O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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domingo, 19 de abril de 2020

Meu perfume será poeira no vento






Sempre a velha canção
de que toda vaidade acaba.
Como cinzas voando no vento,
toda a glória não vale nada. 

Toda a beleza será enterrada,
toda inteligência será muda,
toda a vida será transformada.
O amor vence essa disputa.

A beleza um dia acabará,
os louros serão todos esquecidos.
E tudo o que o povo lembrará
será se você foi um bom amigo.

Cinzas ao vento são teus sentimentos,
nessa fornalha de amor que não acaba.
Todo o dinheiro não comprará nada,
pois a vida não pode ser comprada.

Todo o ouro que existe no mundo
não pode comprar mais um segundo.
O tempo e avida são joias eternas
que só o coração alcançará seu vale profundo.

Todos nós somos poeiras no vento,
todo o passado é poeira no vento.
Não restarão belezas, luxo e dinheiro,
só serão cobrados nobres sentimentos.

Há amores de infância que acabaram,
amizades que viraram poeira no vento.
Há sonhos de infância que não acabaram:
transformaram-se em objetivos do adulto atento.

A criança que chorava ao vento
é o adulto que sorri com as flores.
O nosso melhor amigo é o tempo
que transforma em glórias as nossas dores.

Eu sou a voz forte que canta hoje
assustando quem me achava fraca.
Frágil não é quem mostra as lágrimas,
mas quem se esconde por trás das máscaras.

As lágrimas formam um redentor esteio
que desde criança aprendi a abraçar.
Transformar a sua dor na beleza do cisne
é a glória eterna do patinho feio.

Quem duvidava da minha força
não conhece o tamanho da minha coragem.
Hoje essa poesia pode correr o mundo
e anunciar o meu espírito selvagem.

Há um copo de vinho sobre a mesa
da mesma cor que o colar de escorpião.
Milhares de rubis brilham em união
clamando às estrelas mais uma certeza.

Olho as estrelas e clamo amor,
mas seu semblante é sempre sério
e os seus olhos estão sempre tensos.
Por que eles não abrem os sentimentos?

Tento dar o melhor de mim,
tento ser uma mulher virtuosa,
tento trazer orgulho e honra frutuosa,
mas até o meu perfume é erva danosa.

Eu só queria que tudo fosse mais leve,
que olhasse as estrelas como são belas.
Queria tirar o peso dos seus ombros rígidos
e dizer-te que a vida não precisa ser uma guerra.

Não importa se escolho ser frágil,
se uso perfume doce e enjoado.
Não importa se decidi ser sorridente,
e se não pareço ser tão valente.

O que importa é que admiro vocês,
o que importar é que sou mulher.
E, graças a Deus, posso chorar na tristeza
ao invés de ficar brava e sem beleza.

O que importa é que eu venci,
então vamos esquecer tudo.
Até o meu perfume será poeira no vento
e só restará o meu nobre sentimento.

Por que a vida precisa ser uma guerra
se tudo virará pó e cairá por terra?
Por que seus olhos são sempre fúria
se tudo não passa de ilusórias fagulhas?

Tudo o que causa irritação dentro de ti
não passa de poeira no vento, poeira.
Tudo o que causa estresse em seu coração
não passa de poeira no vento em vão.

Você mesmo me ensinou a vigilância.
Mas, de manhã, quando o galo canta,
ele sabe que tudo é poeira no vento.
Só queria mais temperança em nosso peito!

Poeira no vento, poeira no vento,
até meu perfume enjoado que irrita vocês
será poeira dissolvida no vento mais uma vez
quando não mais existir toda essa vida.

A maior parte das coisas que te irrita
será poeira no vento amanhã ou depois.
Não vamos perder tempo com brigas,
pois o amor é a missão de nossas vidas.

Poeira no vento é o teu estresse,
poeira no vento é o nosso trabalho,
poeira no vento é a tua irritação.
Poeira no vento é a nossa distração.

Minha beleza é poeira no vento,
minha inteligência é poeira no vento.
Minhas qualidades são poeiras no vento,
meus defeitos são poeiras no vento.

Sua beleza é poeira no vento,
sua inteligência é poeira no vento.
Suas qualidades são poeiras no vento,
seus defeitos são poeiras no vento.

Tudo o que sou é poeira no vento.
Por trás da minha doçura tão terna,
existe a humildade amarga da terra.
Um rastro de frieza por trás do sentimento.

Sinto uma parte cética dentro de mim,
um gelo oculto pelas velas da fé.
Uma casca dura cobrindo o meu coração,
protegendo minha ternura da loucura.

Alguma coisa acontece e eu sinto a poeira,
a poeira da minha parte mais "terra".
A poeira oculta pela parte terna, 
a poeira da bílis negra de Saturno.

Eu me sinto bem mais madura hoje
depois de ficar tempos na concha trancada.
Recolher-me-ei em minhas poeiras
para transformá-las em pérolas faceiras.

Alguns me acham orgulhosa,
outros ainda me acham terna.
Quase ninguém vê meu lado "terra",
uma sólida humildade na realidade.

É verdade que, por trás da Pollyanna terna,
existe uma realista seca que você nem imagina.
Alguém sem vendas profanas vê a terra,
do pó eu vim e para o pó eu vou com essa poesia.

Quando o galo canta de manhã,
ele canta para soprar a poeira da terra.
Ele está vigilante e vê a nossa realidade,
ele sabe que a morte é a nossa verdade.

Vocês mesmos me ensinaram a vigiar
e me fizeram ser como o galo a cantar.
O galo não perde tempo com distrações,
pois tudo está dentro do pó a voar.

Não vamos mais perder tempo,
o relógio não volta nenhum segundo para trás.
Então, por que começar a se irritar? 
Vamos revelar nossos nobres sentimentos.

Poeira no vento é o que nos irrita,
poeira no vento é tudo o que está ao redor.
Poeira no vento será essa poesia
e tudo o que há na terra de melhor. 

Poeira no vento é a nossa torre,
poeira no vento é o nosso sustento.
Poeira no vento é a nossa ira,
poeira no vento é a nossa fantasia.

Eu não me tornarei seca nem fria,
apenas não gastarei lágrimas com o pó da sorte.
Serei terna e amorosa com quem precisa,
pois só o amor vencerá a poeira da morte.

Minha beleza será poeira no vento,
minha inteligência será poeira no vento.
Meu perfume será poeira no vento.
Só será eterno o amor, nobre sentimento.

Nada dura para sempre nessa terra,
mas ainda creio na força do Inefável.
Quando acendo a vela da fé no Imutável,
posso ver tudo o que está além da poeira.

Meu corpo será poeira no vento,
meus cabelos serão poeira no vento.
Meu perfume será poeira no vento,
só restarão minha alma e seu sentimento.

Essa poesia é lembrança de mortalidade,
sopros da minha profunda humildade.
Mas também guarda o desejo de ser grande
e de fazer a alma voar além do alcance. 

Poesia escrita por Tatyana Casarino.






   Essa poesia foi inspirada na música "Dust in the Wind" da banda Kansas e que já foi interpretada por muitos outros cantores no cenário musical. Uma das versões mais famosas é a interpretação da cantora Sarah Brightman. Essa poesia fala sobre a importância da humildade basicamente, já que traz a lembrança do caráter mortal e frágil do ser humano. Sabe-se que a palavra "humildade" tem origem na expressão grega "HUMUS" que quer dizer "terra".
  Sendo assim, lembrar-se do pó da terra como a nossa origem e o nosso fim caracteriza a nossa humildade, tendo em vista que a Bíblia diz que "Do pó viemos e ao pó voltaremos (GN:3:19)". Não obstante, muitas vezes, a nossa soberba e as ilusões mundanas fazem com que a nossa mente se esqueça da nossa característica mortal. 
     Quando nos esquecemos do que é realmente importante em uma vida finita e frágil, acabamos perdendo tempo com os anseios do ego e com as nossas irritações bobas diante de pequenos estímulos. Ocorre que o tempo não volta para trás a fim de que possamos aproveitá-lo melhor. Não percebemos o quanto perdemos tempo com irritações mesquinhas (estou me incluindo nessa, porque sou humana por trás da sabedoria dessa poesia) enquanto poderíamos amar o próximo melhor e conviver com as pessoas com mais tolerância, respeito, perdão e humildade. 

                   

        

        É claro que o nosso trabalho é importante! Sabemos que o pão de cada dia é essencial e que as tarefas do mundo exterior exigem responsabilidades que estressam a nossa alma. Porém, o mais importante na vida é amar. A felicidade do amor salva o ser humano da sombra da morte que ronda a sua vida, pois somente o amor faz a vida valer a pena de verdade. Jamais poderemos deixar a vigilância de lado, pois é preciso perceber o que está ocupando o tempo precioso de nossas vidas. Será que estamos preenchendo bem o nosso tempo aqui na terra? O nosso tempo não é infinito e não pode ser perdido com bobagens, estresse e irritações. 
      Não podemos perder a memória da nossa finitude nem entregar toda a nossa vida nas preocupações e nas ansiedades mundanas, porque tudo o que está ao nosso redor será um dia apenas poeira no vento. Devemos cuidar do que será eterno: a nossa alma. 
       O que mora dentro de sua alma? Qual sentimento você está cultivando? Qual é o seu maior legado na história do amor? Quando você partir desse mundo, as pessoas lembrarão de você como um bom amigo? Ainda que você não acredite na eternidade da alma, você deve saber que as lembranças que você deixará serão eternas. E todas as lembranças eternas envolvem o amor e a forma como tratamos as pessoas ao nosso redor. Vale salientar que a nossa aparência será esquecida, mas nossa essência será lembrada. 


                        

      

            Nesse sentido, não podemos perder tempo com a vaidade, pois a beleza, a inteligência e as qualidades serão apenas poeira no vento com o tempo. O que não vira poeira no vento é a beleza da sua alma eterna, a qual é determinada pela sua humildade e pelo amor que você espalhou diante do mundo. 
         Lembrar-se da morte parece algo mórbido, mas é algo essencial para trazer mais alegria e amor para a sua vida. "Memento mori" é uma expressão em latim que significa "lembre-se de que você é mortal". Quando temos consciência que vamos morrer um dia (algo que parece óbvio, mas que o nosso orgulho faz questão de esquecer), vivemos com mais zelo, amor, atenção e felicidade. Ao mesmo tempo que temos mais humildade por causa da nossa fragilidade humana, também ganhamos magnificência. Nossa vida passa a ser grandiosa, intensa e vibrante, porque não queremos mais perder qualquer segundo dela. 
           O grande paradoxo da iluminação baseada na sabedoria e na consciência da nossa mortalidade é o seguinte: sabemos que somos pequenos, finitos, frágeis e que seremos pó em breve e, ao mesmo tempo, ganhamos a responsabilidade de expandir a nossa alma. Descobrimos a necessidade de sermos grandiosos no amor, de sairmos de uma vida morna para abraçarmos uma vida espiritual vibrante. E tudo isso com a consciência vigilante, os "pés no chão", a lembrança da mortalidade humana e da humildade como essência. Passamos a mirar as estrelas do que é realmente eterno e importante sem tirar os pés do chão, da terra onde o pó guarda a nossa história. 
         Eis o grande equilíbrio entre humildade e magnificência, equilíbrio que o ser humano perdeu. Ora, sabe-se que o ser humano se perde no orgulho ou na autocomiseração. Ninguém mais parece saber do equilíbrio existente entre expansão, amor-próprio, expressão dos talentos, expressão do amor ao próximo, vida vibrante e humildade. 
         Nessa quarentena mundial que estamos vivendo por causa do Coronavírus (COVID-19), estamos tendo a oportunidade de refletir sobre humildade e magnificência. Com a sombra da morte rondando o mundo, o ser humano está assustado por ter se lembrado da sua natureza frágil e mortal. Chegou a hora de pensar em como podemos melhorar a nossa vida, aproveitar melhor o nosso tempo e amar melhor a nós mesmos e os nossos amigos e familiares. 

                    

         

           Quantos projetos não abandonamos por medo do mundo lá fora? É preciso viver com mais coragem no mundo lá fora quando tivermos liberdade novamente. Não podemos ter medo de crescer aos olhos do mundo, de receber críticas e de expressar os nossos talentos. A vida é uma só e o nosso tempo é limitado. Vamos expandir a nossa alma e viver tudo intensamente enquanto ainda temos tempo. 
            Lembre-se: todo dia quando o galo cantar é uma nova oportunidade para viver melhor o seu tempo. No leito de morte, o maior arrependimento das pessoas não envolve os seus erros, mas aquilo que elas deixaram de fazer por medo. Não tenha medo de ser grande, de ser sonhador e de ser vibrante. A vida é curta demais para ser morna. Seja vibrante e forte antes que tudo seja poeira no vento. Além do mais, não perca o seu tempo com bobagens e irritações, pois tudo passa. Vamos viver a vida com mais amor e aproveitar cada dia como se fosse o último.   

Tatyana Casarino. 

Confira a música Dust in the Wind na voz de Sarah Brightman:







*Observação dos símbolos que lembram o caráter mortal do ser humano e que inspiraram a poesia: 

Existem alguns símbolos que lembram a finitude do nosso tempo e a necessidade de vigilância:



*A Caveira -- Muitos iniciados em conhecimentos esotéricos e até mesmo Santos importantes da história da Igreja Católica (São Jerônimo, São Luiz Gonzaga e Santa Maria Madalena) são retratados ao lado de figuras de crânio.     
   O crânio já foi um símbolo muito mal interpretado, mas não há nada "diabólico" nele. Pelo contrário, ele é o símbolo máximo da nossa mortalidade e do nosso desejo de transcender a matéria e se elevar para Deus e para os nossos propósitos espirituais e virtuosos. Até mesmo santos gostavam de lembrar da sua condição mortal e de suas penitências ao contemplar esse símbolo. 

Leia um interessante e curioso texto de uma inteligente freira (isso mesmo, a autora é freira!), onde ela recomenda que cada cristão tenha um crânio sobre a mesa do trabalho a fim de lembrar-se da morte e Daquele que transformou a morte em vida na Ressurreição: Jesus Cristo. Leia o texto "Como uma caveira em cima da sua mesa vai mudar a sua vida":  




   Observação curiosa: O Rock and Roll gosta de usar a caveira e o crânio como símbolos de rebeldia diante de tudo o que é mundano, porque somos todos mortais. A consciência sobre a mortalidade traz a vontade de libertar a nossa personalidade do sistema e ter uma vida mais autêntica, mais vibrante e "Rock and Roll". Interpretadas como sombrias muitas vezes, as letras do Rock podem ser muito inteligentes e repletas de filosofia e autoconhecimento. O Rock reflete muito sobre a morte e os sentimentos humanos. 

Dica: Uma banda bem filosófica em suas letras é a banda Epica.

Confira a música "The Phantom Agony":

Qual é o sentido da vida?
E qual o significado se todos nós morremos no final?

Versos da música The Phantom Agony da banda Epica. 








*A ampulheta. A ampulheta é um grande símbolo da passagem rápida do tempo e da nossa finitude. Já que temos relógios mais modernos hoje em dia, a ampulheta virou enfeite em lojas de decoração. Muito além do seu valor estético e decorativo, você pode filosofar com uma ampulheta sobre a mesa e pensar sobre o seu curto tempo de vida. 


*O galo. O galo é um animal que virou símbolo de vigilância pelo seu canto matinal. Ele é um animal forte e altivo cujo canto desperta o ser humano do seu sono. Simbolicamente, ele também pode servir como metáfora para o nosso despertar espiritual e para a nossa vigilância em relação ao tempo. 


Tatyana Casarino. 

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