Atire a primeira pedra quem nunca caiu na tentação de escrever umas indiretas nas redes sociais. Atire a primeira pedra também aquele que nunca foi alvo delas. Ocorre que, se analisarmos sem o ego e sem o calor do momento, veremos que indiretas nas redes sociais contrariam a elegância, a sabedoria e o bom senso.
Acredita-se que agir com o máximo de consciência é a missão da evolução espiritual humana. Se somos cristãos, agir com sabedoria é o nosso dever. Não precisamos ser Salomão nem um profeta sábio para agir com prudência. Afinal de contas, independentemente do conhecimento intelectual advindo dos livros, a sabedoria é uma bênção de Deus que sopra em nosso coração e nos induz à ação correta e prudente.
Muitas vezes, pessoas com alto nível intelectual carecem de sabedoria e agem com arrogância, ignorância e falta de lucidez. Por outro lado, muitas pessoas humildes e até mesmo analfabetas carregam uma sabedoria linda em suas condutas éticas e moralmente belas em suas vidas.
Se somos cristãos, devemos sempre pedir sabedoria a Deus e que, na paz de nossos corações, a sabedoria Dele faça morada e nos inspire a ter sentimentos retos, pensamentos lúcidos e ações corretas. Sobre a sabedoria, encontramos várias passagens na bíblia acerca da importância dela, especialmente Provérbios 8:11: "Porquanto, melhor é a sabedoria do que as mais finas joias, e de tudo o que se possa ambicionar, absolutamente nada se compara a ela!"
Sinceramente, o que eu mais gosto na história da Religião é a Sabedoria que ela trouxe à humanidade e a forma como foram criadas as regras morais de conduta, independentemente da fé (exceto alguns religiosos que agem com fanatismo e ignorância, mas esse seria um assunto para outra postagem).
Deus é amor, é justiça, é misericórdia, é paz, é luz e é também sabedoria. Além de ser um dos dons do Espírito Santo, a sabedoria é a prova de que Deus existe. O mundo de hoje está perdido e depressivo como está, pois se perdeu no niilismo, na ausência de sentido, no ceticismo frio, na perda das convicções sábias, na falta de moral e na carência de princípios sábios norteadores da conduta humana. Mas, se você for sensível o suficiente, verá que há uma certa "ordem" pairando por trás das cortinas da vida e que conduz inevitavelmente cada ser humano à sabedoria -- quer seja por meio da dor ou do amor.
A lei da ação e da reação, mais do que uma lei física, é sobretudo uma lei moral e espiritual: por mais injustiças que o mundo possa ter, as pessoas boas recebem sua recompensa, assim como as pessoas más recebem o seu castigo -- ainda que ele apareça tardiamente em suas vidas. É como se tudo girasse em torno de uma "sabedoria primordial" que conduz cada ser humano às lições que ele precisa aprender.
Por incrível que pareça, um dos poucos filósofos céticos que admite que o argumento mais forte da fé é essa "ordem" que há por trás dos fatos da vida é um ateu: Luiz Felipe Pondé (Livro: Espiritualidade para corajosos -- a busca de sentido no mundo de hoje).
O oposto da ordem é o caos. Muitas pessoas perdem a fé por causa do aparente caos da vida, e os telejornais reforçam essa ideia de caos no mundo com as notícias de tragédias e violências. Mas, os fatos caóticos não passam de 10% do que ocorre ao nosso redor. Os outros 90% da vida estão em ordem, e o ser humano não percebe: a noite sucede o dia, o verão sucede a primavera, o sol nasce todos os dias (já pensou se ele resolvesse não nascer?), a lua ilumina todas as noites, as estrelas brilham no céu noturno, os pássaros cantam, as flores desabrocham, nossos corpos funcionam bem (exceto em casos de doenças), a gravidade coloca tudo no seu devido lugar, nossas cabeças estão bem grudadas em nossos pescoços e nossos pés estão fincados no chão (o mundo não é o acaso, pois, se o acaso fosse o "rei" do mundo, as coisas seriam "sem pé e sem cabeça").
Enquanto há assassinos matando pessoas, há milhares de médicos salvando vidas. Enquanto há um atirador psicopata em uma escola, há milhares de escolas funcionando bem e tendo suas aulas tranquilamente. Enquanto há um criança sendo abandonada, há centenas de crianças sendo adotadas. Enquanto há um homem maltratando uma mulher, há dezenas de homens amando e tratando bem uma mulher. Enquanto há uma criança sendo maltratada, há centenas de crianças sendo amadas. Enquanto há um animal sendo maltratado, há centenas de animais recebendo carinho. O problema do ser humano é que basta uma notícia caótica para ele deixar de crer na ordem da vida. Os fatos cotidianos e "normais" não vão parar nos telejornais. Mas, acredite: as pessoas boas são maioria e a ordem prevalece sobre o caos, senão o mundo já teria explodido em uma terceira guerra mundial há muito tempo.
Tudo o que escrevi até agora foi uma defesa da sabedoria e da ordem. Contudo, por que o texto é sobre indiretas? Acalme-se leitor! Eu não fugi do tema, pois as indiretas nas redes sociais estão diretamente ligadas a este assunto. Quando alguém publica uma indireta numa rede social, ele está contrariando a ordem e a sabedoria da vida. É contraproducente ser cristão e postar indiretas nas redes sociais.
Sabe-se que Jesus disse que não poderíamos atirar pedras nos outros, já que também temos os nossos pecados. Não estamos mais no tempo do Jesus. Não atiramos mais pedras na mulher adúltera até que ela morra. Não seguimos mais as leis daquele tempo. Contudo, em pleno século XXI, arranjamos outra maneira de atirar pedras nos outros: através das redes sociais. A maneira "virtual" de atirar pedras também é pecado e contraria a vida cristã. Há muitas maneiras de jogar pedras nos outros e, consoante a homilia de um padre de uma paróquia que gosto muito, existem muitas pedras além das físicas e as "armas" virtuais também são as "pedras" do mundo de hoje.
No livro Palavra e Vida de 2019 (O Evangelho comentado de cada dia) que elucida o Evangelho exposto em cada missa da Igreja Católica, está escrito: "Somos rápidos para atirar pedras, mas lentos ou até parados para acolher, compreender e perdoar. Olhamos os outros de cima para baixo; Deus se inclina e nos olha de baixo para cima... E, com esse olhar, ao contrário de nos condenar, devolve-nos a dignidade de filhos e filhas."
O verdadeiro cristão não é juiz de ninguém, pois sabe que o único ser dotado de plena sabedoria para julgar cada ser humano é Jesus Cristo. E Jesus, embora abomine o pecado, sabe acolher, purificar, libertar e perdoar o pecador. Quem somos nós para julgar o próximo? Miseráveis, pobres, cegos e nus (Apocalipse 3:17)! Eis o que somos! Ser cristão é ser, invariavelmente, humilde. Por que vender a nossa humildade e sabedoria para likes de redes sociais? Para que alimentar um falso orgulho por meio de curtidas de falsos amigos ou amigos superficiais de redes sociais?
Quando colocamos indiretas nas redes sociais, estamos trabalhando para o caos. E, todo aquele que trabalha para o caos também trabalha para o Inimigo, porque Deus é verdade e ordem. Só quem coopera com a ordem e age com prudência e sabedoria está cumprindo seu papel cristão e trabalhando para Deus.
Há uma certa perversidade diabólica em certas indiretas (afirmo sem exageros) se você for reparar bem. O intuito de quem coloca indiretas é sempre malévolo: incomodar a pessoa que ele quer atingir, provocá-la e tirá-la de seu eixo, ou seja, perturbar a sua ordem psíquica. A indireta contraria o respeito e o amor que devemos ter uns com os outros, já que o amor, conforme Coríntios 13, não trata com leviandade, não se ensoberbece e é benigno (a indireta contraria as virtudes do amor, pois é leviana, soberba e maligna).
Muitas vezes, quem coloca indiretas age por ignorância: no calor do momento, arranja frases cortantes para alfinetar seu desafeto -- seja ele ex namorado (a), amigo (a), inimigo (a), familiar ou colega de trabalho. Indiretas para ex namorados são mais compreensíveis, porque as paixões cegam. Mas, ainda assim, são deselegantes além de desnecessárias: raramente o alvo da pessoa lê a indireta, a qual será lida por pessoas que nada têm a ver com a sua dor. Todavia, indiretas para antigas relações fraternais (amigo, familiar, colega e etc) são ainda mais deselegantes, moralmente reprováveis e representam golpe baixo.
Ninguém conserta o mundo através de indiretas: ao contrário, torna o mundo um lugar pior. Se você quer dar conselhos a alguém, dê o seu conselho diretamente, olhando nos olhos do outro com carinho. Conselhos de indiretas não trazem efeitos positivos -- apenas tornam o alvo deles uma pessoa ainda mais negativa e revoltada com você. Alfinetadas de indiretas também não tornarão a sua dor menor. O que cura uma dor é a fé, o perdão, o amor, o respeito e o amor próprio na perspectiva saudável.
Por trás de indiretas agressivas nas redes sociais, existe uma pessoa frágil, de autoestima baixa, perturbada psiquicamente, sem amor e isenta de sabedoria e lucidez. Sendo assim, ela quer jogar a sua dor nas redes sociais, perturbando psiquicamente todos aqueles que verão as postagens de suas redes sociais. Por essa razão, afirma-se que indiretas são como "balas perdidas": nunca acertam o alvo desejado e só servem para ferir os inocentes. Estes ficarão perturbados e indagarão a si mesmos o clássico refrão mental "Será que foi para mim?" inúmeras vezes.
Caso ousem perguntar ao "terrorista virtual" (essa é a forma como denomino o autor de indiretas pesadas) acerca de suas postagens, ouvirão uma risada sarcástica seguida de uma pergunta tola que produz ainda mais pressão psicológica em suas mentes: "Serviu a carapuça?"
No mundo virtual, a carapuça não tem tamanho, e a falácia da carapuça só serve para o autor da indireta escapar da responsabilidade pelos seus atos virtuais, "lavar as mãos" como Pilatos e inverter a situação para seu próprio bem. Através da falácia do pensamento mesquinho "se doeu no outro é por ter servido a carapuça", o autor das indiretas se livra da culpa de ter errado de alvo e atingido pessoas inocentes.
Vale lembrar que o autor de indiretas é quase sempre mesquinho e mergulhado num vitimismo sem precedentes: todo mundo conspira contra ele dentro de sua mente doentia e, então, talvez o alvo de suas indiretas seja realmente todo mundo. Nesse caso, não estamos diante de balas perdidas, mas de uma legítima bomba terrorista: todo mundo merece ficar perturbado com suas indiretas, pois todos são seus inimigos de certa forma ou magoaram seu orgulho doentio uma vez ou outra. Não é preciso ser psicólogo para perceber o perfil narcisista atrás do autor de indiretas.
Por fim, salienta-se que as indiretas nunca geram bons efeitos nas redes sociais nem mesmo boas reflexões: não lava a dor do seu autor e ainda gera dores emocionais, caos e impactos negativos sobre os contatos mais sensíveis das suas redes sociais que leem as indiretas. Você conhece profundamente todos os seus contatos das redes sociais? Aposto que não. Sendo assim, tenha cuidado! Você nunca sabe se a pessoa que está lendo uma indireta sua sofre de alguma doença física, emocional ou mental...
Uma indireta pode piorar a doença de alguém (dependendo do tipo da indireta, afirmo isso sem exageros), deixar ainda mais triste um contato depressivo de suas redes sociais (e o número de depressivos que usam as redes sociais é sempre grande) e até mesmo instigar o suicídio de uma pessoa.
Péssimas consequências essas citadas, não é mesmo? Então, pense muito bem antes de apertar o botão da publicação de suas indiretas, pois não há controle para sequer um ato negativo e aparentemente bobo como uma indireta. No universo, tudo funciona através do efeito dominó (no dominó, a queda de uma peça derruba todas as outras): uma ação boa gera sempre vários efeitos bons imprevisíveis e uma ação má gera sempre vários efeitos maus -- e igualmente imprevisíveis.
Portanto, se você é cristão, evite ao máximo tudo aquilo que for negativo. E, se você acha que eu exagerei ao descrever grandes efeitos de pequenas indiretas lançadas em redes sociais, lembre-se daquele provérbio: "O diabo mora nos detalhes".
Cuide bem dos detalhes de seus comportamentos -- inclusive dos virtuais -- levando em conta que tudo gera efeitos no mundo ao redor. Vigiai e orai para ter uma vida mais prudente e sábia em todos os aspectos dela -- até mesmo nos seus aspectos virtuais. Afinal, devemos ser bons cristãos no mundo virtual também.
Texto escrito por Tatyana Casarino.
Tatyana Casarino é Especialista em Direito Constitucional, Advogada e Poetisa.
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