O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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terça-feira, 22 de agosto de 2017

O Beijo da Vampira




Esses versos irão discorrer
sobre uma lenda gótica antiga.
Trata-se de uma bela menina
que acabou virando uma vampira.

Nasceu em uma vila francesa
pacata e muito preconceituosa
que discriminava os moribundos,
os doentes, os loucos e os taciturnos. 

A sua missão era cuidar dos doentes
como um anjo puro, meigo e celestial.
Havia nascido com uma missão divina,
mas certo dia seu fado ficou infernal. 

Tudo aconteceu quando virou enfermeira
e se apaixonou por um paciente amável.
O carinho dele era tão especial e insuperável
que ela transformou compaixão em afago.

Ela derramou muitas lágrimas sob o céu noturno
quando soube que o seu belo amante havia falecido.
E, então, no hospital, começou a ouvir vozes e risos
das outras enfermeiras diante do caso curioso dela.

"Ela se envolveu emocionalmente com ele!
Dizem que se beijavam todas as noites
e que havia gemidos que não eram de dor."
Falavam as enfermeiras fofoqueiras e dementes. 

"É errado envolver-se emocionante com ele,
assim como com qualquer outro paciente.
Ela não tem ética embora seja competente."
Dizia uma enfermeira invejosa e maldosa.

"Dizem que dançava para ele e lia poesias.
Ela deve gostar de homens complicados,
doentes e que precisam de sua salvação.
O lugar dela é no cabaré e não na enfermaria."

Após ouvir aqueles comentários a seu respeito,
a enfermeira apaixonada cujo nome era Perséphone
retirou-se do hospital e foi para o seu humilde lar.
Sentou-se na cama e chorou toda a dor do seu amar.

Diante de uma imagem de Nossa Senhora das Graças,
ela chorou toda a dor daquela tragédia amorosa ingrata.
Então, ela abriu a janela em plena noite de lua cheia,
sentindo o vento que vinha de fora percorrer as suas veias.

Olhou-se no espelho e sentiu um arrepio inexplicável:
havia algo selvagem nunca visto em seu olhar. 
Seu olhar sempre fora tão doce, puro e amável,
mas agora estava cheio de raiva, dor e força.

"Cansei de ser a moça boazinha e zombada.
Cansei de ser incompreendida e discriminada.
De qualquer forma, eu sempre serei criticada,
então que seu seja forte, muito forte, muito forte."

"Eu cansei de essa boneca de porcelana
que atende as expectativas alheias.
Cansei de ter medo de críticas insanas!
Cansei de sufocar a alma, de não ser eu mesma!"

Havia escorpiões subindo pelas paredes do quarto
enquanto o céu lançava raios da lua em sua janela.
Ela começou a sentir arrepios em seu corpo inteiro
quando o barulho de um trovão ecoava dentro dela.

"A partir de agora sob a luz da lua, eu serei diferente!
Eu prometo pela luz da lua que me ilumina que serei forte!
Pela luz da lua, eu serei orgulhosa, vaidosa e destemida!
Ninguém nunca mais poderá mandar em minha vida!"

"Sob a luz da lua, eu assumo minha luz e minha sombra,
minha fraqueza e minha força, minha dor e paixão.
Sob a luz da lua, eu assumo os instintos do coração!
Nem a morte prenderá a minha força em uma masmorra!"

Enquanto dizia aquelas palavras na frente do espelho,
conversando consigo mesma como uma lunática,
seus olhos ficavam sensuais, arregalados e surpresos
com toda a sua força selvagem redescoberta e inata. 

Ela apontava o dedo para si mesmo na frente do espelho
enquanto dizia de maneira soberana e muito feroz:
"Nunca mais derrame uma lágrima por uma crítica,
pois você deve ser invencível e expressar a sua voz."

As palavras das enfermeiras fofoqueiras ecoavam,
balançando as paredes e fazendo tremer a sua cabeça.
Em luto, sangrava o seu coração de tanta dor e tristeza
enquanto ela fechava as mãos e visceralmente gritava.

Em contato com as palmas das mãos que sangravam,
estavam as unhas que cresciam em ritmo apavorante.
Ela abriu as mãos que estavam arranhadas e tremeu em risos.
quando viu no espelho o crescimento de seus dentes caninos. 

Depois da transformação, ela virou uma meretriz
sombria, altamente irresistível e muito poderosa.
Há boatos antigos sobre a enfermeira perigosa
que se deitava com o paciente antes de ele partir.

Dizem que a lua cheia ouviu a dor de seu coração
e a transformou numa criatura poderosa e destemida,
que não teria medo de derramar toda a sua paixão
para as formas mais doentes e esquecidas de vida.

Durante o dia, ela era uma simples mulher amável,
mas durante a noite ela virava uma criatura perigosa.
Sob a luz da lua, ela era uma vampira tenebrosa
que gostava de morder o seu paciente vulnerável.

Ela era a sorte dos desafortunados, a luz da dor,
a rainha macabra das noites silenciosas francesas,
a enfermeira devota, a sombria e doce princesa.
Ela até poderia ser uma santa de tanto amor.

Ela poderia ser uma santa por tanta devoção e bondade
que demonstrava em relação aos doentes mais vulneráveis.
Mas, a sua libido sombria destruiu a sua doce santidade,
transformando a sua auréola em uma perigosa beldade. 

"Quais são as suas sombras? Quais são os seus defeitos?
O que você fez de bom em sua vida? O que gostaria de ter feito?
Quais são as suas virtudes? Quais são os seus desejos?"
Eram as perguntas que ela fazia às vítimas de sua paixão.

O veneno expelido de sua irada e sombria mordida
permitia uma sobrevivência extra aos pacientes.
Dizem que o seu beijo tinha o sabor mágico de cereja 
e que, ao invés da pele fria, era uma vampira quente.

Ela não era somente uma enfermeira vampira,
mas uma secreta e invencível sacerdotisa,
dona dos segredos das almas dos humanos.
Ela conhecia o que havia no sagrado e no profano. 

Ela era tão apaixonada pela vida e fogosa
que não cortejava a frieza profana da morte
como os vampiros que vagam por toda sorte.
Ela reinava no submundo, mas ainda flertava o céu.

Ela acariciava o paciente em uma redoma de paz,
prometendo prazeres, cores e gemidos de amor
para aqueles que conheceram os gemidos da dor.
Ela tocava a mais carinhosa das sinfonias da vida.

Ela só não perdoava o paciente depressivo
que era socorrido após tentativa de suicídio.
Quando alguém assim chegava ao hospital,
ela mordia de maneira mais cruel sem ser fatal.

Ela incentivava sempre o valor da vida, 
mesmo para os pacientes desenganados.
Ela cantava alegres e românticas poesias
sobre a esperança por trás do humano fado.

Dizem que o paciente desenganado
morria, ao menos, bem mais feliz
após experimentar os prazeres largos
que a doença cruel havia recusado.

Dizem que ela cultivava um jardim
e cortava o caule das flores murchas
para demonstrar a vida dos espinhos,
que continuava após as pétalas terem fim. 

Certa vez, ela foi flagrada mordendo um paciente,
e, então, chamaram um padre exorcista e a polícia.
No entanto, ela fugiu do hospital pela porta da frente,
levando apenas o seu terço, a bíblia e o livro de poesias.

"Pensam que eu sou uma criatura do mal,
mas eu ainda sou uma alma bondosa.
Não sou maldosa nem criminosa
e não preciso de exorcista ou polícia."

Sussurrando bem baixinho aquelas palavras,
ela saiu a correr pela densa floresta francesa.
Dizem que ela sumiu entre as robustas árvores, 
tornando-se uma fada ou um espírito da natureza.

Poesia escrita por Tatyana Casarino.




Imagem: Mortícia_Adams de Josh Howard


*Observação: Perséphone é a variação francesa do nome Perséfone. 
Perséfone, na mitologia grega, é a deusa das ervas, flores e frutos. Porém, essa deusa é conhecida por ter sido raptada por Hades, o deus do submundo. Hades é equivalente ao deus romano Plutão. 
  Na astrologia, por exemplo, o planeta Plutão é considerado o regente do signo de Escorpião, o arquétipo astrológico que evidencia as crises existenciais humanas, os medos inconfessáveis, o nosso lado sombrio, o sexo e a morte.

 A Poesia passa várias mensagens como a coragem de assumir o nosso lado sombrio sem medo de críticas, a dualidade do ser humano (Perséphone é uma santa pecadora), a libido por trás da generosidade e a compaixão transformada em paixão fatal. 

 Tudo na Poesia é exagerado, dramático e "sensacionalista" (hehehe), mas há boas mensagens por trás do drama de Perséphone, como a importância da tolerância e o perigo de julgarmos alguém apressadamente. O que havia atrás daquela vampira fatal? Uma mulher perdida na dor de ter perdido o seu grande amor. 

                   


   Muito embora haja uma certa carga de erotismo gótico e até pitadas de terror/suspense na história dessa vampira (tenho o projeto de escrever a história dela e nunca havia imaginado em escrever algo com pitadas de terror em minha vida hehehe), pode-se perceber mensagens de valorização da vida. Não espere ficar doente ou incapacitado em um hospital para questionar a si mesmo as seguintes perguntas:

   "Quais são as suas sombras? Quais são os seus defeitos?
O que você fez de bom em sua vida? O que gostaria de ter feito?
Quais são as suas virtudes? Quais são os seus desejos?"

    Passaremos muito tempo "engavetados" nesse mundo (seja no caixão ou na gaveta do cemitério -- perdoe-me se fui mórbida). Então, por que engavetamos os nossos sonhos? Há pessoas que passam uma vida inteira "engavetadas" dentro de si mesmas... Tem gente que não tem coragem de assumir a sua verdadeira identidade e coloca "para dentro do armário" sua verdadeira vocação, seus sonhos, suas paixões e até mesmo a sua orientação sexual. 
    Chega de ter timidez! Diga a si mesmo na frente do espelho: "É hoje que eu vou me mostrar para o mundo!" Desengavete os seus sonhos, desengavete seus projetos e as suas fantasias. 
     Se você também escreve poesias, "desengavete" as suas poesias e dê vida para elas. Dane-se se elas desagradarem algumas pessoas ou se você ouvir dos literatos mais retrógrados que o que você escreve não é "boa literatura". Dane-se se as pessoas disserem: "Nossa, como você é metido! Você se acha o escritor. Você se acha o poeta." Diga para estas pessoas: "Eu não me acho escritor. Eu sou escritor." 
    A expressão "eu sou" é muito forte. Use essa expressão com afirmações positivas sem medo. De tanto escrever, um dia você se tornará um escritor inevitavelmente. Ninguém nasce escritor, você se torna escritor de tanto "suar a camisa" escrevendo, assim como alguém só se torna jogador de futebol depois de tanto jogar bola. É simples. Não ache que algumas pessoas nasceram para brilhar e você não. 

               

     

     Não ache que aqueles que são considerados escritores, por exemplo, nasceram com um brilho abençoado pela varinha de condão de uma fada e você é um pobre miserável que não pode ser considerado escritor. Todo mundo pode ser um escritor! Todo mundo pode ser o que sonha ser! Excesso de humildade nunca é benéfico assim como excesso de orgulho. É melhor ser uma pessoa "cheia" (metida) do que vazia. É melhor "se achar' do que se perder...
     Portanto, seja um "metido" do bem hehehe, coloque a sua expressividade para fora, grite, sorria e comece a dançar ou a escrever. Tenha humildade e doçura no coração. Faça tudo o que você quiser desde que não prejudique a si mesmo ou a alguém. 
     Tenha consciência de quem você é e de quem você pode se tornar se ouvir os sonhos que fazem o seu coração vibrar. O Mestre Osho já dizia: "Opte pelo que faz o seu coração vibrar apesar de todas as consequências". Se o seu coração vibra de alegria diante de uma atividade, persiga o seu sonho! Não se arrependa do que faz o seu coração ficar entusiasmado... Arrependa-se apenas do que fez o seu coração angustiado. 
     Livre-se do excesso de "pudor" e da falsa humildade que tornam o seu coração amargo. Seja doce! Seja sonhador! Seja entusiasmado! Erga a cabeça e exerça o seu brilho pessoal. 
    E nunca se esqueça do Oráculo de Delfos: Decifre a própria alma para não ser devorado por ela. Além do mais, há quatro verbos sagrados para realizar os sonhos: Saber, Ousar, Querer e Calar. Sendo assim, não saia por aí contando para todo mundo os seus sonhos. Construa a realização dos seus sonhos no silêncio do seu trabalho. Tenha discrição. Um dia você será descoberto se tiver talento. A sua obra falará por si mesma inevitavelmente.
    Apenas tenha consciência de uma coisa: Você irritará muitas pessoas que escondem a si mesmas quando começar a mostrar quem você é." ;)
    O caminho da virtude é solitário. Raras pessoas apoiarão você. Eu não posso dizer que a jornada virtuosa de realização dos sonhos é isenta de lágrimas, mas posso garantir que ela vale a pena por ser repleta de sorrisos também.  ;)

Tatyana Casarino. 

*Observação 2: A poesia também enaltece a sensualidade da mulher que sempre foi reprimida ao longo da história. É comum vermos vampiros masculinos apaixonados e descontrolados ao invés de vermos mulheres vampiras na história literária. Portanto, a poesia trata da paixão feminina de forma visceral e sem tabus.

Por falar em Vampiras nas histórias de ficção, me lembrei de The Vampire Diaries, onde Elena foi uma vampira na vida passada dela. Para quem quiser conferir cenas dessa vampira do século XIX atacando seus namorados, eis um link do clipe dessa história ao som da música "Lost in this dance" da cantora Lena Katina. 

 https://www.youtube.com/watch?v=P2Qv6ZthX-k


Tatyana Casarino



       
  


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