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sexta-feira, 19 de abril de 2019

10 Militares que sacrificaram suas próprias vidas em conflitos.

                         


Olá, pessoal! Hoje eu trago um texto muito especial feito por Mateus Ernani Heinzmann Bulow, escritor colaborador do meu blog. Trata-se de uma lista com dez militares que sacrificaram as suas próprias vidas em conflitos. Tendo em vista a mensagem de sacrifício que a Páscoa sempre evoca aos cristãos, o autor do texto de hoje decidiu reunir dez histórias onde a renúncia da própria vida implicou em consequências inéditas no transcurso de cada conflito citado. Confiram! 

10 Militares que sacrificaram suas próprias vidas em conflitos.

                                   

        Quando chega a Páscoa, nossas visões mais habituais envolvem os ovos, os coelhos, a abstenção da carne, entre outros costumes. No entanto, a Páscoa possui um significado de certa forma doloroso, nesse caso o sacrifício de Cristo para salvar a humanidade e redimir os pecados, com seu retorno no Domingo da Ressurreição. Assim como Jesus, nós fazemos sacrifícios todos os dias: deixamos de ir ao cinema para estudar mais, comemos menos doces e fazemos exercícios quando desejamos emagrecer...
        Ao menos nossa geração atual pode se dar ao luxo de não temer guerras, embora elas ainda existam em certos cantos do globo. Dispor da própria vida em combate é um sacrifício que, felizmente, não é uma preocupação forte entre os jovens de hoje, como era até alguns anos atrás. Mesmo assim, essas histórias de valentia não deveriam ser esquecidas, inclusive por lembrar-nos dos tempos mais tranquilos nos quais vivemos.
        A ideia de uma lista com guerreiros que fizeram o supremo sacrifício, realizado por livre e espontânea vontade, vinha desde a segunda parte da lista de Mulheres que devem ser lembradas, voltada para as mulheres que foram para a linha de frente. Uma delas era a rainha siamesa Suriyothai, uma heroína popular até hoje na Tailândia, por se interpor em um duelo e salvar seu marido, o rei Maha Chakkraphat, ao custo de sua própria vida.
        Foi pensando na proximidade da Páscoa que pensei em fazer essa lista, com dez combatentes de diversos países e regiões do globo, sejam eles comandantes ou recrutas, unidos pelo sacrifício supremo. Provavelmente, a primeira lembrança do leitor ao ver essas histórias tristes, porém heroicas, será a do rei Leônidas e seus trezentos espartanos nas Termópilas, contra os persas de Xerxes. Entretanto, a lista contará apenas os conflitos após a Era Medieval, com registro mais apurado; também não há uma ordem cronológica, a fim de deixá-la mais variada. Sem mais delongas, em frente!

1-Antônio João Ribeiro.



Conflito: Guerra do Paraguai, também chamada Guerra da Tríplice Aliança.

        Nossa lista começa com um herói brasileiro, e infelizmente pouco lembrado fora dos meios militares. Nascido na vila de Poconé, Província de Mato Grosso, em 1823, Antônio João Ribeiro ingressou na cavalaria como soldado voluntário em 1841, servindo em diversos destacamentos de fronteira. Mais tarde, foi promovido a 1º tenente em 1860 e comissionado comandante da Colônia Militar de Dourados (não confundir com a cidade atual de mesmo nome), uma das poucas fortificações na província do Mato Grosso.
        Em dezembro de 1864, o Paraguai, então sob a tirania de Francisco Solano López (para saber mais sobre ele, veja a lista dos 10 Tiranos que poderiam ser Vilões da Literatura), capturou navios brasileiros e invadiu o Império, em três colunas de soldados a pé e a cavalo, deixando um rastro de destruição e saques por onde passavam. Não se sabe exatamente quantos paraguaios compunham a coluna sob o comando do major Martín Urbieta, embora algumas fontes falem em até 2.000 homens. Sabe-se, entretanto, que Antônio João contava com apenas quinze companheiros, além de quatro civis armados de espingardas e uma mulher, todos dispostos a ajudar na batalha vindoura.
        Ao perceber os inimigos se aproximando, Antônio João ordenou a evacuação dos civis com alguns soldados, desejoso de evitar o mesmo destino da colônia militar de Corumbá, que resistiu durante três dias antes de ser derrotada. Com isto, seus números diminuíram ainda mais, porém os soldados e civis sob o comando de Antônio João resistiram como puderam aos paraguaios, recusando uma proposta de rendição. Todos os poucos e valentes defensores de Dourados cairiam sob a fuzilaria e os canhões paraguaios.
        Antes do início da batalha, Antônio João teria despachado um mensageiro, junto dos refugiados, com uma mensagem aos seus superiores. Era uma frase singela, que se tornou célebre: “Sei que morro, mas o meu sangue, e o dos meus companheiros, servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria”. Como reconhecimento pela bravura em combate, o tenente Antônio João Ribeiro foi nomeado patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais do Exército Brasileiro. A antiga colônia militar mudou o nome para Antônio João Ribeiro, ao se tornar município, e o herói ainda é citado no hino do Mato Grosso do Sul:




                     https://www.youtube.com/watch?v=wHeDyNDY4hQ

2-José Quiñones Gonzales.



Conflito: Guerra do Peru contra o Equador de 1941.

        Enquanto a Europa, o norte da África e a Ásia pegavam fogo durante a Segunda Guerra Mundial, a América do Sul seguia em relativa paz. Isso até o ano de 1941, quando Peru e Equador entraram em disputa por um grande pedaço da Amazônia, em um conflito que se estenderia até o ano seguinte. Aqui encontraremos o próximo combatente da lista, e o único aviador presente nela: o peruano José Quiñones Gonzales.
        José Quiñones nasceu na cidade portuária de Pimentel, sendo o mais novo de três irmãos. Grande admirador de conterrâneos como Jorge Chávez e Juan Bielovucic, aviadores vistos como heróis em seu país, José Quiñones logo se juntou à jovem força aérea do Peru. Uma anedota de seus companheiros de voo afirma que, ao ouvir um professor afirmando a falta de heróis na força aérea do Peru, José Quiñones teria respondido com um sonoro “presente!”. Em 1939, José Quiñones surpreendeu seus superiores na graduação, ao voar apenas um metro de distância do solo com um bimotor, e de cabeça para baixo.
        Quando estourou a guerra, José Quiñones fazia parte de um grupo aéreo responsável por diversas tarefas, tais como fotografar o terreno e apontar as posições do inimigo. A superioridade aérea do Peru frente ao Equador fez a diferença em muitas batalhas, e para compensar a desvantagem nos céus, os equatorianos instalaram um bom número de baterias antiaéreas e ninhos de metralhadoras em posições difíceis de serem alcançadas. Um grupo de três pilotos foi ordenado a bombardear as baterias equatorianas, usando de aviões caças P-64, considerados modernos para a época.
        Durante a missão, o avião de Quiñones foi atingido, perdendo altitude, e ao invés de pular de paraquedas, um equipamento no qual era destro no uso, José Quiñones direcionou a aeronave rumo a uma bateria antiaérea inimiga, destruindo-a e morrendo no ato. O dia de seu sacrifício, 23 de julho, é o dia da Força Aérea no Peru, e a guerra terminaria em 29 de janeiro de 1942, com a vitória de seu país. O voo invertido pela qual ficou famoso também possui filmagens da época:



                       https://www.youtube.com/watch?v=V1o1PX9oD3o

3-Juan Santamaria.



Conflito: Guerra contra os Filibusteiros, também chamada Guerra Nacional da Nicarágua.

        Se o leitor já passou os olhos na lista das Mulheres na Guerra, do mesmo autor, deve se lembrar de Francisca Carrasco Jimenez, uma heroína da Costa Rica. Nosso próximo personagem foi conterrâneo de Francisca, além de ter lutado na mesma guerra contra invasores americanos, desejosos de instalarem um protetorado na América Central. Esses verdadeiros “piratas” eram chamados “Filibusteiros” pelos centro-americanos, e infernizaram a região nos anos de 1856 até 1857, obrigando países outrora rivais a unirem forças contra um inimigo em comum.
        Juan Santamaria era filho extraconjugal de Manuela Santamaria Rodriguez, e não se sabe o nome de seu pai. Com escassos dez anos de idade, Juan trabalhava como jornaleiro e servente de pedreiro, além de ter sido sacristão, e entrou para o exército ainda menino, virando tamborileiro. Seus amigos o apelidaram de “El Erizo” (“O Ouriço”), devido ao cabelo espetado e desgrenhado, e respeitavam sua honestidade e coragem. Essa mesma coragem seria demonstrada durante a guerra de 1856-1857.
        Uma batalha em particular foi especialmente custosa para o exército aliado centro-americano, em Rivas, devido à resiliência dos Filibusteiros em uma casa sobre uma colina. Um general de El Salvador sugeriu que algum soldado valente incendiasse a edificação, mas ninguém conseguia se aproximar do local sem levar chumbo. Juan Santamaria, então com 25 anos, se ofereceu para correr com uma tocha até a casa, com a condição de que alguém cuidaria de sua mãe, caso morresse. Durante a correria até a edificação, Juan foi ferido de morte, porém conseguiu arremessar a tocha na casa, incendiando o esconderijo Filibusteiro e virando a batalha em favor do exército aliado.
        A adoração a Juan Santamaria na Costa Rica começou pouco tempo após sua morte, com direito a uma estátua inaugurada em 1891, obra de um escultor francês chamado Aristide Croisy; hoje, essa estátua fica ao lado do Aeroporto Internacional Juan Santamaria, o maior aeroporto da Costa Rica. Apesar desse pequeno país da América Central não contar com forças armadas desde 1948, possuindo apenas força policial e guarda costeira, a imagem de Juan Santamaria segue forte no imaginário costarriquenho, justamente por ele ter sido um jovem humilde, disposto a fazer o impossível por seu país. Até mesmo um hino foi composto em sua homenagem:



                     https://www.youtube.com/watch?v=lgFtg8BfIgM

4-Pyotr Bagration.



Conflitos: Guerra Russo Circassiana; Guerra contra os Otomanos de 1787-1792; Rebelião de Kosciuszko; Guerra contra a Suécia de 1808-1809; Invasão Napoleônica à Rússia.

        Nosso próximo combatente nasceu em 1765, na cidade de Tbilisi, atual capital da Geórgia. Esse pequeno reino cristão foi citado na lista dos 10 Casais da Realeza desse blog, ao falar da rainha Tamara e de seu esposo, o general Davi Soslam. Pyotr Bagration era membro da mesma casa real dessa rainha, e assim como muitos nobres georgianos, decidiu seguir o caminho das armas. Na época, a Geórgia estava dividida em muitos reinos, e muitos deles eram vassalos da Rússia; entretanto, apesar de reconhecer sua origem georgiana, Pyotr Bagration se apresentava como um “russo puro”.
        Desde seu batismo de guerra, na guerra da Rússia contra a Circássia, Pyotr seguiu uma carreira meteórica, galgando posições elevadas e sendo nomeado Knyaz (“príncipe”) pelo imperador Paulo I, após sua promoção a Major-General. Durante esse período, surgiram boatos de que Pyotr namorava em segredo a princesa Catherine, filha de Paulo I; como se fosse uma ironia do destino, o Tzar arranjou um casamento a Pyotr, com outra princesa chamada Catherine, vinda de um ramo distante da família Bagration.
        Após lutar contra a Suécia, conquistando a Finlândia, Pyotr foi chamado às pressas para Moscou, para conter os exércitos franceses de Napoleão. O avanço francês parecia irrefreável, e a participação de cidadãos armados foi fundamental, chamando a atenção de Pyotr. Impressionado com a disposição desses patriotas, o Major-General tentou convencer seus superiores a investirem mais nas guerrilhas, sem muito sucesso.
        A derradeira batalha de Pyotr Bagration seria em Borodino, 1812. As tropas sob seu comando construíram barreiras contra os franceses, além de fazerem constantes contra-ataques, sem conseguirem repelir de vez seus adversários. Nessa confusão, Pyotr foi atingido por fragmentos de artilharia na perna, sendo carregado para longe da batalha por seus subordinados. Ao perceber que as tropas perdiam moral com sua ausência, Pyotr insistiu em retornar ao campo da batalha, o que certamente piorou a condição de sua perna e acelerou a morte. Borodino terminou em vitória para os franceses, mas a um preço muito alto, e o exército napoleônico teria de sair da Rússia, após essa última “vitória”.

5-Nikola Šubić Zrinski.



Conflito: Guerras Habsburgo Otomanas.

        Durante um longo período entre 1526 até 1791, o Leste Europeu foi palco de uma terrível disputa entre dois impérios e duas fés. De um lado, a monarquia da casa real de Habsburgo, reinante sobre a Áustria, contra o Império muçulmano dos Turcos Otomanos, fortalecido após a captura de Constantinopla. No caminho desses mamutes, havia uma colcha de reinos e principados de lealdade oscilante, ora apoiando os Habsburgos, ora ajudando os otomanos. Um desses países era a Croácia, e um de seus maiores líderes foi Nikola Šubić Zrinski, visto como herói não apenas entre seu povo, como também entre os húngaros.
        O título nobiliárquico de Zrinski era Ban, um termo croata para nomear os líderes locais vassalos dos Habsburgos. Em 1552, Zrinski se destacou ao salvar um exército inteiro da destruição no cerco de Pest, ao intervir com 400 cavaleiros croatas, e pouco tempo depois, ele já estava casado com uma nobre chamada Katarina Frankopan, além de receber um domínio de bom tamanho, do próprio Imperador austríaco. Durante os anos seguintes, Zrinski continuou enfrentando os otomanos nas fronteiras da Hungria ocupada.
        Em 1566, uma força conjunta de croatas e húngaros defendia a fortaleza de Szigetvár, no sul da Hungria, sob o comando de Zrinski, e os otomanos não conseguiam derrotar a resistência, mesmo com a superioridade numérica (150.000 turcos contra 2.300 cristãos) e o maior número de canhões. A refrega durou um mês, e nesse meio tempo, o próprio sultão Solimão I morreu em sua tenda, adoecido com o clima chuvoso; os comandantes otomanos tiveram de ocultar seu súbito falecimento, a fim de evitar a queda da moral entre a tropa.
        A última batalha ocorreu logo após a morte de Solimão, com uma última carga de cavalaria liderada por Zrinski, e os últimos 600 defensores ainda vivos. Os turcos receberam com alegria o fim da batalha e a morte de Zrinski, porém sua alegria durou pouco tempo: antes de partirem para o derradeiro confronto, os croatas e húngaros deixaram barris cheios de pólvora no porão da fortaleza principal, com um pavio aceso. A explosão resultante causou a morte de mais 3.000 turcos, obrigando-os a recuarem para leste, antes que perdessem mais soldados. O evento ainda é lembrado na música croata U Boj, U Boj (“À Batalha, à Batalha”), bem como em reconstituições de época:




6-Adnan bin Saidi.



Conflito: Invasão japonesa à Malásia, durante a Segunda Guerra Mundial.

        Durante a Segunda Guerra Mundial, diversas colônias britânicas foram invadidas pelos japoneses, como a Malásia e Cingapura, em um avanço irrefreável. O próprio ministro inglês Winston Churchill descreveu a perda de Cingapura como “o maior desastre da história militar britânica” (um comentário curioso, vindo de alguém responsável pelo fiasco de Galipoli, na Primeira Guerra Mundial). No entanto, os japoneses logo encontrariam um adversário formidável, não entre os britânicos, e sim entre os soldados malaios que defendiam as colônias. Um desses combatentes foi Adnan bin Saidi, saudado como herói tanto na Malásia como em Cingapura.
        Adnan nasceu em 1915, sendo o mais velho de três irmãos, dos quais apenas o mais novo sobreviveria à Segunda Guerra Mundial. Sua esposa era uma professora religiosa islâmica, chamada Sophia Pakir, e com ela Adnan teve dois filhos; o filho mais velho afirmava que seu pai não era de falar muito, além de ser estrito e disciplinado, porém sempre havia uma “luz” iluminando seu rosto. Essa firmeza de caráter o levou a fazer parte do Real Regimento Malaio de Infantaria, responsável por defender a colônia, e alcançar a posição de tenente, em 1941.
        Em 1942, Adnan liderava uma unidade de quarenta e dois malaios na defesa de Pasir Pajang, uma vila ao sul da cidade de Cingapura. Apesar da desvantagem numérica abismal, Adnan recusou uma proposta de rendição oferecida pelos japoneses, segurando a posição durante dois dias, antes do fim da munição dos fuzis. Os malaios tiveram de partir para a luta com facas, baionetas e granadas, e Adnan continuou lutando, mesmo após ser atingido. Sabe-se que Adnan morreu em batalha, porém as condições exatas de sua morte frente às forças imperiais do Japão são um mistério.
        As perdas britânicas foram severas, e os japoneses ocuparem a região até 1945. No entanto, os ingleses passaram a ver os malaios com maior respeito, buscando cooperar com maior eficiência ao lado dos soldados locais. Essa aliança provaria seu valor durante a insurgência comunista na Malásia durante a década de 1960, onde britânicos e malaios lutaram juntos pela última vez, dessa vez obtendo uma vitória acachapante. Em 1963, a Malásia virou um país independente, seguida pela Cingapura em 1965.

7-Stanislaw Zolkiewski.



Conflitos: Rebelião de Danzig; Guerra de Sucessão Polonesa; Guerra Russo Polonesa de 1605-1610; Guerra Otomana Polonesa de 1620-1621.

        Nosso próximo integrante na lista foi um nobre polonês que ocupou muitas funções administrativas na então chamada Comunidade Polaco-Lituana, um vasto país que chegou a dominar quase todo o Leste Europeu. Apesar de contar com menos instrução em comparação com outros nobres da corte, a natural curiosidade e aptidão para literatura histórica de Stanislaw Zolkiewski logo lhe garantiram um cargo de diplomata, servindo como representante polonês na coroação do rei Henri III da França.
        O batismo de fogo de Zolkiewski ocorreu sob o serviço do rei Stephan Batory, na repressão de uma revolta na cidade de Danzig. Em 1588, ocorreu uma guerra pelo trono entre dois pretendentes, e Zolkiewski sofreu um ferimento no joelho em uma batalha, que o deixaria manco pelo resto da vida. Como reconhecimento do apoio na facção vitoriosa, Zolkiewski foi promovido a Grande Hetman (como os poloneses chamam seus líderes militares), envolvendo-se em mais lutas na fronteira leste da Comunidade Polaco-Lituana, contra os tártaros e os moldavos, além de muitos bandos de cossacos que aterrorizavam a região.
        O feito pela qual Zolkiewski é mais lembrado na Polônia foi a decisiva batalha de Klushino, em 1610, onde 6,500 poloneses derrotaram um exército combinado de 30.000 russos e 5.000 mercenários suecos; o exército polonês perdeu apenas 400 homens, e aos mercenários capturados foram garantidas todas as liberdades, desde que estes não voltassem a servir a Rússia. O sucesso em Klushino foi fundamental para a captura de Moscou no mesmo ano, e os poloneses apenas sairiam da capital russa em 1612; nenhum exército repetiria a façanha de capturar Moscou, até a invasão napoleônica da Rússia.
        Em 1618, Zolkiewski receberia o título de Grande Chanceler da Coroa. No entanto, mesmo com setenta anos de idade, o velho Hetman não abandonou a vida militar. Sua última batalha ocorreria na atual Romênia contra os otomanos; tudo parecia perdido para os poloneses, e apenas as forças sob o comando de Zolkiewski mantiveram posição, até serem massacrados, porém permitindo a fuga dos companheiros. Enquanto os poloneses exaltam Zolkiewski, os russos nunca engoliram a derrota em Klushino: em 1939, após a invasão conjunta soviética e alemã sobre a Polônia, os russos destruíram a estátua de Zolkiewski na cidade de Zhovkva.

8-Havildar Ishar Singh.




Conflito: Campanha de Tirah.

        Desde a antiguidade, o território montanhoso do Afeganistão era conhecido como “o cemitério dos impérios”, devido à enorme dificuldade de conquistar e manter a área sob um mínimo de controle (os americanos que o digam). Em 1897, seria a vez do Império Britânico experimentar a fúria do Afeganistão, mas o personagem aqui tratado não é um soldado ou comandante inglês, e sim um comandante Sikh, membro de uma religião surgida no Século XV, e também um dos povos mais belicosos da Índia.
        A Campanha de Tirah ocorreu após as três guerras Anglo-Afegãs, conflitos violentos de resultado duvidoso. Apesar de não ocorrer nenhuma vitória definitiva, os ingleses conseguiram segurar uma tênue fronteira entre o Afeganistão e o atual Paquistão, assinalada por dois fortes e uma pequena vila chamada Saragarhi. Nessa vila foi instalado um pelotão Sikh, composto por vinte e um homens, sob o comando de Havildar Ishar Singh; a localização entre os dois fortes fazia de Saragarhi um local perfeito para instalar um sinal de luz operado manualmente.
        Rebeliões e ataques dos afegãos não eram novidades naquela fronteira, mas nada havia preparado os britânicos e Sikhs para o dia 12 de setembro de 1897: nada menos que 10.000 afegãos das tribos Afridi e Orakzai desceram as montanhas, rumo a Saragarhi. Quando a primeira linha defensiva foi rompida, Ishar Singh ordenou os homens a recuarem, enquanto ele se atirava sobre os afegãos, de espada e revólver em mãos. O comandante Sikh eliminou alguns invasores, antes de tombar morto, e seus homens conseguiram recuar sem deixar uma brecha para os invasores.
        A cruenta batalha terminaria com todos os Sikhs mortos, porém os afegãos perderam fôlego no avanço, vendo-se obrigados a recuarem quando mais reforços britânicos e Sikhs apareceram no horizonte. Todos os vinte e um combatentes Sikhs de Saragarhi foram postumamente condecorados com a Indian Order of Merit, a mais alta condecoração disponível aos indianos a serviço do Império Britânico, e o dia 12 de setembro é celebrado pelo moderno Exército Indiano, bem como por diversas comunidades Sikhs fora do país.

Observação: A imagem representando Havildar Ishar Singh e seus vinte e um companheiros pertence a um filme de 2019, chamado Kesari (“Cor de Açafrão”, em hindi). O filme fala dessa batalha, com o exagero tipicamente indiano, como visível no trailer (não recomendado para quem não gosta de cenas violentas):


9-Alfredo Cantu Gonzales.



Conflito: Guerra do Vietnã, também chamada Segunda Guerra da Indochina.

        Assim como o Afeganistão, o Vietnã é um país que se mostrou resistente à ocupação de nações mais fortes: desde a antiguidade, o Vietnã lutou contra a China em inúmeras ocasiões e freou o avanço dos mongóis de Genghis Khan. Mais tarde, os vietnamitas lutaram contra outros reinos vizinhos, como o Laos e a Tailândia, e contra os colonizadores franceses, expulsos em 1954. A última luta vietnamita frente a inimigos vindos do ocidente seria contra os Estados Unidos da América, entre 1961 e 1975, pátria do próximo integrante da lista.
        Alfredo Cantu Gonzales nasceu no Texas em 1946, filho de pai americano e mãe mexicana, e apesar de pequeno para a idade, o rapaz era ligeiro e hábil no futebol americano. Em 1965, essa persistência levou Gonzales a entrar para o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, até assumir função de instrutor, dessa vez longe do Vietnã. Gonzales provavelmente teria permanecido nessa posição, se não tivesse descoberto que muitos companheiros haviam morrido em uma emboscada. Em 1967, Gonzales fez um requerimento para retornar ao Vietnã e se juntou a um novo pelotão dos Fuzileiros Navais, alcançando as patentes de sargento e líder de esquadrão.
        Em 1968, a cidade de Hué foi submetida a um cerco pelas forças vietnamitas do norte; Gonzales, já apelidado de “Freddy” por seus companheiros, ficou encarregado de guardar um comboio de caminhões. Durante uma operação, ele recebeu tiros na perna, enquanto carregava um companheiro ferido. O incidente obrigou toda a unidade a recuar até Hué, onde outra batalha se seguiu, e Gonzales recusou tratamento médico, a despeito dos ferimentos. No dia seguinte, ocorreu outro ataque, e Gonzales despachou um bom número de adversários com um lançador de foguetes, antes de ser atingido por uma arma antitanque. Embora ferido, Gonzales conseguiu se arrastar até as ruínas de uma igreja católica, onde morreria.
        Além de receber a Medal of Honor (honraria máxima militar americana) e a medalha Purple Heart (concedida postumamente aos caídos em combate), Gonzales ainda foi homenageado com um navio da classe destroier com seu nome; sua mãe, Dolia Gonzales, ainda vive, possuindo uma relação próxima com a tripulação do destroier, e atendendo a diversas cerimônias envolvendo o navio.

10-Nai Thong Men.




Conflito: Guerra Birmano-Siamesa de 1765-1767.

        Nada mais adequado que terminar uma lista inspirada por uma rainha siamesa com outro grupo de heróis siameses. Esse conflito entre a Birmânia (atual Myanmar) e o Sião (atual Tailândia), foi apenas um dos inúmeros incidentes envolvendo os dois países, ocorrendo quase duzentos anos após a primeira guerra entre os dois reinos, justamente na qual morreu Suriyothai. Em 1765, os birmaneses invadiram o Sião com um formidável exército de 100.000 homens, dispostos a acabar de vez com um rival de longa data, responsável por financiar rebeldes nas províncias do sul.
        O avanço dos birmaneses pelas selvas era irrefreável, devido à imensa superioridade numérica, e muitas guarnições caíram sem luta alguma, com seus comandantes preferindo recuar até o interior. Em resposta, muitas vilas e cidades siamesas fizeram resistências e guerrilhas contra o invasor. Uma dessas vilas se chamava Bang Rajan, poucos quilômetros ao norte de Ayutthaya, a capital do Sião na época; onze chefes de vilas se juntaram em Bang Rajan para organizar uma resistência, com as armas que tivessem à mão.
        Não se sabe quanto tempo durou a resistência em Bang Rajan, mas é certo que os birmaneses tentaram avançar sete vezes, sendo repelidos por uma força conjunta de civis e soldados sobreviventes das guarnições derrubadas, escondidos nas matas e fustigando os invasores com espadas, machados, flechas e tiros de mosquete e arcabuz. Apesar da valentia, os guerreiros de Bang Rajan se veriam sobrepujados após uma campanha tão longa, partindo para um embate final contra os birmaneses. Uma das imagens mais icônicas do combate final é Nai Thong Men, um dos onze líderes, montado em um búfalo e partindo para cima dos birmaneses, atropelando muitos inimigos antes de ser abatido.
        Apesar do fim da guerra ser amplamente desfavorável aos siameses, com a completa destruição de Ayutthaya, o tempo seria generoso com eles: os birmaneses tiveram de recuar às pressas, devido a uma invasão do Império Chinês Qing ao norte, enquanto a já decadente nobreza de Ayutthaya seria substituída por uma nova geração de monarcas guerreiros, cientes da necessidade do país se armar e se modernizar. Como resultado, o Sião foi o único país do sudeste asiático a não ser colonizado, enquanto a Birmânia foi dominada pelos britânicos, alcançando a independência apenas em 1947.

Observação: A imagem de Nai Thong Men e seus companheiros no início é a capa do filme tailandês Bang Rajan, sobre essa batalha. Apesar de conter a habitual mitificação do ocorrido, é uma boa pedida para quem está cansado dos filmes de ação americanos. Trailer traduzido para inglês, logo abaixo (de novo, não recomendado para quem não gosta de cenas violentas):




Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bulow. 




Capa do livro do autor do texto. 

*Mateus, o escritor da postagem, é gaúcho da cidade de Santa Maria/RS, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor, poeta e autor do Livro "Taquarê -- Entre a Selva e o Mar". 

*Livro do Mateus no Skoob:


*Link que remete a todas as postagens do escritor colaborador:


*Link sobre o texto das mulheres que participaram de guerras escrito por Mateus, o mesmo autor da postagem de hoje:

http://tatycasarino.blogspot.com/2017/11/mulheres-que-devem-ser-lembradas-parte-2.html

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