O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A Cortesã




Cabelos ruivos até a cintura,
olhos azuis como o céu.
Rosto meigo de moça pura
que esconde o seu fogo de mel.

Pele sedosa, macia e rosada
que exala aroma de flor.
Seios macios, rosados e fartos
que levam ao êxtase do amor.

Mãos macias, pequenas e delicadas
que conhecem todas as carícias.
Dizem que o seu toque é de fada
e proporciona inúmeras delícias.

Dizem que os homens gemem
quando ela faz carinho de luva.
O barco francês encontra novo leme
para levar Veneza às alturas.

Nenhum guerreiro ou diplomata
foi capaz de eficaz persuasão.
Mas, Veronica, com sua sedução,
derrubou reis, guerreiros e piratas.

É verdade que o olhar de uma mulher
fuzila mais homens do que armas de fogo.
Quando os turcos invadirem a Itália,
uma mulher enlouquecerá o rei de seu trono.

A fama das cortesãs de Veneza
atingiu o poderoso rei francês. 
Ele quer experimentar a fatal beleza
e provar, da paixão, a insensatez.

Ele só emprestará os barcos da França
se for para cama com uma italiana.
Com mais barcos, Veneza ganhará a batalha,
mas precisará oferecer a cortesã mais devassa.

Ele é apenas um homem sem coroa e despido
e, como qualquer outro, tão vulnerável à libido.
Veronica enxugou as suas surpreendentes lágrimas
e escapou de sua loucura e de sua perversa faca.

Diante de uma cortesã, o rei chorou
e encostou uma faca no pescoço dela.
Por amor e sexo, o rei francês implorou
diante da cortesão perigosa e bela.

"Não precisa, de modo algum, me forçar,
pois a ti naturalmente hei de me entregar.
Saiba que eu não finjo qualquer prazer,
transparente como a água do rio devo ser."

O rei guardou a faca, sorriu e chorou,
dizendo que nunca havia recebido amor.
"Não sei nem por onde posso começar,
já que nunca me ofereceram o natural amar."

"Que tal descobrirmos juntos?
Onde você gosta de receber carinho?"
Indagava a cortesã se despindo,
soltando os cabelos e fazendo biquinho. 

Então, a cortesã acariciou o rei 
que suspirava de inacreditável prazer,
Ele envolveu a cintura macia dela
e beijou todo o corpo da cortesã bela.

Após o rei e a cortesã atingirem o êxtase,
ele liberou todos os barcos franceses.
O senador Marco Venier ficou enciumado
e partiu para a luta muito angustiado.

Depois da luta, encontrou cortesãs enforcadas
e ratos correndo por toda a cidade de Veneza.
As sombras roubaram a luxúria e a beleza,
a inquisição tirou o brilho das amadas.

A sua amada Veronica ainda estava viva,
lavando roupas e escrevendo poesias.
Ele a abraçou com muito amor ternura
e a salvou dos clamores da rua.

Ela era apedrejada pelas damas hipócritas
e cortejada pelos soldados que voltavam da luta. 
Dentro do cárcere, escreveu poesias e histórias
pelas paredes daquela prisão tão triste e injusta. 

A dama que vivia entre as feras e os pavões
foi submetida ao fogo do julgamento alheio.
Na sociedade frígida, quem escolhe as paixões
acaba por ser ferido e odiado por inteiro.

No tribunal, ela acabou ficando sã e salva
pelo belo discurso de certo senador influente.
Ele se levantou da cadeira e falava do amor
que ela derramou na cidade com seu ardor.

No fim, decidiram deixar Veronica viva,
pois a cidade combinava com a poetisa.
A poetisa finalmente ficou com o senador,
sendo a amante que curava a sua dor.

Poesia escrita por Tatyana Casarino.

              


    * Imagem da cena em que a Cortesã se deita com o rei da França, o qual puxa uma faca perigosamente. Esperta, ela consegue reverter a situação e pegar a faca dele. Encostando levemente a arma branca no pescoço dele, ela o convence a trocar a violência pelo carinho. 





   A poesia desta postagem foi baseada no filme "Dangerous Beauty" (Beleza Perigosa em português) que eu assisti na NETFLIX. Um dos melhores romances históricos que eu já assisti! Baseado em fatos reais, o filme trata da vida de uma cortesã do século XVI que era muito culta e escrevia poesias. Ela não queria ser cortesã, pois almejava se casar com o senador Marco Venier. Porém, a família do senador não permitiu o casamento devido às condições sociais da moça.

                 
Veronica Franco e Marco Venier
  

      Sem posses, Verônica tentou a vida no convento, mas fugiu de lá assim que viu uma madre cortando o cabelo de uma freira com uma espécie de tesoura grande demais. Sendo assim, tendo em vista que queria ter acesso aos livros por amar ler e escrever poesias, decidiu ser cortesã (somente as cortesãs tinham acesso às bibliotecas e poderiam discutir sobre política, literatura e poesia com os homens). 
    O nome do filme seria "Em Luta pelo Amor", mas foi chamado "Beleza Perigosa"  por ser o apelido que Marco deu a Veronica. Como ele caçava, dizia que ela tinha uma "beleza cruel e perigosa" como a caça. Por essa razão, Marco Venier amava Veronica Franco. Infelizmente, sua família proibiu o senador de cortejar Veronica por ela ser uma moça pobre. Ele acaba se casando com uma dama rica e decepcionando o coração da poetisa, a qual decide virar cortesã para se vingar do amado. 

                  

    Cena em que Marco diz que ela tem uma "Beleza Perigosa"

    

        Depois de casado, passou a vida infeliz ao lado da esposa recatada, extremamente formal e religiosa fervorosa. Na primeira noite de Marco com a sua esposa (escolhida pela família dele), ele perguntou a ela: "Quais são os seus segredos? O que você quer?" E a esposa respondeu a ele com olhos assustados: "Só quero ser uma boa esposa e mãe." 
      Marco, então, fez nova pergunta: "Hoje eu quero realizar um desejo só seu. Qual é o seu desejo?" E a esposa recatada disse: "Eu não tenho desejos próprios". Por fim, tendo em vista que ele estava acostumado com a namorada Veronica (a poetisa que virou cortesã), ele pergunta à esposa: "Você gosta de poesia?" E a esposa responde: "Eu não leio poesias, mas apenas os salmos da bíblia". Nessa parte, eu dou uma gargalhada pela cena engraçada. 
     Bem feito para o Marco que não foi valente para lutar pelo grande amor de sua vida, enfrentar a sua família, combater a política e se casar com Veronica. Acabou se casando com uma "carola" daquelas... Essa parte torna nítido o fato de que a submissão da mulher prejudica não somente a mulher, mas o homem e toda a sociedade. Uma sociedade que não permite a expressão feminina é uma sociedade completamente infeliz -- em todos os sentidos. 

                   

     

       Naquela época, a mulher somente tinha três opções: ser uma esposa recatada, uma freira ou uma cortesã. Salienta-se que apenas as freiras e as cortesãs tinham acesso à cultura: as freiras eram alfabetizadas e conheciam os textos sagrados, assim como as cortesãs estudavam história, geografia, literatura e política para conversar com os homens. Muitas cortesãs influenciavam a sociedade politicamente. 
    Veronica contrariava a sociedade por ser uma mulher expressiva: lançou um livro de poesias, recitava poesias nos ambientes noturnos, sabia manejar uma espada, duelava, se deitava com o homem que queria e usava vestidos decotados (as damas e as esposas usavam vestidos com golas altas que cobriam os seios e o pescoço, já que a exibição do colo demonstrava luxúria pelo símbolo sexual dos seios). 
    Enciumado e indignado pela vida que a sua primeira namorada escolheu, Marco às vezes pega um barco e atravessa bêbado o rio que fica em frente da casa onde Veronica encontra os homens. Com a fala mansa pelos efeitos do vinho, o arqueiro e senador sempre lança frases impactantes para a amada inesquecível sob a sua janela. 

                     

    

       Por ciúmes, ele solta um bicho de vez em quando no quarto dela. Um exemplo engraçado trata do dia em que um pavão apareceu no quarto da cortesã na hora em que ela acariciava um "cliente" com uma espécie de pano ou luva. O pavão, provavelmente caçado por Marco, é o símbolo da beleza e da vaidade. Por isso, Veronica é chamada de "Beleza Perigosa" e sua vida tem estreito vínculo com o símbolo desse animal. Raivosa, Veronica arranca uma pena do pavão e a joga pela janela. A pena cai no rio no momento em que Marco passava por ali de barco. 
    No final do filme, o senador consegue salvar a sua amada do Tribunal da Santa Inquisição. Sabe-se que a hipocrisia da sociedade era imensa, já que a maioria dos homens das classes sociais mais altas (incluindo os homens do clero) havia se deitado com Veronica. 
     E a hipocrisia não parava por aí. O promotor acusava Veronica com afinco por pura rixa pessoal: ele vivia nos ambientes noturnos também (o papel dele nesses ambientes é nebuloso e dá a entender que ele era um cortesão antes de ser servidor da "justiça") e suas poesias não faziam o mesmo sucesso que as de Veronica. Além do mais, ele havia perdido um duelo para Veronica em praça pública o que fez com ele se sentisse humilhado (a moça nunca quis causar qualquer constrangimento, mas puxou a espada quando ele zombou de seu livro de poesia ao dizer que ela havia se deitado com alguém para conseguir lançar o livro). 

                  

     

         O senador que sabia do histórico do promotor acaba desmascarando o falso moralista e salvando a sua amada do Tribunal. Veronica ainda faz um belo discurso sobre o amor. Ela dizia que era a única capaz de ser ela mesma e "derramar" nos homens todo o amor que eles não recebiam. 
      O filme é belíssimo e o final muito emocionante! Vale a pena conferir! Devo salientar que o filme não é "forte" muito embora retrate a vida de uma cortesã: não há cenas de violência e as cenas de sexo são curtas, suaves e aparecem em momentos corretos com algum propósito, diferentemente dos filmes e séries vulgares que correm por aí com cenas desnecessárias de violência e sexo a todo instante... O filme é "leve" apesar de tudo, bem produzido e muito elegante! Uma verdadeira aula de história!
        Acredito que toda mulher deveria assistia a este filme para ter consciência da evolução de seus direitos e dar graças a Deus por ter nascido no século XXI. Hoje a mulher poder ser o que ela quiser: esposa, amante, intelectual, bela, sensual, religiosa, inteligente, sábia... 
        Podemos expressar todas as nuances de nosso personalidade como uma colcha de retalhos sem precisarmos abrir mão de qualquer aspecto dentro de nós. Naqueles tempos, infelizmente, só havia três opções: o sexo (e a liberdade), a família (casamento) ou a religião (convento). 
       Nós mulheres provamos que podemos ser muito além de esposas, freiras ou cortesãs: somos tão inteligentes, sábias e competentes quanto os homens e temos eficiência para ocupar o lugar que quisermos dentro da sociedade (e eu diria que somos mais sábias que eles em muitos aspectos hehehe). Que maravilhoso poder ter desejos próprios e autonomia! 


Texto escrito por Tatyana Casarino. 

Como o texto abordou os direitos femininos e a vida de uma cortesã ruiva (o cabelo vermelho sempre simbolizou desejo e ousadia desde Eva hehehe), citarei a música de Rita Lee, cantora e compositora brasileira e ruiva, que retrata o que é ser mulher.

"Nas duas faces de Eva
A Bela e a Fera
Um certo sorriso
De quem nada quer...

Sexo frágil
Não foge à luta
E nem só de cama
Vive a mulher...

Por isso não provoque
É cor de rosa choque

Mulher é bicho esquisito
Todo mês sangra 
Um sexto sentido
Maior que a razão."



         https://www.youtube.com/watch?v=mvUMqM69dQU





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