O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

De sereia à imperatriz




No fundo do mar sagrado,
a sereia se olha no espelho,
pensando no seu lindo amado.
Será que ele amaria seu corpo inteiro?

Será que ele aceitaria a sua cauda?
Será que ele aceitaria o seu lado peixe?
Ela escova os cabelos tão preocupada
que as suas mãos pequenas tremem.

Então, ela nada ao redor de peixes,
cantando uma doce música.
Acariciando o próprio ventre,
ela suspira com a alma pura.

Como é bom ter nascido mulher
ainda que metade de seu corpo seja peixe.
Como é maravilhoso ter um ventre
e ser fonte de vida, luz e amor.

Como é maravilhoso ter seios
e ser fonte de nutrição e aconchego.
Certamente, eles são duas obras de arte
esculpidas por Deus numa luz de beldade.

É por essas e outras razões 
que a sereia acredita em Deus.
O acaso não seria capaz de tanta beleza!
A luz da mulher tira o mundo da tristeza.

As mulheres e as sereias são evoluídas,
como dois sopros doces da luz divina.
A alma dos homens é quase sempre grosseria,
mas a alma feminina é puro amor e poesia.

Ela toca os seios na frente do espelho
antes de escovar os longos cabelos.
Sua pele é macia como a sua alma,
cheia de amor, pureza e redenção.

Ela cobre o corpo com os cabelos
antes de colocar uma coroa de pérolas.
O mar logo começa a ficar escuro
sob a frieza do céu noturno.

Então, ela começa a nadar
entre os golfinhos do mar.
Sua cauda prateada reluz
enquanto os golfinhos cantam.

Nadando até a superfície,
ela coloca a cabeça fora da água.
As estrelas brilham entusiasmadas,
questionando se sua paixão é tolice.

Ela se senta sobre uma grande pedra
e pensa em seu amado príncipe.
Ela olha em direção à areia e à terra
enquanto chora o seu canto triste.

Ah! Como seria bom ter pernas
que pudessem caminhar ao lado dele.
Oh! Como seria bom ser humana
e viver para sempre ao lado dele.

Ah! Como seria bom ter pernas
que pudessem dançar ao lado dele.
Tudo o que ela mais sonha na vida
é encher de carícias a pele dele. 

Ela olha para o céu estrelado
e avista uma estrela cadente.
Ela deseja mudar o seu fado
e um anjo aparece sorridente.

Do céu, o anjo escuta a sua prece,
fazendo chover estrelas de luz prata.
As estrelas tocam a sua cauda prateada,
abençoando o seu corpo com pernas.

Ela chora de felicidade ao ver suas pernas
repletas de pó de estrelas recém formadas.
Era como se sua pele estivesse com purpurina,
transformando o seu fado em abençoada alegria.

Depois de sorrisos e lágrimas de contentamento,
ela decide nadar em direção à terra do príncipe.
Mas, as pernas deixaram a sereia atrapalhada
e ela quase se afoga sob as ondas agitadas.

Nesse momento, seu anjo aparece novamente
erguendo um caranguejo das profundezas ondulantes.
O anjo lança gotas de luar sobre o animal silente,
o qual se transforma em um caranguejo gigante.

O caranguejo conduz a bela e doce sereia
até a terra do príncipe repleta de areia.
Sobre a casca dura do caranguejo amável,
ela desliza suavemente para a vida nova.

Ela beija a cabeça do caranguejo em gratidão
antes de tentar andar sobre a areia fina.
Seus pés ficam doloridos na terra fria,
e brotam lágrimas salgadas de seu coração.

Lágrimas salgadas como o seu paternal mar
pela saudade de suas verdadeiras origens.
Ela ama o príncipe e aquela ousada terra,
mas também ama as suas antigas raízes.

A terra é sempre dor para quem vem do mar,
a terra é sempre incompreensão e lástima.
A terra provoca dor nos seios, lágrimas,
cólicas, melancolia, tonturas e desmaios.

Tudo é tão nebuloso como sonhar acordado
no meio daquela terra de fabuloso novo fado.
Por não conseguir caminhar, a sereia se deita
e começa a chorar ao contemplar as estrelas.

É como se medo e paixão cantassem em uníssono
dentro de sua alma cheia de brilho, amor e cor.
Tudo o que ela mais desejava era viver na terra,
tudo o que ela mais temia era viver na terra.

Só uma grande paixão seria capaz
de retirar a sereia do conforto do mar.
Despida sobre a areia, ela ouve passos,
sentindo a aproximação do seu amado.

Ele está vestido de branco e usa botas pretas,
e logo estende um lenço branco para a amada.
Ele ouviu os soluços dela e veio ajudá-la,
reconhecendo a identidade da sereia.

Com as bochechas rosadas de pudor,
ela deseja imediatamente estar vestida.
Então, seu anjo lança gotas de luar e amor,
surgindo um vestido prateado em seu corpo.

Eles se abraçam com ternura entre sorrisos
antes da princesa entregar uma concha do mar.
Quando o príncipe encosta a concha em seu ouvido,
ele é capaz de ouvir intuições, ondas e vozes de anjos.

Ela também entrega ao amado sua coroa de pérolas,
joia da sabedoria feminina e portadora da emoção.
Ele passa a ser protegido pelo anjo da lua também,
conseguindo compreender os labirintos do coração.

Para a sua amada, ele entrega um cetro de ouro,
símbolo da razão, da praticidade e da segurança.
Sobre a terra, ela passa a caminhar com firmeza
quando apoia o cetro em sua nova fortaleza.

Ele também entrega um colar de rubis,
símbolo do fogo, da justiça e da força.
Ela se torna uma linda e terrena imperatriz,
mas seu coração continua marítimo e celeste.

Eles se beijam com muita paixão
antes de ele carregá-la em seus braços.
Os anjos cantam no céu em uníssono,
comemorando o perfeito equilíbrio.

Poesia escrita por Tatyana Casarino. 

Esta Poesia é uma continuação da Poesia "A sereia da cauda prateada".

Confira a poesia citada no seguinte link:

http://tatycasarino.blogspot.com.br/2016/12/a-sereia-da-cauda-prateada.html

     

            


   O casamento do príncipe da terra com a sereia do mar simboliza a perfeita harmonia buscada por todo alquimista e místico: a união entre a razão e a emoção. Essa poesia exalta o arquétipo feminino, tratando de maneira suave e delicada sobre o corpo e a alma da mulher. Há um erotismo suave a respeito dos seios da sereia, mas tal erotismo invoca uma sensualidade charmosa, doce e, de certa forma, ingênua. Sendo assim, não existe vulgaridade.
   A poesia é uma exaltação do feminino, o qual é tão rejeitado nos tempos atuais -- tanto pelo machismo que acha o feminino inferior quanto pelo feminismo que acha o feminino uma "construção social" de fraqueza. Nem mesmo o feminismo defende o feminino, considerando que a maternidade, a beleza e a sensualidade são características criticadas pelas feministas radicais. 
   A sociedade tão barulhenta e grosseira rejeita a delicadeza feminina, a qual seria essencial para uma sociedade mais democrática, calma, diplomática e menos violenta. A poesia, então, seria uma forma de protesto a favor do feminino perdido. 
    Para defender o feminino, há a citação de elementos fundamentalmente femininos como o mar, a noite, a lua, as estrelas, os anjos e o caranguejo (referência ao signo câncer, um signo feminino, lunar e intuitivo). 
   Até mesmo o erotismo romântico contém um certo protesto, convidando a mulher a amar o seu corpo e a descobrir o quanto ele é maravilhoso. Isto é o exemplo supremo de "poder pessoal" em uma sociedade onde o machismo encara o corpo da mulher com vulgaridade enquanto o feminismo trata o corpo da mulher com certa "rejeição" e "revolta". 

              

  
     É como se a poesia dissesse que existe um caminho muito além da vulgaridade e da rejeição, pois o erotismo pode ser construído com respeito e valorização do feminino. A mulher passa a ser uma "deusa", uma criatura sagrada e divina, onde o corpo belo e macio é reflexo da alma bela e "macia" (flexível, delicada e diplomática). 
    Assim, não há a citação do corpo pelo corpo como objeto de desejo, mas do corpo como expressão e extensão da alma. A beleza exterior da mulher seria apenas o reflexo de sua beleza interior. Já que a sua alma é mais bela, o seu corpo também porta a beleza.  
  A poesia também elabora a respeito da possível superioridade moral e espiritual da mulher quando diz com leve pitada de bom humor: 

"A alma dos homens é quase sempre grosseria,
mas a alma feminina é puro amor e poesia."

    No entanto, a poesia está longe de criticar a lógica do homem, pois enaltece as características racionais e práticas do príncipe. Em verdade, uma sociedade equilibrada precisa tanto do homem quanto da mulher, assim como precisa do dia e da noite, da terra e do mar...

Tatyana Casarino

Confira uma música instrumental do talentoso Brandon Fiechter com a temática "Sereia" também. A música combina com a poesia desta postagem. Seria interessante escutar a música durante a leitura da poesia. Eis a música:


  

                    https://www.youtube.com/watch?v=cR_EA8DKnkk













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