Olá, pessoal! Hoje eu trago mais um texto do meu querido amigo escritor Mateus Ernani Heinzmann Bulow. Você já imaginou encontrar referências místicas em um programa de televisão japonês? Então, saiba que um dos tokusatsus (denominação japonesa para programa de televisão com efeitos especiais) mais populares no Brasil, o chamado "Defensores da Luz Maskman" (ou Esquadrão da Luz Maskman, tradução de Hikari Sentai Maskman), é repleto de referências místicas, tais como: cristianismo, budismo, espiritualidade universalista, religião tradicional da China, Reiki e até Maçonaria hehehe. Ficou curioso? Leia o texto abaixo! Espero os seus comentários, querido(a) leitor(a)!
Defensores da Luz Maskman –
Análise.
“Uma misteriosa e inexplicável força se esconde por trás do nosso
corpo. Quanto mais treinarmos nosso corpo, essa força infinita se manifestará”.
Com essa narração começava a abertura de um dos
tokusatsus (termo japonês para programas de tevê com efeitos especiais) mais
queridos dos brasileiros, e também um dos mais “místicos” em seu enredo. Hikari
Sentai Maskman (a tradução mais precisa seria algo como “Esquadrão da Luz
Maskman”) foi um dos últimos tokusatsus a aparecerem na televisão brasileira,
em uma época de declínio para a popularidade desse gênero, porém sua trama e
seus personagens diferenciados trouxeram fôlego extra para os programas
japoneses, antes do fim da Rede Manchete.
A história de Maskman começa com um cientista chamado
Sanjuurou Sugata, que descobre uma civilização subterrânea no centro da terra.
O Império Subterrâneo Tube existiu antes do surgimento dos homens das cavernas,
e sem nenhum motivo aparente o seu imperador, o terrível Zeba, decidiu
conquistar a superfície terrestre. Felizmente, Sugata também pesquisava a tal
“misteriosa e inexplicável força”, chamada Poder Aura, e esta se revelaria uma
arma fundamental para segurar as forças de Tube.
O cientista partiu em busca de cinco jovens capazes
de manifestar o Poder Aura com mais facilidade, e em pouco tempo
arregimentou-os em um esquadrão, cada um detendo uma cor de uniforme. Eles são
Takeo (Vermelho), Kenta (Preto), Akira (Azul), Haruka (Amarela) e Momoko
(Rosa), e quando não estão ocupados treinando seus poderes, eles trabalham na
equipe de corrida de carros do Chefe Sugata (cientista, historiador e
empresário de corridas... Pensa em um homem ocupado!).
Apesar de toda essa trabalheira para achar todos os cinco
jovens, o primeiro episódio de Maskman começa um pouco adiantado: Miho, a
namorada de Takeo, tenta alertar a todos do perigo iminente da invasão de Tube,
mas acaba capturada por sua irmã, a implacável Igan, que também a revela como
uma habitante do subterrâneo. Como castigo por ter traído Tube, Miho é
aprisionada em um bloco de gelo, e a invasão à superfície começa a partir daí.
Esse é um resumo básico de tudo o que ocorre no início
dessa série de 51 episódios, cujo desenrolar fornece boas surpresas e uma dose
considerável de ação, humor e romance. Nessa análise, apanharemos os pontos positivos
e negativos dessa série japonesa. Sem mais delongas, em frente!
Pontos positivos:
1-O inimigo vem de baixo...
Diferentemente da maioria dos
tokusatsus de sua época, cujos vilões eram alienígenas ou organizações
criminosas, os inimigos principais em Maskman vinham do subterrâneo, em uma bem
vinda variação do tema. O plano do Imperador Zeba incluía não apenas tomar a
superfície da terra, como ainda torná-la um lugar frio e desolado, perfeito
para o Império Tube e seus habitantes, e enfatizando o conflito entre luz e
trevas que permeia a história.
O nome do Império Tube, por sua vez, foi baseado em
uma organização mística alemã, chamada Thule. Os Thules acreditavam na
possibilidade do planeta Terra ser oco em seu interior, bem como na existência
de uma civilização avançada em seu interior; a influência dos Thules atingiu
seu auge durante o governo de Adolf Hitler, embora não se saiba se o líder Nazista
chegou a entrar para a sociedade.
2-Referências místicas em
diversas formas.
Como dito no início do texto,
Maskman era um tokusatsu bastante “místico” em diversos aspectos, e uma das
referências mais óbvias é a imagem do Buda dourado na sala do Chefe Sugata. O
Poder Aura parece ter sido baseado no Chi, a força vital que permeia a vida na
religião tradicional chinesa, e cada membro da equipe dos heróis possui um
símbolo próprio feito com as mãos ao liberar seu poder.
Além do Poder Aura e das inúmeras bugigangas que
aparecem no decorrer da série, cada Maskman é especializado em uma arte
marcial. Takeo faz caratê, Kenta pratica Kempo, Akira luta esgrima e Kung Fu,
Haruka vem de uma família de ninjas, e Momoko, talvez a mais mística do grupo,
é adepta do Tai Chi Chuan, uma arte marcial mais “serena”, indicada para os
mais velhos, devido aos seus movimentos lentos e suaves.
Por incrível que possa parecer, existe influência até
da Bíblia e da Maçonaria em Maskman. A influência cristã está no nome de um dos
generais do Império Tube, chamado Barrabás, o criminoso que foi perdoado no
lugar de Jesus pelo governador romano Poncio Pilatos. As referências maçônicas são
mais discretas, evidenciadas pelo gesto em forma de triângulo de Takeo ao
liberar o Poder Aura, bem como na própria definição de “Defensores da Luz” dada
ao esquadrão, lembrando que o conflito entre luz e trevas é um aspecto importante
dentro da Maçonaria.
3-Os
vilões são complexos e interessantes.
Apesar de Zeba ser o líder do
Império Tube, os antagonistas mais interessantes são os seus subordinados, cada
um com sua motivação própria. O braço direito do Imperador é Barrabás, e logo
abaixo dele está Igan, desejosa de recuperar a honra da família, após a traição
de sua irmã. Em comparação com outros vilões, Igan possui imenso ódio por
Takeo, pois ela o acusa de ter “corrompido” Miho (pensa em uma cunhada
terrível...).
Os melhores momentos da rivalidade entre Takeo e Igan
são reservados para o final, quando é revelada a origem de Zeba: o Imperador de
Tube era na verdade o filho de um monstro subterrâneo derrotado pela família
real de Tube, e assumiu o poder após uma guerra civil (eita!). Ao perceber o
erro que cometeu ao servir Zeba, Igan renuncia à sucessão do trono do Império e
se muda para a superfície, entrando para um convento budista (olha só outra
referência religiosa!).
Outro antagonista digno de nota na série é Kiroz,
autoproclamado “cavaleiro ladrão” e aliado ocasional do Império Tube. O sujeito
de topete ruivo era orgulhoso e imbatível em combate, porém seu ponto fraco era
Miho, pela qual estava obcecado e almejava tomá-la para si, como fizera com
todos os tesouros em sua sala (alguém percebeu uma leve semelhança com o Gaston
da Bela e a Fera?). Em sua luta final contra Takeo, Kiroz sai gravemente ferido,
morrendo após reconhecer que o único tesouro que valia a pena era justamente o
qual ele não conseguiu tomar...
4-O romance entre Takeo e
Miho.
É muito raro ver romances nos
tokusatsus mais antigos, em parte porque os japoneses são meio “tímidos” ao
mostrarem cenas de afeto, e também porque seu público alvo habitual, as crianças,
não ligam muito para romance. Em Maskman, entretanto, a relação entre Takeo e
Miho, também chamada Princesa Ial, é uma das molas propulsoras da trama desde o
primeiro episódio, que recebe o apropriado nome de “A Bela Fugitiva”.
Embora Miho passe quase toda a série aprisionada
dentro de um enorme bloco de gelo, sua influência sobre Takeo é notável durante
todo o desenrolar da trama, com destaque para um episódio onde um “clone” dela
aparece para tentar enganá-lo e atraí-lo para uma armadilha. De certa forma, a
atração entre o humano e a princesa de Tube é tão intensa que eles nem precisam
estar próximos um do outro para demonstrá-la!
Entretanto, os dois não contam com um final
plenamente feliz na série: com Zeba derrotado e Igan renunciando ao trono de
Tube, a única integrante da família real disponível é Ial/Miho, que promete
restabelecer a paz entre a superfície e o seu reino subterrâneo; como Takeo não
é um habitante do subterrâneo, ele não sobreviveria à profundidade, obrigando-o
a ficar para trás. A nova rainha de Tube ainda oferece um conselho final ao
líder dos Maskman: “apenas não olhe para trás, e siga sempre em frente”.
5-As músicas.
Como ocorre de praxe nos tokusatsus, existem diversas
músicas para momentos diferenciados: quando os heróis se transformam, ao usarem
a arma especial, ao montarem o robô gigante... No entanto, as músicas de
abertura e a de encerramento são boas o bastante para justificar sua presença
nesta lista. A música de encerramento, chamada Ai no Soldier Maskman (“Soldados
do Amor Maskman”) possui um ar melancólico e nostálgico, perfeita para passar a
ideia de final de episódio.
***Links dos Vídeos com as Músicas:
**Maskman -- Abertura
**Maskman -- Encerramento
Pontos fracos:
Reparou como até agora eu
falei muito mais do Takeo do que os outros integrantes do esquadrão? Pois bem,
este talvez seja o principal problema de Maskman, especialmente ao ser
comparado com outros Sentais (equipes de heróis): o foco exagerado no líder da
equipe. Esse problema fica ainda mais notável nos últimos episódios, quando
Takeo decide descer ao mundo subterrâneo para salvar Miho. Nessa altura do
campeonato, quase todas as lutas envolvem apenas ele contra os capangas de Zeba.
Apesar do foco exagerado no Maskman vermelho, outros
integrantes do esquadrão conseguem brilhar em alguns momentos, com o destaque
de Akira e Momoko. Akira é o membro mais novo da equipe, com apenas 16 anos, e
sua impetuosidade muitas vezes o levavam a cometer trapalhadas, como se agarrar
em um monstro voador e sair voando por aí sem rumo. Momoko, por sua vez, é a
mais sonhadora e distraída do grupo, porém mostra toda a sua fúria ao defender
um grupo de crianças de um monstro, chegando a atar uma bandana vermelha na
cabeça como se fosse o Rambo!
Os únicos deixados de escanteio são Kenta e Haruka, o
que não deixa de ser meio triste, até porque o Maskman preto era um dos mais
engraçados da equipe, com seu estilo metido a galanteador barato. E sejamos
francos: se você deixou a personagem ninja sem muito foco em uma série baseada
em misticismo e artes marciais, você está fazendo algo errado...
2-Esquema repetitivo nos
episódios.
É difícil citar isso como algo
exclusivo de Maskman, pois vários tokusatsus possuem o mesmo problema, ainda
mais ao se tratar dos Sentais. Quase todos os episódios são centrados em lidar
com o chamado “monstro do dia”, que fica gigante perto do final, obrigando os
heróis a chamarem o robô gigante para despachar o bicho de uma vez por todas.
Para quem não é acostumado a assistir tokusastsus (e mesmo para alguns
espectadores mais “fiéis”), isso pode tornar a série pouco interessante e
cansativa.
Ao menos podemos contar com risadas extras em
Maskman, quando o “monstro do dia” fica gigante: o responsável por realizar a
transformação é um monstro chamado Oaklamp, e toda vez que o bicho feio soltava
seu raio do crescimento nos monstros derrotados, ele exclamava “eu tô
cansado!”.
3-Dificuldade para encontrar
episódios em boa qualidade.
Como quase todas as séries que
passaram no Brasil por volta das décadas de 80 e 90, Maskman não conta com distribuição
oficial em DVDs, e os episódios dublados, que vez ou outra podem ser
encontrados no Youtube, não estão em uma resolução muito boa. Alguns fãs
costumam colocar os episódios em outras plataformas além do Youtube, como a
Vimeo, porém estes logo são derrubados pela política de direitos autorais.
Curiosidades extras:
-No Brasil, os nomes das
integrantes femininas do esquadrão foram alterados na dublagem: Haruka virou Sayaka,
e Momoko trocou o nome para Keiko.
-Maskman também fez muito
sucesso na França, e a dublagem francesa alterou os nomes de todos os
integrantes: Takeo virou Michael, Kenta mudou para Kent, Akira era Allan,
Haruka virou Hélene, e Momoko trocou de nome para Barbara.
-Achou bizarra a troca dos
nomes na França? Pois espere até ver o que fizeram nas Filipinas, outro país
onde Maskman fez muito sucesso: Takeo virou Michael Joe, Kenta se tornou
Leonard, Akira virou Adrian, Haruka mudou para Eloisa, e Momoko trocou o nome
para Mary Rose. Sobrou até para o Chefe Sugata, cujo nome mudou para Samuel
Sugata.
-Por serem irmãs gêmeas, Igan
e Miho eram interpretadas pela mesma atriz.
-Maskman foi o primeiro
tokusatsu do tipo Sentai a ter um sexto integrante, embora ele aparecesse em
apenas um episódio. O uniforme desse sexto integrante era verde, e possuía um
“rosto” no capacete.
Texto escrito por Mateus Ernani Heinzmann Bulow
O autor da postagem é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor, poeta e autor do livro "Taquarê: Entre a Selva e o Mar." Em Santa Maria/RS, o Livro do autor está disponível para compra em: Athena, CESMA e CAPOSM.
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