O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Doce Redenção



Deito-me entre lençóis brancos
e encontro rosas por todos os cantos.
Despida, fecho os olhos e sou transportada
à terra mágica das fadas apaixonadas.

Vejo silhuetas das cenas do passado
dançando dentro de minha mente.
Enquanto suspira meu coração angustiado,
tomo um copo de licor doce e quente.

Ah! Essa mente alucinada e inquieta
que insiste em navegar nas águas passadas.
Respiro silente a coragem mais certa
e renasço das cinzas da minha fantasia.

E o ar do presente penetra em meus pulmões,
despertando-me do sono profundo da memória.
O passado é a tortura dos raros românticos
que enlouquecem revivendo as suas histórias.

O vento da nostalgia despiu o meu corpo
enquanto o aroma das rosas preenchia os lençóis.
De olhos abertos, contemplei o meu presente
e ouvi sons de violinos rimados no ambiente.

Bendito seja este minuto em que vivo,
bendito seja este presente tão iluminado.
Viro as costas para as sombras do passado
e deito meu corpo e direção ao sol quente e lindo.

O sol beija o meu corpo e o meu seio descoberto
que passa a nutrir este instante do presente.
Longe do sol, eu amamentava o passado,
que não passava de sombra em meus braços.

A lua é sempre bela e nostálgica,
e o sol é lúcido, quente e realista.
A lua vive nas brumas e poesias da noite,
mas é o sol que mantém toda a nossa vida. 

Pousa, oh! lua, em meu recanto sagrado
e deixa para trás as lembranças do passado.
Renasça com o sol em uma doce redenção
e faça brotar vida nova em meu coração.

Poesia escrita por Tatyana Casarino

          


   Esta poesia descreve a filosofia da Atenção Plena (Mindfulness) e da Meditação budista, que basicamente defende a importância de despertar-se para o momento presente. Nesse processo de despertar e iluminação, nossa mente tenta sabotar a clareza do espírito ao lançar pensamentos impuros ou desviar a nossa atenção para as preocupações do futuro ou para as memórias do passado. Tanto o passado quanto o futuro são ilusões criadas pela mente, eis que a vida verdadeira está neste instante e não há vida fora do agora, como afirma Eckhart Tolle em "O Poder do Agora". 
   O grande despertar espiritual começa quando o ser humano percebe que sua essência não está vinculada aos pensamentos, mas sim ao silêncio do espírito. Entretanto, a vida moderna retirou a parte espiritual do cotidiano, incentivando o ceticismo, o cientificismo e a filosofia cartesiana. Assim, o entendimento espiritual e o encontro com a essência tornaram-se mais difíceis hoje em dia. 
     A falta do componente espiritual prejudicou o ser humano na busca pelo sentido da vida e gerou um dos séculos mais depressivos, ansiosos e perturbados mentalmente, como o nosso. A frase filosófica "penso, logo existo" de Descartes foi supervalorizada em detrimento de outras máximas poéticas e intuitivas, como "Que o silêncio seja o meu escudo, e o meu coração ouça a voz de Deus" de Rumi. 
     Nesse sentido, a poesia busca resgatar a paz de espírito através da compreensão que somente o momento presente é real. A poesia também elucida a luta contra o excesso de nostalgia e a libertação das repetidas sensações do passado. Como a poetisa é do signo de câncer, signo regido pela lua e nostálgico por excelência, a poesia também retrata arquétipos astrológicos e a luta contra tendências nocivas, como a do canceriano em remoer memórias. Por fim, vale lembrar que a poetisa inspirou-se em um quadro de seu artista favorito: o pintor russo Vladimir Volegov. 

                


***Observação: A minha inspiração desta vez foi bem curiosa: eu estava observando os quadros do pintor Volegov e de repente tive vontade de escrever uma poesia sobre a imagem acima da poesia. Geralmente, ocorre o contrário: eu escrevo a poesia primeiro e depois busco uma imagem para combinar com ela nos sites de busca, como o Google, e sites de imagens, como o Pinterest. Raramente, eu me inspiro em uma imagem. 
     Minha criatividade nasce de outras fontes: vivências, estudos místicos, símbolos, músicas, textos, contos de fadas, arquétipos, passeios, pensamentos, metáforas... E a imagem é postada após a poesia, como um complemento e incentivo à leitura (gosto de colocar letras grandes e coloridas em meus textos, bem como postar gravuras no blog para prender a atenção do leitor hehehe). Dessa vez, no entanto, a imagem fez nascer a inspiração para a poesia. Achei a pintura linda, e imaginei que a mulher retratada estivesse sentindo uma nova paz, como se tivesse encontrado a libertação de suas memórias. A imagem passa -- ao menos para mim -- a ideia de redenção e a mulher parece estar em paz com ela mesma. 
      Sempre sonhei em encontrar um ilustrador bom para meus textos, poesias e livros, pois amo a junção das artes visuais com a arte literária. Além do mais, tudo o que eu escrevo é muito visual e invoca muitos símbolos, imagens e cores... Entretanto, ideias novas surgiram para mim: a de que eu posso complementar o trabalho de um artista visual também, escrevendo poesias inspiradas em suas pinturas.
     Seria uma troca divertida: ver as poesias inspiradas em imagens e vice-versa. Há algum tempo, anotei a ideia de mesclar fotografia e poesia. Desse modo, eu escreveria poesias e textos baseados em fotografias ou algum fotógrafo poderia fazer um trabalho especial associado às poesias deste blog. Tenho certeza que essas ideias ainda vão florescer no terreno das artes e que eu encontrarei boas parcerias. Nas próximas postagens, mostrarei mais poesias inspiradas em pinturas dos meus artistas favoritos. Por fim, salienta-se que o propósito do blog é incentivar a cultura e promover as artes.


Tatyana Casarino

*Conheça as obras do pintor Vladimir Volegov, famoso por retratar a delicadeza e o romantismo do universo feminino. Veja algumas pinturas dele:






Autorretrato de Volegov 



Site oficial do artista:

https://www.volegov.com/biography/


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