Brumas do Silêncio

Roda da fortuna no fundo do mar, 
a vida é um palco do amar.
Nas brumas quentes do silêncio,
vejo que a vida não tem preço.

Se nado profundamente em mim, 
como uma sereia no mar sem fim,
sei que posso ser o seu abrigo.
Valioso mesmo é ter um leal amigo.

Se enfrento, no mar, mil abismos,
volto à superfície mais confiante.
Da vida, somos os mortais amantes
que se entrelaçam, amam e se despedaçam.

A vida sempre será um mar sem fim
de despedidas, dores e desencontros.
Quantas perdas você aguenta?
Há quantas lágrimas na sua tristeza?

Sei que posso ser mais humilde,
como um pequeno peixe perdido.
O mar é o meu dono e domicílio,
as ondas formam o nosso abrigo.

Olho para o céu do entardecer,
o sol se despede para dormir em Deus
e a lua acena para os poetas românticos.
Danço tango ente o sagrado e o profano.

Para entender a vida, fuja dela!
Corra para os montes que a solidão é bela.
Contemple o espaço desse nosso infinito,
o primeiro beijo antes do epitáfio dolorido.

A primeira respiração é o amanhecer,
o último suspiro é o entardecer.
A vida não passa do tempo de um dia,
a morte é a noite que navega na poesia.

Sou piegas e admito, meu amigo,
não tenho medo do que sinto.
Poesia não tem a ver com métrica,
mas com a sabedoria dos ascetas.

Não quero ser o intelectual inacessível,
não quero as métricas perfeitas.
Quero acessar os corações doloridos
e levar a paz, o poema e o sorriso.

Não quero ser imortal em títulos,
não quero que a vida gire em livros.
Quero o sabor da alma mais profunda,
quero sentir a simplicidade fecunda.

Na minha roda da fortuna,
a vida não gira em torno de livros.
Giro em torno de peixes e ondas,
o vinho de Netuno me abençoa.

Sou rica quando exerço a caridade,
sou feliz quando conheço a lágrima.
A devoção é a minha beldade,
sacrifício pode ser felicidade.

Nado em torno do tesouro da fé,
encontro joias perdidas no abstrato.
Dissolvo o que é sólido e nato,
amar os excluídos é o meu trabalho.

Sou feliz quando faço caridade,
sou mais rica na minha criatividade.
Todos os meus dons nascem no mar, 
ter roda da fortuna em peixes é sonhar.


Poesia escrita por Tatyana Casarino.

*Poesia Astrológica;
*Poesia do meu Mapa Astral;
*Poesia que representa o seguinte posicionamento astrológico: Roda da Fortuna em Peixes na Casa 6. 



                         

A imagem da mulher ajoelhada sob uma estrela mostra o espírito da poesia: a riqueza de estar ajoelhado, humilde e derramando as águas férteis do conhecimento na terra divina que tudo floresce. 

    

     Essa poesia invoca a riqueza da simplicidade, da dissolução das formas e da felicidade encontrada através da caridade e da fé por quem tem esse posicionamento astral.

    Muitas vezes, as pessoas têm o ego inflado, e o orgulho está adoecendo o mundo. É na simplicidade que encontramos a redenção, porque não existe nada mais terno do que se entregar para a grandeza "oceânica" de Deus como um pequeno peixe. É na humildade desse nado que está o verdadeiro tesouro da roda da fortuna. 

   O verdadeiro rico não é quem tem posses para comprar grandes coisas, mas quem tem o coração capaz de apreciar as pequenas coisas e sentir simples prazeres. As coisas mais simples são as mais importantes, tais como a contemplação do pôr-do-sol ou a apreciação do silêncio numa tarde de verão. A verdadeira grandeza da alma está em quem compreendeu como é doce ser pequeno, simples, comum e oculto nas brumas do silêncio. 

     Nas brumas do silêncio, está a roda da fortuna. A fortuna não está nos barulhos do mundo nem nos barulhos do ego que quer sempre fama, atenção e elogio. A fortuna está no silêncio do espírito que não precisa de mais nada a não ser dos braços de Deus. Somos importantes para Deus e, portanto, não precisamos da atenção do mundo. Ninguém é anônimo para Deus. Logo, por que se importar se sou anônimo para o mundo? Viver escondido, anônimo e comum é delicioso, porque significa a liberdade. Um peixe desconhecido pode navegar por todo o oceano sem ser interrompido, já que está protegido sob as brumas do silêncio. 

       Esta é uma poesia mística que reúne o amor pela simplicidade e o espírito religioso da Quaresma. Nesse período de Quaresma da Igreja Católica, postarei muitas poesias nesse estilo e elas estarão voltadas para Deus e para a interiorização da alma. 

Tatyana Casarino.