O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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domingo, 14 de setembro de 2025

Dicas de filmes - parte I


Olá, pessoal! Na postagem de hoje, vou revelar alguns filmes que eu gosto muito. Muito embora eles sejam mais "leves" do que outros filmes que recebem mais destaque nas redes sociais, eles apresentam reflexões profundas e mensagens sobre amor, coragem, perseverança e justiça. 

Boa leitura! E bom filme!


   



*Observação: No meu texto, há pequenas revelações do enredo. Se você gosta de ser totalmente surpreendido pelo filme, não leia a postagem completamente (apenas guarde os títulos dos filmes como dicas). 

*Observação 2: Verifique a classificação indicativa antes de assistir a um dos filmes, pois alguns têm cenas sensuais e abordam temas sensíveis (O Fabricante de Lágrimas e Eiffel). Donzela e Enola Holmes, embora sejam aventuras leves, possuem algumas cenas de luta com doses de violência. 



Cena do filme


Donzela


Um filme surpreendente que começa com ares de romantismo e termina com um tom eletrizante. Uma jovem ingênua (aparentemente) se casa com um belo príncipe, mas, em vez de viver a sua lua de mel, é traída pelas pessoas ao seu redor e jogada em uma caverna para ser devorada por um dragão. Dentro da caverna, ela enfrenta diversas aventuras para desbravar o interior dela, desvendar os mistérios da fera que cospe fogo e escapar da morte. 

O grande destaque é a atuação de Millie Bobby Brown que consegue ser brava em cena sem deixar de ser delicada, sonhadora e fiel aos seus princípios. Mesmo no pior momento da jornada, a sua personagem encontra forças para lutar e transforma adversidade em oportunidade. Um filme que proporciona não somente uma aventura cativante, mas também uma excelente reflexão motivacional sobre coragem e perseverança. 




                                    Cena do filme 


Enola Holmes


Esse é um filme completo! Ele mistura ação, aventura, mistério (no estilo de romance de detetive), nuances românticas, pitadas de comédia e reflexões filosóficas sobre os Direitos das Mulheres na forma como narra a jornada de Enola. 

Enola foi criada por uma mãe excêntrica, intelectual e repleta de ideias modernas sobre os Direitos das Mulheres. Desse modo, ela não se encaixa nos padrões da sociedade nem consegue encontrar a felicidade nos papéis femininos da sua época (século XIX). Inteligente e intuitiva, ela tem talento para a carreira de detetive e deseja conquistar o mesmo sucesso que o seu irmão mais velho, Sherlock Holmes. 

Quando a sua mãe desaparece, ela decide procurá-la em Londres e coloca o seu talento investigativo em prática. No meio do caminho, ela se envolve com outro caso de detetive: desvendar os mistérios de um jovem lord. 

Destaque para o elenco maravilhoso desse filme! Enola foi interpretada por Millie Bobby Brown, a sua mãe foi interpretada por Helena Bonham Carter (perfeita para o papel) e Henry Cavill atuou como o seu irmão. 



Cena do filme 



Enola Holmes 2


Esse filme consegue ser melhor do que o primeiro, porque apresenta uma narrativa mais envolvente e um mistério de detetive bem desenvolvido. 

Depois de ganhar certa fama ao desvendar os mistérios do jovem lord e lutar ao lado dele no primeiro filme, Enola decide abrir o seu próprio escritório e trabalhar como detetive oficialmente. 

Por ser uma mulher, ela sofre preconceitos da sociedade e não conquista clientes (todas as pessoas pensam que ela é frágil e delicada demais, já que não conhecem as suas incríveis habilidades de luta nem a sua perspicácia). Além do mais, a maioria dos ingleses prefere contratar o seu irmão, Sherlock Holmes, para investigar os seus casos. 

Apenas uma garota confia no seu trabalho, mas ela não possui recursos financeiros para pagar pelos serviços de investigação de Enola. Mesmo assim, ela decide trabalhar nesse caso, pois sente compaixão pela menina. A investigadora também acredita que deixar o seu nome conhecido por um bom caso vale mais do que qualquer dinheiro. 

No seu primeiro caso oficial, ela deve encontrar a irmã desaparecida de uma menina que trabalha numa fábrica de fósforos. A sua investigação ganha profundidade, visto que ela descobre mais camadas políticas, sociais e criminais dentro do seu caso: a fábrica não respeitava a dignidade humana das trabalhadoras, explorava o trabalho infantil, escondia uma doença misteriosa causada pela contaminação do fósforo e estava ligada a um esquema de corrupção. 

O caso investigado por Enola fica entrelaçado ao caso analisado por Sherlock Holmes, já que, enquanto ela está investigando a fábrica de fósforos, o seu irmão descobre um esquema de corrupção vinculado à fábrica. Eles trabalharão juntos para desvendar os criminosos, salvar os inocentes e fazer justiça em nome das trabalhadoras da fábrica. 

Enola também reencontra o jovem lord, o seu grande amor, que defende os direitos das mulheres na Câmara dos Lordes e corre risco de vida por causa dos seus ideais nobres. 

Apesar de ser um filme de ficção e de retratar as mudanças políticas e sociais da Inglaterra do século XIX com licença poética, Enola Holmes 2 foi inspirado num momento histórico real: o caso das trabalhadoras de fósforo. 

Durante a Revolução Industrial, algumas operárias da indústria de fósforos adquiriram uma doença profissional chamada "necrose fosforosa do maxilar" por causa dos vapores tóxicos do fósforo branco.  

Penso que esse filme é uma aula de história que ultrapassa o entretenimento. Vale a pena conferir a sequência de Enola Holmes!



Cena do filme 



O Fabricante de Lágrimas


Dois jovens foram criados num orfanato repleto de irregularidades, violência psicológica e injustiças. Nica e Rigel carregam histórias dramáticas do passado no orfanato, mas têm a chance de uma nova vida quando são adotados por um casal que perdeu o filho adolescente. 

Na casa da nova família, eles descobrem que são apaixonados um pelo outro e que não podem viver como irmãos (eles não são irmãos biológicos, mas foram adotados pelo mesmo casal). Acontece que, para serem felizes no amor, eles devem curar as feridas psicológicas adquiridas na infância. 

O filme tem uma estética levemente gótica e apresenta algumas cenas românticas (sensuais também). A química dos protagonistas é incrível, porque é formada pela clássica atração entre o rapaz sombrio e a menina doce (quem gosta de A Bela e a Fera e de O Fantasma da Ópera também pode gostar desse filme). 



Cartaz do filme.




Eiffel


Um filme que mistura história e ficção. Nesse drama romântico, a narrativa sustenta que a inspiração para a construção da Torre Eiffel, monumento francês que mistura modernidade e romantismo, foi um amor proibido. 

Gustave Eiffel, um engenheiro visionário, foi apaixonado por Adrienne, uma moça rica cuja família não aprovava o romance entre os dois. Quando o engenheiro decide criar um projeto espetacular para a Exposição Universal de 1889, as memórias do seu amor do passado inspiram a sua dedicação ao monumento icônico, que seria o novo símbolo da cultura francesa. 

Antes do projeto ser concluído, ninguém acreditava nas ideias de Gustave Eiffel, e as dificuldades que ele enfrentou durante a construção da Torre foram tantas que ele quase desistiu. Algumas pessoas mais moralistas achavam absurda a ideia de uma Torre ser tão alta quanto uma igreja enquanto outras criticavam as despesas financeiras do projeto. 

Na época, o uso do ferro num monumento que deveria expressar arte e beleza era algo inusitado. O engenheiro, no entanto, queria unir beleza e praticidade para expressar uma nova forma de ver o mundo. 

Eiffel enfrenta solidão, diversas injustiças (pessoais e sociais) e incompreensão da sociedade, mas não desiste do seu sonho. Ele apenas ganha fama e admiração da sociedade quando a "Dama de Ferro" (Torre Eiffel) fica pronta. Penso que o filme é uma bela mensagem sobre perseverança, porque o engenheiro não desiste do seu objetivo nos momentos mais sombrios. 

Enquanto enfrenta momentos melancólicos durante a construção da Torre, Eiffel reencontra o seu amor do passado e descobre os segredos da família de Adrienne. Algumas pessoas afirmam que a Torre Eiffel se parece com a letra "A" (inicial do nome da sua amada). Contudo, essa inspiração romântica não foi comprovada pelos pesquisadores de história. 


Texto escrito por Tatyana Casarino. 




terça-feira, 19 de agosto de 2025

Lendas que realmente existiram – Parte 3

        

Lendas que Realmente Existem ou Existiram – Volume 3.





Considerando que Agosto é o mês do folclore, o nosso colunista Mateus Ernani Heinzmann Bülow escreveu um texto sobre lendas e mitos que possuem um fundo de verdade para o blogue "Recanto da Escritora".

Mateus é um escritor gaúcho que pesquisa sobre lendas nacionais e internacionais há tempos. A sua colaboração com o blogue enriquece o nosso conteúdo e inspira os nossos leitores. 

Prepare-se para boas surpresas e aventuras no texto sobre lendas que realmente existem. Boa leitura!






1-Urubu-Rei.




Um dos maiores pássaros das Américas, o Urubu-Rei é figura comum nos mitos de diversos povos nativos, indo desde o México até o sul do Brasil. Entre os Tupis, por exemplo, se conta a lenda de um guerreiro que desejava se casar com a filha do Rei dos Urubus, que enviava seu potencial genro rumo a desafios perigosos. Outro mito fala de Kanassa, um herói do povo Cuicuro que roubou o fogo do Urubu-Rei e o entregou aos humanos.

O Urubu-Rei ganhou esse nome porque ele sempre come a carcaça antes dos outros urubus de espécies menores, como se ele fosse um “monarca” se alimentando antes de seus “súditos”. Os biólogos acreditavam que esta curiosa “formalidade” acontecia devido à força intimidante do Urubu-Rei, maior do que outros urubus.

Hoje se sabe que existe outro motivo interessante pelo qual essas aves se alimentam antes de outras espécies: O bico e as garras do Urubu-Rei são mais fortes em comparação com outros carniceiros, e após o pássaro terminar sua refeição, os seus “primos” menores e mais fracos podem comer o que restou sem dificuldade, porque o trabalho mais duro foi realizado pelo Urubu-Rei. Podemos afirmar que o Rei sempre é Majestade.


2-Timbuktu.




Nossa próxima “lenda” é bem real, mas a cultura popular a tornou irreal aos olhos do público médio. Timbuktu, também chamada Tombouctou, é uma antiga cidade localizada no Mali, um país da África Ocidental. Embora diversos grupos nômades passassem pela região, Timbuktu apenas se transformou num assentamento permanente no Século XII, tornando-se uma metrópole próspera durante a Idade Média, graças à mineração de ouro e sal, ao lado das caravanas que passavam pela região.

Devido à sua posição afastada da Europa, ao lado da riqueza impressionante, Timbuktu virou sinônimo de lugar misterioso, quase “mágico”. Os escassos relatos que chegavam aos europeus vinham de viajantes árabes, como era o caso do marroquino Ibn Batutta, que viajou pela região em 1337. Em seu relato de viagem, Ibn Batutta demonstrou certo desapontamento ao descobrir que Timbuktu não era tão próspera como no passado.




O primeiro europeu a visitar Timbuktu foi o viajante francês René Caillié, que passou pela região em 1827. Na época, a cidade se recuperava de uma guerra entre os impérios de Bamana e Massina, e Caillié se espantou com a pobreza da região, perguntando-se como foi Timbuktu em seu auge. Em 1890, a cidade foi anexada aos territórios coloniais franceses, uma situação que seguiria até 1960, com a independência do Mali. Timbuktu hoje é capital da província de mesmo nome.

A associação quase imediata de Timbuktu com um lugar “místico” e fantástico ainda é muito forte na psique moderna: Em 2006, uma pesquisa na Inglaterra revelou que 66% dos jovens acreditavam que Timbuktu se tratava de uma lenda antiga, assim como Atlântida, Lemúria ou El Dorado. Até hoje na língua inglesa é comum ouvir o nome dessa cidade sendo usado como sinônimo de lugar longe demais, algo como as expressões brasileiras “pra lá de Bagdá”, ou “além da Cochinchina”.


3-O Peixe capaz de prever Terremotos.





Cruzando o Oceano Pacífico e alcançando o Japão, encontraremos um raríssimo animal marinho que já foi confundido inúmeras vezes com serpentes do mar, e também é associado com outra lenda nipônica. O Regaleco é um peixe enorme de águas abissais, tão longo quanto uma sucuri adulta, além de tímido aos olhos da superfície.




Na mitologia japonesa, o Regaleco é chamado de Ryugu no Tsukai, o mensageiro do Deus do Mar, e sua missão é alertar os humanos, para evitarem a fúria de seu mestre, capaz de controlar terremotos e maremotos devastadores. Em algumas lendas japonesas, o Regaleco ajuda os heróis a derrotarem vilões, ao servirem de transporte para samurais.

Existe um fundo de verdade nessa lenda, pois o Regaleco é um animal muito sensível às alterações sísmicas frequentes no Oceano Pacífico, e costuma subir à superfície para escapar delas, um comportamento difícil de ver nos peixes de águas abissais. Se você enxergar um desses peixões, prepare-se para sentir os tremores!

 

4-Barometz.




Nossa próxima lenda surgiu na Idade Média, em pergaminhos medievais que falavam sobre as misteriosas espécies do Oriente. O Barometz, também conhecido como Carneiro-Vegetal da Tartária, era um misto de animal e planta, descrito como um ovídeo que nascia de uma árvore, ligado a ela por um cordão umbilical. O sangue dessa criatura fantástica era doce como o mel, e a sua lã nunca desfiava.

Uma das descrições mais conhecidas do Barometz aparece no livro das Viagens do Senhor John Mandeville, onde o carneiro-vegetal aparece nascendo de frutas parecidas com grandes cabaças. Os Barometz nessa versão nascem sem lã alguma sobre o corpo, e assim permanecem até atingirem a maturidade, quando finalmente começam a desenvolver uma lã sedosa e firme.




A explicação para o mistério do carneiro-vegetal é tão singela que soa engraçada: O Barometz provavelmente surgiu no folclore europeu devido a um relato dos soldados que seguiram Alexandre o Grande da Macedônia, em sua viagem na fronteira da atual Índia. Ali os gregos e macedônios tiveram o primeiro contato com a planta do algodão, descrita como uma “árvore que dava lã como se fosse uma ovelha”. É possível que o algodão fosse literalmente apontado como um híbrido de planta e ovídeo, nas traduções do relato.

 

5-Shambala.




Nossa próxima lenda fala de um reino montanhoso, às vezes descrito como um mundo oculto debaixo da terra, ou como um domínio espiritual. Conforme os textos sagrados hindus que falam do Kalachakra (literalmente, “Roda do Tempo e Destino”), Shambala trata-se de uma nação próspera que existe num tempo diferente do nosso, e que ainda está para surgir entre nós, num conceito muito parecido com o Reino de Deus cristão.

Shambala foi criada pelo grande Rei Suchandra, que recebeu ensinamentos do próprio Buda, e seu reino contava com 300 mil habitantes que podiam viver mais de cem anos, ou mesmo eternamente. Montanhas enormes serviam de barreiras físicas e espirituais entre o nosso mundo e o reino de Shambala, e quem alcançasse suas fronteiras nunca mais poderia retornar para casa.

As profecias afirmavam que Shambala seria liderado pelo Maitreya, a encarnação do Buda, numa batalha contra as forças do mal no ano 3304 depois da morte de seu antecessor (isso equivale aos anos de 2424 e 2425 no calendário cristão). A Era Dourada após essa grande batalha duraria 1800 anos, devido à natureza cíclica de apogeu e declínio nas duas maiores fés orientais, o Hinduísmo e o Budismo.




Antes de seguirmos com a dissecação da lenda de Shambala, devemos observar as primeiras traduções realizadas pelos ocidentais que visitaram os Himalaias. O primeiro europeu a descrever Shambala foi o missionário português Estevão Cacella em 1628, durante uma viagem pelo Butão e os Himalaias orientais. Durante sua estadia, o missionário descobriu que os habitantes falavam muito do reino de “Xembala”, e Cacella teorizou que se tratava de como eles denominavam a China.




A primeira expedição em busca de Shambala ocorreu entre 1924 e 1928, liderada pelo arqueólogo russo Nicolas Roerich e sua esposa, Helena. O casal de aventureiros acreditava que havia uma entrada para Shambala nas montanhas Altai, localizadas entre o sul da Rússia e o noroeste da China, mas não encontraram nenhum reino perdido. Existe um curioso fundo de verdade nessa teoria, pois diversos reinos antigos e medievais prosperaram no caminho das Montanhas Altai, que uniam leste e oeste na Rota da Seda.




Outra hipótese da existência de Shambala envolve uma cidade no noroeste da Índia, chamada Sambhal. Na mitologia hindu, Sambhal é o local de nascimento do guerreiro Kalki, a décima e última encarnação de Vishnu, e também o campeão da humanidade na luta final antes de reiniciar o ciclo de Surgimento, Apogeu, Declínio e Queda na interminável “Roda do Tempo” dos hindus. Em algumas versões do Kalachakra, Kalki é descrito como rei de Sambhal, antes da última luta.




Existe um fundo de verdade na suposta longevidade dos habitantes de Shambala, que pode ser observado em povos montanheses, como os nepaleses, os butaneses e tibetanos. A hipóxia (menor oxigenação) à qual eles estão acostumados ajuda a retardar alguns efeitos do envelhecimento, explicando a notável longevidade desses povos.


 6-O Cavalo que virou Consul.




Uma das curiosidades mais engraçadas da história antiga envolve o cavalo do terceiro imperador romano, Calígula. O fiel animal de montaria do monarca louco se chamava Incitatus (“Impetuoso”, em latim), e quase foi nomeado Consul, uma espécie de representante do governo romano no Senado, por seu dono. Incitatus contava com regalias suntuosas, desde um arreio completo feito em púrpura, e também dezoito serviçais.

As fontes que descrevem a nomeação de um equino ao cargo de representante do Imperador Romano no Senado partiram de Suetônio e Cassius Dio, dois historiadores que viveram muitos anos depois do reinado de Calígula, o que já levanta enormes suspeitas. Nessa época surgiu uma historiografia crítica à primeira dinastia imperial romana, chamada Júlio-Claudiana, financiada pela Dinastia Flaviana, outro detalhe que aumenta a desconfiança quanto à história bizarra.

Duas hipóteses interessantes já foram levantadas por historiadores posteriores: Na primeira delas, Calígula se decepcionou com a lista de candidatos ao cargo de Consul, e teria dito com grande sarcasmo: “Eu prefiro nomear o meu cavalo a qualquer um destes!”. Numa versão mais elaborada dessa história, Calígula levou Incitatus ao Senado, e o vestiu como se fosse um senador; o objetivo dessa brincadeira era mostrar aos senadores que um cavalo era capaz de fazer o trabalho deles.


7-Kalevala e Pohjola.




Seguindo em direção às terras geladas da Finlândia, nós veremos agora dois lugares míticos que podem muito bem serem reais. As terras míticas conhecidas como Kalevala (“Terra dos Heróis”, em finlandês) e Pohjola (“Extremo-Norte”, em finlandês) são separadas uma da outra por uma ponte de luz, e todos os mitos anteriores ao cristianismo se passam nesses lugares, desde a criação do mundo à profecia da chegada de Cristo.

Kalevala é o nome de uma terra mítica, e também serve como o título da compilação de poemas do autor finlandês Elias Lonrot, que juntou anos de pesquisa e viagens pelo interior rural de seu país, em busca de uma mitologia nacional. Na época, a Finlândia era um Grão-Ducado pertencente à Rússia Czarista, mas os primeiros ensaios rumo à independência total já apareciam; os poemas que falam de Kalevala tiveram grande importância nesse processo, algo parecido com os poemas indianistas na construção da identidade brasileira.




O poema-coletânea é longo, então farei um apanhado geral da história: Kalevala fala de diversos heróis e suas curiosas aventuras por diversos lugares, desde os confins do mundo até o reino dos mortos, como o bardo Vainamoinen, o ferreiro Ilmarinen, o aventureiro galanteador Lemminkäinen e o órfão Kullervo. A maior adversária desses heróis é a bruxa Louhi, a rainha de Pohjola. Perto do final da jornada, Vainamoinen e seus amigos precisam recuperar o Sampo, um objeto mágico roubado por Louhi.

Pesquisadores e historiadores dentro e fora da Finlândia tentaram encontrar uma evidência real de Pohjola e Kalevala. A possibilidade mais óbvia aponta ao passado longínquo da península escandinava, anterior à chegada dos nórdicos e russos ao território da atual Finlândia. Nessa época ocorriam muitos conflitos entre as antigas tribos finlandesas, como os Tavastianos, Karélios, Ostrobônios e Savonianos, contra um povo chamado Sami, que ainda hoje vive no extremo norte da Finlândia, Noruega e Suécia.




Embora não haja correlação explícita entre os Sami e Pohjola no poema, diversos aspectos da terra governada pela temível Louhi demonstram similaridade com a cultura desse povo, como o xamanismo no dia a dia e a grande participação das mulheres no comando das aldeias. Em algumas versões do poema, Louhi e suas inúmeras filhas são descritas com a pele mais escura em comparação com os heróis do Kalevala, um traço comum em algumas tribos Sami diante dos finlandeses do sul.

Apesar da forte rivalidade entre Kalevala e Pohjola, alguns dos heróis do poema tentam se casar com filhas de Louhi, após superarem desafios impostos pela rainha-bruxa. Provavelmente esse curioso detalhe é uma referência ao estabelecimento da paz entre as tribos finlandesas e os Sami, por meio de matrimônios.


8-A Imperatriz que inventou a Coxinha.




Terminaremos a presente lista com uma lenda deliciosa, envolvendo a Família Imperial Brasileira. Uma história popular afirma que a invenção da coxinha, o tradicional salgado recheado com frango desfiado, deve-se a ninguém menos que à Imperatriz Teresa Cristina, esposa do Imperador Pedro II do Brasil.




Tudo começou quando o Imperador e sua família se sentaram para jantar um frango assado, o prato predileto de todos eles. Um dos filhos de Pedro e Teresa sempre fazia questão de pegar as coxas da galinha antes dos irmãos (não se sabe qual era o herdeiro comedor de coxas), o que gerava desgosto no resto da família.

Um belo dia a Imperatriz Tereza decidiu que resolveria o problema à própria maneira, desfiando uma galinha inteira e misturando com farinha e ovo, criando um quitute que foi o maior sucesso na corte. Assim surgiram as primeiras coxinhas, que até hoje possuem um lugar especial na psique brasileira, e alcançaram sucesso no exterior, com uma contribuição dos brasileiros que emigraram para outros países.




Não se sabe se Tereza Cristina realmente inventou a coxinha, mas é inegável que o salgado existe desde a época do Império do Brasil, e certos detalhes tornam plausível o papel da Imperatriz no surgimento do quitute. Vinda do Reino das Duas Sicílias, Tereza Cristina era uma legítima italiana, assumindo o comando da cozinha do palácio com frequência, um detalhe que não passou despercebido pelos estrangeiros que visitavam a corte.

É possível que a Imperatriz tivesse uma inspiração de sua terra natal quando criou as coxinhas: Na Sicília existe um salgado chamado Arancino, feito de arroz empanado e com diversos recheios, indo de queijo mozarela, molho de tomate, cogumelos ou carne moída. Os Arancini (Arancino no plural, conforme a grafia italiana) costumam ser feitos para se aproveitar o que restou do risoto da refeição anterior.


Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bülow.

 

Confira outras lendas:





Lendas - Parte 1

Lendas - Parte 2



Mateus é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor e colunista do blog "Recanto da Escritora".


Mateus é o autor de dois livros de fantasia:


*Taquarê - Entre a Selva e o Mar

 

*Taquarê - Entre um Império e um Reino








                               

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Floresta encantada

 



 

Dentro da floresta,

há riso, cor e som.

Também há mistério,

sombra, silêncio e tons.

 

Os tons pálidos da vida,

os tons sombrios do amor.

Os tons vibrantes da alegria,

os tons vívidos da dor.

 

A floresta do “eu” é infinita,

apresenta novas vitórias a cada dia.

Cada flor é um sentimento,

cada espinho é um lamento.

 

Cada flor é uma experiência,

cada espinho a beleza de um lamento.

Cada árvore um divino experimento,

cada rio um novo sentimento.


Poesia escrita por Tatyana Casarino.





Essa poesia aborda a profundidade do autoconhecimento através da metáfora da floresta. O "eu" é como uma floresta misteriosa e repleta de surpresas. Desbravar o conhecimento da alma é tão emocionante quanto desbravar as riquezas naturais de uma floresta. 


Tatyana Casarino. 

Sonhar é preciso

 



 

Nas brumas de Netuno,

mais sonhos despertam

As almas dos profetas

e os espíritos das ninfas.

 

Navegar numa ilha,

nadar num rio profundo

e mergulhar até o fundo.

Eis o espírito de Netuno.

 

Voa a alma como uma ave,

destinando os símbolos aos poetas

e os mistérios aos grandes ascetas.

Os Mestres amam a nossa vida.

 

Enquanto o relógio marca as horas,

no outro plano, só existe o Agora.

E, mergulhando neste minuto,

encontro o meu “eu” mais profundo.

 

A alma precisa de liberdade,

assim como as aves precisam de asas.

O espírito precisa de poesias novas,

assim como os pés desbravam e caminham.


Sonhar é preciso, oh! Alma!

Sonhar é preciso, oh! Espírito!

Quantos segredos guardam a alma?

Qual é o ritmo do sutil espírito?

 

Os dons divinos chegam num raio,

alcançam voos altos e cantam.

Voam além dos muros e dos preceitos,

incendeiam os poetas, os profetas e os eleitos.

 

Sem sonhos, a vida é vazia.

Sem poesias, a vida é sofrida.

Vamos escrever para incendiar,

incendiar as almas com o amar.





Poesia escrita por Tatyana Casarino. 


Essa poesia ressalta a importância dos sonhos para a conquista da alegria numa jornada transcendente e criativa. A referência ao planeta "Netuno" aponta um conhecimento astrológico e arquetípico, já que esse planeta representa o sonho, a fantasia e a espiritualidade dentro da Astrologia. 


Tatyana Casarino. 

domingo, 20 de julho de 2025

Alma elevada

 



 

Ter a alma grande,

grande como um leão,

é ter a certeza que a alma

nasceu com uma missão.

 

Às vezes, temo ser incompreendida,

mas não temo a solidão nem a dor.

Eu vou escrever até a morte,

porque Deus me deu este dom.

 

Vou escrever, escrever, escrever,

até soar estranha, incoerente e louca.

A minha sabedoria doce e poética

nunca foi soberba, mas profética.

 

E, se alguém me julgar por aqui,

estarei pronta para as pedras de marfim.

Solitária, incompreendida e com a cruz,

será uma honra estar nos passos de Jesus.

 

Eu sempre serei, Pai,

a sua filha excêntrica.

Minha mente transcendente

nunca foi comum nem pequena.


Por que a Terra é limitada?

Por que o mundo é denso?

Gostaria de mais amor

até o planeta virar o paraíso.

 

Minha grande missão,

No fundo, é pura e simples:

amar e elevar a minha alma

para elevar a alma do irmão.


Poesia escrita por Tatyana Casarino.


Essa poesia ressalta que a alma elevada é aquela que busca a transcendência mesmo quando o caminho apresenta angústias, obstáculos e incompreensões.