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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Resenha: A Arte de Encontrar a Medida Certa de Viver



Livro: A Arte de Encontrar a Medida Certa de Viver.
Autor: Anselm Grün.
Editora: Editora Vozes.
Número de Páginas: 124.


  A Arte de Encontrar a Medida Certa de Viver é um livro do famoso monge beneditino alemão (ele é famoso internacionalmente, mas deveria ser mais divulgado no Brasil) Anselm Grün que une a capacidade ímpar de falar de coisas profundas com simplicidade e transpõe para o cotidiano questões espirituais relevantes. 
  O livro é um convite para o leitor encontrar o equilíbrio na vida e serve como reflexão: não é uma obra de autoajuda professoral que deixa o leitor com peso na consciência pelos seus excessos, nem tampouco um livro pesado e religioso apesar de ter um monge como autor. É um livro leve, reflexivo, filosófico e até mesmo de cunho sociológico e psicológico. 
   Basicamente, o livro ensina aos seus leitores a arte de conduzir as próprias energias com sustentabilidade, já que este termo não é exclusivo do direito ambiental e da natureza, mas também de toda e qualquer fonte de energia -- incluindo os recursos humanos. 
  Na natureza, a sustentabilidade significa que aquilo que retiramos dela retornará a crescer nela silenciosamente quando propiciamos um tempo para a regeneração de suas fontes de energia. O mesmo ocorre na sustentabilidade da energia humana: o ser humano necessita de períodos de regeneração para que a energia que ele exterioriza e gasta no trabalho possa voltar a crescer dentro dele em momentos de lazer, descanso e introspecção. Nessa regeneração energética reside a importância dos períodos de silêncio, de meditação e de oração. 
    Nesse sentido, o lema de São Bento é "oração e trabalho". Tal lema é seguido pelos monges beneditinos e pode ser aplicado fundamentalmente na vida cotidiana de qualquer cidadão comum. O lema comporta tanto a oração quanto o trabalho, pois um elemento precisa do outro para o ser humano viver de maneira equilibrada e sustentável. Devemos ponderar a medida de nosso trabalho para não sobrecarregar as nossas funções, alternando o ritmo da vida entre o trabalho e a oração. 


                             

Monge beneditino Anselm Grün, 
o autor do livro. 
    


        Encontrar o equilíbrio não significa negligência com os deveres nem mediocridade -- e, nesse ponto, o monge foi bem claro ao distinguir equilíbrio de mediocridade. O ser humano pode muito bem ser excelente no que faz, intenso em seu trabalho, competente e, ao mesmo tempo, equilibrado, sereno e atento aos seus períodos "sabáticos", introspectivos e meditativos. Aliás, as pessoas se tornam muito mais produtivas e criativas quando estão equilibradas. A estafa mental, a rotina desmedida e o estresse diminuem a qualidade de qualquer trabalho. O livro critica o ritmo frenético, doentio e estressante dos tempos modernos para propor um modo de vida mais equilibrado e sábio. 
            Entregar-se a momentos sabáticos é entregar-se também a Deus, pois ingressamos no silêncio sagrado que habita dentro de nós e onde se encontra a nossa origem e o nosso divino Criador. Muitas pessoas fogem do silêncio, usam o trabalho excessivo com fugas de si mesmas e precisam estar constantemente em atividades diversas e na presença de barulho, tendo em vista que elas não conseguem ficar bem com elas mesmas nem conseguem penetrar no espaço sagrado que há no interior delas. 
          Somente gostamos de estar conosco mesmo quando sabemos que há algo sagrado, belo e nobre que causa tranquilidade dentro de nós. Quando desconhecemos a beleza de nosso interior e apenas vemos a ruptura de nossos traumas e fragilidades, não teremos equilíbrio nem autoestima -- e, consequentemente, fugiremos de nós mesmos. 
                   Não é somente a religião cristã que é adepta ao equilíbrio (e, nesse sentido, o "pecado" estaria nos diversos "excessos" humanos), mas também a filosofia grega, correntes da filosofia ocidental e outras diversas religiões (como o budismo). O autor vai além do catolicismo e percorre outras correntes filosóficas, citando de maneira amigável e respeitosa os preceitos de outras religiões e filosofias que convergem com suas ideias baseadas nos lemas beneditinos. 
                  O budismo, por exemplo, vê a origem do sofrimento humano nos desejos inflamados e na avidez desmedida, assim como a filosofia estoica descreve a cobiça como a raiz de quase todos os males humanos. Na religião cristã, encontramos diversas passagens bíblicas que fazem advertências contra a cobiça como, por exemplo, a Primeira Carta a Timóteo. Logo, o fim do sofrimento estaria em uma vida equilibrada, sob a medida certa e isenta de paixões desenfreadas como a cobiça. 

                                

São Bento é o fundador de uma ordem de monges movida por oração e trabalho (monges beneditinos). 
O Padroeiro da Europa e Patriarca dos Monges do Ocidente é celebrado no dia 11 de Julho (dia do meu aniversário, que bênção!) 

                    


                   Além do equilíbrio entre trabalho e oração ou entre trabalho e descanso (tópico bem trabalhado dentro do livro), o autor cita o equilíbrio como fonte de sabedoria e vida saudável em todos os âmbitos da vida humana. Alguns dos tópicos mais interessantes são: o equilíbrio entre avareza e esbanjamento, o equilíbrio entre autodepreciação e soberba, o equilíbrio entre autocuidado e cuidado pelo outro, a importância da disciplina, o foco no essencial, a importância da atenção plena, a humildade como forma de coragem e a relação entre medida e beleza. 
                       O livro chama bastante a atenção para a observância de nossos próprios limites. Ter consciência dos próprios limites leva o ser humano a sempre tomar as atitudes mais certas e adequadas para cada ocasião. No capítulo sobre o equilíbrio entre a autodepreciação e soberba, ficaram bem claros os perigos das visões nebulosas sobre si mesmo: tanto as visões de autodepreciação quanto as de superestimação de si mesmo são desmedidas.
                      A visão equilibrada sobre si mesmo, consciente da sua nobreza interna e também dos seus limites, é a mais saudável, a mais segura e a mais próxima da nossa verdadeira natureza e da imagem original que Deus fez de nós. Em todos os âmbitos da vida, o que mais aperfeiçoa o ser humano e o leva para perto da verdade é o equilíbrio. E nisto reside a importância de encontrar a medida certa em todas as áreas de nossas vidas: profissional, pessoal, financeira e até mesmo amorosa. 
                       Sabe-se que até o amor precisa de medida certa. Sendo assim, o amor é um paradoxo: por mais que seja ilimitado (ninguém ama pela metade) também precisa de adequação nas suas formas de expressão a fim de não esfriar nem ficar "sufocante" demais. 


                                  

                     


                    Mas qual seria a medida certa para cada área de nossa vida? Todos nós devemos seguir a nossa intuição para descobrir o nosso próprio equilíbrio, já que cada um tem a sua própria medida. Um dos erros mais lamentáveis do ser humano é medir as próprias necessidades pelas necessidades dos outros: nesse erro, brotam a inveja, a ganância, a competição, o vitimismo e a falência energética e financeira. O monge afirma que cada um deve permanecer em si mesmo, ser ponderado e aceitar a sua própria medida, visto que a insatisfação nascerá da comparação com os outros.
                      E, na jornada para encontrar a própria medida, são fundamentais algumas atitudes e reflexões: saber o que me enriquece (essa discussão vai além do financeiro e penetra em tudo o que é valioso e sagrado para mim), independência da opinião alheia (não depender do julgamento dos outros sobre nós traz a paz necessária para descansarmos em nós mesmos, em nosso próprio centro interior de equilíbrio), ficar com os pés no chão (ter humildade) e abandonar o perfeccionismo (ser bom é melhor do que ser perfeito). 
                     Quanto às atitudes que  o ser humano deve tomar para encontrar a medida certa e o equilíbrio, o livro expressou duas abordagens importantíssimas (as minhas favoritas no livro): a humildade como a arte de mergulhar em si mesmo (ser humilde não é se rebaixar, mas saber descer nas partes mais profundas da alma e exercitar um autoconhecimento amplo e complexo) e a importância de dizer "não" para o estabelecimento de limites saudáveis e também para a preservação de nossas energias.  


                                   

                    


                  Para saber com mais profundidade sobre cada uma das atitudes fundamentais para encontrar a paz interior, descansar em si mesmo e encontrar a medida certa de viver, sugiro a leitura completa do livro. 
                     Por fim, ressalta-se que, embora o livro tenha um monge católico como autor, suas abordagens vão muito além da religião cristã e permitem várias analogias com outras religiões e filosofias. Durante a leitura, tive fortes lembranças do conceito de ética na filosofia de Aristóteles, o qual afirmava que a virtude é um ponto de equilíbrio entre duas características e que a falta e o excesso sempre geram vícios.
                    Também foi intuitivo comparar os preceitos beneditinos e católicos dos livros com os ensinamentos budistas a respeito de meditação e atenção plena (as religiões são mais semelhantes do que muitos pensam). Curiosamente, os ensinamentos desse livro combinam muito com os aprendizados de mindfulness (estilo meditativo que faz muito bem à saúde mental e está na moda agora), pois o monge retrata a importância de ter atenção plena nas tarefas diárias e estar totalmente presente e concentrado em cada momento da vida na busca do equilíbrio. 
                       Portanto, esse livro combinou muito com outros livros de autoajuda que já li, tais como: O Poder do Agora (Eckart Tolle), Atenção Plena (Mark Williams e Danny Penman) e Praticando o Poder do Agora (Eckart Tolle). O mais curioso é que "A arte de Encontrar a Medida Certa de Viver" foi escrito por um monge católico, reforçando que há muitos preceitos beneditinos semelhantes aos do budismo. 

                           

Budismo


Catolicismo 


Tanto o budismo quanto o catolicismo pregam uma vida equilibrada e fazem advertências quanto às paixões desenfreadas e a falta de limites na vida humana. 

                            


     Embora haja divergências entre as religiões, fico feliz quando encontro pontos semelhantes entre elas. Há uma sabedoria milenar na arte do equilíbrio que está presente em todas as grandes filosofias e religiões. Além do mais, como sou da área jurídica, a busca pela "justa medida" é uma constante em minha vida pessoal e profissional, pois a justiça está sempre unida ao equilíbrio (não é à toa que o símbolo do Direito é uma balança). Livro recomendadíssimo! Minha nota: 5/5 (nota máxima de cinco estrelas!). 

Resenha escrita por Tatyana Casarino. 

*Siga a Taty no SKOOB:

https://www.skoob.com.br/usuario/5835831-taty

*Link do Livro no SKOOB:

https://www.skoob.com.br/a-arte-de-encontrar-a-medida-certa-de-viver-749656ed752834.html


*Para finalizar a postagem, uma bela música católica muito tocada e cantada em Procissões:

"Lá na praia, eu larguei o meu barco..." 




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