Lágrimas de Madalena
O amor é uma palavra abençoada
que foi, pelo mundo,
contaminada.
Eu juro que senti pureza e
inocência,
um amor de estranha beleza.
Um amor puramente espiritual,
um amor feito de fé, luz e
lágrima.
Nunca perdi a castidade nem a
realeza,
Nunca fui uma adúltera sem
decência.
Quando eu andava pelas ruas,
arrastando os cabelos nas
calçadas,
a pele pálida e a cabeça
endemoniada,
Ele olhou para mim e salvou
minh’alma.
Eu voltei para o meu castelo,
peguei todo o meu ouro e
incenso,
e decidi patrocinar o Seu intento.
Minha vida nunca mais foi só
lamento!
Eu fui flagrada conversando
com Ele,
mas qual é o problema de uma
conversa?
Ele estava aberto ao diálogo
sem pressa,
acolhendo tanto o pescador quanto a donzela.
Eu nunca fui uma favorita sem mérito
que recebeu, por acaso, os
seus mistérios.
Acontece que eu O procurava
mais,
e quem procura recebe mais do
Pai.
Quem é grato e busca mais a
Deus
recebe mais bênçãos e
presentes.
Eu quis sabedoria e libertação,
pois sonhava com a paz no
coração.
Eu pensava que a evolução
espiritual
era um caminho que mutilava a
emoção.
Mas, eu descobri do próprio
Mestre,
que ninguém é santo se não
tiver coração.
Eu pensava que a perfeição
espiritual
significava eliminar todas as
lágrimas.
Mas, descobri do próprio
Mestre,
que a ascensão se faz por meio
da alma.
Os outros passaram a me olhar
com malícia:
os passageiros do mundo pensam
maldades.
Mas, qual é o problema de uma mulher
buscar a sabedoria da divina
vontade?
A minha mente profunda e inteligente
já foi disputada por Deus e
pelo Inimigo.
Mas, quando o Mestre me
salvou,
minh’alma descobriu o bom
caminho.
A sabedoria do Mestre beijou a
minha testa,
o sopro do conhecimento me
dominou.
De uma mente inteligente e
atormentada,
eu passei a ter a mente
divinamente sábia.
Eu me transformei na mulher
mais sábia,
mais inteligente e mais
poderosa de Magdala*.
Eu descobri os Seus segredos divinos
de sabedoria,
capazes de harmonizar a vida
interior com esplendor.
Mas, Ele também me disse com
ternura:
“tornar-te-ei sábia no caminho
da razão,
mas também quero que conserves
teu coração”.
Foi quando eu permiti a
lágrima mais pura.
No caminho do divino feminino,
a lágrima é um meio de
ascensão.
Cada lágrima de um justo derramada,
é um degrau da nossa celestial
escada.
“Bem-aventurados os que choram,
pois eles serão os mais consolados.
Nunca deixe de chorar
totalmente,
pois tua lágrima me deixa presente”.
Então, eu chorei no sepulcro,
e Ele se faz presente para
mim.
Ressuscitado, Ele me deu a
glória.
Minhas lágrimas me levaram à
vitória!
Poesia escrita por Tatyana
Casarino.
*Magdala: pequena aldeia onde nasceu Maria Madalena.
Reflexões poéticas:
Esta poesia é uma interpretação artística, filosófica e espiritual sobre a vida de Maria Madalena e o seu caminho de ascensão por meio das lágrimas e dos sentimentos místicos do seu coração.
Muitas vezes, pensamos, de forma equivocada, que precisamos ser perfeitos para sentir a presença de Deus. Ocorre que, por meio das nossas lágrimas, Ele também pode manifestar a Sua presença, o Seu divino consolo e o Seu amor para nós.
Afinal, Madalena viu o Mestre ressuscitado logo após manifestar as suas lágrimas perto do sepulcro. O próprio Mestre já afirmou: "bem-aventurados os que choram, pois serão consolados" (Mateus 5,4).
A verdadeira evolução espiritual não acontece quando trancamos as lágrimas dentro de nós, mas quando trazemos Jesus para o nosso coração no momento da manifestação da lágrima. Buscar o nosso consolo emocional em Deus é subir a escada divina do mundo celeste. O "Divino Feminino" de Madalena é o caminho do coração e da sensibilidade (qualidade da alma da mulher) até a sabedoria mística e divina.
Tatyana Casarino.
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