Lendas e Figuras Fantásticas que Existem
ou Existiram.
Boa
noite aos nossos amigos que se reúnem para compartilhar histórias fantasiosas!
Hoje nós faremos uma experiência diferente das edições anteriores, focadas em
lendas de outros países (já falamos de lendas do Brasil, da França e da Rússia).
O nosso objetivo desta vez não será explorar as lendas de uma determinada
nação, e sim buscar a realidade por trás delas, em sua narrativa ou em seus
elementos.
A
lista desse mês de julho é uma continuação não oficial de uma lista anterior,
sobre 10 Criaturas Mitológicas que existem ou existiram. O escopo foi aumentado
dessa vez, e falaremos de criaturas místicas, mas também de personagens dos
contos de fadas, plantas esquisitas, tribos misteriosas e reinos fantásticos perdidos
na linha tênue entre a história e a imaginação. Sem mais delongas, preparem-se
para viajar!
*Obs: A lista foi dividida em duas partes pela administradora do blog para facilitar a leitura. Fiquem agora com a segunda parte da lista! Boa leitura!
6-Quetzalcoatl.
O
próximo mito da lista serve tanto como um herói legendário como uma criatura
mística. Na região da Mesoamérica (México e América Central) existem lendas
sobre o Deus Quetzalcoatl, também chamado Kukulkan; as duas palavras significam
“Serpente Emplumada”, nas línguas Nahuatl e Yucatec, respectivamente. Quase
todos os povos locais possuíam ao menos uma divindade que assumia a forma de
uma serpente cheia de penas, desde os Olmecas até os Maias e Astecas.
A
história mais famosa sobre Quetzalcoatl descreve sua luta contra o Deus-Jaguar
Tezcatlipoca pelo controle da cidade tolteca de Tollan. Tezcatlipoca usou de
trapaças e ardis para vencer Quetzalcoatl, que partiu para o leste do grande
oceano, prometendo voltar quando chegasse a hora certa. Muitos nativos
interpretaram a vinda dos primeiros espanhóis como uma parte da profecia, sem
imaginarem a tragédia no horizonte; uma das inúmeras formas de Quetzalcoatl era
justamente um homem branco e barbado.
Embora
seja implausível imaginar uma serpente gigante voando pelos céus do México e da
América Central antes da chegada dos europeus, existe um curioso fundo de
verdade na lenda de Quetzalcoatl/Kukulkan, e mais uma vez retornamos aos nossos
amigos dinossauros. Pesquisas recentes no ramo da paleontologia revelaram que
diversos répteis antigos contavam com penas sobre o corpo, incluindo os
temíveis tiranossauros e velociraptores. As penas eram mais comuns em
carnívoros do que herbívoros.
As
descobertas não pararam nos dinossauros com penas: Uma criatura antiga notável descoberta
em 1972 foi batizada com o adequado nome de Quetzalcoatlus, em honra ao Deus
mesoamericano. Essa espécie de pterodátilo provavelmente foi o maior animal
voador que já existiu no mundo, e também conseguia andar sobre quatro patas;
quando estava no chão, o Quetzalcoatlus tinha o tamanho de uma girafa.
7-Vanaras.
Nossa
próxima criatura mística é originária da Índia, e aparece com veemência num dos
maiores épicos hindus, o Ramayana, obra-prima do monge-poeta Valmiki. Os
Vanaras são descritos como uma raça de macacos inteligentes e honrados, capazes
de grandes façanhas. O mais conhecido dos Vanaras foi Hanuman, um guerreiro símio
que aumentava e diminuía de tamanho, conforme a necessidade.
Falamos
sobre os protagonistas desse gigantesco poema na lista dos 10 Casais da
Mitologia, mas deixarei um resumo: O Ramayana fala da história do príncipe Rama
de Ayodhia, que se casa com a princesa Sita, nascida num reino onde hoje fica o
Nepal. Após uma intriga palaciana, ambos são banidos de Ayodhia, e vivem por
muitos anos na floresta, até o dia em que o rei-demônio Ravana sequestra Sita.
Rama parte ao resgate, auxiliado por muitos heróis e um grande exército de
Vanaras.
Uma
teoria sobre a origem dessas criaturas passa pela etimologia da palavra,
dividida em “Vana” (“Floresta”) e “Nara” (“Homem”). Alguns estudiosos afirmam
que Valmiki não se referiu a macacos, e sim a “homens que viviam como macacos”,
quando escreveu o seu poema. Dessa forma, o Ramayana trata não apenas do
resgate de uma bela donzela, como também da chegada da civilização às tribos
ainda selvagens do interior da Índia.
Outros
aspectos curiosos da lenda aumentam a associação dos Vanaras às tribos ainda
selvagens da Índia antiga: uma tribo chamada Sabara vive no sudeste do país, o
mesmo lugar onde Rama teria recrutado a ajuda dos Vanaras. Os homens Sabaras
costumam usar uma calça que possui um apêndice parecido com uma “cauda”, e este
detalhe pode ter influenciado a escrita de Valmiki.
Assim
como o Brasil, a Índia é um país com muitas espécies de macacos. A espécie mais
comum é chamada de Rhesus, que existe também em países vizinhos, como o Nepal,
Bangladesh e a China. Um dos locais históricos mais visitados da Índia, o Forte
de Agra, é famoso pelos macacos Rhesus; os bichos praticamente dominam o lugar,
além de serem ágeis e espertos como Hanuman.
8-Branca de Neve.
Um
dos contos de fadas mais conhecidos do mundo, e possivelmente a mais famosa das
histórias coletadas pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. A trajetória da Branca
de Neve (Schneewittchen, no original em alemão) continua a ser interpretada e
reinterpretada de muitas formas. Diversas cidades alemãs disputam a honra de
local de origem do conto, numa tentativa de incrementar o turismo nas redondezas.
O
mais surpreendente nesse conto de fadas está na sua origem, que se divide entre
duas mulheres nobres que viveram no final da Idade Média e no século XVIII. Uma
delas se chamava Margaretha Von Waldeck, filha do Conde Filipe IV de Waldeck,
um domínio que ficava na fronteira da Holanda com a Alemanha.
Margaretha
nasceu em 1533 e morreu muito jovem, com apenas vinte e um anos de idade;
muitos relatos falavam de sua beleza ímpar. Assim como a personagem da lenda, a
jovem teve uma madrasta muito rígida, embora não exatamente maldosa. Um de seus
mais conhecidos pretendentes foi Felipe II da Espanha, que na época ainda era um
príncipe herdeiro a serviço de seu pai, Carlos I. O namoro não prosperou devido
às questões religiosas: Felipe era católico, enquanto Margaretha era luterana.
Após
o retorno de Felipe à Espanha, a saúde de Margaretha declinou a olhos vistos,
mas nenhum remédio foi capaz de salvá-la. Boatos circulavam entre a população,
afirmando que a jovem foi envenenada numa conspiração, mas nada foi comprovado.
A madrasta não poderia ser a culpada pela tragédia, pois ela apenas apareceu na
residência dos Waldeck depois da saída de Felipe.
A
segunda história que poderia ter inspirado a Branca de Neve foi Maria Sophia
Von Erthal, que viveu na cidade de Lohr, norte da Bavária. Assim como
Margaretha, Maria tinha uma madrasta, e o castelo onde a família dela vivia era
famoso pela presença de um espelho que supostamente podia falar. Na verdade,
essa afirmação era baseada na qualidade da vidraçaria de Lohr; metaforicamente,
os espelhos produzidos na região eram tão bons que chegavam a “refletir a
verdade”.
A
explicação para a presença de minas e anões é a parte mais triste do conto:
tanto a família Waldeck como a família Erthal eram proprietárias de grandes
minas de cobre e prata, localizadas no centro da Alemanha moderna. Devido à
estreiteza de alguns túneis e passagens subterrâneas, muitas crianças
trabalhavam nessas minas insalubres, passando por lugares inacessíveis aos
adultos.
A
maçã envenenada parece derivar de outras histórias locais, contadas pelos
adultos às crianças para evitarem presentes de estranhos. Lendas sobre bandidos
distribuindo frutas e doces envenenados são comuns em diversos locais do mundo.
Um exemplo famoso nos EUA fala de maçãs “recheadas” com navalhas; apesar de
tamanha perversidade ser vista hoje como um caso de histeria coletiva, essa
história costuma voltar à memória popular na véspera do Dia das Bruxas, quando
crianças saem de porta em porta pedindo doces.
Podemos
afirmar que a lenda da Branca de Neve não foi apenas uma história. O que
aconteceu foi um longo processo com várias histórias se juntando para criar um
conto de fadas popular até hoje, na Alemanha e no exterior. De certa forma,
podemos comparar essa curiosa amálgama com o processo de unificação da
Alemanha, motivado pelo mesmo sentimento romântico e nacionalista responsável
pelo resgate dos contos populares.
9-Icamiabas e Huacaris.
As
guerreiras solitárias até hoje são figuras populares no imaginário brasileiro,
então não pude deixá-las de fora dessa lista. O nome “Amazonas” que deu origem
ao maior estado do Brasil é derivado da mitologia grega, então preferi usar o
vocábulo nativo, que significa “Peito Achatado”, em referência à aparência das
guerreiras após usarem o arco e as flechas com frequência. Relatos posteriores
falariam da existência dos Huacaris, os únicos nativos que não tinham medo das
Icamiabas, e ainda se relacionavam com elas.
O
relato mais conhecido sobre essas mulheres violentas é de autoria do padre
espanhol Gaspar de Carvajal, integrante da expedição de Francisco de Orellana,
o primeiro conquistador europeu a atravessar todo o Rio Amazonas. Carvajal
descreveu aldeias com centenas de habitantes às margens dos rios, e guerreiras
de longos cabelos negros lutando ao lado de seus maridos.
Diversas
interpretações alimentam debates acalorados sobre o que os conquistadores
realmente viram em sua perigosa travessia. Enquanto alguns historiadores
sugeriram que Carvajal viu homens de cabelos compridos, outros apontam que a
desigualdade entre os sexos nas tribos amazônicas era quase inexistente,
explicando a presença de mulheres lutando ao lado de seus maridos.
A
única certeza quanto ao relato de Carvajal está no tamanho das aldeias. Já
existe um consenso entre antropólogos e arqueólogos de que a Selva Amazônica
estava apinhada de gente antes da chegada dos europeus, com aldeias enormes
onde viviam centenas de nativos. Francisco de Orellana e seus homens tiveram de
se aliar a algumas das “aldeias-metrópoles” nas guerras contra outras tribos,
até alcançarem a Ilha de Marajó.
Assim
como suas parceiras, os Huacaris estão envoltos em mistério e foram citados por
outro padre espanhol, Cristobal de Acuña, que acompanhou a expedição do
português Pedro Teixeira à Amazônia, em 1630. Os Huacaris também são chamados
de Guacaris e Guacarás em traduções da obra Nuevo Descubrimento, escrita por
Acuña.
Conforme
o relato do padre, os Huacaris viviam em terras altas, além de serem os únicos
homens capazes de se aproximarem das ferozes Icamiabas, embora isso ocorresse
apenas uma vez por ano. Durante a Festa de Iaci, os casais se reencontravam e
trocavam presentes, além de cuidarem dos filhos; as meninas ficavam com as
Icamiabas e os Huacaris levavam os meninos. A pedra de Muiraquitã era o
presente mais comum.
É
provável que “Huacari” seja um termo pejorativo, adotado pelas tribos rivais
dos maridos/amantes das Icamiabas. O vocábulo é muito parecido como Uacari, uma
curiosa espécie de macaco de pelo branco e rosto vermelho, outrora comum na
Amazônia Ocidental e hoje ameaçado de extinção. Entre tribos inimigas, é comum
o uso de nomes baseados em animais da selva para provocar os adversários; os
Temiminós, por exemplo, eram chamados de Maracajás (“Gatos do Mato”) por seus
inimigos Tupinambás.
A
hipótese mais provável para o sumiço das aldeias gigantes da Amazônia envolve a
chegada de epidemias desconhecidas pelos nativos, vindas da Europa e da África.
Muitos desses povoados foram dizimados antes da chegada dos colonizadores, pois
a transmissão das enfermidades do Velho Mundo ocorria pelo contato com outros
nativos, sobreviventes de moléstias anteriores. Os sobreviventes não dispunham
de uma população grande o bastante para manterem grandes aldeias, tornando-se
povos nômades.
10-Reino de Prestes João.
E
terminamos a nossa lista com a lenda de um reino perdido, governado por um
misterioso soberano que defendia a Fé em Cristo numa terra distante. A primeira
citação “oficial” sobre Prestes João ocorreu em 1145, conforme descrições dadas
por um prelado nascido na Síria, chamado Hugo de Jabala. Mas é possível que a
lenda seja ainda mais antiga, pois a existência de cristãos além das fronteiras
da civilização (ao menos da civilização europeia) sempre trouxe indagações e
hipóteses.
Como
o reino parecia simplesmente inalcançável aos europeus medievais, as histórias
se acumulavam ao lado dos boatos: dizia-se que não havia animais peçonhentos
nos domínios de Prestes João, e nenhum de seus súditos roubava ou contava
mentiras, pois imediatamente cairia morto se o fizesse. Prestes João vivia num
palácio de cristal, usava um manto de lã de salamandra (não, você não leu
errado: lã de salamandra!), cavalgava dragões alados e possuía um espelho mágico
que lhe permitia ver tudo nas redondezas.
O
povo que vivia sob o reinado de Prestes João não era humano, ao menos não em
sua totalidade: Havia selvagens com chifres na cabeça que grunhiam como porcos
e pigmeus de um palmo. Até os animais eram pitorescos: Ratos do tamanho de cães
que escavavam ouro; papagaios que conheciam línguas exóticas; leões de juba
vermelha ou verde; cigarras douradas que cantavam alegremente; peixes que
“nadavam” no areal de um enorme deserto.
Apesar
de não apreciar a guerra, Prestes João comandava um exército poderoso, devido
ao perigo oferecido pelas nações idólatras de Gog e Magog. Havia uma unidade de
guerreiros antropófagos que devoraram os inimigos durante as batalhas, e também
comiam os companheiros mortos na guerra. Curiosamente, os europeus encontrariam
muitas tribos antropófagas no Brasil, realizando ambas as “modalidades” de
canibalismo, fosse com inimigos (exocanibalismo) ou entes queridos
(endocanibalismo).
Poderíamos
passar horas discutindo os elementos fantásticos da lenda, mas agora vamos
falar de seus elementos inspiradores. As primeiras lendas a surgirem na Europa
falavam de “Um rei cristão no meio da Índia”; nessa época, a Índia poderia ser
literalmente qualquer lugar fora do continente europeu, excluindo a África.
Ironicamente, a lenda desse monarca “migraria” da Ásia para a África, como
veremos mais tarde.
Por
volta de 431 Depois de Cristo surgiu um movimento na Igreja Ortodoxa, conhecido
como Nestorianismo, também chamado Igreja do Leste. Existiram muitas
ramificações nesse movimento iniciado pelo então Arcebispo de Constantinopla,
Nestório, mas vamos concentrar a visão nos efeitos práticos dessa doutrina. O
Nestorianismo não ficou muito tempo nas redondezas do Império Romano do
Oriente, também conhecido como Império Bizantino, devido à acusação de heresia
pela Igreja Ortodoxa tradicional.
Muitos
Nestorianos tiveram de se abrigar em comunidades onde o monoteísmo já era uma
ideia familiar, como os Zoroastristas e algumas vertentes do Budismo. Aos
poucos foram surgindo comunidades cristãs nos reinos asiáticos, com destaque
aos povos nômades, como os Mongóis, os Naimanos e os Jurchen. O Deus maior da
maioria desses grupos era Tengri, o “Eterno Céu Azul”; o sincretismo levaria à
associação de Tengri ao Deus Cristão.
Em
1141 ocorreu a célebre batalha de Qatwan entre o Canato (como os nômades
asiáticos chamavam seus reinos) de Karakhitai e os Turcos Seljúcidas. O líder
dos Karakhitai era Yelu Dashi, um guerreiro que possuía boas relações com os
Nestorianos, e sua vitória espetacular soou como música aos ouvidos dos
europeus envolvidos nas Cruzadas. Relatos distorcidos por viajantes
entusiasmados associavam Yelu Dashi a Prestes João, apesar desse monarca de
sangue mongol seguir o Budismo como fé.
Durante
um bom tempo os europeus esperaram pela vinda de Prestes João na luta contra os
muçulmanos, e a ajuda parecia que estava a caminho em 1231, quando o reino
persa e muçulmano da Corásmia foi conquistado por um rei misterioso. Na
verdade, esse “rei misterioso” era Gengis Khan, e seus descendentes levariam
bênçãos e maldições aos cristãos; os mongóis devastaram nações islâmicas e
invadiram o leste europeu, causando muita destruição. Os Karakhitai também
foram destruídos pelos mongóis.
Foi
justamente durante a avassaladora expansão mongol que muitos europeus tiveram
seu primeiro contato com a Ásia. Os mongóis eram tolerantes com outras
religiões, permitindo um intercâmbio cultural inimaginável até então, e
recrutando gente de todas as origens em seu exército e na burocracia. Um desses
europeus foi um aventureiro veneziano chamado Marco Polo, que visitou a China durante
o reinado do neto de Gengis Khan e imperador da Dinastia Yuan, Kublai.
Um
relato curioso no Livro das Maravilhas de Marco Polo afirmava que o rei Prestes
João foi derrotado pelos exércitos mongóis, indicando que a reverência a esse
monarca fantástico parecia ter enfraquecido entre os europeus, após o fim das
Cruzadas. É possível que o “Prestes João” descrito por Marco Polo fosse um
governante cristão Nestoriano, talvez até mesmo um líder dos Karakhitai.
O
desencanto com o Oriente não matou de vez a lenda, pois a Era das Navegações
traria novos horizontes e mistérios a serem desvendados. Um novo “candidato” ao
Reino de Prestes João reapareceu no imaginário coletivo europeu: a Etiópia.
Como nenhum Prestes João foi encontrado na Ásia, os estudiosos da época
indagaram se eles não estavam procurando no lugar errado, e voltaram-se à
Etiópia, também chamada Abissínia.
A
Etiópia não era desconhecida dos europeus, mas o contato com esse país africano
de maioria cristã era esporádico, virando terreno fértil às lendas exageradas.
No folclore local, os etíopes possuem uma lenda afirmando que um dia eles
invadiriam a Arábia, embora não falem em nenhum grande monarca místico
liderando essa epopeia vindoura. Durante as Cruzadas, guerreiros etíopes e
outros povos cristãos da África oriental lutaram ao lado dos cavaleiros
europeus, impressionando seus irmãos de armas.
Na
segunda metade do Século XV, Portugal e os reinos que formariam a Espanha
buscaram intensificar seu contato com a Etiópia, em busca de aliados contra os
turcos e os muçulmanos do norte da África. Nada menos que trinta viagens
diplomáticas envolveram Portugal e seu parceiro africano, enquanto o embaixador
do reino de Aragão sugeriu até mesmo uma proposta de casamento entre os dois
países.
O
contato estável entre a Etiópia e seus aliados na Europa veio em boa hora,
quando explodiu uma série de guerras entre o país africano e seus belicosos
vizinhos muçulmanos do Sultanato de Adal, no atual oeste da Somália. Numa
curiosa reversão da lenda, o suposto Reino de Prestes João foi salvo pelos
europeus, nesse caso um exército de 400 mosqueteiros portugueses. O conflito
durou entre 1529 e 1532, sem mudanças nas fronteiras das nações africanas, e os
etíopes aprenderam a se defender com armas de fogo.
As
buscas pelo reino fantástico cessaram depois do Século XVI, quando os europeus
passaram a se concentrar na administração das terras descobertas em outros
continentes, ao invés de procurar por mais fábulas. Isso não significa que a
busca pelo Reino de Prestes João ou de qualquer outro lugar místico foi uma
perda de tempo: foi justamente esse desejo de encontrar terras perdidas que
levou exploradores, missionários e aventureiros a aproximar novas culturas,
levando à evolução da humanidade.
Parabéns pelo texto tão rico em informações, Mateus! Amo a união entre história e mitologia (ou fantasia também). Adorei aprender sobre os Vanaras, já que sou uma estudiosa entusiasmada sobre o misticismo da índia. Também amei conhecer as figuras históricas por trás da lenda da Branca de Neve. Percebi que é bem interessante a lenda das guerreiras solitárias e das aldeias gigantes da Amazônia. Por fim, achei bastante inspiradora a lenda de Prestes João com seu palácio de cristal e o seu manto de lã de salamandra (hehehe). Notei que cada lenda, em verdade, é fruto de uma mistura de vários dados históricos curiosos e do cruzamento de civilizações.
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