Não me julgue se eu chorar,
não me julgue se eu me cansar,
não me julgue se eu me isolar,
não me julgue se eu me calar.
É difícil viver num mundo
cheio de ódio e ignorância.
As pessoas estão cheias de ganância,
as pessoas estão cheias de vingança.
É preciso amar o inimigo,
amar quem está errado,
amar o mocinho, amar o bandido,
amar as nossas sombras sem sentido.
Os falsos moralistas são sarcásticos,
pois não abraçam as suas sombras.
Eles são os hipócritas bombásticos,
com esqueletos no armário do passado.
Não me julgue se eu chorar,
não me julgue se eu me cansar,
não me julgue se eu me isolar,
não me julgue se eu me calar.
Embora eu seja tão querida,
eu conheço a minha ferida
Neste mar de injustiça e hostilidade.
a maldade do mundo me fere de verdade.
A maldade do mundo me fere,
a maldade do mundo me entorpece.
Eu poderia me atirar na fogueira das vaidades,
mas prefiro me isolar e calar a minha verdade.
Eu acredito em Thomas Hobbes*,
o homem é o lobo do homem,
o homem é mau por natureza,
e a maldade é uma certeza.
Estou cansada de sair de casa,
e sentir um peso nos ombros.
Estou cansada da energia mundana,
vou me isolar numa bucólica cabana.
O paraíso é um lar isolado,
longe da civilização e dos bárbaros.
O paraíso é um lugar com Lhasa Apso*!
É melhor ouvir latidos do que ataques sem sentido.
Um castelo, um templo e um cachorro.
Não preciso de mais nada para ser feliz,
pois não preciso provar nada para ninguém.
Sou protegida e vivo bem a minha vida.
Fazendo a minha arte, escrevendo a minha poesia,
abraço a minha doce criança interior.
Não preciso de nada do mundo lá fora,
pois o meu coração já tem muito amor.
Às vezes, é bom esconder a beleza no mundo,
a civilização não merece o nosso coração.
Às vezes, é bom criar um mundo próprio,
cheio de poesias, catedrais e beijos profundos.
Ah! Como é bom ser anônima!
Eu poderia estar de terninho na rua,
atraindo plateias, sucesso, dinheiro e fama.
Mas, ultimamente, eu prefiro silêncio e cama.
Prefiro andar descalça pela grama,
sem ser reconhecida por ninguém.
Gosto de viver sozinha no meu lar,
dançando livremente como uma cigana.
Gosto de trocar terninhos de advogada
por vestidos longos, rodados e coloridos.
Gosto de trocar a companhia dos humanos,
pela companhia dos cães enquanto rezo aos santos.
É tão livre e doce a sensação
da vida discreta, simples e anônima.
É tão bom queimar a toga e a vaidade
antes de correr para as flores despida de saudade.
Gosto de capelas pequeninas,
andar de bicicleta após a missa
e passear de carro com o cachorro.
A vida simples é um tesouro.
O homem é o lobo do homem,
e eu prefiro os descendentes dos lobos.
Na companhia das flores e dos cachorros,
encontro mais paz do que na selva do ouro*.
O lado bom do meu belo isolamento
é não absorver o mundano tormento.
No mundo, apareço um pouco e faço caridade.
Depois, volto para a casa e me deito na minha verdade.
Isolada, preservo a inocência de minh'alma
e evito machucar o meu doce coração.
Isolada, mais forte é a minha oração,
que sobe aos céus através da meditação.
Minha rede social é como um álbum de família,
não é negócio, não é marketing nem jogo de vaidade.
Transcendendo pelo isolamento místico e pela humildade,
encontro paz, amor, harmonia, sabedoria e felicidade.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
A poesia critica a sociedade enquanto enaltece a vida particular, pois a discrição, o isolamento e o anonimato, muitas vezes, podem salvar a alma da "contaminação" moral, emocional e espiritual que o mundo causa nas pessoas através dos seus ruídos, dos seus conflitos e das maldades.
*Explicando citações e inspirações da poesia:
Thomas Hobbes é um filósofo contratualista muito estudado na Faculdade de Direito. Ele afirmava que a essência do homem é má! Logo, as atitudes são egoístas e baseadas no medo e nos próprios interesses, os quais são impostos por meio da violência. Dessa tese, nasceu a célebre frase: "o homem é o lobo do homem."
Pelo fato do homem ser mau por natureza e defender os interesses violentamente, a vida humana estaria em risco diante do estado de natureza sem qualquer lei ou soberania. Sendo assim, surge a necessidade do homem renunciar a sua liberdade em prol de um soberano que vigiasse a comunidade, determinasse ordens, criasse leis e garantisse a vida.
*Lhasa Apso
É uma raça de cachorro com uma história mística na sua origem. Há relatos de que os cachorros dessa raça protegiam os monges tibetanos e os templos budistas. A função do Lhasa Apso era proteger autoridades religiosas, pois, apesar do pequeno porte, eles sempre souberam identificar perigos e estranhos facilmente.
Essa raça ama vigiar portas e janelas para proteger o seu tutor dos perigos do mundo. Os monges tibetanos levam uma vida reclusa em busca da iluminação. A meditação e o isolamento são importantes para os momentos espirituais.
*Selva de ouro
Uma expressão poética para designar o nosso mundo, o qual é materialista e se importa mais com o "ouro" do que com a dignidade humana. Para encontrar a paz e preservar a dignidade num mundo tão caótico, o isolamento pode ser bom de vez em quando.
Tatyana Casarino.
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