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quinta-feira, 6 de julho de 2023

Lendas e Figuras Fantásticas que Existem ou Existiram - Parte 2

 

 Lendas e Figuras Fantásticas que Existem ou Existiram.

 

  


   

 

        Boa noite aos nossos amigos que se reúnem para compartilhar histórias fantasiosas! Hoje nós faremos uma experiência diferente das edições anteriores, focadas em lendas de outros países (já falamos de lendas do Brasil, da França e da Rússia). O nosso objetivo desta vez não será explorar as lendas de uma determinada nação, e sim buscar a realidade por trás delas, em sua narrativa ou em seus elementos.

        A lista desse mês de julho é uma continuação não oficial de uma lista anterior, sobre 10 Criaturas Mitológicas que existem ou existiram. O escopo foi aumentado dessa vez, e falaremos de criaturas místicas, mas também de personagens dos contos de fadas, plantas esquisitas, tribos misteriosas e reinos fantásticos perdidos na linha tênue entre a história e a imaginação. Sem mais delongas, preparem-se para viajar!


*Obs: A lista foi dividida em duas partes pela administradora do blog para facilitar a leitura. Fiquem agora com a segunda parte da lista! Boa leitura!

 

6-Quetzalcoatl.

 



        O próximo mito da lista serve tanto como um herói legendário como uma criatura mística. Na região da Mesoamérica (México e América Central) existem lendas sobre o Deus Quetzalcoatl, também chamado Kukulkan; as duas palavras significam “Serpente Emplumada”, nas línguas Nahuatl e Yucatec, respectivamente. Quase todos os povos locais possuíam ao menos uma divindade que assumia a forma de uma serpente cheia de penas, desde os Olmecas até os Maias e Astecas.

        A história mais famosa sobre Quetzalcoatl descreve sua luta contra o Deus-Jaguar Tezcatlipoca pelo controle da cidade tolteca de Tollan. Tezcatlipoca usou de trapaças e ardis para vencer Quetzalcoatl, que partiu para o leste do grande oceano, prometendo voltar quando chegasse a hora certa. Muitos nativos interpretaram a vinda dos primeiros espanhóis como uma parte da profecia, sem imaginarem a tragédia no horizonte; uma das inúmeras formas de Quetzalcoatl era justamente um homem branco e barbado.

 



 

        Embora seja implausível imaginar uma serpente gigante voando pelos céus do México e da América Central antes da chegada dos europeus, existe um curioso fundo de verdade na lenda de Quetzalcoatl/Kukulkan, e mais uma vez retornamos aos nossos amigos dinossauros. Pesquisas recentes no ramo da paleontologia revelaram que diversos répteis antigos contavam com penas sobre o corpo, incluindo os temíveis tiranossauros e velociraptores. As penas eram mais comuns em carnívoros do que herbívoros.

 

 


 

        As descobertas não pararam nos dinossauros com penas: Uma criatura antiga notável descoberta em 1972 foi batizada com o adequado nome de Quetzalcoatlus, em honra ao Deus mesoamericano. Essa espécie de pterodátilo provavelmente foi o maior animal voador que já existiu no mundo, e também conseguia andar sobre quatro patas; quando estava no chão, o Quetzalcoatlus tinha o tamanho de uma girafa.

 

7-Vanaras.

 



 

        Nossa próxima criatura mística é originária da Índia, e aparece com veemência num dos maiores épicos hindus, o Ramayana, obra-prima do monge-poeta Valmiki. Os Vanaras são descritos como uma raça de macacos inteligentes e honrados, capazes de grandes façanhas. O mais conhecido dos Vanaras foi Hanuman, um guerreiro símio que aumentava e diminuía de tamanho, conforme a necessidade.

        Falamos sobre os protagonistas desse gigantesco poema na lista dos 10 Casais da Mitologia, mas deixarei um resumo: O Ramayana fala da história do príncipe Rama de Ayodhia, que se casa com a princesa Sita, nascida num reino onde hoje fica o Nepal. Após uma intriga palaciana, ambos são banidos de Ayodhia, e vivem por muitos anos na floresta, até o dia em que o rei-demônio Ravana sequestra Sita. Rama parte ao resgate, auxiliado por muitos heróis e um grande exército de Vanaras.

        Uma teoria sobre a origem dessas criaturas passa pela etimologia da palavra, dividida em “Vana” (“Floresta”) e “Nara” (“Homem”). Alguns estudiosos afirmam que Valmiki não se referiu a macacos, e sim a “homens que viviam como macacos”, quando escreveu o seu poema. Dessa forma, o Ramayana trata não apenas do resgate de uma bela donzela, como também da chegada da civilização às tribos ainda selvagens do interior da Índia.

        Outros aspectos curiosos da lenda aumentam a associação dos Vanaras às tribos ainda selvagens da Índia antiga: uma tribo chamada Sabara vive no sudeste do país, o mesmo lugar onde Rama teria recrutado a ajuda dos Vanaras. Os homens Sabaras costumam usar uma calça que possui um apêndice parecido com uma “cauda”, e este detalhe pode ter influenciado a escrita de Valmiki.

 



 

        Assim como o Brasil, a Índia é um país com muitas espécies de macacos. A espécie mais comum é chamada de Rhesus, que existe também em países vizinhos, como o Nepal, Bangladesh e a China. Um dos locais históricos mais visitados da Índia, o Forte de Agra, é famoso pelos macacos Rhesus; os bichos praticamente dominam o lugar, além de serem ágeis e espertos como Hanuman.

 

8-Branca de Neve.

 

  


 

        Um dos contos de fadas mais conhecidos do mundo, e possivelmente a mais famosa das histórias coletadas pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. A trajetória da Branca de Neve (Schneewittchen, no original em alemão) continua a ser interpretada e reinterpretada de muitas formas. Diversas cidades alemãs disputam a honra de local de origem do conto, numa tentativa de incrementar o turismo nas redondezas.

        O mais surpreendente nesse conto de fadas está na sua origem, que se divide entre duas mulheres nobres que viveram no final da Idade Média e no século XVIII. Uma delas se chamava Margaretha Von Waldeck, filha do Conde Filipe IV de Waldeck, um domínio que ficava na fronteira da Holanda com a Alemanha.

        Margaretha nasceu em 1533 e morreu muito jovem, com apenas vinte e um anos de idade; muitos relatos falavam de sua beleza ímpar. Assim como a personagem da lenda, a jovem teve uma madrasta muito rígida, embora não exatamente maldosa. Um de seus mais conhecidos pretendentes foi Felipe II da Espanha, que na época ainda era um príncipe herdeiro a serviço de seu pai, Carlos I. O namoro não prosperou devido às questões religiosas: Felipe era católico, enquanto Margaretha era luterana.

        Após o retorno de Felipe à Espanha, a saúde de Margaretha declinou a olhos vistos, mas nenhum remédio foi capaz de salvá-la. Boatos circulavam entre a população, afirmando que a jovem foi envenenada numa conspiração, mas nada foi comprovado. A madrasta não poderia ser a culpada pela tragédia, pois ela apenas apareceu na residência dos Waldeck depois da saída de Felipe.

 

 


 

        A segunda história que poderia ter inspirado a Branca de Neve foi Maria Sophia Von Erthal, que viveu na cidade de Lohr, norte da Bavária. Assim como Margaretha, Maria tinha uma madrasta, e o castelo onde a família dela vivia era famoso pela presença de um espelho que supostamente podia falar. Na verdade, essa afirmação era baseada na qualidade da vidraçaria de Lohr; metaforicamente, os espelhos produzidos na região eram tão bons que chegavam a “refletir a verdade”.

        A explicação para a presença de minas e anões é a parte mais triste do conto: tanto a família Waldeck como a família Erthal eram proprietárias de grandes minas de cobre e prata, localizadas no centro da Alemanha moderna. Devido à estreiteza de alguns túneis e passagens subterrâneas, muitas crianças trabalhavam nessas minas insalubres, passando por lugares inacessíveis aos adultos.

        A maçã envenenada parece derivar de outras histórias locais, contadas pelos adultos às crianças para evitarem presentes de estranhos. Lendas sobre bandidos distribuindo frutas e doces envenenados são comuns em diversos locais do mundo. Um exemplo famoso nos EUA fala de maçãs “recheadas” com navalhas; apesar de tamanha perversidade ser vista hoje como um caso de histeria coletiva, essa história costuma voltar à memória popular na véspera do Dia das Bruxas, quando crianças saem de porta em porta pedindo doces.

        Podemos afirmar que a lenda da Branca de Neve não foi apenas uma história. O que aconteceu foi um longo processo com várias histórias se juntando para criar um conto de fadas popular até hoje, na Alemanha e no exterior. De certa forma, podemos comparar essa curiosa amálgama com o processo de unificação da Alemanha, motivado pelo mesmo sentimento romântico e nacionalista responsável pelo resgate dos contos populares.

 

9-Icamiabas e Huacaris.

 



 

        As guerreiras solitárias até hoje são figuras populares no imaginário brasileiro, então não pude deixá-las de fora dessa lista. O nome “Amazonas” que deu origem ao maior estado do Brasil é derivado da mitologia grega, então preferi usar o vocábulo nativo, que significa “Peito Achatado”, em referência à aparência das guerreiras após usarem o arco e as flechas com frequência. Relatos posteriores falariam da existência dos Huacaris, os únicos nativos que não tinham medo das Icamiabas, e ainda se relacionavam com elas.

        O relato mais conhecido sobre essas mulheres violentas é de autoria do padre espanhol Gaspar de Carvajal, integrante da expedição de Francisco de Orellana, o primeiro conquistador europeu a atravessar todo o Rio Amazonas. Carvajal descreveu aldeias com centenas de habitantes às margens dos rios, e guerreiras de longos cabelos negros lutando ao lado de seus maridos.

        Diversas interpretações alimentam debates acalorados sobre o que os conquistadores realmente viram em sua perigosa travessia. Enquanto alguns historiadores sugeriram que Carvajal viu homens de cabelos compridos, outros apontam que a desigualdade entre os sexos nas tribos amazônicas era quase inexistente, explicando a presença de mulheres lutando ao lado de seus maridos.

 



 

        A única certeza quanto ao relato de Carvajal está no tamanho das aldeias. Já existe um consenso entre antropólogos e arqueólogos de que a Selva Amazônica estava apinhada de gente antes da chegada dos europeus, com aldeias enormes onde viviam centenas de nativos. Francisco de Orellana e seus homens tiveram de se aliar a algumas das “aldeias-metrópoles” nas guerras contra outras tribos, até alcançarem a Ilha de Marajó.

        Assim como suas parceiras, os Huacaris estão envoltos em mistério e foram citados por outro padre espanhol, Cristobal de Acuña, que acompanhou a expedição do português Pedro Teixeira à Amazônia, em 1630. Os Huacaris também são chamados de Guacaris e Guacarás em traduções da obra Nuevo Descubrimento, escrita por Acuña.

        Conforme o relato do padre, os Huacaris viviam em terras altas, além de serem os únicos homens capazes de se aproximarem das ferozes Icamiabas, embora isso ocorresse apenas uma vez por ano. Durante a Festa de Iaci, os casais se reencontravam e trocavam presentes, além de cuidarem dos filhos; as meninas ficavam com as Icamiabas e os Huacaris levavam os meninos. A pedra de Muiraquitã era o presente mais comum.

        É provável que “Huacari” seja um termo pejorativo, adotado pelas tribos rivais dos maridos/amantes das Icamiabas. O vocábulo é muito parecido como Uacari, uma curiosa espécie de macaco de pelo branco e rosto vermelho, outrora comum na Amazônia Ocidental e hoje ameaçado de extinção. Entre tribos inimigas, é comum o uso de nomes baseados em animais da selva para provocar os adversários; os Temiminós, por exemplo, eram chamados de Maracajás (“Gatos do Mato”) por seus inimigos Tupinambás.

        A hipótese mais provável para o sumiço das aldeias gigantes da Amazônia envolve a chegada de epidemias desconhecidas pelos nativos, vindas da Europa e da África. Muitos desses povoados foram dizimados antes da chegada dos colonizadores, pois a transmissão das enfermidades do Velho Mundo ocorria pelo contato com outros nativos, sobreviventes de moléstias anteriores. Os sobreviventes não dispunham de uma população grande o bastante para manterem grandes aldeias, tornando-se povos nômades.

 

10-Reino de Prestes João.

 



 

        E terminamos a nossa lista com a lenda de um reino perdido, governado por um misterioso soberano que defendia a Fé em Cristo numa terra distante. A primeira citação “oficial” sobre Prestes João ocorreu em 1145, conforme descrições dadas por um prelado nascido na Síria, chamado Hugo de Jabala. Mas é possível que a lenda seja ainda mais antiga, pois a existência de cristãos além das fronteiras da civilização (ao menos da civilização europeia) sempre trouxe indagações e hipóteses.

        Como o reino parecia simplesmente inalcançável aos europeus medievais, as histórias se acumulavam ao lado dos boatos: dizia-se que não havia animais peçonhentos nos domínios de Prestes João, e nenhum de seus súditos roubava ou contava mentiras, pois imediatamente cairia morto se o fizesse. Prestes João vivia num palácio de cristal, usava um manto de lã de salamandra (não, você não leu errado: lã de salamandra!), cavalgava dragões alados e possuía um espelho mágico que lhe permitia ver tudo nas redondezas.

        O povo que vivia sob o reinado de Prestes João não era humano, ao menos não em sua totalidade: Havia selvagens com chifres na cabeça que grunhiam como porcos e pigmeus de um palmo. Até os animais eram pitorescos: Ratos do tamanho de cães que escavavam ouro; papagaios que conheciam línguas exóticas; leões de juba vermelha ou verde; cigarras douradas que cantavam alegremente; peixes que “nadavam” no areal de um enorme deserto.

        Apesar de não apreciar a guerra, Prestes João comandava um exército poderoso, devido ao perigo oferecido pelas nações idólatras de Gog e Magog. Havia uma unidade de guerreiros antropófagos que devoraram os inimigos durante as batalhas, e também comiam os companheiros mortos na guerra. Curiosamente, os europeus encontrariam muitas tribos antropófagas no Brasil, realizando ambas as “modalidades” de canibalismo, fosse com inimigos (exocanibalismo) ou entes queridos (endocanibalismo).

        Poderíamos passar horas discutindo os elementos fantásticos da lenda, mas agora vamos falar de seus elementos inspiradores. As primeiras lendas a surgirem na Europa falavam de “Um rei cristão no meio da Índia”; nessa época, a Índia poderia ser literalmente qualquer lugar fora do continente europeu, excluindo a África. Ironicamente, a lenda desse monarca “migraria” da Ásia para a África, como veremos mais tarde.

 

 


 

        Por volta de 431 Depois de Cristo surgiu um movimento na Igreja Ortodoxa, conhecido como Nestorianismo, também chamado Igreja do Leste. Existiram muitas ramificações nesse movimento iniciado pelo então Arcebispo de Constantinopla, Nestório, mas vamos concentrar a visão nos efeitos práticos dessa doutrina. O Nestorianismo não ficou muito tempo nas redondezas do Império Romano do Oriente, também conhecido como Império Bizantino, devido à acusação de heresia pela Igreja Ortodoxa tradicional.

        Muitos Nestorianos tiveram de se abrigar em comunidades onde o monoteísmo já era uma ideia familiar, como os Zoroastristas e algumas vertentes do Budismo. Aos poucos foram surgindo comunidades cristãs nos reinos asiáticos, com destaque aos povos nômades, como os Mongóis, os Naimanos e os Jurchen. O Deus maior da maioria desses grupos era Tengri, o “Eterno Céu Azul”; o sincretismo levaria à associação de Tengri ao Deus Cristão.

        Em 1141 ocorreu a célebre batalha de Qatwan entre o Canato (como os nômades asiáticos chamavam seus reinos) de Karakhitai e os Turcos Seljúcidas. O líder dos Karakhitai era Yelu Dashi, um guerreiro que possuía boas relações com os Nestorianos, e sua vitória espetacular soou como música aos ouvidos dos europeus envolvidos nas Cruzadas. Relatos distorcidos por viajantes entusiasmados associavam Yelu Dashi a Prestes João, apesar desse monarca de sangue mongol seguir o Budismo como fé.

 

  


 

        Durante um bom tempo os europeus esperaram pela vinda de Prestes João na luta contra os muçulmanos, e a ajuda parecia que estava a caminho em 1231, quando o reino persa e muçulmano da Corásmia foi conquistado por um rei misterioso. Na verdade, esse “rei misterioso” era Gengis Khan, e seus descendentes levariam bênçãos e maldições aos cristãos; os mongóis devastaram nações islâmicas e invadiram o leste europeu, causando muita destruição. Os Karakhitai também foram destruídos pelos mongóis.

        Foi justamente durante a avassaladora expansão mongol que muitos europeus tiveram seu primeiro contato com a Ásia. Os mongóis eram tolerantes com outras religiões, permitindo um intercâmbio cultural inimaginável até então, e recrutando gente de todas as origens em seu exército e na burocracia. Um desses europeus foi um aventureiro veneziano chamado Marco Polo, que visitou a China durante o reinado do neto de Gengis Khan e imperador da Dinastia Yuan, Kublai.

        Um relato curioso no Livro das Maravilhas de Marco Polo afirmava que o rei Prestes João foi derrotado pelos exércitos mongóis, indicando que a reverência a esse monarca fantástico parecia ter enfraquecido entre os europeus, após o fim das Cruzadas. É possível que o “Prestes João” descrito por Marco Polo fosse um governante cristão Nestoriano, talvez até mesmo um líder dos Karakhitai.

 



 

        O desencanto com o Oriente não matou de vez a lenda, pois a Era das Navegações traria novos horizontes e mistérios a serem desvendados. Um novo “candidato” ao Reino de Prestes João reapareceu no imaginário coletivo europeu: a Etiópia. Como nenhum Prestes João foi encontrado na Ásia, os estudiosos da época indagaram se eles não estavam procurando no lugar errado, e voltaram-se à Etiópia, também chamada Abissínia.

        A Etiópia não era desconhecida dos europeus, mas o contato com esse país africano de maioria cristã era esporádico, virando terreno fértil às lendas exageradas. No folclore local, os etíopes possuem uma lenda afirmando que um dia eles invadiriam a Arábia, embora não falem em nenhum grande monarca místico liderando essa epopeia vindoura. Durante as Cruzadas, guerreiros etíopes e outros povos cristãos da África oriental lutaram ao lado dos cavaleiros europeus, impressionando seus irmãos de armas.

        Na segunda metade do Século XV, Portugal e os reinos que formariam a Espanha buscaram intensificar seu contato com a Etiópia, em busca de aliados contra os turcos e os muçulmanos do norte da África. Nada menos que trinta viagens diplomáticas envolveram Portugal e seu parceiro africano, enquanto o embaixador do reino de Aragão sugeriu até mesmo uma proposta de casamento entre os dois países.

        O contato estável entre a Etiópia e seus aliados na Europa veio em boa hora, quando explodiu uma série de guerras entre o país africano e seus belicosos vizinhos muçulmanos do Sultanato de Adal, no atual oeste da Somália. Numa curiosa reversão da lenda, o suposto Reino de Prestes João foi salvo pelos europeus, nesse caso um exército de 400 mosqueteiros portugueses. O conflito durou entre 1529 e 1532, sem mudanças nas fronteiras das nações africanas, e os etíopes aprenderam a se defender com armas de fogo.

        As buscas pelo reino fantástico cessaram depois do Século XVI, quando os europeus passaram a se concentrar na administração das terras descobertas em outros continentes, ao invés de procurar por mais fábulas. Isso não significa que a busca pelo Reino de Prestes João ou de qualquer outro lugar místico foi uma perda de tempo: foi justamente esse desejo de encontrar terras perdidas que levou exploradores, missionários e aventureiros a aproximar novas culturas, levando à evolução da humanidade.

 

Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bülow.


Parte 1 da Lista:


https://poetisataty.blogspot.com/2023/07/lendas-e-figuras-fantasticas-que.html


Mateus é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor e colunista do blog "Recanto da Escritora".


*Mateus é o autor de dois livros de fantasia: 


*Taquarê - Entre a Selva e o Mar


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*Taquarê - Entre um Império e um Reino


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Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto tão rico em informações, Mateus! Amo a união entre história e mitologia (ou fantasia também). Adorei aprender sobre os Vanaras, já que sou uma estudiosa entusiasmada sobre o misticismo da índia. Também amei conhecer as figuras históricas por trás da lenda da Branca de Neve. Percebi que é bem interessante a lenda das guerreiras solitárias e das aldeias gigantes da Amazônia. Por fim, achei bastante inspiradora a lenda de Prestes João com seu palácio de cristal e o seu manto de lã de salamandra (hehehe). Notei que cada lenda, em verdade, é fruto de uma mistura de vários dados históricos curiosos e do cruzamento de civilizações.

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