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sábado, 5 de março de 2022

Uma esperança para os nerds da geração Y

                   





   Chamada de covarde por algumas pessoas das gerações anteriores e de vergonhosa ou "cringe" pelas gerações atuais ou mais modernas, a geração Y (nascidos entre 1981 e 1995) tem virtudes que ninguém conhece e é vítima do excesso de promessas que as gerações anteriores jogaram sobre ela. Eu nasci em 1992 e, nesse texto, contarei a minha percepção sobre a minha geração!

 Nem covarde, nem vergonhosa: a geração Y teve a coragem de ultrapassar velhos padrões, criar um mundo com mais empatia, romper preconceitos, trazer valores humanitários às pesquisas acadêmicas, trazer a saúde psicológica para o palco da vida, expandir as filosofias espirituais mais profundas, transformar o ambiente de trabalho a partir de motivações mais morais e menos patrimonialistas e foi a última geração que viveu momentos de transição realmente emocionantes na cultura além de presenciar as últimas produções artísticas e musicais com qualidade genuína. 

  A "dor de cotovelo" das gerações atuais por não terem vivido a magia que vivemos na cultura faz com que elas cometam "bullying" conosco, apelidando de "cringe" (vergonhoso) todos os elementos que, no fundo, elas invejam para ocultar a vergonha que sentem do próprio tempo (e nem precisa ser formado em Psicologia para perceber esse comportamento reverso -- todo bullying esconde a insegurança e a inveja de quem comete, pois é o ato de quem tenta humilhar psicologicamente aquele que ele considera superior para cobrir as próprias feridas de sensação de inferioridade e as próprias inseguranças de viver uma geração sem muita identidade cultural e sem elementos muito graciosos como hoje). 

  Em verdade, "cringe" mesmo é esse bullying sem sentido, porque toda pessoa inteligente e que estuda história sabe que nenhuma geração pode ser considerada superior a outra. Os sentimentos humanos sempre foram os mesmos apesar das evoluções tecnológicas. 


                




 Sem as gerações passadas, não estaríamos aqui hoje. Respeitar os antepassados é um sinal de civilização e educação. Ser humano é sempre ser humano independente do tempo em que vive (a não ser que a próxima geração seja feita de robôs). Absolutamente, toda geração tem um lado bom e um lado ruim. Mudamos a "roupagem", mas compartilhamos da mesma essência e dignidade humana. 

  É verdade que ainda não saímos da casa dos pais. É verdade que não temos filhos. É verdade que estamos chegando aos 30 sem o sucesso esperado e sem independência. 

 Covardia? Elementos vergonhosos da nossa geração? Não. Simplesmente, fomos vítimas do excesso de teoria do sistema educacional e profissional que fecha as portas para quem não tem mestrado e forma profissionais que não sabem lidar com a prática em faculdades excessivamente teóricas.


         








  No tempo do meu avô, era possível ter uma boa profissão e até enriquecer sem ter o Ensino Médio completo. As pessoas se casavam aos 18 anos, e o casamento durava até a morte. A vida parecia mais fácil para fluir, mas também era mais tediosa e sem espaço para projetos pessoais, expressões criativas e questionamentos mais filosóficos. 

  Quem se destacava em manifestações criativas era alguém considerado "gênio" ou "ponto fora da curva". Já a nossa geração atual cresceu escutando que é bonito ser o "gênio diferente" e que deve expressar a própria personalidade para brilhar (escutamos isso nas aulas do colégio e nas palestras sobre grandes personalidades, e essas ideias ficaram em nosso subconsciente). A cultura pedagógica da nossa educação incentivou certo egocentrismo e esqueceu de nos dar praticidade. Hoje, o que mais ouvimos falar é que a criatividade e a interdisciplinaridade são os dois maiores elementos de crescimento no mundo profissional. 

  Antigamente, as pessoas só queriam se casar, trabalhar e ter uma vida normal. Hoje em dia, buscamos a tal da "felicidade" pessoal, da realização individual, e vivemos num mundo cheio de coaches, estímulos midiáticos, sensações depressivas e remédios psiquiátricos por causa da pressão que existe em busca do sucesso individual e da felicidade plena. Ocorre que a felicidade para surgir tem que ser natural e de dentro para fora, pois a pressão sobre ela é que gera infelicidade. 


  


             

  Essa exaltação à educação e à realização pessoal do mundo de hoje não deixa de ser bonita (e eu sou uma das maiores defensoras da cultura, da educação e de uma saudável autoestima misturada com realização pessoal sem perder a caridade), mas esqueceu de formar pessoas práticas e sábias. 

  Além do mais, conhecimento cultural não tem nada a ver com sabedoria. Há pessoas ignorantes do ponto de vista espiritual ou da inteligência emocional com diplomas na mão hoje em dia. Formamos uma geração muito culta e pouco prática. Esqueceram de valorizar a sabedoria e a inteligência emocional na educação (um autor que critica esse fato e defende muito a propagação de ferramentas de inteligência emocional nas escolas é o psiquiatra Augusto Cury), e nos deram muitas ferramentas teóricas de conhecimento jamais vistas em gerações passadas -- só que sem a parte prática. 

  Se, antes do nosso tempo, o trabalho, o casamento e a vida prática estavam no topo da pirâmide de valores das pessoas e eram as principais buscas delas, hoje tudo isso está sendo adiado em prol da realização pessoal que tanto propagaram para a nossa geração. 


          


  Diziam para nós que a nossa geração estava destinado a um futuro brilhante por causa da qualidade teórica da nossa educação, algo jamais visto em gerações passadas. Quem foi nerd no tempo da escola levantou a bandeira dos estudos como a luz do futuro. No tempo da escola, quem foi estudioso sonhou que teria palco para o seu conhecimento e muito sucesso um dia. O mundo dos estudos tinha um brilho especial. 

 Ocorre que, ao mergulhar no caminho dos estudos, não encontramos o sucesso imediato na vida adulta após a faculdade. Apenas encontramos mais teorias e um caminho acadêmico sem fim, com especialização, mestrado e doutorado. 

  Nós, os nerds da geração Y, sacrificamos a vida pessoal, a vida romântica, os prazeres da vida em função dos estudos, não é verdade? E nem foi por causa de pressão familiar, pois nossos pais da geração X sempre foram muito tranquilos conosco e dialogavam conosco com mais carinho que os familiares das gerações passadas (nossos avós foram rígidos com nossos pais, mas nossos pais foram carinhosos conosco). 

 E valeu a pena o sacrifício? Hoje, vemos pessoas que nem se dedicaram tanto aos estudos tendo uma estabilidade profissional na vida prática, casadas e com filhos, enquanto nós estamos perdidos no meio do excesso de teorias que mergulhamos. 

 Para o nerd da geração Y que está na melancolia diante da dúvida se valeu a pena estudar, eu digo com esperança: valeu a pena. Mesmo que as coisas demorem mais na vida de quem é estudioso, nossa qualificação nos tornou pessoas melhores, mais sábias, mais admiradas no meio acadêmico e com mais oportunidades no meio profissional. Tudo serviu para o nosso processo de amadurecimento educacional, profissional e até pessoal. 

  Se você quis apenas fama com os estudos, você pode até se lamentar. Mas, se você se sacrificou realmente por amor à jornada de estudos e qualificação profissional, você verá que, mesmo sem o sucesso imediato e sem o tal do "futuro hiper-ultra-mega brilhante" que acreditávamos enquanto estudantes, os estudos acenderam uma luz na nossa alma: a luz da liberdade intelectual. E essa luz não tem preço. Somos a geração com a maior liberdade de pensamento e expressão de todos os tempos: e essa é uma conquista nossa. 


               


  Eu creio que um dia os nossos estudos darão frutos. Assim como o vinho melhora quando fica mais velho, o sucesso é mais feliz quando chega mais tarde, Certamente, os frutos da nossa liberdade intelectual serão mais doces. 

    Não se revolte com quem fez fama com conteúdo supérfluo e sem qualidade cultural: tudo o que vem fácil, um dia, pode ir embora rapidamente. Fama em rede social não é porto seguro de ninguém. Não se compare com quem fez sucesso cedo, visto que muitas crianças famosas e jovens famosos têm o brilho ceifado na vida adulta, e a imaturidade já fez muita gente estragar o próprio legado. 

   Vamos continuar regando com paciência e sem expectativa cada semente dos nossos estudos, pois um dia a geração Y vai brilhar, nem que seja com os cabelos brancos. Nosso legado será maduro e bonito. E cringe será aquele que duvidou de nós. 

   Mas, enquanto o seu futuro hiper-ultra-mega-power brilhante não chega do jeito que você espera, seja feliz no momento presente, equilibrando momentos de estudo com momentos de prazer e lazer. 

  Talvez todas as provações psicológicas da nossa geração vieram nos ensinar a ter o exato equilíbrio na vida. A vida romântica e o prazer fazem parte da vida e podem ser o nosso porto seguro, o equilíbrio e o colorido do nosso futuro sucesso profissional. 

  Construir uma vida pessoal também vai nos ajudar muito além do equilíbrio entre estudar e viver: é o que nos dará mais esperteza na vida prática, fazendo uma ponte entre teoria e praticidade. 


Texto escrito por Tatyana Casarino. Especialista em Direito Constitucional, advogada, escritora e poetisa. 

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