A vida parecia tão certa,
uma caminhada tão livre,
uma rua com uma única seta,
e a linha sempre clara e reta.
Eis que, no meio da jornada,
a parada, a ilusão, a perdição.
Uma queda, um louco, o abismo,
e um cão latindo para a encruzilhada.
Ah! Este sentimento de não pertencimento
é cruel e ainda me mata, ainda me mata.
O coração sente aquele vento contrário
e se contrai, se esmaga e quase me mata.
Você sabe quando foi a última vez
que nos sentimos seguros de tudo?
Por que a vida é amarga correria
se ela termina num mistério oculto?
Quero vida, quero vida,
mas quero vida de verdade.
A segurança tediosa me cansa,
e a rotina mata a minha vaidade.
Onde está a nossa criança interior?
Aquela que era artista de teatro,
que pintava loucuras, fazia retratos,
chorava, sorria, sem culpa nem fardos?
Onde está o lado bom da vaidade
que se ama ao infinito sem culpa?
Onde está o coração cheio de pureza
dentro de uma alma doce e sem idade?
Onde está você? Onde?
Eu quero amá-lo de novo
sem me sentir tão perdida.
Quero ser a sua sacerdotisa.
No templo do amor, estamos sozinhos,
você é o sol, eu sou a lua e o céu é um ninho.
Dia e noite nunca se perderam no tempo infinito,
porque os astros e as estrelas estão bem fixos.
Por que nos perdemos no infinito?
Por que estamos sempre perdidos?
Sem amor, sem destino, sem dinheiro,
só com um punhado de sonhos vívidos.
Por que estamos perdidos?
Por que estamos à beira do abismo?
Eu só queria encontrar uma direção
que me levasse ao sucesso do coração.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
Essa poesia revela o sentimento de "não pertencimento", ou seja, a sensação de excentricidade, exclusão e inadequação perante o mundo. Na jornada da alma, é comum que a pessoa se sinta perdida muitas vezes. Por essa razão, o eu lírico revela a vontade de viver uma vida mais autêntica e segura ao mesmo tempo. A segurança desejada pela poesia, no entanto, é temperada com um pouco de aventura e com o reencontro da criatividade da nossa criança interior sem as culpas e o tédio do mundo adulto.
Além do mais, a poesia faz referência ao arquétipo do "Louco", uma carta do Tarô que indica liberdade e o começo de uma nova aventura. Ainda que o eu lírico se sinta perdido, ele segue o próprio caminho espiritual em busca de respostas. Afinal, assim como afirmou a escritora Clarice Lispector, perder-se também é caminho.
Tatyana Casarino.
*Fonte das imagens: Pinterest
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