O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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domingo, 6 de dezembro de 2015

Boîte Noire

 Boîte Noire (Caixa Preta em francês)




Hoje as ruas estão tortas
e o céu se move incessantemente.
Barulhos de bombas, vozes, risos,
perseguição na avenida Tenente Brito.

Ouço vozes que me zombam,
vejo vultos que me perseguem.
Visualizo luzes no céu a brilhar,
seriam seres de outro mundo a me buscar?

Rancores cortantes, olhares catatônitos,
apatia desmedida,ira desregrada.
Violências de fogo, fúrias ingratas.
O sol da minha lucidez resta perdido.

Deitado sobre o leito, ouço vozes.
O calmante seda de loucura o efeito.
mas deixa a vida sem perspectiva.
Nada mais brilha, tudo gira.

Gostaria de vencer, buscar a glória.
Mas, nesta existência, tudo é dor.
E hoje especialmente minh'alma chora.
Difamação e injúria corroem o meu coração.

A mente é uma caixa preta,
uma cartola repleta de surpresas.
Oh! Veja um coelho a sair da cartola:
uma criação minha, doce paranoia.

A mente doentia tiraniza.
Reina perplexa e agressiva,
açoitando o corpo, perturbando a alma
que perdida apenas chora.

Se a mente fosse lúcida e saudável,
veria o céu estrelado e bonito
e sentiria a noite morna e agradável
que abençoa a avenida Tenente Brito.

Poesia escrita por Tatyana Casarino

   Poesia inspirada na obra de Vincente van Gogh, um pintor pós-impressionista neerlandês. Sua produção inclui retratos, autorretratos, paisagens e naturezas-mortas de ciprestes, campos de trigo e girassóis. Desenhava desde a infância, mas deu início às atividades de pintura somente ao fim dos seus anos vinte. Muitos de seus mais conhecidos trabalhos foram finalizados durante os dois últimos anos de vida. Em pouco mais de uma década, produziu mais de 2.100 obras de arte, incluindo 860 telas a óleo e cerca de 1.300 aquarelas, desenhos, esboços e gravuras.
    Em Van Gogh, loucura e genialidade caminhavam de mãos dadas, eis sua notável produção artística e os diagnósticos de esquizofrenia e de transtorno bipolar do humor.
      Apesar da tendência generalizada de se romantizar sua má condição psíquica, críticos contemporâneos veem no pós-impressionista um artista profundamente frustrado com a inatividade e a incoerência forjada pela doença. Suas últimas pinturas, contudo, mostram-no ao auge de suas habilidades, completamente sob controle e, de acordo com o crítico de arte Robert Hughes, "ansiando por concisão e graça".
      Van Gogh é considerado um dos pioneiros estabelecedores da ligação entre as tendências impressionistas e as aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas frentes da arte do século XIX, como por exemplo o expressionismo, o fauvismo e o abstracionismo. Sua fama póstuma cresceu especialmente após a exibição das suas telas em Paris, em 17 de março de 1901. Com uma vasta obra, o artista é considerado um dos mais importantes da história. Em sua homenagem, foi fundado o Museu Van Gogh, em Amsterdã, dedicado à difusão de seu legado.


 A poesia busca trazer empatia ao leitor, eis que ainda vivemos em uma sociedade muito preconceituosa em relação aos transtornos mentais. Além do mais, a poesia busca esclarecer que, por mais perturbações que sua mente crie, não acredite nelas, pois a realidade é muito mais morna e agradável do que parece.


Se a mente fosse lúcida e saudável,
veria o céu estrelado e bonito
e sentiria a noite morna e agradável
que abençoa a avenida Tenente Brito.


Tatyana Casarino

*Pintura da postagem: Noite Estrelada de Van Gogh

Noite Estrelada é uma das obras mais conhecidas de Vincent Van Gogh. O quadro foi pintado quando ele tinha 37 anos e estava internado num asilo em Saint-Rémy-de-Provence (1889-1890). A obra encontra-se actualmente na colecção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).
Ao contrário de muitas das suas obras,  Noite Estrelada foi pintada de memória, e não a partir da vista correspondente de uma paisagem. Durante ao tempo em que esteve no asilo, Van Gogh  dedicou-se a pintar as paisagens da região da Provence.

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