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sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Gêneros e Estéticas da Ficção e da Fantasia Retro Futurista.


                                   


          Olá, pessoal! Hoje eu venho trazer um texto super especial escrito pelo escritor gaúcho Mateus Ernani Heinzmann Bulow. Muitas vezes, quando lemos um livro ou assistimos a um filme, nós ficamos em dúvida sobre o gênero da história. É claro que o gênero não é o mais importante (o essencial é estarmos diante de um enredo bom, independentemente de sua classificação), porém é sempre recomendável termos conhecimento das diversas áreas literárias que uma história pode abranger. 
          Esse conhecimento sobre os gêneros e as estéticas da ficção serve não somente para refinar a visão dos leitores, mas também para aprimorar a inspiração de muitos escritores. Diferentemente do que muitos pensam, a classificação de uma história dentro de um determinado gênero não serve para aprisionar o enredo ou "rotular" o livro, mas para organizar os elementos da fantasia e libertar mais inspirações semelhantes. Quem é pioneiro em um gênero sempre liberta as possibilidades imaginárias de escritores iniciantes e leitores curiosos. 
          Considerando os gêneros da ficção, vocês já ouviram falar em gêneros literários cujas nomenclaturas possuem o sufixo "punk"? A palavra "punk" é usada de diversas formas: para designar um gênero musical dentro do Rock pesado, para fazer referência aos movimentos artísticos de contracultura, para apontar um estilo rebelde de roupas e cabelos espetados, para dizer que algo foi difícil (por exemplo: a prova do último semestre foi "punk") e até mesmo como gíria para substituir palavrões (ao invés de falar que é f*d*, dizemos que algo é punk). Entretanto, aqui no blogue, o Mateus Bulow traz outros significados para a palavra "punk". 

                                 

            
              Como sufixo nos nomes de alguns gêneros da Fantasia Retrô Futurista, essa expressão denota a intensidade, a revolta e o espírito vanguardista desses estilos que misturam passado e futuro (sim, é isso mesmo hehehe). Imagina se você voltasse no tempo e se deparasse com uma civilização tão moderna quanto a nossa (ou até mais)? Pode parecer loucura, mas se você pensar bem, diversos filmes e livros de fantasia misturam passado e futuro ou colocam civilizações avançadas num determinado período histórico lá do passado...
               Quer descobrir melhor acerca desse gêneros? Então, prepare-se para uma viagem no tempo! Mergulhe no texto do Mateus e descubra os gêneros literários da fantasia. Está muito encantador esse texto! Boa leitura! 

Gêneros e Estéticas da Ficção e da Fantasia Retro Futurista.



        O hábito de contar histórias fantásticas às vezes resulta em efeitos estranhos: como os humanos gostam de categorizar tudo à sua volta, não demoraria até as histórias fantásticas e de ficção científica passarem pelo mesmo. No entanto, os gêneros se misturam com tanta facilidade que se tornou difícil classificar com exatidão as diversas obras de fantasia e ficção científica. Não à toa, muitos autores falam em “fantasias científicas” ao definir as combinações de vários gêneros nas mesmas tramas.
        Outro efeito curioso na busca pela categorização das histórias por meio de sua estética é o uso de uma nomenclatura singular: muitos desses subgêneros levam o sufixo “punk”, para dar uma ideia de “extremismo”, “revolta”, ou para evidenciar algo “levado até as últimas consequências”. Cyberpunk, Steampunk, Dieselpunk... Existem muitos gêneros e derivados a serem explorados.
        Como o primeiro gênero a possui o sufixo foi o Cyberpunk, alguns autores denominam os gêneros surgidos tardiamente como “Derivados do Cyberpunk”. No entanto, considero o termo “Retro Futurismo” mais adequado, por não forçar uma submissão dos gêneros posteriores. No fim das contas, o Retro Futurismo faz sucesso devido a uma mistura de nostalgia pelo passado, combinada com a possibilidade de explorá-lo e reinventá-lo com a criatividade humana.
        A presente lista traz alguns desses gêneros, com breves comentários e obras (livros, quadrinhos, filmes, arquitetura e até games). É preciso lembrar que os gêneros mais antigos estão “enraizados” no imaginário popular, então eu falarei com mais detalhes neles do que de outros, mais recentes. Obviamente, não seria possível apresentar todos em uma única lista; dessa forma, apenas gêneros com o sufixo “punk” serão apresentados. Boa leitura!

1-Cyberpunk.


        Começaremos a lista com o “pai de todos”, ou ao menos o primeiro gênero a levar o sufixo “punk”; apesar de ser o mais velho, este também apresenta tecnologias mais avançadas em comparação com os gêneros posteriores. Muito do Cyberpunk foi moldado a partir da chamada “Nova Onda da Ficção Científica” entre as décadas de 1960 e 1970, com histórias mais focadas no enredo do que na tecnologia apresentada. O nome desse gênero é cortesia de uma história curta do americano Bruce Bethke, nomeada justamente como “Cyberpunk”.
        A melhor descrição possível para o Cyberpunk seria “alta tecnologia e baixa qualidade de vida”. As histórias desse gênero costumam se passar em um planeta terra futurista, porém esses avanços não se reverteram em melhorias a uma parcela considerável da sociedade. Uma imagem comum em histórias Cyberpunk envolve carros voadores sobrevoando favelas e cortiços miseráveis, para evidenciar esse contraste chocante.
        Nas histórias Cyberpunk, é comum ver corporações imensas dominando o mundo, muitas vezes assumindo atribuições de países, e protagonistas se rebelando contra essa situação, agindo como hackers ou espiões. Em diversas obras a influência da ficção detetivesca do início do Século XX é forte, com protagonistas investigando crimes envolvendo tecnologia avançada, tais como espionagem industrial, robôs cometendo assassinatos e roubo de dados em sistema de computador.


        Algumas histórias Cyberpunk mais antigas são consideradas como prognósticos fictícios da evolução da Internet. O mundo virtual aparece com vários nomes, tais como "Ciberespaço", "a Rede" ou "a Matriz". É importante observar que as primeiras descrições de uma rede global de comunicações vieram muito antes que a World Wide Web se incorporasse ao conhecimento popular.
        Talvez a mais famosa obra Cyberpunk seja Neuromancer, de 1984, escrita pelo americano-canadense Willian Gibson. A história é protagonizada pelo hacker Henry Case, contratado pelo misterioso Armitage, ao lado de uma ciborgue barra-pesada chamada Molly Millions; a missão dessa dupla é encontrar uma inteligência artificial desaparecida e fazê-la se fundir com a rede mundial de computadores. Apesar de Neuromancer nunca ter sido adaptado para o cinema, o estilo inspiraria diversas produções, tais como Matrix e Johnny Mnemonic – O Cyborg do Futuro.

2-Steampunk.



        Nosso segundo gênero talvez seja o melhor estabelecido, junto ao Cyberpunk. A palavra “steam” significa “vapor” em inglês, formando a base da tecnologia utilizada nessas histórias. No entanto, diversos fãs do gênero observam que o Steampunk se relaciona melhor com a fantasia do que com a ficção científica em muitas de suas tramas. Dessa forma, é comum observarmos magia, dragões, vampiros e sereias ao lado das máquinas a vapor.
        As próprias máquinas presentes no Steampunk são um espetáculo à parte, embora nem sempre tenham papel fundamental nas histórias, servindo em alguns casos apenas de cenário de fundo. Robôs, veículos blindados, submarinos, carros e até computadores são retratados como engenhocas movidas a vapor. No entanto, a preferência dos autores do Steampunk costuma repousar nas aeronaves e dirigíveis, e diversas capas de suas obras trazem dirigíveis em suas capas, seguindo rumo a um destino incerto.
        Considera-se que o marco fundador do Steampunk foi um livro chamado The Different Engine, escrito por Willian Gibson (olha ele aí, de novo!) em pareceria com Bruce Sterling. A história se passa em uma versão alternativa da Grã-Bretanha Vitoriana, onde o empresário e polímata Charles Babbage criou um computador movido a vapor. Charles Babbage foi um personagem histórico real, e diversas figuras históricas aparecem no livro, como Charles Darwin e Isambard Kingdom Brunel.



        O mais curioso no Steampunk é que sua influência é relativamente antiga para um gênero considerado recente: Júlio Verne, H.G. Wells, Mark Twain e Mary Shelley, entre outros. Cada um destes autores escreveu obras com tecnologia avançada e ambientada no século XIX ou início do século XX. Apesar de estes livros poderem ser classificados como obras Steampunk hoje em dia, não seria um rótulo correto para a época, pois estes eram ambientados na época contemporânea quando foram lançados.
        Além da tecnologia a vapor, a estética também define o gênero Steampunk. O cenário habitual dessas histórias é a Europa do Século XIX, com foco maior na Era Vitoriana, ou então um universo ficcional baseado nesse período histórico-geográfico. No entanto, existem variações interessantes: diversos autores brasileiros, como André Zanki Cordenonsi, Gabriel Billy e Gerson Lodi utilizam o Brasil Imperial como pano de fundo para suas tramas. Falando em autores locais, a série Le Chevalier, de Cordenonsi, talvez seja o exemplar mais “puro” do Steampunk no Brasil, hoje em dia.

3-Dieselpunk.


        Esse gênero foi considerado uma simples variação do Steampunk por algum tempo, mas hoje é visto de forma separada. O termo Dieselpunk surgiu em um jogo de RPG de mesa chamado Children of the Sun, cortesia do próprio criador do jogo, o americano Lewis Pollak. Como o próprio nome já diz, o Dieselpunk é reconhecível pelas máquinas bizarras movidas a diesel ou outros combustíveis baseados em petróleo. Assim como no Steampunk, magia e criaturas fantásticas também podem existir, embora não apareçam com tanta frequência.
        Enquanto o Steampunk utiliza uma estética baseada no Século XIX, o Dieselpunk se passa no período entre guerras, até a década de 1950, permitindo explorar diversos nuances desse período: Jazz, Máfia, Segunda Guerra Mundial, ascensão do totalitarismo, início da Era Atômica... Os temas são variados. Um tema comum, ao menos nas tramas envolvendo história alternativa, trata da possibilidade da Grande Depressão dos Anos 30 não ter ocorrido, permitindo o avanço da tecnologia a diesel e criando o mundo fantástico.
        No Dieselpunk, o otimismo com a tecnologia não é tão forte como no Steampunk. De certa forma, as duas Guerras Mundiais criaram um clima pessimista em relação à tecnologia, explicando uma possível influência real. A desconfiança maior com a tecnologia no Dieselpunk possivelmente se deve a uma de suas inspirações mais assustadoras: armas bizarras feitas pelos alemães na Segunda Guerra Mundial, porém que não chegaram a ser usadas, chamadas “Wunderwaffe” (“Armas Maravilhosas”). É difícil não sentir desconforto diante das ilustrações de tanques, aviões gigantes e armas de raios (!) projetadas por eles, e imaginar como o resultado da guerra poderia ter sido diferente...

              


        Além da tecnologia baseada em petróleo, o Dieselpunk possui outro aspecto estético notável, nesse caso o Art Deco, popular entre a década de 1920 e 1930. Alguns autores e entusiastas usam o termo “Decodence” (trocadilho entre “Deco” e “Decadence”) para se referir à arte Dieselpunk, enfatizando o choque entre a arte simples, porém detalhada, e o clima usualmente pessimista das obras.
        Os exemplares mais conhecidos da literatura Dieselpunk provavelmente são The Man in the High Castle, de Philip Kindred Dick, e The Iron Dream, de Norman Spinrad; ambos lidam com a possibilidade de Hitler ter vencido a Segunda Guerra Mundial. Outro exemplar mais conhecido no Brasil é A Revolta de Atlas (“Atlas Shrugged”), da russo-americana Ayn Rand, que trata de um mundo dominado por repúblicas populares, onde as pessoas mais capazes são perseguidas por seus talentos. No cinema, o exemplar mais conhecido de Dieselpunk é o filme Capitão Sky e o Mundo de Amanhã; mesmo no desenho Os Incríveis da Pixar percebe-se uma influência estética Dieselpunk em algumas máquinas e na arquitetura dos cenários.

4-Clockpunk.


        E agora entraremos nos gêneros mais recentes da ficção retro futurista, porém não menos importantes. O Clockpunk não é reconhecido de forma geral como um gênero independente, e é frequentemente confundido com seu “irmão mais velho” Steampunk. No entanto, existem diferenças notáveis entre eles: no Clockpunk também existem máquinas estranhas em um período histórico estranho, mas estas se baseiam em mecanismos de relógio (“clockwork”, em inglês).
        Outra diferença fundamental desses gêneros está na estética predominante no figurino e na arquitetura: enquanto no Steampunk, a Era Vitoriana serve de base estética, o Clockpunk é influenciado pela Renascença e o Barroco, um período de grande avanço na arte e na ciência. Não à toa, muitos esboços de Leonardo da Vinci serviram como base para as máquinas bizarras do Clockpunk, indo de canhões gigantes e armaduras robóticas até veículos blindados e máquinas voadoras.
        Por ser um gênero considerado recente, o Clockpunk não se encontra tão restrito a regras, ao menos em comparação com os exemplos anteriores, e influências de outros períodos históricos próximos à Renascença podem ser vistas em diversas obras, passando pela Antiguidade, e pela Idade Média até o início da Era da Pólvora. Formas alternativas de energia também são comuns nessas histórias, indo de cristais especiais até alquimia, e muitas tramas são baseadas em conflitos pelo controle dessas mesmas formas de energia.



        Devido à maleabilidade, o Clockpunk é um gênero que se adapta melhor à fantasia heroica do que seus “irmãos mais velhos”, e talvez isso explique seu crescimento nos últimos anos, especialmente em videogames. É comum ver histórias de aventura e RPG começando em uma ambientação medieval “pura”, para mais tarde revelar tecnologias de uma era perdida. Dois exemplos de games Clockpunk são a série Final Fantasy, conhecida por misturar temática medieval com dirigíveis e máquinas fantásticas, e o jogo Odin Sphere, onde dois reinos rivais disputam uma enorme máquina perdida no deserto, chamada “Caldeirão Cristalizador”.
        Assim como o Steampunk, o Clockpunk possui base em obras mais antigas, porém consideradas contemporâneas em seu tempo. O escrito fundador é de 1666, e chama-se “The Blazing World” (“O Mundo Abrasador”). Essa obra da duquesa britânica Margaret Cavendish é sobre uma jovem mulher que vai parar em outro mundo, e vira líder de uma nação dominada por animais falantes. No desfecho do livro, ocorre uma guerra entre a nação dos animais falantes e o reino da jovem mulher, com direito a submarinos comandados por homens-peixes e homens-pássaros arremessando pedras em chamas. No cinema, uma obra que poderia ser considerada Clockpunk foi o filme dos Três Mosqueteiros de 2011, com seus dirigíveis estranhos e ambientação na França do Século XVII.

5-Atompunk.



        Assim como o Clockpunk ainda está na sombra do Steampunk, o Atompunk (também chamado Atomicpunk ou Raypunk) à primeira vista parece um simples apêndice do Dieselpunk em sua estética. No entanto, existem diferenças fundamentais, e a primeira delas está no período abordado pelo Atompunk, que vai de 1950 até meados da década de 1970. Durante essa era, o otimismo das primeiras viagens espaciais era contrabalanceado pelo temor de uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética.
        Outro aspecto singular do Atompunk está em uma divisão interna, envolvendo esses dois temas: viagens espaciais e terror nuclear. A primeira variação possui forte influência das revistas Pulps da década de 1940 em diante, com histórias de ficção científica e aventuras, porém com um toque de heroísmo “capa e espada”, além de espaçonaves e edificações com design pouco acurado, ao menos para os padrões científicos modernos.
        A segunda divisão interna do Atompunk não compartilha desse otimismo, e é fácil de compreender a razão: o período da Guerra Fria foi um dos mais tensos da história, com a possibilidade terrível do fim da civilização. Nessas histórias o conflito pode estar prestes a começar, ou então a humanidade já passou por ele e agora sofre suas consequências. Devido à oposição radical entre as duas vertentes, alguns autores chamam de Raypunk ou Raygun Gothic as histórias se passando no espaço sideral, e de Atompunk apenas as aventuras se passando em uma terra pós-apocalíptica.



        Em comparação com os gêneros anteriores, o Atompunk possui maior influência do chamado Modernismo Soviético, tanto em sua estética como em sua ambientação, e nos Estados Unidos os arquitetos misturaram o Art Deco com as linhas mais simples dos soviéticos. Até Walt Disney lidou com a estética do Atompunk na arquitetura, ao fazer os esboços iniciais do EPCOT Center, que em sua concepção, deveria servir como um exemplo de “Cidade do Futuro” (para saber mais, leia o texto “10 Lendas Urbanas da Disney, nesse mesmo blog”).
        Talvez os melhores exemplos do Atompunk sejam os filmes do Mad Max, junto da série de games Fallout, com personagens vivendo em um ambiente hostil, marcado pela devastação nuclear. Os quadrinhos de Watchmen, criados por Alan Moore, também lidam com o medo da guerra nuclear, em um mundo onde os heróis são reais. No Brasil, não temos um representante do gênero na literatura, ao menos não de grande destaque, mas a arquitetura de Oscar Niemeyer de certa forma lembra o estilo soviético, que inspirou o Atompunk.

6-Stonepunk.



        Já falamos de diversas tecnologias retrofuturistas, então que tal regredirmos um pouquinho mais no passado? Alguns milhares de anos, para ser mais exato? O Stonepunk à primeira vista parece uma gozação, porém é outro gênero crescente na ficção fantástica e especulativa, talvez devido ao cansaço da fantasia medieval. Resumidamente, esse gênero trata de tecnologias estranhas realizadas na Pré-História.
        Apesar dos avanços tecnológicos no Stonepunk não aparentarem tão surpreendentes como nos gêneros anteriores, estes também são baseados em um evento histórico que mudou o rumo da humanidade, a chamada “Revolução Neolítica”. Também conhecida por alguns historiadores como “Primeira Revolução da Agricultura”, esse período viu surgir as primeiras comunidades sedentárias abandonando o nomadismo, bem como as cidades-estados, que evoluiriam mais tarde para reinos e nações.
        O Stonepunk, de certa forma, brinca com a mesma pergunta dos outros gêneros: e se essa evolução tivesse ocorrido com mais rapidez? Dessa forma, vemos asas-deltas feitas de couro e bambu, veículos de madeira e pedra, estilingues parecidos com armas de fogo... Ao contrário de outros gêneros, o Stonepunk não costuma apresentar elementos futurísticos, mas algumas vezes estes podem aparecer.




        Outra presença frequente no Stonepunk são os dinossauros, ou então criaturas da pré-história, tais como mamutes, tigres dente-de-sabre e preguiças gigantes. Os humanos podem tanto serem ameaçados pelas feras do passado, como também podem utilizar essas criaturas ao seu favor. Veículos e máquinas movidas a dinossauros são comuns no Stonepunk.
        Como o leitor já deve ter imaginado, o maior representante do Stonepunk é o desenho animado dos Flintstones, com seus carros movidos pelo impulso dos pés e seres pré-históricos servindo de máquinas do dia a dia, indo de pássaros cujos bicos servem de abridores de latas, até dinossauros pescoçudos atuando como guindastes. No Brasil, os melhores exemplares do Stonepunk talvez sejam as histórias do Piteco, da Turma da Mônica: um personagem recorrente é um inventor chamado Beleléu, responsável por muitas confusões na aldeia de Lem com suas engenhocas primitivas.

7-Biopunk.



        O próximo gênero dessa lista é definido por uma tecnologia recente, responsável por diversos debates éticos nos últimos anos: a biotecnologia. No Biopunk, são explorados aspectos como genética, modificação da estrutura corporal, implantes orgânicos, próteses, entre outros. Embora seja considerado um gênero recente, é possível perceber alguns aspectos Biopunk em obras do início do Século XX, como ocorre em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.
        É comum ver o Biopunk em conluio com outras ficções retrofuturistas: muitas histórias que poderiam ser consideradas Biopunk possuem grandes corporações como antagonistas e protagonistas outsiders enfrentando essas terríveis ameaças, indicando influência Cyberpunk. O melhor exemplo dessa vertente é a série de games Resident Evil, onde o antagonista é uma empresa do ramo farmacêutico, chamada Umbrella Corporation.
        Existem franquias que misturam aspectos do Biopunk com a estética do Dieselpunk; os melhores exemplos seriam as séries de games Wolfenstein e Bioshock, que se passam na Segunda Guerra Mundial e na década de 1950. A terrível imagem dos experimentos nazistas poderia ter influenciado o Biopunk, e também explica porque esse gênero costuma pender mais para o terror do que a fantasia.



        Um exemplo mais recente na literatura é Never Let Me Go (“Não Me Abandone Jamais”), do nipo-britânico Kazuo Ishiguro, cujo tema principal é a clonagem e as implicações éticas de sua popularização. Outra obra Biopunk feita no Japão foi Parasite Eve, de Hideaki Sena, mais conhecida pelo videogame baseada nela, de mesmo nome, porém com enredo diferente: enquanto no livro o protagonista é um cientista lidando com os terrores da genética, no game a protagonista é uma policial lidando com monstros mutantes.
        No cinema, o exemplar mais “puro” do Biopunk provavelmente é GATTACA – A Experiência, onde em um futuro próximo, as pessoas são discriminadas de acordo com sua origem genética, e o protagonista precisa ocultar sua identidade, a fim de participar de uma viagem espacial. O primeiro filme da série Jurassic Park poderia ser considerado Biopunk, pois os dinossauros apresentados na história são clones feitos a partir do sangue preservado em um mosquito fossilizado.

8-Seapunk.



        Nosso último gênero a ser apresentado não é propriamente focado na literatura, e talvez seja o mais recente de todos, pois seu marco fundador foi o ano de 2011, no Tumblr. O foco do Seapunk, como o nome já diz, é o oceano; talvez ele seja, por enquanto, o único gênero punk sem definição baseada em um período histórico determinado ou em tecnologias específicas, e sim em uma ambientação geográfica.
        Eu já havia falado do Seapunk em uma lista anterior nesse blog, chamada “10 Criaturas Mitológicas que existem ou existiram”, e o descrevi como uma vertente estética com foco em motivos marítimos, tais como peixes, escamas, conchas, estrelas do mar, caranguejos, sereias e afins. A lenda de Atlântida também é um aspecto frequente, bem como histórias sobre civilizações perdidas no oceano.
        Talvez seja cedo para falar em uma literatura Seapunk, porém como vimos antes, os gêneros da ficção fantástica estão em constante evolução. Uma prova dessa maleabilidade está na música: alguns artistas inspirados pelo Seapunk colocam sons das ondas do mar ou de animais aquáticos em suas composições, para dar um ar de nostalgia e calma.

             


        O que seria uma literatura Seapunk? Sim, sabemos que envolve histórias sobre o oceano, mas partindo do pressuposto que o sufixo “punk” implica algo extremado, não bastaria à história apenas se passar sobre o mar ou perto dele: veríamos diversas criaturas aquáticas e monstros marinhos, além de piratas, vikings, navegadores... Provavelmente a obra literária mais próxima do Seapunk seria o mangá (quadrinho japonês) One Piece, escrito por Eiichiro Oda. A história de One Piece se passa em um mundo fantástico coberto por um vasto oceano, com poucos continentes e muitas ilhas. Piratas, sereias, peixes gigantes e monstros aquáticos são visões frequentes nesse mangá.
        No cinema, os possíveis exemplares do Seapunk são Waterworld – O Segredo das Águas, e a série de filmes Piratas do Caribe. Enquanto o primeiro se passa em um mundo pós-apocalíptico coberto de água, a franquia da Disney é focada em aventuras marítimas, com direito a monstros baseados em criaturas aquáticas e até mesmo navios vivos (!). Até o filme animado da Pequena Sereia poderia ser considerado Seapunk, com seus cenários baseados em motivos marítimos.

Apêndice: Como Taquarê – Entre a Selva e o Mar poderia ser classificado?


                               


        Eu gostaria de terminar a lista com uma propaganda... Ops, uma análise a respeito do meu primeiro livro (hehehehe). Alguns leitores fizeram perguntas sobre como eu descreveria Taquarê – Entre a Selva e o Mar, e geralmente eu respondo: “é uma história de aventura e fantasia”. Claro, é uma observação ligeira e de certa forma parcial, por isso, convido os leitores a fazer uma análise, livre de spoilers (revelações no enredo).
        O esboço inicial de Taquarê – Entre a Selva e o Mar possuía máquinas a vapor no enredo, o que tornaria o livro uma obra Steampunk, passando-se em um mundo após uma guerra nuclear; dessa forma, teríamos influências do Atompunk. No entanto, decidi deixar de lado as máquinas a vapor, e a tecnologia apresentada no universo ficcional mistura o início da era da pólvora até meados do Século XIX, porém sem grandes avanços. Com isso, o livro mistura o Clockpunk com o Atompunk em sua trama.
        Um dos elementos mais relevantes no enredo é a presença de criaturas marítimas e sereias no caminho do protagonista. A civilização das sereias possui tecnologia mais avançada que a humana, e máquinas capazes de fazer teletransporte; dessa forma, podemos classificar como Seapunk, ao menos o trecho onde as sereias e monstros marinhos aparecem. Em um apanhado geral: Atompunk, Clockpunk e Seapunk na mesma história.
        Onde quero chegar com isso, além da propaganda descarada (hehehehe)? Perceba que diversas influências são visíveis na ambientação do livro. A literatura não é uma arte estanque, e é bom que seja assim, permitindo a revitalização constante na fantasia, além da entrada dos novos talentos. Não importa o gênero, contanto que histórias incríveis continuem a ser contadas por bons escritores. E essa jornada depende de você, leitor. A você, muito obrigado, e até a próxima!

Texto escrito por Mateus Ernani Heizmann Bulow.

**O escritor dessa postagem é gaúcho, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor, poeta e autor do livro "Taquarê: Entre a Selva e o Mar." 

*Link para adquirir o Livro do autor:

https://www.amazon.com/TAQUAR%C3%8A-Entre-Selva-Mar-Portuguese-ebook/dp/B071K2WZV6

*Saiba mais sobre o livro do autor em:

https://tatycasarino.blogspot.com/2017/06/taquare-entre-selva-e-o-mar_68.html

*Vídeo da Taty sobre o Livro do Mateus:




                         https://www.youtube.com/watch?v=XFpiUL97u3I


**Inscreva-se no canal da Taty no Youtube:

https://www.youtube.com/channel/UCsftxoZ2tD-YaV9EaQPXxZw

**Se você gostou deste texto, pode gostar também da postagem "10 criaturas mitológicas que existem ou existiram" escrita por Mateus:

http://tatycasarino.blogspot.com/2018/01/10-criaturas-mitologicas-que-existem-ou.html


**Link que mostra todos os textos escritos por Mateus aqui no blogue:

http://tatycasarino.blogspot.com/search/label/Mateus%20Ernani%20Heinzmann%20Bulow

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