quando rimos em segredo de algumas pessoas sem que elas vejam e de estátuas
é difícil de acreditar que quando estou com você que exista algo tão solenemente desagradável quanto estátuas quando se está na frente delas
e na luz quente das 4 da tarde em Nova York nós vamos e voltamos
de um lado para o outro como uma árvore respirando entre seus espetáculos
e essa exposição de quadros não parece ter rosto algum, apenas tinta
e você se pergunta porque no mundo alguém os pintaria então
eu olho
para você e prefiro olhar para você do que para qualquer pintura do mundo
exceto provavelmente o Cavaleiro Polonês de vez em quando e, de qualquer forma, está no Frick
aonde graças aos céus você nunca foi então posso te levar lá pela primeira vez
e o fato de que você se move tão bem, mais ou menos cuida do Futurismo
assim como quando em casa eu nunca penso no Nu Descendo a Escada ou
em algum desenho de Leonardo Da Vinci ou Michelangelo que antes costumava me impressionar
e de que adianta toda a pesquisa dos Impressionistas
quando eles nunca conseguiram a pessoa certa para recostar-se à uma árvore enquanto o Sol se põe
ou quando Marino Marini não escolheu o cavaleiro tão bem quanto escolheu
o cavalo
é como se tivessem lhes roubado uma experiência maravilhosa
que eu não vou desperdiçar e é por isso que estou aqui
falando tudo isso para você.

Versão original:

Having a Coke with You
Frank O’Hara


is even more fun than going to San Sebastian, Irún, Hendaye, Biarritz,
Bayonne
or being sick to my stomach on the Travesera de Gracia in Barcelona
partly because in your orange shirt you look like a better happier
St. Sebastian
partly because of my love for you, partly because of your love for
yoghurt
partly because of the fluorescent orange tulips around the birches
partly because of the secrecy our smiles take on before people and
statuary
it is hard to believe when I’m with you that there can be anything
as still
as solemn as unpleasantly definitive as statuary when right in front
of it
in the warm New York 4 o’clock light we are drifting back and forth
between each other like a tree breathing through its spectacles
and the portrait show seems to have no faces in it at all, just paint
you suddenly wonder why in the world anyone ever did them
I look
at you and I would rather look at you than all the portraits in
the world
except possibly for the Polish Rider occasionally and anyway it’s
in the Frick
which thank heavens you haven’t gone to yet so we can go together
the first time
and the fact that you move so beautifully more or less takes care
of Futurism
just as at home I never think of the Nude Descending a Staircase or
at a rehearsal a single drawing of Leonardo or Michelangelo that
used to wow me
and what good does all the research of the Impressionists do them
when they never got the right person to stand near the tree when
the sun sank
or for that matter Marino Marini when he didn’t pick the rider
as carefully
as the horse
it seems they were all cheated of some marvelous experience
which is not going to go wasted on me which is why I am telling you
about it.

Postagem escrita por Tatyana Casarino 

Confiram os personagens do filme "A Fera" citado na postagem recitando a poesia no vídeo abaixo:





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