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domingo, 22 de março de 2020

Resenha: Coração-Granada






Livro: Coração Granada.
Autor: Akapoeta / João Doederlein
Editora: Paralela
Número de páginas: 191



A eletrizante força de um coração sensível.




             Esse é um livro de poesias do autor João Doederlein que nasceu em Brasília e hoje conta com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram sob o pseudônimo de @akapoeta. O autor atingiu sucesso com o "Livro dos Ressignificados", onde ele descreve de forma poética o significado de cada palavra de acordo com o que ela transmite. Muito além da prisão formal dos dicionários, a genialidade de João esteve em interpretar poeticamente o significado de cada palavra. Salienta-se que, além de seu primeiro livro de sucesso, ficou famoso por postar os significados poéticos e "subjetivos" de cada palavra conforme a sua sensibilidade no Instagram. Coração-granada é o seu segundo livro.
             Em coração-granada, o leitor se depara com poesias sobre decepções amorosas, crises de ansiedade, crises de insônia, momentos de solidão e crises de autoestima. A nova obra dele tem formato mais artístico, poético e literário que a anterior muito embora também traga o significado "sentimental" e subjetivo de algumas palavras dentro dos capítulos de poesia.
            Confesso que tinha uma desconfiança do livro em relação aos assuntos tratados e pensei que talvez fosse um livro emocionalmente "pesado" ou até mesmo enfadonho. Entretanto, o livro está longe de ser enfadonho e pesado, pois é um livro leve, bem-humorado e, ao mesmo tempo, eletrizante. Eu amei tanto cada página que não conseguia parar de ler. 
          Eu não costumo ler poesias a respeito de decepções amorosas, pois eu acho esse tema muito comum dentro da poesia e da música. Eu diria que a arte está "saturada" de manifestações criativas baseadas em decepções amorosas, já que essa é uma dor comum para virar arte. Tem uma frase em inglês que é a máxima dos escritores e dos artistas: "What's bad for your heart is good for your art" (o que é ruim para o seu coração é bom para a sua arte). 
           Por acreditar que já existem muitas poesias e letras de músicas baseadas em amores que não deram certo, eu costumo trazer os mais variados tipos de poesia possíveis no meu trabalho e no meu blogue (anjos, sereias como arquétipos do feminino, superações de angústias existenciais, esperança e etc). Existem muitos outros sentimentos além do amor pessoal dentro de um relacionamento e muitas outras dores sentimentais humanas que também merecem ser representadas nas artes e na poesia, razão pela qual eu exploro assuntos mais abrangentes e prefiro focar numa visão mística e holística dos sentimentos quando escrevo (minhas poesias tem uma linha mais mística).  

                            



                      É verdade que muitos leitores já estão enjoados de poesias de decepções amorosas, porque é um "lugar comum" além de geralmente ser o tipo de dor que desperta o poeta interior das pessoas (não foi o meu caso, pois a minha criatividade nasceu da minha sensibilidade e não foi impulsionada por qualquer dor de decepção amorosa). Ocorre que João retrata os relacionamentos que não deram certo de maneira única e com uma verdade tão bonita que você sente, paradoxalmente, que está lendo sobre esse assunto tão velho com olhos tão novos e tão puros. Rimar "dor" e "amor" é a primeira rima simples e pobre de qualquer poeta iniciante (e eu já devo ter rimado essas palavras algumas vezes em poesias passadas), mas é interessante notar que podemos ter novas visões acerca das decepções amorosas. 
                    Com as poesias de João, acontece justamente isso: muito embora retratem dor "de amor", são revolucionárias e eletrizantes -- suas poesias estão longe do "lugar comum" e não são enfadonhas nem clichês. Você até vê um clichê aqui e outro ali, mas as poesias dele são tão únicas, majestosas e personalizadas (talvez pelo autor ser do signo de Leão como consta no livro) que é como se não houvesse clichês e o mundo girasse em torno daquelas verdades descobertas após as decepções pela primeira vez. 
                     Como leitora, variei entre os seguintes pensamentos: "Arranjem logo uma namorada para esse cara!" e "Opa, espere aí, esse cara é um gênio!" Também fiquei pensando se muitas poesias foram inspiradas em casos reais ou se também há algumas poesias baseadas apenas na imaginação fértil do autor. O próprio autor deixa claro que o livro fala de um amor que nunca aconteceu e de uma pessoa que mexeu com o coração dele a ponto de fazer sair poesia de seu coração. Vejo que muitas dores das poesias do livro podem ser invenções, bem como muitos amores descritos. Em João, vemos uma poesia moderna e despreocupada com estruturas rígidas. João é poeta em substância e talvez não tanto em forma -- ele segue a minha linha de que a poesia deve ser mais substancial do que formal.
                  E, por falar em poesia moderna (onde a métrica e a rima não regem o poeta de forma rígida e esse passa a ser livre para expressar sua autenticidade), Fernando Pessoa, o "pai" dos poetas modernos, já dizia que o poeta é um fingidor, ou seja, finge dores que talvez nem tenha sentido. A frase completa de Fernando Pessoa é essa: "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente." Nas poesias de João, tive a impressão de que talvez ele tenha inventado algumas dores de amor e trabalhado criativamente como um ator sobre determinadas histórias. João é um artista além de poeta. 
                  E, falando em poeta que gosta de contar histórias, vamos lembrar que Renato Russo, grande poeta, compositor e músico brasileiro (e que também viveu em Brasília, na cidade de João), adorava cantar histórias de amor que não foram vividas por ele. É só lembrar de "Eduardo e Mônica" e do quanto essa música fica em nossa mente e do quanto somos capazes de saber toda a letra dela mesmo com a falta de rimas. Somos capazes de sentir umas doses da genialidade e do espírito franco, autêntico e elétrico de Fernando Pessoa e de Renato Russo nas poesias de João Doederlein. 

                              



                  Nas poesias de João, somos convidados a entrar no sagrado espaço de sua intimidade, de seus sentimentos inconfessáveis, de seu lado sentimental mais bonito e sensível e também de seu lado mais "espinhoso" e ansioso. É notável a oscilação de autoestima na sua poesia: ora ele se sente o cara mais brilhante e iluminado, o cara mais carismático do rolê, ora ele se sente o cara mais solitário do mundo, o cara menos amado do mundo cuja ansiedade "espinhosa" afasta todas as pessoas, "espeta" os amores e faz com que ele implore pelo acolhimento de alguém que aceite as suas crises de ansiedade com amor e tolerância e não como um "fardo".  Ele mesmo confessa que o cara mais feliz do rolê pode ter depressão e deixa um sabor filosófico em sua poesia. 
                  Isso tudo que falei das poesias dele é muito leonino, não é mesmo? Esse poeta é capaz de brilhar e ser o centro das atenções até quando se sente rejeitado. Pensamos, equivocadamente, que Leão é o signo da autoestima maravilhosa. Todavia, em verdade, Leão é o signo da oscilação da autoestima e da descoberta de um núcleo iluminado e estável dentro do eu que, assim como o sol, sempre brilha independentemente das nuvens que possam tentar cobrir a sua glória. João é esse sol que brilha criativamente e que transforma as nuvens de suas tempestades emocionais em poesias belas e eletrizantes. Aliás, muitas de suas poesias chegam eletrizantes como raios. Somos capazes até mesmo de sentir a sua ansiedade dentro dos versos. 
                 Alguns pontos chamaram a minha atenção ao ler as suas poesias no livro "Coração-Granada". Destacarei os seguintes pontos da obra:





*A autenticidade -- João não tem medo de expor aqueles pensamentos e sentimentos que quase todo mundo já teve e ninguém mais teve coragem de expressar. Há coragem na expressão da autenticidade de João e eu simplesmente adorei essa coragem poética.
*O conteúdo das poesias -- João é substancialmente poético além de ser bastante perspicaz em suas poesias. Gostei do conteúdo delas e da forma como ele seduz o leitor.
*A forma das poesias -- É uma forma moderna, despreocupada com preceitos rígidos e muito bonita. A edição do livro está maravilhosa. Parabéns para a edição, pois a leitura é agradabilíssima. A disposição das poesias está bem moderna, e eu amei os desenhos incluídos no livro e a facilidade da leitura. O livro é bem colorido e marcado pela cor laranja em alguns tópicos além de apresentar um apelo visual de muitíssima qualidade. Tanto o escritor quando a editora Paralela merecem nossa "salva de palmas". Parabéns, João! Parabéns, Editora!
*O avesso pode ser o lado certo: João faz o leitor pensar sobre o amor do avesso. E não é que o avesso tem razão? Ele denuncia a sociedade insensível e os namoros fugazes da modernidade apesar de parecer fazer parte desse mundo moderno e fugaz também. Ele não observa o mundo de longe como muitos poetas (até mesmo eu, enquanto poetisa, faço críticas ao mundo estando longe dos rolês), mas vive o rolê sem se contaminar por ele, confessando sua personalidade nas poesias. 
*Palavras modernas e citação de redes sociais: É genial a forma como João consegue ser popular ao incluir palavras como "Instagram" e "Whatsapp" dentro de suas poesias. Eu ainda sou uma poetisa tradicional que não gosta de citar o mundo virtual em minhas poesias, mas aprendi muito lendo as poesias de João. Ele traz novidades modernas para o mundo da literatura poética, o que pode ser bastante interessante se administrado na dose certa esse vocabulário moderno e virtual. Em muitas de suas poesias, vemos linguagens do namoro virtual e do mundo das redes sociais. 
*E se a ansiedade fosse uma pessoa? -- Essa é a sensação que eu tenho ao ler as poesias de crises de ansiedade dele. É inovadora a forma como ele trata a ansiedade nas poesias, como se ela fosse uma "visitante" da "casa" da alma dele que quebrasse tudo por fora e por dentro sem o controle dele. 
*Leveza e cotidiano -- Apesar da densidade da ansiedade e da decepção amorosa, todo leitor se sente mais leve após o contato com as poesias dele. Há uma leveza bonita que carrega a esperança de sempre reconstruir a nossa visão sobre o amor e abrir as portas do nosso coração sem se importar com as frustrações do passado. A leitura do livro é rápida, leve e fácil de interpretar, razão pela qual agradará até mesmo aquela parte do público que não tem o costume de ler poesias. O cotidiano também é retratado no livro de forma linda. João é mestre em reparar detalhes que outros não veem e transformar pequenos detalhes da vida cotidiana em beleza poética. Até os passos da pessoa amada na cozinha são sinais de que ela se levantou antes de nós...
*O título do livro: Essa título é bastante convidativo e foi o título que despertou a minha curiosidade pela obra. Por ser poetisa e também ter um coração sentimental e que, por vezes, parece uma "granada" de tão intenso e sensível (risos), tive simpatia pelo título e logo pensei que ele exaltaria o mundo emocional e faria brilhar os corações sensíveis. João é um belo representante dos poetas e trouxe honra às pessoas sensíveis.
*O desenho da capa do livro: Dizem que não se deve julgar um livro pela capa, mas a capa de Coração-Granada combina muito bem com o seu conteúdo. As poesias dele são como uma "bomba", e você sente o coração dele pulsando de maneira tão eletrizante quanto uma granada. 
A "granada" que parece um coração sangrando na capa do livro faz alusão aos momentos em que "sangramos" por dentro com nosso coração partido e explodimos as nossas emoções. A "granada" que remete a um coração na capa também remete à fruta romã -- e nós só entendemos tal referência quando lemos a poesia que carrega o mesmo nome dessa obra literária (a poesia a seguir é a minha poesia predileta do livro de João Doederlein): 






"coração-granada (s.m.): é ser alguém que explode de amor, ao menor contato. é quem entende que a vida deixa marcas conforme vivemos. é uma nuvem de calor pós-paixão. é espalhar os ideais que moram dentro de você com a intensidade de um cometa. é alguém que faz barulho mesmo em silêncio. é a inquietude de querer viver. é o brilho que ora ilumina, ora cega. é ter no peito uma romã, mais vermelha que o sangue, mais doce que o morango e, mesmo quebrada, ainda bonita.


e quando o mundo estiver em festa, nós seremos os fogos de artifício."

                         

                     



     Por fim, destaco a beleza poética da obra de João. Arte literária, além de substância criativa e transformação de sentimentos em manifestações poéticas, também é beleza. João soube transformar as dores de um coração sensível em beleza e mostrou ao leitor a força eletrizante que pulsa por trás de um coração sensível. E essa força é tão intensa que chega a explodir como uma granada quando está dolorida, mas também é tão graciosa que chega a embelezar o céu como fogos de artifício. E todos nós gostamos de celebrar essa beleza. E todos nós gostamos dos fogos de artifício. 
     Gosto de me identificar com os fogos de artifício. Gosto da ideia de que os corações sensíveis e poéticos são os fogos de artifício que colorem a nossa vida. João, que suas poesias sigam sendo fogos de artifício para nós. Obrigada por elevar a autoestima de todos os corações sensíveis quando eles se identificam com a beleza poética de seu livro.
      Você é um leonino típico, caro poeta João: onde passa, eleva a autoestima das pessoas e faz com que elas vejam o próprio brilho quando olham para o seu brilho. A referência astrológica é inevitável aqui, já que amo estudar signos (e esse poeta também gosta, já que escreveu sobre o significado poético de cada signo e você pode ler a respeito se digitar a palavra "signo" ao lado de "@akapoeta" no Google). 
       Os fogos de artifício são um reflexo da festa dentro de nós, pois o coração sensível é palco de festa muito além de ser palco de dor. Nosso coração sensível pode ser uma granada, mas também é bela festa com fogos de artifício (uau, esse brilho todo é muito leonino, não é mesmo?). 
       Qual é o segredo da popularidade de João? Bem, a leitura é rápida, intimista e todo coração sensível oculto por aí vibra e se identifica quando lê esse livro. A identificação é fácil: de repente, mais alguém já sentiu a sua dor e a transformou em poesia, mostrando ao leitor a beleza da sensibilidade. 


                            

Imagem de Romeu e Julieta. 

          

            João cumpriu bem a máxima de Mário Quintana de que uma poesia salva um afogado. Sua energia reergue os corações afogados em dores e decepções amorosas, mostrando um novo caminho de poesia e autoestima. Não tem como errar nessa fórmula: número equilibrado de páginas, leitura rápida, identificação fácil, empatia imediata e coragem de expor o que todo mundo sente e não tem coragem de falar. Misture tudo isso e acrescente carisma e autenticidade. Pronto, está é a fórmula do sucesso de João e da maioria dos livros poéticos. Sem falar que dor romântica sempre caracterizou os poetas e faz sucesso desde Romeu e Julieta. Há uma beleza poética que só os amores que não deram certo carregam. O amor platônico também é muito dolorido, mas muito bonito ao mesmo tempo além de ser a inspiração máxima dos artistas e poetas. 
          Para concluir o texto, salienta-se que quem não gostava de poesia antes e achava a poesia algo retrógrado e enfadonho pode encontrar em João Doederlein um novo caminho para aprender a gostar de poesias. E esse novo caminho é eletrizante sem dúvidas, pois ele mostra a eletrizante força de um coração sensível. Já tenho a certeza de que só faz sucesso quem tem coragem de lançar o seu coração como uma granada no meio de sua literatura. E que sempre existam mais "granadas" em formato de poesia! Viva e poesia!

Tatyana Casarino. 


*Obrigada, tia Veridiana, por ter me dado esse livro de aniversário!


*Caríssimo João Doederlein, espero muito que um dia você seja feliz no amor. Mas espero ainda mais que, quando esse dia chegar, você continue a escrever belas poesias e continue a ser um sensível e corajoso poeta. 



                  


Obs: Essa história de força por trás de sensibilidade também combina com as músicas da Katy Perry, não é mesmo? Pearl e Firework formariam uma bela trilha sonora para as poesias dele. 

Confiram o Instagram do poeta João Doederlein também conhecido como @akapoeta: 

https://www.instagram.com/akapoeta/?hl=pt

Confiram o clipe "Firework" de Katy Perry que combina com a poesia "coração-granada": 

https://www.youtube.com/watch?v=QGJuMBdaqIw

Confiram uma entrevista com o poeta no "Leituras" do canal da Tv Senado:

 https://www.youtube.com/watch?v=5wCLW8jWzHo

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