Numa floresta clara,
seu peito arde de brasa.
Sinto seu coração espiritual
dançar a cura emocional.
Quero mostrar minha alma,
ficar despida até os ossos.
Quero contar meus traumas
dessa e de outras vidas.
Deixe-me mostrar minha alma,
quero queimar quimeras e medos.
Quero viver uma nova vida,
desejo agora renascer das cinzas.
Os sinos das catedrais tocam,
feche os olhos e mergulhe na poesia.
Sinta a luz, o som e a sinestesia,
nós queremos as brumas dessa sina.
Mergulhe no mar e sinta o perfume,
doce sereia de perfume salgado.
Os cabelos de mulher formam seu retrato,
seu príncipe é o marinheiro desse barco.
Quando navegamos nas águas,
sentimos as emoções e as taças.
Comunicamo-nos com os anjos,
por meio de orações e cristais.
Seu olhar psicodélico me beija,
quero ouvir seus desabafos de novo.
Quando a lua beijar as estrelas,
será transformada em humana a sereia.
Deixe-me mostrar a minha alma,
revelar cada escama da minha cauda
e cada estrela prateada e alva.
Deixe-me estar despida até os ossos.
Deixe-me sair da concha onde moro,
já cansei do mar e quero a terra.
Deixe-me sair das ondas do mar,
eu preciso andar e respirar seu ar.
Deixe-me correr livremente entre as árvores,
eu quero a liberdade que nunca tive no mar.
Liberdade é mais que uma palavra solta no ar,
liberdade é a energia da alma, o sopro do amar.
Deixe-me comer do fruto proibido nas estações,
e conhecer o bem e o mal por mim mesma.
Deixe-me ter o meu próprio livre-arbítrio,
e tomar decisões por minhas próprias razões.
Excesso de segurança traz insegurança,
medo, frieza, amargura e letargia.
Deixe-me correr o risco de me machucar,
cantar, dançar e celebrar a minha vida.
Deixe-me revelar quem eu sou e tudo que posso,
ainda que eu seja criticada, apontada e julgada.
Deixe-me revelar a alma até os labirintos e os ossos
antes que eu seja apenas ossos e mais nada.
Deixe-me viver intensamente o quanto eu quiser,
antes da morte chegar no seu inevitável tempo.
Deixe-me amar quem eu realmente quiser,
a proteção virá clara da minha fé.
Deixe-me correr o risco de me machucar lá fora,
o medo do mundo lá fora já me machuca por dentro.
Não me diga que eu não posso mostrar a alma,
pois os poetas devem mostrar seus sentimentos.
Independência é mais que uma palavra,
independência é a dignidade do coração.
Minha fraqueza não vai curar na reclusão,
só o ar da vida lá fora trará a fortaleza.
O sangue que move o corpo ainda é quente,
mas o confinamento na concha é silente.
Dentro e fora da concha, sereia e mulher:
um dia ainda terei a liberdade que eu quiser.
Dentro da concha, no fundo do mar, sou sereia,
mas minha liberdade um dia trará as minhas pernas.
Pernas livres que andarão sobre toda a terra,
pernas livres que darão nobres passos de beleza.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
Tatyana Casarino é Especialista em Direito Constitucional, escritora e poetisa.
Essa poesia utiliza a lenda da sereia que se transformou em uma mulher como metáfora para a liberdade. Ao trocar a cauda por pernas, a sereia deixa de viver na concha do fundo do mar e passa a andar com independência sobre a terra. Essa poesia retrata anseios por liberdade em tempos de isolamento social e alerta sobre o nosso dever de apreciar a vida sem medo.
Afinal, se a morte é inevitável e a vida é curta, por que adiar a nossa felicidade e a realização dos nossos sonhos? Por que temos medo de revelar a nossa essência? A poesia defende a expressão da alma despida e destemida, o livre-arbítrio, a independência (principalmente a interna e a emocional) e a liberdade plena do nosso coração na construção de nossa vida.
Você pode conferir mais poesias com a temática arquetípica das "sereias" da autora Tatyana Casarino ao clicar no seguinte link:
Tatyana Casarino.
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