Sublimando, caminhando sem rumo
em direção às árvores, à luz do túnel.
Meu vestido branco se arrasta e faz contorno
na borda da estrada com as folhas de outono.
Uma chuva de estrelas num mar sem fim
que não cabe mais nesse peito dentro de mim.
Rasga as tuas pétalas, joga as tuas flores,
só não me fala mais de política e dores de amores.
Volta para um tempo onde tudo é luz
tal qual o brilho nos olhos da criança.
Nesse tempo tão belo de minha doce infância,
tudo era sonhos, castelos e muita esperança.
Nesse tempo, não importava o seu voto,
mas sim o seu abraço e o seu respeito.
Nesse tempo, não havia divórcios,
mas sim lua de mel e amores perfeitos.
O capitalismo era um Mc Lanche Feliz
e o socialismo um brinquedo divido ao meio.
Não importava o amarelo nem o vermelho,
todo mundo se abraçava no recreio.
Noites de glória, coloridas luzes,
muitas canções, gritos e amores em vão.
O ego é sempre o mais terrível bicho
jogado contra a luz da suave razão.
Já dizia Renato Russo no passado:
o equilíbrio é sempre distante.
Ouso dizer que a alma humana errante
desconhece ainda o seu retrato.
Fecho os olhos e entro no túnel,
onde o passado é nostalgia e esperança;
Ah! Como sinto falta de ser criança
e brincar de bonecas sob a luz da lua.
Nada supera a doce e única sensação
de uma menina com a boneca na mão.
Brincava de casinha, fazia comidinha,
sem saber que isso ofendia alguma feminista.
Mas também jogava bola no parque
e arrasava tanto no videogame quanto na bike.
A vida era vivida, encantada e não filosofada,
e, assim, era mais espontânea e menos pesada.
Sublimando, caminhando sem rumo,
deparo-me com flores e cogumelos.
Entro no reino soberano das fadas
e danço com um príncipe no meu castelo.
Ah! Se tu soubesses o quanto sou romântica
e o quanto sou lúcida, prática e realista.
Minha empatia é excêntrica e progressista,
mas minha intuição é conservadora e capitalista.
Sublimando, caminhando sem rumo,
creio que a melancolia da crise existencial
faz parte da alma sensível de todo mundo
e não somente das almas da minoria social.
Todo mundo já se sentiu diferente um dia,
olhando para a janela com melancolia.
E, com lágrimas nos olhos, indagou:
"Nesse mundo louco, que eu sou?"
Todo mundo viveu um amor louco,
todo mundo já foi incompreendido.
É preciso respeitar as escolhas do amar,
porque a vida é um sopro no eco perdido.
Filha de militar, afilhada de homossexual,
filha de Iemanjá e devota de São Miguel e Cristo.
Corre em minhas veias o respeito pelas diferenças,
quem está em cima do muro vê melhor as estrelas.
Pelo batismo, recebi todo o carinho
de um padrinho irreverente e colorido.
Tenho o maior orgulho de ser sua afilhada
e receber sua luz sagitariana e entusiasmada.
Pelo sangue, recebi toda a genética
de um pai amoroso e militar.
Por trás de seu ofício disciplinado,
um homem sábio e refinado.
Tenho o maior orgulho de ser sua filha
e ter herdado seu enorme senso de justiça;
Antes de criticar qualquer pessoa militar,
converse com ela sobre a defesa do céu e do ar.
Tenha empatia pelo diferente!
Por trás de uma cara bem brava,
pode haver um bom coração.
Siga a intuição que é surpreendente.
Saiba perguntar sobre o operacional
para quem é militar ou racional.
Mas tenha a mente aberta e humana,
como a de uma advogada canceriana.
Admiro a disciplina dos militares
e a irreverência dos que são artistas.
Sou filha de um militar com uma bailarina,
amo tanto o Direito quanto a poesia.
Minha mão direita lava a mão esquerda,
e as duas mãos lavam o meu corpo.
Meu pé esquerdo caminha com o direito,
e unidos harmonicamente vão para frente.
Sou amiga dos caçadores e dos veganos,
como carne vermelha com os profanos
e faço jejum com os monges budistas.
Minha vida é pura expansão e empatia.
Cabem dentro de mim os heterônimos do Pessoa
e ainda sobra espaço para mais cinco.
Minha alma é gigantesca de amor,
é tanta empatia que chega a causar dor.
As asas da empatia me fazem voar,
as asas do amor me fazem flutuar.
Minha visão de águia ultrapassa os muros
que foram erguidos por egos inseguros.
Precisamos aprender a voar,
precisamos aprender a amar.
Só com respeito e união vamos vencer
todos os conflitos que estão a nos prender.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
Tatyana Casarino é Especialista em Direito Constitucional, Advogada e Poetisa.
*Essa poesia reflete todo o conflito político que passamos no ano das Eleições (2018). Resolvi publicar essa poesia após as Eleições, pois os ânimos dos eleitores supostamente estariam mais calmos. Além do mais, quis que essa poesia fosse uma das pioneiras de 2019 para trazer para o blogue e para o novo ano toda a energia de amor, paz, expansão e empatia que ela representa. Vale ressaltar que a poesia fala sobre ter empatia por quem tem uma orientação política diferente da sua (seja de direita, de esquerda ou até mesmo de centro).
Muitas vezes, as pessoas de "Centro" são julgadas como "covardes", "isentonas" e sem personalidade, mas essa poesia revela toda a beleza e a riqueza de personalidade que podem estar dentro de alguém de Centro. Podemos buscar o equilíbrio, porque a balança é um sinal divino presente na mão da deusa da Justiça. Existe uma sabedoria que apenas quem é de Centro consegue enxergar. Por não estar cego de paixão por nenhuma corrente ideológica, a pessoa isenta consegue fazer a sua razão alcançar o lado bom de todas as coisas e mesclar elementos de ambas as partes, compondo e costurando uma personalidade única.
Ser equilibrado significa encontrar um ponto de apoio no meio de duas esferas de pensamento, o que é muito bom e rico para a nossa sociedade. Isto não tem nada a ver com ser "morno". "Morna" seria aquela pessoa indiferente a tudo ao redor, tediosa, desesperançosa e sem alegria, a qual peca por omissão (cruzando os braços diante de injustiças e não fazendo o bem, por exemplo).
Os mornos, segundo o texto bíblico, serão expulsos do paraíso, visto que ser cristão significa ser o "sal" na terra e a "luz" do mundo. O verdadeiro cristão não cruza os braços diante de injustiças, pois vê cada dia como oportunidade para fazer o bem. O verdadeiro cristão pode até ter alguns pecados em sua jornada da batalha da vida (pecados que serão perdoados através da redenção oferecida por Cristo), porém ele nunca peca por omissão.
Os equilibrados são diferentes dos mornos: eles estão longes do tédio e da indiferença, tendo em vista que suas personalidades são verdadeiras explosões de empatia e expansão justamente por absorverem os elementos de várias correntes do pensar. Quem busca o equilíbrio não está em cima do muro: a falta de paixão ideológica torna o ego leve e capaz de levitar e voar sobre o muro e alcançar as estrelas. O equilibrado é sereno, alegre, esperançoso e cheio de amor no coração. O equilibrado jamais deixa de ser amigo de quem vota em outro político e busca sempre a paz e a resolução dos conflitos.
Deixe o seu coração mais leve! Você não é a sua opinião e sua personalidade não está grudada com sua orientação política. Você é a luz das estrelas, a mais pura essência e a mais pura esperança de Deus. Tenha leveza para voar sobre qualquer muro e alcançar as estrelas com as asas da empatia.
Postagem escrita por Tatyana Casarino.
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