Olá, pessoal! Hoje eu venho trazer um texto que escrevi em meados de 2011. Muito embora o texto esteja escrito em prosa, eu considero as linhas que escrevi sobre o Amor bastante poéticas, motivo pelo qual chamo a postagem de hoje de Prosa Poética. Não compartilharei a história completa, mas apenas o trecho onde o plebeu tem pensamentos poéticos a respeito do Amor. Está história de amor foi escrita à mão inicialmente em um fichário hehehe. Confiram! Boa leitura!
A Princesa e o Plebeu
Essa história de amor se passa
em tempos medievais, onde castelos luxuosos e catedrais góticas permeavam os
reinos ocultos por trás de grandes muralhas.
Contar-se-á a lenda de um pequeno e desconhecido reino, o qual continha uma bela princesa cujo
coração era um difícil enigma a ser decifrado. Os nobres mais eruditos e de
riquezas esplêndidas tentaram decifrá-la, mas falharam.
Apenas um homem em todo o reino conseguiu descobrir
os enigmas do coração dela. Esse homem não era rico, não era erudito nem
tampouco nobre. Ele era um pobre plebeu analfabeto que almejava um dia saber
ler e escrever para poder expressar as suas idéias geniais e os pensamentos
poéticos que lhe perturbavam. Sua erudição não podia ser adquirida por algum
livro, sua riqueza de espírito não podia ser comprada, seu coração era nobre
naturalmente sem necessitar de título algum. O nome do nobre plebeu era Lucius.
Lucius ensinou que a
beleza é transitória, o luxo é ilusório, a riqueza é limitada e a erudição é
adquirida. Ele também demonstrou que o mais soberano dos reis é tão humilde
quanto um plebeu e se chama amor.
O amor é maior que a
beleza por ser eterno, é maior que o luxo por ser real, é maior que a riqueza
por ser ilimitado e é maior que a erudição por ser espontâneo. O amor é erudito
por natureza, é simplesmente luxuoso, é humildemente rico e é eternamente belo.
O amor é a maior
realidade capaz de nos tirar da realidade e nos transportar para um mundo mais poético
e mágico. Mas, o que é a magia senão a personificação mais legítima de uma
realidade oculta?
Todos os conceitos
para o amor são confusos e paradoxais, pois, para explicar o inexplicável, a
linguagem tem de ser simbólica. Em suma: amor não se entende, amor se sente.
Não se preocupe em entender o amor, pois ele é complexo demais. Preocupe-se em
senti-lo com toda a intensidade.
Lucius é um
personagem especial pelo simples fato de sentir o amor, mesmo sem entendê-lo. O
coração quando sente, simplesmente compreende.
Lucius, um poeta
analfabeto, possuía pensamentos poéticos a todo instante, mas não sabia como transferi-los em palavras escritas devido às suas limitações. Parece impossível
adquirir vocabulário sem leitura, porém Lucius sabia a respeito de palavras
polidas sem nem sequer saber ler. O vasto vocabulário dele se devia a um poeta
louco que lhe contava histórias e recitava-lhe poesias. Lucius foi um grande
gênio, pois adquiriu vocabulário apenas por ouvir as palavras proferidas de um
poeta insensato.
Todas aquelas
palavras poéticas, que ele escutou quando criança ao visitar seu louco amigo,
foram guardadas com imenso carinho em sua memória, visto que ele sentia grande
emoção quando as escutava. Ele não sabia, mas, quanto mais se emocionava ao escutá-las,
mais conhecimento ele adquiria.
Certa vez, ao avistar
a bela princesa percorrendo a aldeia, uma torrente de pensamentos com viés
poético e romântico invadiu sua mente magicamente. As palavras desabrochavam
como flores e ele, mesmo analfabeto e sem poder escrevê-las, sentia a poesia
dentro de sua alma.
Um analfabeto formar
poesias em sua mente parece um milagre, pois a poesia é a arte da linguagem.
Mas, o amor é capaz de fazer milagres e superar tudo aquilo que é
essencialmente racional. Ratifica-se que o amor é simplesmente luxuoso, é
erudito por natureza.
E, quando Lucius
avistou aquela princesa tão doce a caminhar pela aldeia, seu coração fez brotar
os mais puros pensamentos poéticos como os que estão dispostos a seguir:
“ É essa a luz que eu
vejo, ela brilha no horizonte mais do que o sol. Dilacerou, dilacerou meu
coração naquele instante. Minha alma mergulhou no mar de mel do teu olhar.
Aquelas vestes não são como as minhas. Reluzem como ouro ao pôr-do-sol. Aqueles
gestos tão delicados personificam a essência sagrada de sua realeza. Não sei
qual é o seu título, mas nada disso importa. No reino do amor, ela é a minha
rainha, e eu sou seu eterno escravo.
O amor me faz rei, me
faz escravo. Liberta-me da angústia desalmada e indiferente e me acorrenta no
deserto dos amantes, propiciando-me o mais doce desespero− o de sentir sede de
amar.
Oh! Deuses do amor,
libertam-me. Eu só quero beber da água do oásis do amor. Será o amor um doce
oásis perdido no deserto dessa vida cruenta? Seriam os amantes todos loucos por
desejar dessa miragem inalcançável como tu, amor?
Oh! Amor, eu não
agüento mais esse sol queimando minha alma e transpirando meu espírito. Diga-me
se é possível beber da tua água, senão eu me atirarei por essas pedras e me
enterrarei vivo sob essa areia pesada e cruenta que me prende à terra e me
lembra que não sou livre.
Se eu fosse livre...
Ah! Se eu fosse livre, o amor me daria asas de beija-flor, e eu sairia a voar
por esse deserto até o oásis feito de águas doces e beberia o néctar das flores
dentro d’água.
Não obstante, eu
continuo acorrentado, preso ao destino cruel de ser o único louco a enxergar
esse oásis de possibilidades doces e ocultas intrínseco a esse deserto quente e
cruel que queima só a pele de minha alma. Os outros não vêem o oásis e, por
isso, não se queimam no deserto. Eles são como rochas duras e frias, as quais
morrem um pouco a cada dia na mediocridade insensata da cegueira fria.
Os outros não sabem a
doce loucura do amor intenso. É como se eu tivesse mergulhado nesse oásis
imaginário, embriagado de paixão. Oh! Afrodite, descosturai os olhos de minha
amada para que ela possa ver o meu oásis. Mas, não permita que sua pele frágil
se queime nas labaredas desse fogo cruento e desértico!
Diga a ela, por meio
do vento, que o oásis existe e que há um homem pronto para mergulhar nas
camadas mais profundas do amar. Eu não
tenho castelos, mas eu os construirei com a força de minha alma. Eu não tenho
títulos, mas o amor me fará rei em plena escravidão de liberdade. O amor é
assim: confuso e paradoxal. Prefiro morrer afogado nessa sensibilidade insana à
morrer congelado como as rochas duras e medíocres.
Se ela não enxergar o
meu oásis, meu fim será morrer queimado nas labaredas da realidade triste. Oh!
Mundo, por que tu não deixaste os oásis visíveis? Por que os profetas, os loucos
e os poetas sofrem por ver essa luz refletida n’água?
Eu sou a
personificação dela, e ela é a minha personificação. Assim como a água do oásis
propicia o amor, e o sol desértico me dilacera, eu lutarei pelos lábios de mel
dela! Às vezes, não sou eu quem fala, é o amor quem usa minha boca e me dá uma
inteligência insana que me faz sofrer de paixão.’’
1. A
história de Lucius
Lucius, um trabalhador rural, mora em uma cabana
solitária, rústica e misteriosa, a qual se torna invisível quando imersa na
neblina. Seus pais foram mortos em uma batalha entre reinos e, quando criança,
ficou órfão muito cedo. Foi criado por um ferreiro, seu tio, o qual o obrigava
a efetuar trabalhos braçais pesados.
Num reino retrógrado, onde o conhecimento era restrito ao
clero e à nobreza, Lucius, um pobre plebeu, almejava estudar. Pensou em se
enclausurar em algum mosteiro para obter conhecimento, mas seu tio o obrigava a
trabalhar com ele. Além disso, seu tio não compreendia o desejo do menino em
estudar.
Quando criança, Lucius sempre visitava uma pequena
biblioteca da aldeia, na qual morava clandestinamente, em seu sótão, um poeta
cuja saúde mental não era das melhores. Esse poeta recitava cânticos, poemas,
lia estórias, ensinava palavras novas e lecionava oralmente a respeito de
história e mitologia grega para o menino Lucius, o qual era seu único amigo.
Infelizmente, o querido poeta louco faleceu antes de ensinar Lucius a ler e a
escrever.
Quando Lucius já era um adolescente, seu tio faleceu
devido a uma forte pneumonia, deixando-o sozinho numa pequena casa no centro da
aldeia. Lá, ele vivia cercado de perigos. Certo dia, alguns homens invadiram
sua casa, saquearam algumas de suas moedas e lhe furtaram objetos e espadas que
haviam sido feitas por seu tio, o ferreito.
Neste dia, Lucius se revoltou contra as maldades do
mundo. Afinal, nunca alguém o amou. Seus pais morreram muito cedo, seu tio era
um homem bruto e isento de sentimentos e os homens da aldeia nem se importavam
com ele – alguns até o assaltaram. O único homem que lhe demonstrou um pouco de
carinho e apreço por ele fora o misterioso poeta louco.
As belas palavras do vasto vocabulário daquele homem tão
sábio e tão louco ficaram gravadas para sempre na memória de Lucius. Ele pode
ser um pobre homem, mas com a alma rica e pura. Além disso, sua única herança
era o conhecimento que adquirira com aquele “sábio louco”.
Revoltado com o mundo, Lucius fugiu para uma clareira –
bem distante da aldeia – onde cultiva belas flores, as quais têm um viés mágico
e inexplicável. No meio rural, também planta trigo para sua subsistência.
Lucius conhece um pequeno comerciante na aldeia
provinciana e fornece as flores que cultiva para ele. Em troca, como um
escambo, o comerciante lhe fornece alimentos. Raramente, Lucius recebe moeda.
As flores que ele fornece ao pequeno comerciante são
famosas. Até a realeza manda os criados buscar essas flores para enfeitar o
castelo, principalmente em ocasiões festivas.
Texto de Tatyana Alcantara Fernandes Casarino
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