Peso nas costas, peso.
Peso na alma, peso.
Ser da luz espiritual por aqui
parece um sofrimento sem fim.
A beleza da luz é invejada quase sempre,
a criança interior está um pouco ferida.
Aconselha o mundo, mas a voz não é ouvida.
Missionário, assim é a Terra, assim é a vida.
Eu abraço a menina de novo
no recreio, no corredor da escola.
Visito o meu passado, a minha menina,
beijo a sua testa em sinal de vitória.
Eu vou honrar a sua dor,
honrá-la até morrer.
Vou mostrar ao mundo
o seu coração doce e profundo.
No fim do arco-íris,
eu vi um tesouro incrível.
Ele não é feito de ouro nem de prata,
ele se chama “autoestima inata”.
Eu descobri um tesouro dos deuses,
mas eles pensam que é soberba.
Não sabem diferenciar orgulho negativo
do orgulho positivo ou suprema beleza.
Quem diz que você é orgulhoso ou triste
quase sempre abusa do seu coração humilde.
Mesmo se você revelar a alma a cada conselho,
não salvará o inseguro com todo o seu zelo.
Temos a impressão de que não salvamos ninguém,
mas iluminamos e inspiramos muitos na Terra.
Queríamos distribuir tesouros nobres e divinos,
mas as pessoas não estavam bem despertas.
Os missionários sempre apontavam o caminho feliz,
que leva ao tesouro do arco-íris, riqueza sem fim.
Contudo, quase ninguém queria escalar a divina montanha,
pois quase ninguém encontrava forças para o caminho a seguir.
No fim do arco-íris real ou imaginário,
os iluminados caminham solitários.
Somos fortes de alma e de coração,
mas, de noite, também sentimos solidão.
Depois da montanha, além do arco-íris,
não há muito sonho nem muita alegria.
A superação traz algumas vitórias sorridentes,
mas o topo da montanha é frio e descrente.
Além do arco-íris,
algumas cores desbotam,
os anéis de Saturno sufocam
a alma cansada e melancólica.
Depois do arco-íris, o cansaço,
marca de tantas lutas para ultrapassá-lo.
Por fim, se alguém quiser o tesouro do arco-íris,
terá de observar uma alma de luz pelas cicatrizes.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
O "fim do arco-íris" é uma metáfora para o "tesouro" que existe após uma vitória rara e iluminada na vida.
Muitas lendas afirmam que existe um "tesouro" no final do arco-íris, mas, na poesia, o arco-íris é símbolo de uma evolução espiritual e o "tesouro" é a metáfora para uma conquista espiritual (e não uma riqueza material).
Conforme os versos da poesia, o "eu lírico" descreve as dores de uma iluminação espiritual e as dificuldades que surgem após atingir uma luz bonita num mundo denso e complexo.
Os "missionários" citados na poesia seriam aqueles que tentam transmitir a luz do espírito para o mundo da matéria. Eles se machucam emocionalmente e se sentem solitários, pois quase ninguém pretende seguir o caminho que eles apontam.
O poema mostra as dores da iluminação, especialmente a solidão e o cansaço. Em vez de romantizar o crescimento espiritual (como alguns espiritualistas fazem), os versos descrevem as "cicatrizes" emocionais e espirituais das pessoas consideradas "iluminadas".
A maioria das pessoas de sucesso teve um passado difícil e carrega um peso que ninguém vê. Afinal, após vencer uma grande batalha (física, emocional ou espiritual), o guerreiro tem mais cicatrizes do que comemorações.
A referência ao planeta Saturno revela uma inspiração astrológica: a de que esse planeta rege uma fase de amadurecimento e recompensa pela virtude, mas também aponta melancolia, cansaço e dificuldades no caminho.
Por fim, a poesia sugere que a observação das cicatrizes (e não das glórias) dos seres que carregam a luz aponta o verdadeiro caminho da superação e da evolução espiritual.
Tatyana Casarino.
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